POV: DAIMON
Não conseguia farejá-la. Seu cheiro não atravessava o ar, não marcava território, não provocava minha pele como antes. Mas havia algo... uma sensação sutil, quase imperceptível, que insistia em vibrar sob minha pele, suas emoções. Discretas, escondidas, como se fossem protegidas por alguma força desconhecida, mas ainda ali. Vivas.
— Alfa, tem certeza de que ela está viva? — Symon surgiu logo atrás, a respiração ofegante, os olhos atentos, farejando o ar ao nosso redor. — Sobreviver àquela queda, à correnteza e ao gelo... seria um milagre.
Rosnei baixo, as presas arrastando no ar gelado.
— A Deusa a queria tanto quanto Fenrir. — Minha voz saiu grave, carregada de frustração e instinto. — Há algo ocultando sua presenç
POV: DAIMONEle estava calado. Fenrir. Silencioso demais. Nunca o senti assim. Mas a fome estava ali. A necessidade. As imagens de carnificina preenchiam minha mente com vívido realismo: ossos esmagados, crânios estalando entre os dedos, peles sendo arrancadas com os inimigos ainda vivos, gritos abafados por sangue. O cheiro. O calor. A textura viscosa cobrindo minha pele. Eu era a encarnação do fim deles. Implacável. Impiedoso. Dominador até o último suspiro dos que se opusessem a mim.Foi quando senti.Um aroma familiar adocicado. Fraco. Singelo. Mas presente. Um sopro no meio do caos. Meus sentidos se aguçaram atentos. Mantive a cabeça do inimigo pressionada contra o solo com uma das mãos, e lentamente, ergui o olhar.Lá estava ela.Uma silhueta. Pequena. Os cabelos platinados emolduravam seu rosto abatido. Os olhos
POV: AIRYSEra estranho dizer isso, mas parecia que eu havia apenas piscado e o tempo tinha passado. As lembranças ainda dançavam na minha mente enquanto eu segurava minha xícara quente de café entre as mãos. A fumaça subia lentamente, misturando-se com os sons da confusão no andar de baixo. Colen corria atrás de Alec e Theron, tentando forçar os dois a colocarem as blusas antes de irem para a escola.— Vem cá, pestinhas! — ele gritou entre risos, quase tropeçando no tapete. — Eu vou pegar vocês!— Você é muito lerdo, tio Colen! — Alec respondeu entre gargalhadas, se esgueirando por debaixo da mesa como uma sombra ágil.— É melhor desistir, tio, você não é páreo para nós. — Theron provocou com um sorriso presunçoso, jogando
POV: AIRYSEle franziu o cenho com o apelido e sorriu singelo, me abraçando de volta. Logo os dois irmãos se juntaram, apertando nossos corpos num abraço coletivo que me fez estremecer. Aquilo sempre me desarmava.Jack e Colen estavam quietos demais. Eles trocavam olhares de tempos em tempos e, por instinto, percebi o desconforto em ambos. Já tinha notado esse comportamento antes, sempre que eu ficava tonta. No começo, achei que era apenas preocupação, mas com o tempo, comecei a desconfiar.Principalmente depois de ouvir Alec contar que os pegou discutindo sobre "dose demasiada" e "controle da realidade de tempo". Eles o levaram de volta ao quarto, achando que era mais um episódio de sonambulismo. Alec fingiu não ter escutado nada, mas contou pra mim em segredo.Apesar de Jack e Colen estarem presentes desde o nascimento dos trigêmeos e serem ado
POV: ORION— Orion. — Alec me chamou com a voz baixa, quase como um sussurro. Seus pés balançavam nervosos sob o banco da van, e os olhos amarelados estavam fixos no chão. — Eu sonhei de novo... com aquele lobo grande. Ele estava no meio da floresta, os olhos vermelhos como sangue... ele uivava pra gente, parecia... parecia triste e furioso ao mesmo tempo. Acho que a mamãe precisa saber.Apertei sua mão devagar. Sempre fazia isso quando o cheiro do medo dele ficava mais forte, mais denso. Um medo que grudava na pele da gente. O toque dele estava gelado, e ele tremia um pouco.— Você sabe que a mamãe não tá bem. — murmurei firme, tentando esconder o aperto no meu próprio peito. — Foi só mais um pesadelo, Alec. Só isso. Não precisa ficar com medo.— Orion... — Theron entrou na con
