POV: AIRYS— Tem razão, rei Lycan. — Torci o nariz, ainda presa em seu agarro. Meus dedos pressionaram o pulso dele, sem sucesso. — Na próxima vez que sua língua invadir minha boca, eu a arranco com os dentes.Os olhos terrosos dele brilharam, quase divertidos.— Posso gostar disso, pequena presa. — A voz saiu baixa, com ameaça velada e algo mais perigoso.Daimon me soltou lentamente, como se quisesse deixar claro que só me deixava ir porque queria. Sua postura continuava imponente, me observando de cima com presunção.— Vista-se e me siga.Minha mandíbula travou.— Para onde?Toquei meu pescoço, onde suas mãos estiveram momentos atrás. Ele poderia ter me enforcado se quisesse. Era o rei Lycan. Ninguém contestaria. Ninguém viria me salvar.Mas ele não o fez.Por quê?Eu o havia afrontado. Tinha desferido um tapa contra seu rosto. No mínimo, deveria ter perdido minhas mãos."Não é sua intenção nos ferir."Engoli em seco, afastando o pensamento.Daimon se virou para a porta, sua voz gra
POV: AIRYSMeus olhos estavam arregalados. O vento rugia ao nosso redor, bagunçando a pelagem imponente de Fenrir. Na escuridão, apenas seus olhos brilhavam, vermelhos, fixos em mim.Seu focinho se ergueu na minha direção, farejando.Instintivamente, recuei a mão.— Há lendas que dizem que somos ligados aos nossos ancestrais através dos sonhos. — O lobo rosnou grave.Ele começou a caminhar lentamente ao meu redor, um predador marcando território. Suas enormes patas afundavam na neve, deixando rastros profundos na fauna congelada.— Podemos ver o passado, nos conectar a eles… e até mesmo descobrir seus segredos.Engoli em seco, sentindo meu peito apertar.— E-eu… não sabia disso. — Minha voz falhou.Segui seus movimentos, girando meu corpo para acompanhá-lo, sem nunca lhe dar as costas.— Ouvimos uma voz assim que entramos no banheiro, pequena presa. — Ele sacudiu o corpo, espalhando a neve acumulada em sua pelagem densa. — Daimon queria evitar nosso encontro tão cedo. Mas, graças à lu
POV: DAIMONFenrir não pedia. Ele tomava.Nas noites de lua cheia, sua fome era absoluta. Meu pai, a antiga casca da minha fera, costumava dizer:"A natureza de Fenrir é indomável. Ele é um lobo primitivo, feroz e insaciável. Mas é astuto. Sabe o que quer. Complete o elo e tornem-se um só."Fenrir me guiou até aquele leilão. Eu não deveria estar lá, mas algo nos chamava. Quando vi a pequena humana, tudo fez sentido. O cheiro dela... o gosto daquela noite ainda estava em mim. Nós a procurávamos. Desde então.E ali estava ela.Seu medo era palpável, um perfume agridoce que me instigava ainda mais. Mas não era só isso. Ela era diferente. Não se curvava, não se encolhia como as outras. Havia algo mais fundo, algo quebrado, mas que ainda lutava para ficar de pé."O destino nos trouxe a escolhida. A de milênios esperada." Fenrir rugia em minha mente, inquieto.Bastou um olhar para entender.Os olhos dela... um dourado intenso, selvagem. Uma mistura de resistência e temor. Havia medo ali, ma
POV: DAIMONDesgraçado.Um rugido baixo reverberou em meu peito. Fenrir avançou em minha mente, seu instinto sedento por sangue assumindo parte da minha visão.Airys percebeu. Seus olhos se arregalaram por um segundo antes de recuar, parando atrás da poltrona."Eles devem pagar por isso!" Fenrir rugiu.— Parece que sou imune à maldição lupina, rei Lycan. — Ela suspirou, os dedos apertando o estofado. — Se me comprou para me transformar, deveria pedir seu dinheiro de volta... ou me eliminar de uma vez.Franzir o cenho— Como é possível? — Questionei a Fenrir mentalmente."Há apenas uma resposta, e você já sabe qual é." Ele soou satisfeito, recuando, se deitando sobre as patas. "Ela é diferente."Meus olhos se estreitaram.— É isso que deseja? — inclinei a cabeça de lado, deslizando as mãos nos bolsos. — Ser entregue à sua antiga alcateia?— Não. — A resposta veio sem hesitação, firme. Airys sustentou meu olhar. — Eles não são meu povo.— Ah, os humanos. — Estalei a língua constatando,
