POV: AIRYS
— Por que está me levando? — Indague nervosa, me ajustando ao banco próxima à porta do veículo. — Havia várias lobas naquele lugar, por que escolheu uma humana?
Ele não respondeu, seus olhos se mantinham firmes na estrada, ignorando minha presença.
— Pretende me matar? — Insistir, apertando o cinto. — O que você quer de mim?
— Você faz perguntas demais. — Ele bufou baixo, mal-humorado.
Engoli em seco. Cada fibra do meu corpo gritava em revolta. O alfa supremo, o maldito, Daimon Fenrir tinha uma reputação perigosa, um Alfa cuja fera ancestral o tomou em fúria, massacrando todos em sua volta e tirando a vida do próprio irmão.
Seu lobo era hostil com qualquer um que se aproximasse, muitos não saiam vivos ao se aproximar demais dele, ao menos, era o diziam em minha alcateia.
Eu precisava fugir!
Daimon dirigia em silêncio, seu olhar fixo na estrada, enquanto eu olhava para os lados agitada, até que quebrou o silêncio.
— Antes... — Seu tom desceu uma nota, ele me olhou de canto. — Você não parecia me temer, pequena.
Antes?
Minha pele arrepiou. Antes que eu pudesse perguntar, Daimon parou o carro em meio a estrada escura, se virando para me encarar. Meu corpo enrijeceu, ele se inclinou para frente pousando uma das mãos próxima a minha cabeça contra o vidro do veículo, me “prendendo”, fui para trás com a cabeça em reflexo me vendo perto demais de sua boca, ele umedeceu os lábios, tocando a ponta do nariz no meu, fechando os olhos e farejando lentamente.
— Sinto o cheiro de medo, raiva, indignação, — Ele sussurrou grave por entre as presas. — Mas... há algo mais...
Engoli em seco, meus olhos se fixaram em sua boca, seu calor me envolvia, meu corpo formigava e se aquecia em pontos sensíveis, mas o medo era latente demais.
Daimon inspirou profundamente, soltando um rosnado perigoso que vibrou de seu peito.
— Deveria tomar cuidado com o aroma que exala perto de um lobo, humana!
Quando seus os olhos se abriram, suas íris estavam profundas em tom terroso sangue, podia ver o cintilar de sua fera na superfície.
Eu não esperei para entender o que estava acontecendo.
Minha mão voou até a maçaneta da porta, e antes que o Alfa pudesse reagir, eu a abri e rolei para fora contra a neve fria, raspando os joelhos. Meu corpo protestou com o impacto, mas eu ignorei a dor, limpando o rosto e me levantando, comecei a correr.
O som de um uivo profundo ressoava as minhas costas, meus pés afundavam na neve fria, o ar ficou pesado nos pulmões, e quando me virei por instinto, meu estômago revirou.
Ele não estava mais no carro.
Em seu lugar, estava uma enorme fera de patas gigantes e pelagem negra com olhos vermelhos que brilhava predatório e voraz.
As pressas proeminentes, rugindo prolongado, baixo e ameaçador, um som que reverberou pelo meu corpo inteiro me fazendo vacilar temendo.
— Péssima ideia, coelhinha — uivou grave e mostrando as presas antes de disparar as longas patas em minha direção.
O vento forte da tempestade castigava a minha pele enquanto meus pés afundavam na neve, tentando correr, o anoitecer logo nos alcançou dificultando minha fuga, cada passo era um desafio contra o frio e o medo que latejava dentro de mim. O coração martelava em meus ouvidos, abafando os sons da floresta densa ao meu redor.
Eu estava fugindo. Fugindo do Alfa Supremo!
O lobo negro me perseguia, suas patas esmagando a neve com um peso feroz. O som de sua respiração era profundo, gutural, carregado de uma ameaça que me fazia correr ainda mais rápido.
Eu não podia parar. Não podia olhar para trás.
— Corre, presa. — sua voz rouca soou na escuridão, provocando arrepios em cada centímetro do meu corpo.
M*****a provocação, de que lado vinha?
Ele estava se divertindo com isso, se divertindo em me caçar como uma presa.
