03 – CAÇADA

POV: AIRYS

— Por que está me levando? — Indague nervosa, me ajustando ao banco próxima à porta do veículo. — Havia várias lobas naquele lugar, por que escolheu uma humana?

Ele não respondeu, seus olhos se mantinham firmes na estrada, ignorando minha presença.

— Pretende me matar? — Insistir, apertando o cinto. — O que você quer de mim?

— Você faz perguntas demais. — Ele bufou baixo, mal-humorado.  

Engoli em seco. Cada fibra do meu corpo gritava em revolta. O alfa supremo, o maldito, Daimon Fenrir tinha uma reputação perigosa, um Alfa cuja fera ancestral o tomou em fúria, massacrando todos em sua volta e tirando a vida do próprio irmão.

Seu lobo era hostil com qualquer um que se aproximasse, muitos não saiam vivos ao se aproximar demais dele, ao menos, era o diziam em minha alcateia.

Eu precisava fugir!

Daimon dirigia em silêncio, seu olhar fixo na estrada, enquanto eu olhava para os lados agitada, até que quebrou o silêncio.

— Antes... — Seu tom desceu uma nota, ele me olhou de canto. — Você não parecia me temer, pequena.

Antes?

Minha pele arrepiou. Antes que eu pudesse perguntar, Daimon parou o carro em meio a estrada escura, se virando para me encarar. Meu corpo enrijeceu, ele se inclinou para frente pousando uma das mãos próxima a minha cabeça contra o vidro do veículo, me “prendendo”, fui para trás com a cabeça em reflexo me vendo perto demais de sua boca, ele umedeceu os lábios, tocando a ponta do nariz no meu, fechando os olhos e farejando lentamente.

— Sinto o cheiro de medo, raiva, indignação, — Ele sussurrou grave por entre as presas. — Mas... há algo mais...

Engoli em seco, meus olhos se fixaram em sua boca, seu calor me envolvia, meu corpo formigava e se aquecia em pontos sensíveis, mas o medo era latente demais.

Daimon inspirou profundamente, soltando um rosnado perigoso que vibrou de seu peito.

— Deveria tomar cuidado com o aroma que exala perto de um lobo, humana!

Quando seus os olhos se abriram, suas íris estavam profundas em tom terroso sangue, podia ver o cintilar de sua fera na superfície.

Eu não esperei para entender o que estava acontecendo.

Minha mão voou até a maçaneta da porta, e antes que o Alfa pudesse reagir, eu a abri e rolei para fora contra a neve fria, raspando os joelhos. Meu corpo protestou com o impacto, mas eu ignorei a dor, limpando o rosto e me levantando, comecei a correr.

O som de um uivo profundo ressoava as minhas costas, meus pés afundavam na neve fria, o ar ficou pesado nos pulmões, e quando me virei por instinto, meu estômago revirou.

Ele não estava mais no carro.

Em seu lugar, estava uma enorme fera de patas gigantes e pelagem negra com olhos vermelhos que brilhava predatório e voraz.

As pressas proeminentes, rugindo prolongado, baixo e ameaçador, um som que reverberou pelo meu corpo inteiro me fazendo vacilar temendo.

— Péssima ideia, coelhinha — uivou grave e mostrando as presas antes de disparar as longas patas em minha direção.

O vento forte da tempestade castigava a minha pele enquanto meus pés afundavam na neve, tentando correr, o anoitecer logo nos alcançou dificultando minha fuga, cada passo era um desafio contra o frio e o medo que latejava dentro de mim. O coração martelava em meus ouvidos, abafando os sons da floresta densa ao meu redor.

Eu estava fugindo. Fugindo do Alfa Supremo!

O lobo negro me perseguia, suas patas esmagando a neve com um peso feroz. O som de sua respiração era profundo, gutural, carregado de uma ameaça que me fazia correr ainda mais rápido.

Eu não podia parar. Não podia olhar para trás.

— Corre, presa. — sua voz rouca soou na escuridão, provocando arrepios em cada centímetro do meu corpo.

M*****a provocação, de que lado vinha?

Ele estava se divertindo com isso, se divertindo em me caçar como uma presa.

