Kalil Eu saí do apartamento de Helena, mas o silêncio que me envolveu era pesado. Luiza estava esperando por mim no carro, seu olhar cheio de perguntas e preocupação. — E então? — ela perguntou assim que eu entrei no carro. — O que aconteceu lá dentro? Respirei fundo, soltando todo o ar preso em meus pulmões. — Ela mentiu, Luiza — respondi, minha voz carregada de frustração. — Helena nunca esteve grávida. Ela tentou segurar essa farsa até o fim. Os olhos de Luiza se arregalaram, mas ao mesmo tempo, parecia que ela já esperava por isso. Ela tocou minha mão, um gesto de conforto. — Sinto muito, Kalil. Eu sei que isso não foi fácil. Eu olhei para ela, tentando processar tudo o que havia acontecido. — Eu não sei o que me deixa mais irritado, se é o fato de ela ter mentido ou o fato de eu ter sido ingênuo o suficiente para acreditar. Luiza suspirou, ainda segurando minha mão. — Não foi ingenuidade, Kalil. Você só quis acreditar que ela poderia estar dizendo a verdade. Qualquer um te
KalilEu sabia que não podia seguir em frente até resolver tudo com Will. Ele ainda estava lá, à espreita, como uma sombra sobre nossas vidas. Mesmo que a verdade sobre Helena tivesse sido revelada, Will ainda era o verdadeiro inimigo. Ele não só tinha manipulado a vida de Luiza como estava envolvido em negócios sujos que nos ameaçavam a qualquer momento.Eu precisava dar um fim nisso. Era hora de encarar Will, de homem para homem, e resolver as coisas de uma vez por todas.Cheguei ao galpão onde ele operava seus negócios ilegais. O local era sombrio, e a tensão no ar era quase palpável. Homens armados estavam por toda parte, mas eu havia marcado essa reunião. Will sabia que eu estava vindo, e ele estava esperando.Quando entrei no escritório improvisado, lá estava ele. Will estava sentado à mesa, um sorriso frio e calculista no rosto, como se já tivesse planejado tudo.— Finalmente, Kalil. Achei que você nunca apareceria — ele disse, acendendo um charuto. — O que te traz aqui? Veio p
KalilOs últimos meses foram os mais intensos da minha vida. Enfrentar Will, lidar com o sequestro de Luiza, desmascarar Helena, e finalmente colocar um fim em todo o controle que o passado tinha sobre nós... Parecia que, a cada passo, a vida nos testava, nos desafiava a sermos mais fortes, mais resilientes. Mas agora, enquanto eu caminhava pela praia ao lado de Luiza, o vento tocando nossos rostos e o sol lentamente se pondo no horizonte, pela primeira vez eu sentia que tudo estava onde deveria estar.Eu olhei para ela, andando ao meu lado, a pele dela brilhando à luz do pôr do sol. O sorriso que eu tanto amava estava ali, genuíno, sem a sombra de medo ou incerteza que carregamos por tanto tempo. Nós havíamos vencido.— Parece que faz uma eternidade, não é? — ela perguntou, interrompendo o silêncio pacífico entre nós. Sua voz estava suave, mas carregava aquele tom reflexivo que sempre me encantou.— Sim, parece — eu respondi, parando e virando para encará-la completamente. — Mas, ao
Luiza Mal acordei e já estava sendo obrigada ouvir o que iria fazer ao decorrer do dia. O silêncio é divino, mas os olhares invejosos e julgadores das freiras me deixa nervosa e com vontade de retribuir os pensamentos intrusos. Madri ditava o que eu deveria fazer, mas eu só tinha cabeça para pensar em um dia após o outro. — Bom dia, Luiza. Vejo que acordou disposta hoje! — Madri discorre, me observando sentada a mesa, enquanto fazia meu desjejum. — Bom dia, Madri. Um pouco exausta pela note de ontem, mas sim, estou disposta. — Enfiei um pedaço de pão na boca, encharcado com pasta de amendoim, bebendo um copo de leite em seguida. — Ótimo! Preciso que vá comprar tecidos, amanhã haverá um casamento de última hora e preciso que nós auxilie com os afazeres. Ela faça de uma forma como se eu não fosse útil para nada. Eu vivo excluída pelo fato de não querer ter me tornado freia e ter entregue meu corpo a Cristo, mas eu estou farta de tantos segredos sobre mim mesma. A única recordaç