Saltei sobre um tronco caído, meu corpo era ágil apesar da exaustão. Meus pulmões ardiam pelo ar denso e gélido da tempestade, minha visão começava a embaçar pela nevasca, mas minha vontade de escapar era maior do que a dor. Eu precisava encontrar um jeito de despistá-lo.
Se ele me achasse, eu morrerei!
O uivo do monstro ecoou pela floresta, um som profundo que fez o chão vibrar sob meus pés. Meu corpo congelou por um instante, o instinto primitivo me alertando do perigo iminente.
Um segundo depois, ele estava ali.
A enorme criatura saltou na minha frente, aterrissando com força, sua forma bestial dominando tudo ao redor. O pelo negro era tão escuro que se fundia à noite, mas seus olhos… aqueles olhos vermelhos brilhavam como brasas ardentes.
Daimon raspou as garras contra a neve, roçando perigosamente próximo à bainha do meu vestido fino, sujo e rasgado.
— Te achei. — A criatura rosnou baixo e predatório.
Eu arquejei, os pulmões se contraindo com rapidez. Ele estava perto, tão perto que eu podia sentir seu calor mesmo com o frio congelante ao nosso redor.
— Você não pode me obrigar a ir com você! — gritei, tentando ignorar o tremor na minha voz.
Seus olhos semicerraram, e um brilho de diversão dançou em suas íris escarlates. Ele avançou um passo, a neve compactando sob seu peso monstruoso.
— Quer testar sua teoria? — sua voz reverberou, carregada de arrogância e uma pitada de malícia.
O maldito queria brincar. Mas eu não era brinquedo de ninguém.
Aproveitei o instante em que ele abaixou a cabeça, preparando-se para avançar, cerrei o punho com força. Com um movimento rápido, joguei todo meu peso para frente e desferi um soco direto contra o seu focinho.
Daimon parou balançando a cabeça.
O choque durou um segundo antes de sua respiração pesada escapar, e, Então… ele riu.
Um som rouco, grave, quase perigoso.
— Você realmente não tem medo de mim, tem? — ele inclinou a cabeça balançando as orelhas peludas, derrubando o gelo acumulado em seus pelos, evidenciando mais os caninos afiados que reluzia quando abria a boca em um sorriso animalesco.
Meu coração disparou. Droga, ele era lindo até em sua forma Lupina, havia algo em sua áurea, algo que me fazia vibrar por dentro além do medo, como se fosse algo além da caça e da fuga.
— Você não é tão assustador quanto pensa. — retruquei assumindo uma coragem que não tinha, minhas mãos ainda tremiam pelo impacto do golpe juntando ao medo de que eu recusava admitir sentir, enquanto esfregava uma mão na outra.
— Isso torna as coisas mais interessantes, — ele murmurou, inclinando-se levemente para frente em posição de ataque.
Antes que eu pudesse reagir, ele se moveu. Rápido demais.
Eu me joguei para o lado, escapando por pouco quando suas garras rasparam contra a neve onde eu estava um segundo antes. Meus pés deslizaram e corri, mas o som dos galhos quebrando atrás de mim me dizia que ele ainda estava logo atrás.
— Precisa ser mais rápida que isto, coelhinha. — O rugido explodiu de seu peito feroz.
— Seu maldito! — Eu gritei pelas costas.
Parei em uma árvore ofegante, minhas articulações doíam pelo frio, uma chuva fina começou a cair e o céu relampear.
— Ótimo, claro que choveria. — Resmunguei. — Como se já não estivesse frio o bastante.
Meus dentes se chocavam, peguei algumas folhas com as mãos tremulas esfregando contra minha pele para camuflar meu cheiro, meu ritmo cardíaco estava descompassado, o temporal aumentava, a cada estralo de galho ou folha me fazia saltar assustada.
— Deusa, por favor, só dessa vez... Me proteja! — Implorei aos céus, me virando pronta para correr novamente, mas dei de cara com a grande fera que bufou contra o meu rosto.
— Quem você acha que me mandou? — Seus olhos vermelhos brilharam, enquanto a língua passava em volta as presas.