Saltei sobre um tronco caído, meu corpo era ágil apesar da exaustão. Meus pulmões ardiam pelo ar denso e gélido da tempestade, minha visão começava a embaçar pela nevasca, mas minha vontade de escapar era maior do que a dor. Eu precisava encontrar um jeito de despistá-lo.

Se ele me achasse, eu morrerei!

O uivo do monstro ecoou pela floresta, um som profundo que fez o chão vibrar sob meus pés. Meu corpo congelou por um instante, o instinto primitivo me alertando do perigo iminente.

Um segundo depois, ele estava ali.

A enorme criatura saltou na minha frente, aterrissando com força, sua forma bestial dominando tudo ao redor. O pelo negro era tão escuro que se fundia à noite, mas seus olhos… aqueles olhos vermelhos brilhavam como brasas ardentes.

Daimon raspou as garras contra a neve, roçando perigosamente próximo à bainha do meu vestido fino, sujo e rasgado.

— Te achei. — A criatura rosnou baixo e predatório.

Eu arquejei, os pulmões se contraindo com rapidez. Ele estava perto, tão perto que eu podia sentir seu calor mesmo com o frio congelante ao nosso redor.

— Você não pode me obrigar a ir com você! — gritei, tentando ignorar o tremor na minha voz.

Seus olhos semicerraram, e um brilho de diversão dançou em suas íris escarlates. Ele avançou um passo, a neve compactando sob seu peso monstruoso.

— Quer testar sua teoria? — sua voz reverberou, carregada de arrogância e uma pitada de malícia.

O maldito queria brincar. Mas eu não era brinquedo de ninguém.

Aproveitei o instante em que ele abaixou a cabeça, preparando-se para avançar, cerrei o punho com força. Com um movimento rápido, joguei todo meu peso para frente e desferi um soco direto contra o seu focinho.

Daimon parou balançando a cabeça.

O choque durou um segundo antes de sua respiração pesada escapar, e, Então… ele riu.

Um som rouco, grave, quase perigoso.

— Você realmente não tem medo de mim, tem? — ele inclinou a cabeça balançando as orelhas peludas, derrubando o gelo acumulado em seus pelos, evidenciando mais os caninos afiados que reluzia quando abria a boca em um sorriso animalesco.

Meu coração disparou. Droga, ele era lindo até em sua forma Lupina, havia algo em sua áurea, algo que me fazia vibrar por dentro além do medo, como se fosse algo além da caça e da fuga.

— Você não é tão assustador quanto pensa. — retruquei assumindo uma coragem que não tinha, minhas mãos ainda tremiam pelo impacto do golpe juntando ao medo de que eu recusava admitir sentir, enquanto esfregava uma mão na outra.

— Isso torna as coisas mais interessantes, — ele murmurou, inclinando-se levemente para frente em posição de ataque.

Antes que eu pudesse reagir, ele se moveu. Rápido demais.

Eu me joguei para o lado, escapando por pouco quando suas garras rasparam contra a neve onde eu estava um segundo antes. Meus pés deslizaram e corri, mas o som dos galhos quebrando atrás de mim me dizia que ele ainda estava logo atrás.

— Precisa ser mais rápida que isto, coelhinha. — O rugido explodiu de seu peito feroz.

— Seu maldito! — Eu gritei pelas costas.

Parei em uma árvore ofegante, minhas articulações doíam pelo frio, uma chuva fina começou a cair e o céu relampear.

— Ótimo, claro que choveria. — Resmunguei. — Como se já não estivesse frio o bastante.

Meus dentes se chocavam, peguei algumas folhas com as mãos tremulas esfregando contra minha pele para camuflar meu cheiro, meu ritmo cardíaco estava descompassado, o temporal aumentava, a cada estralo de galho ou folha me fazia saltar assustada.

— Deusa, por favor, só dessa vez... Me proteja! — Implorei aos céus, me virando pronta para correr novamente, mas dei de cara com a grande fera que bufou contra o meu rosto.

— Quem você acha que me mandou? — Seus olhos vermelhos brilharam, enquanto a língua passava em volta as presas.

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