Kalil Pedras em meu caminho surgem a todo tempo, é incrível em como eu não consigo ficar tranquilo por um dia. Parei em frente a casa do meu pai e pensei antes de entrar, ele só me liga quando precisa de algo. — Problemas meu filho? — Perguntou ele, assim que me viu entrar. — Você não imagina o quanto! Como está Suzana? Soube o que o quadro dela bem piorando, porque não me disse nada? — Sua irmã está em um estado crítico, logo em breve poderá vê-la. Mas não é isso que me interesse agora e nem por isso que o chamei aqui. Meu filho, Jaz é uma peça chave para os nossos trabalhos, conhece muito bem coisas que não estão sob nossos alcances e por isso não pode descartar ele. Ele não tem culpa de os garotos são burros, mas com certeza ele vai dar um jeito em tudo isso. — Will, eu só estou aqui porque o seu capanga me ligou dizendo que era urgente, portanto, faça-me o favor de ser breve. Com meus problemas eu resolvo depois, não preciso das suas opiniões. — Tudo bem! Quero que voc
Kalil A igreja estava próxima, alguns metros andando e eu chegaria lá rápido. As pessoas me olhavam como se eu fosse algo estranho, cidade pequena! As crianças corriam para perto dos seus pais ao me verem, sem dúvidas esse pessoal ainda dão daqueles que acreditam que mulher viraria mula se casasse com o padre! Meu pai me ligava sem parar, mas eu estava na missão que ele me mandou. Havia muitas barracas com bugigangas penduradas e expostas para a venda. Todas elas ocupadas por moças ou pessoas ainda jovens. — Bom dia, Sra. Pode me dizer para que lado fica a igreja? — Perguntei a uma senhora que mais parecia uma cigana. — Para esquerda, lhe aconselho a escolher o lado que mais lhe traga amor, suas vestes e seu tom de voz, não diz nada. — Ela sorriu e foi embora. Continuei andando até chegar na pequena igreja, onde as freiras estavam brincando de ciranda com algumas crianças. — Com licença, vocês conhecem essa moça? — Mostrei a foto de Luíza e ela se entre olharam e responderam que
Luiza Will Ferrari! Então era esse o nome do homem que estava à minha procura? O peruano quarto mal tinha espaços para locomoção, não havia luz e o cheiro estava terrível. Eu queria dormir e acordar disso tudo, mas já não há mais voltas, as freiras não fizeram nada para impedir. Nunca me disseram nada sobre quem era minha mãe,e agora eu terei que descobrir isso sozinha. Eu já não tinha mais nada que me lembrasse dela, agora eu só tinha que lutar pela minha, mas ainda precisava saber como. A porta de ferro estava rangendo e em seguida a porta em que eu estava por dentro também foi aberta. — Tá tudo bem aí? — O mesmo homem que me trouxe perguntava enquanto me via caída no chão, no meio dos insetos e da sujeira em que estava o local. Respondi balançando a cabeça e apoiando as mãos nos joelhos para levantar, mas tive meu corpo arremessado contra a porta de metal por um chute em minha barriga, o que me fez gemer de dor e cuspir sangue. — Você até que aguenta muita coisa! Mas me conta
Luiza Acordei em uma sala cheia de luzes, mas não era um hospital ou algo do tipo e aquilo me deixou aflita, eu já não estava entendendo nada e nem mesmo o porquê do tal Ferrari me querer! — Vejo que acordou consciente! — A voz rouca se fez presente e quando olhei para o lado, ele estava lá, encostado na porta com os braços cruzados. Então eu vi que não havia mais ninguém ali dentro além de mim, era um quarto pequeno e todo branco, com duas luzes no teto e era isso que fazia o lugar ficar tão claro, mas era tão pequeno como um quarto de solteiro. — Eu não entendo… por que a senhora mentiu para mim todos esses anos? Como ela foi capaz? — Me perguntava lembrando da Madri e de todas as outras freiras. — Luiza seu nome, não é? — Assenti quando ele perguntou, mas ainda sem forças para levantar. Seus passos estavam ficando cada vez mais próximos, até que ele sentou ao meu lado e me olhou nos olhos, tirando meu cabelo do rosto e colocando atrás da orelha. — Me perdoe por isso. Eu não sab