POV: AIRYSRecuei alguns passos, meu coração batendo contra as costelas. Ele avançava devagar, sua forma lupina imponente, cada passo calculado, silencioso e letal. O ar gelado queimava minha pele, mas o frio não era nada comparado ao pavor que percorria minha espinha.— Me recuso a acreditar que a Deusa enviaria um monstro para me buscar. — Gritei, mesmo tremula.Medo. Raiva.Um instinto primitivo pulsava em minhas veias mandando fugir.Daimon rosnou, o som profundo vibrando no peito dele, reverberando dentro de mim.— Estou tão surpreso quanto, você, pequena coelhinha. — A provocação escorreu de seus lábios com um sarcasmo afiado, enquanto ele continuava a me encurralar.Senti a borda do penhasco sob meus pés. Um passo a mais e eu cairia. Meus olhos desceram para o vazio abaixo, a neve deslocada rolando em queda livre.— Salte! — A ordem veio como um desafio, fria e cruel. — Ou além de fraca, também é uma covarde?Engoli seco. Ele me testava. Queria ver até onde eu iria.— Eu te ace
POV: AIRYSPisquei algumas vezes quando ele se moveu rápido, me puxando para cima sem aviso.Seus braços fortes envolveram minhas pernas, me tirando do chão sem esforço. Meu corpo ficou colado ao dele, minha cabeça próxima ao seu tórax. O calor que ele emanava contrastava com o frio ao redor.— Eu posso andar. — Resmunguei, mesmo gostando do calor que sua pele irradiava.— Sangrará mais. — Daimon respondeu, indiferente.Fiz uma careta.— Isso não pareceu te preocupar antes, quando estava me caçando. — Empurrei seu ombro, tentando me soltar. — Me deixe descer.Ele ignorou minha tentativa de resistência.— Seu sangue tem um cheiro doce. Atrairá predadores. — Seu olhar encontrou o me dê forma intensa.— Além do predador que já me carrega? — Levantei o queixo, desafiando-o. — Não sabia que o Alfa Supremo era irônico.Ele riu baixo, um som grave, sem humor.— Para uma presa, você fala demais. — O tom veio carregado de irritação.Daimon parou em frente ao carro e me lançou um olhar frio.—
POV: DAIMON“Você ouviu?” Fenrir rosnou dentro de mim, sua voz grave e fria ressoando na minha mente.Assenti levemente, analisando a pequena criatura à minha frente. Ela tremia, encolhida contra o frio, tentando se aquecer com as próprias mãos. Presa. Frágil. Pequena demais para estar aqui.— Por que ela? — Questionei Fenrir, observando a humana se aproximar das gravuras entalhadas na pedra. Apenas receptáculos do grande lobo ancestral conseguiam lê-las. Mas Airys… ela parecia entender algo.Seus dedos deslizaram pelas inscrições. Notei quando seus olhos se fecharam por um instante, a respiração ficando mais pesada. Um segundo depois, ela recuou bruscamente, como se tivesse visto um fantasma. Seu cheiro mudou. O medo de sempre ainda estava ali, mas agora misturado a algo diferente. Algo mais profundo.“Temendo mais do que nós.” Fenrir estalou a língua, impaciente. Ele estava perto demais da superfície.— Há algo nela. — Tombei a cabeça de lado, tocando sua costas a empurrando para fr
POV: AIRYSMe via em meio à escuridão. Próximo à grande janela, uma silhueta imponente chamava minha atenção. Ombros largos, pele nua iluminada pela pouca luz. Ele virava lentamente com um copo entre os dedos, fixando em mim.Olhos terrosos que cintilavam em um vermelho intenso. Predatórios. Avaliando. Caçando.Meu peito subia e descia rápido, como se algo dentro de mim soubesse que eu precisava correr. Mas meus pés não se moviam. Algo nele me chamava, me atraía. No instante seguinte, ele desapareceu.Um arrepio subiu por minha espinha quando senti o calor de sua respiração contra minha nuca.— Fuja enquanto ainda há tempo. — A voz grave e rouca vibrava contra meus cabelos, provocando um estremecimento involuntário em meu corpo.Não respondi. Apenas me virei, lentamente, encarando o homem à minha frente. A tensão entre nós se expandia. Minha mão subiu, hesitante, tocando sua pele quente. Meus dedos deslizaram por seu peito firme, sentindo cada contorno, cada músculo que se enrijecia s