POV: AIRYSFui leiloada.Como Luna de alta classe, a companheira do Alfa da minha alcateia, eu deveria ser respeitada, protegida, reverenciada. Mas não.Fui traída. Abandonada. Vendida como mercadoria barata.E o mais humilhante? A pessoa que me entregou foi o homem que jurei amar e servir por toda a vida.Minha cabeça latejava, um zumbido insistente martelava meus ouvidos. Gemi, tentando abrir os olhos, apenas para ser recebida por uma luz ofuscante que queimava minhas retinas. Algo áspero roçava contra minha pele, cortando meus pulsos já feridos. Minhas articulações gritavam em protesto.Respirar era um desafio. A coleira fria em meu pescoço apertava cada tentativa de puxar ar, até mesmo engolir saliva era difícil. Cada movimento era uma punição, minhas costelas doíam, prova da surra brutal que havia recebido antes de ser jogada aqui.Tudo por uma farsa. Uma armação cruel.E a responsável?A mulher que mais confiei na vida.Minha própria irmã.A mesma que peguei na cama do meu marid
POV: AIRYS— Meu pulso! — O homem baixo e repugnante resmungou, ainda preso no aperto do gigante à minha frente. Um estralo seco ecoou pelo salão, seguido por um grito de dor cortante.— Aí! Por favor... Aí...O cheiro de suor e medo emanava dele.— Se-senhor, por favor... — O leiloeiro balbuciou, a voz trêmula. — A mercadoria já foi vendida. O martelo já foi batido.O homem imponente que segurava o nojento torceu seu pulso mais uma vez, forçando outro gemido de agonia antes de soltá-lo bruscamente.— Dois milhões de dólares. — Sua voz saiu baixa, profunda, cortante e afiada. — E seus membros intactos.A ameaça era clara. Ou aceitavam, ou morreriam ali mesmo.— O quê?! — A voz estridente de Eloy explodiu em um grito irritante, me fazendo cerrar os dentes. — Airys não vale tudo isso! Por que pagar tanto por ela?!— A mercadoria leiloada é minha Luna renegada! — Malik interveio, tentando manter a compostura, mas falhando miseravelmente. O leve tremor em suas pernas não passou despercebi
POV: AIRYS— Por que está me levando? — Indague nervosa, me ajustando ao banco próxima à porta do veículo. — Havia várias lobas naquele lugar, por que escolheu uma humana?Ele não respondeu, seus olhos se mantinham firmes na estrada, ignorando minha presença.— Pretende me matar? — Insistir, apertando o cinto. — O que você quer de mim?— Você faz perguntas demais. — Ele bufou baixo, mal-humorado. Engoli em seco. Cada fibra do meu corpo gritava em revolta. O alfa supremo, o maldito, Daimon Fenrir tinha uma reputação perigosa, um Alfa cuja fera ancestral o tomou em fúria, massacrando todos em sua volta e tirando a vida do próprio irmão.Seu lobo era hostil com qualquer um que se aproximasse, muitos não saiam vivos ao se aproximar demais dele, ao menos, era o diziam em minha alcateia.Eu precisava fugir!Daimon dirigia em silêncio, seu olhar fixo na estrada, enquanto eu olhava para os lados agitada, até que quebrou o silêncio.— Antes... — Seu tom desceu uma nota, ele me olhou de canto
POV: AIRYSRecuei alguns passos, meu coração batendo contra as costelas. Ele avançava devagar, sua forma lupina imponente, cada passo calculado, silencioso e letal. O ar gelado queimava minha pele, mas o frio não era nada comparado ao pavor que percorria minha espinha.— Me recuso a acreditar que a Deusa enviaria um monstro para me buscar. — Gritei, mesmo tremula.Medo. Raiva.Um instinto primitivo pulsava em minhas veias mandando fugir.Daimon rosnou, o som profundo vibrando no peito dele, reverberando dentro de mim.— Estou tão surpreso quanto, você, pequena coelhinha. — A provocação escorreu de seus lábios com um sarcasmo afiado, enquanto ele continuava a me encurralar.Senti a borda do penhasco sob meus pés. Um passo a mais e eu cairia. Meus olhos desceram para o vazio abaixo, a neve deslocada rolando em queda livre.— Salte! — A ordem veio como um desafio, fria e cruel. — Ou além de fraca, também é uma covarde?Engoli seco. Ele me testava. Queria ver até onde eu iria.— Eu te ace