POV: ORIONAlec fungou, e as lágrimas caíram mesmo que ele tentasse segurar.— Eu não quero chatear a mamãe. — murmurou. — Mas... também não quero continuar assim. Eu... esse colar... me sufoca. Eu não me sinto seguro com ele. Só... só mais preso. E eu não queria preocupar ela mais do que já tá.— Tudo bem... temos um combinado. — rosnei baixinho, forçando o som a ficar preso na garganta. A mamãe sempre dizia que a gente não podia rosnar na escola, que chamava atenção. Mas era difícil me controlar quando algo me incomodava.— Na hora do recreio — continuei olhando nos olhos dos dois — vamos até aquele lugar secreto, tiramos os colares, vemos o que acontece e depois colocamos de volta. Ninguém pode saber.— Tá
POV: AIRYSFui leiloada.Como Luna de alta classe, a companheira do Alfa da minha alcateia, eu deveria ser respeitada, protegida, reverenciada. Mas não.Fui traída. Abandonada. Vendida como mercadoria barata.E o mais humilhante? A pessoa que me entregou foi o homem que jurei amar e servir por toda a vida.Minha cabeça latejava, um zumbido insistente martelava meus ouvidos. Gemi, tentando abrir os olhos, apenas para ser recebida por uma luz ofuscante que queimava minhas retinas. Algo áspero roçava contra minha pele, cortando meus pulsos já feridos. Minhas articulações gritavam em protesto.Respirar era um desafio. A coleira fria em meu pescoço apertava cada tentativa de puxar ar, até mesmo engolir saliva era difícil. Cada movimento era uma punição, minhas costelas doíam, prova da surra brutal que havia recebido antes de ser jogada aqui.Tudo por uma farsa. Uma armação cruel.E a responsável?A mulher que mais confiei na vida.Minha própria irmã.A mesma que peguei na cama do meu marid
POV: AIRYS— Meu pulso! — O homem baixo e repugnante resmungou, ainda preso no aperto do gigante à minha frente. Um estralo seco ecoou pelo salão, seguido por um grito de dor cortante.— Aí! Por favor... Aí...O cheiro de suor e medo emanava dele.— Se-senhor, por favor... — O leiloeiro balbuciou, a voz trêmula. — A mercadoria já foi vendida. O martelo já foi batido.O homem imponente que segurava o nojento torceu seu pulso mais uma vez, forçando outro gemido de agonia antes de soltá-lo bruscamente.— Dois milhões de dólares. — Sua voz saiu baixa, profunda, cortante e afiada. — E seus membros intactos.A ameaça era clara. Ou aceitavam, ou morreriam ali mesmo.— O quê?! — A voz estridente de Eloy explodiu em um grito irritante, me fazendo cerrar os dentes. — Airys não vale tudo isso! Por que pagar tanto por ela?!— A mercadoria leiloada é minha Luna renegada! — Malik interveio, tentando manter a compostura, mas falhando miseravelmente. O leve tremor em suas pernas não passou despercebi
POV: AIRYS— Por que está me levando? — Indague nervosa, me ajustando ao banco próxima à porta do veículo. — Havia várias lobas naquele lugar, por que escolheu uma humana?Ele não respondeu, seus olhos se mantinham firmes na estrada, ignorando minha presença.— Pretende me matar? — Insistir, apertando o cinto. — O que você quer de mim?— Você faz perguntas demais. — Ele bufou baixo, mal-humorado. Engoli em seco. Cada fibra do meu corpo gritava em revolta. O alfa supremo, o maldito, Daimon Fenrir tinha uma reputação perigosa, um Alfa cuja fera ancestral o tomou em fúria, massacrando todos em sua volta e tirando a vida do próprio irmão.Seu lobo era hostil com qualquer um que se aproximasse, muitos não saiam vivos ao se aproximar demais dele, ao menos, era o diziam em minha alcateia.Eu precisava fugir!Daimon dirigia em silêncio, seu olhar fixo na estrada, enquanto eu olhava para os lados agitada, até que quebrou o silêncio.— Antes... — Seu tom desceu uma nota, ele me olhou de canto