POV: AIRYS— Designada? — Indaguei confusa, tentando compreender o significado. — O que isto quer dizer?Daimon não respondeu. Seu olhar permaneceu fixo na mulher de olhos celestes, como se a conversa não me envolvesse. Um frio percorreu minha espinha.O que eu estava fazendo ali?— Inicie o teste. — Daimon ordenou, sua voz grave ecoando no salão.— Que teste? — Minha voz se elevou, tentando quebrar a barreira de silêncio. — O que vão fazer comigo?!Ninguém respondeu.Antes que pudesse reagir, algo me atingiu. Meu corpo perdeu a firmeza, minha visão turvou. O ar foi arrancado dos meus pulmões, e o chão desapareceu sob meus pés. O salão sumiu. O tempo deixou de existir.Minha cabeça girava quando me vi em um lugar desconhecido.A névoa espessa cobria o chão, rastejando ao redor como se tivesse vida própria. O cheiro úmido da terra invadiu minhas narinas. Meu corpo arrepiou inteiro, a sensação de perigo se tornando insuportável.“É perigoso ficarmos aqui.” Uma voz sussurrou ao meu redor
POV: AIRYS— O que foi aquilo?! — Gritei, recuperando o fôlego enquanto socava o chão. Meu corpo tremia, não sabia se era pelo medo ou pela raiva. Me levantei bruscamente, os olhos varrendo o ambiente. — O que vocês fizeram comigo? Onde eu estava?!As mulheres se entreolharam, mas nenhuma respondeu. Seus olhares recaíram sobre Daimon, que permanecia impassível, como se minha fúria não fosse nada além de um incômodo menor.— Você! — Avancei em sua direção, o sangue fervendo em minhas veias. Daimon não se moveu. Mantinha as mãos nos bolsos, a postura relaxada, mas seu olhar seguia cada um dos meus passos. Como se já soubesse exatamente o que eu faria.Levantei o dedo, apontando para ele.— Acha que pode me caçar, me jogar naquele inferno com uma fera e brincar comigo?!Seus olhos desceram lentamente para meu dedo erguido. Seu cenho franziu levemente e uma sobrancelha arqueou, a expressão carregada de um aviso silencioso.— Eu não vou ser sua presa! — Continuei sentindo a adrenalina alim
POV: AIRYSA voz do beta rompeu o silêncio, e eu me virei para ele.— O Alfa me alertou que você estava analisando cada caminho por onde passava. A mansão foi construída para ser impenetrável.Eles haviam percebido minhas intenções.— Estão tentando evitar que alguém entre... ou saia? — Me aproximei do seu lado.— Você é astuta. — Symon comentou enquanto dobrava um corredor estreito, escolhendo um caminho diferente. Franzi o cenho, confusa com a mudança de rota.— A segunda opção é a mais adequada. — Ele continuou, sem me olhar. — Deve saber das histórias sobre o novo Lycan Supremo.Engoli em seco.— Sei que sua fera é instável. Na noite do Solstício Sombrio, Daimon foi consumido por seu lobo, Fenrir. Ele perdeu o controle, tomado pela sede de sangue e guerra... e isso levou à morte de seu próprio irmão. — Minha voz vacilou ao lembrar da história que o antigo Alfa da minha alcateia, o pai de Malik, contava com tanto temor. — É isso que estão tentando conter?Symon permaneceu em silênc
POV: AIRYSMeu corpo estava tenso. Controlei a respiração, tentando não demonstrar o medo que sempre surgia quando ele se aproximava. Se Daimon quisesse me matar, bastaria um único movimento. Eu não teria chance.— Vai manter o mistério ou pretende me contar por que ainda estou viva? — Arqueei uma sobrancelha, em um desafio perigoso.Inclinei-me para frente, reunindo uma coragem que eu fingia ter. Meus dedos deslizaram lentamente por sua camisa, ousados demais para alguém na minha posição.Daimon permaneceu imóvel, observando cada movimento, seus olhos terrosos me analisando com atenção afiada.Minhas mãos pararam nos botões abertos de sua camisa. O tecido se afastou levemente quando toquei sua pele quente, revelando as tatuagens marcadas em traços profundos.— Os quatro pilares do equilíbrio lupino… — murmurei, reconhecendo as inscrições e símbolos.Passei os dedos pelas marcas, sentindo a textura da tinta e da pele sob eles.— O que mais suas tatuagens contam, Rei Alfa?Daimon não r