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05 – A ESCRAVA DO ALFA SUPREMO

POV: AIRYS

Pisquei algumas vezes quando ele se moveu rápido, me puxando para cima sem aviso.

Seus braços fortes envolveram minhas pernas, me tirando do chão sem esforço. Meu corpo ficou colado ao dele, minha cabeça próxima ao seu tórax. O calor que ele emanava contrastava com o frio ao redor.

— Eu posso andar. — Resmunguei, mesmo gostando do calor que sua pele irradiava.

— Sangrará mais. — Daimon respondeu, indiferente.

Fiz uma careta.

— Isso não pareceu te preocupar antes, quando estava me caçando. — Empurrei seu ombro, tentando me soltar. — Me deixe descer.

Ele ignorou minha tentativa de resistência.

— Seu sangue tem um cheiro doce. Atrairá predadores. — Seu olhar encontrou o me dê forma intensa.

— Além do predador que já me carrega? — Levantei o queixo, desafiando-o. — Não sabia que o Alfa Supremo era irônico.

Ele riu baixo, um som grave, sem humor.

— Para uma presa, você fala demais. — O tom veio carregado de irritação.

Daimon parou em frente ao carro e me lançou um olhar frio.

— Agora entendo por que a venderam.

Abri a boca para responder, mas as palavras morreram antes de saírem. Um aperto incômodo cresceu no meu peito.

O que eu esperava?

Fui vendida como mercadoria.

E entre ser entregue a uma fera ou a um bordel, talvez essa fosse a opção menos pior.

Se esse era o destino traçado pela Deusa, então ela definitivamente estava fazendo um péssimo trabalho.

Assim que a porta se abriu, fui empurrada para dentro. Antes que pudesse reagir, Daimon socou a porta do carro com força, amassando o metal antes de entrar pelo outro lado.

Franzi o cenho, me virando para ele. Seu olhar intenso encontrou o meu de canto, analisando minha reação.

— Se saltar do veículo mais uma vez, não será apenas caçada. — Sua voz saiu rouca, misturada com um tom mais profundo.

Um arrepio subiu pela minha espinha.

Um de seus olhos estava vermelho sangue, o outro mantinha o tom terroso. Sua fera estava parcialmente no controle.

Meu corpo ficou tenso. Eu estava encurralada dentro do carro, presa com um monstro instável.

— Fenrir estava avaliando você… — Ele inclinou alguns centímetros, predatório.

Minhas costas se pressionaram contra a porta, meus dedos apertando o estofado.

— Fenrir? — Hesitei.

Daimon umedeceu os lábios.

— Você não passou no primeiro teste. — Sua pupila dilatou, fundindo os dois tons em um só. — Não gostamos de desperdiçar nosso tempo, humana.

Engoli seco e assenti em silêncio, sem ter ideia do que dizer.

— Se teme a morte... Talvez tenha sido um erro tê-la comprado. — Um rosnado baixo acompanhou suas palavras, impaciente.

Ele se virou para a estrada, os dedos apertando o volante.

Seus músculos estavam rígidos, os nós dos dedos brancos de força. As garras estavam expostas, compridas demais para sua forma humana.

A energia assassina que emanava dele era sufocante.

Eu não me mexi.

A respiração dele era profunda, controlada. Mas tudo nele parecia prestes a explodir.

Eu nunca tinha sentido algo assim antes.

— Eu não pedi por isso… — Sussurrei, torcendo as mãos no colo em um gesto nervoso.

No retrovisor, vi Daimon me observar. Seu olhar era intenso, avaliador.

— Por que me comprou, Alfa?

Ele não respondeu. Apenas tirou a mão do câmbio e a pousou sobre as minhas, impedindo meus dedos inquietos de continuarem o movimento.

Minha respiração travou.

Seus dedos eram ásperos, firmes, grandes o suficiente para cobrir completamente os meus. Havia cortes recentes e marcas nos nós dos dedos, como se tivesse socado algo recentemente.

Levantei os olhos devagar e encontrei os dele. Ele já estava me observando.

— Você está gelada. — Comentou sem emoção, ligando o aquecedor do carro.

O motor roncou quando ele acelerou, ignorando a tempestade que castigava a estrada.

Tentei puxar minha mão, mas Daimon não soltou.

Franzi o cenho. Esse homem era estranho. Incomum.

— Por que foi vendida? — Sua voz veio de repente, firme.

Ele virou meu pulso para cima, pressionando dois dedos sobre minha pele, sentindo minha pulsação.

— Você ouviu o que meu ex-marido disse. — Minha voz soou amarga. — Fui acusada de traição.

A lembrança fez meu estômago revirar. A humilhação, as mentiras… tudo voltou à tona.

— E qual é a sua verdade? — Daimon perguntou sem desviar os olhos da estrada.

Mas seus dedos continuaram ali. Sentindo cada batida acelerada do meu coração.

Eu engoli em seco.

— A verdade é uma só! — Fechei a mão com força e puxei de volta, desviando o olhar para a janela. — Me acusaram de traição. Disseram que passei a noite com outro homem, em um quarto próximo ao bar onde eu bebia.

— E traiu? — A mudança em sua postura foi sutil, mas perceptível. — Você se lembra do que aconteceu?

Por que ele estava tão interessado nisso?

Era mais um teste?

Respirei fundo.

— Tudo que me lembro é de ter encontrado meu marido na cama com a minha irmã. Na minha casa. — A raiva subiu pelo meu peito, queimando. — Ameacei que contaria ao conselho lupino sobre a traição. Queria uma audiência com... você.

Olhei de canto, tentando captar alguma reação, mas Daimon não se virou. Ainda assim, percebi que suas narinas se dilatavam de tempos em tempos.

Ele estava farejando algo.

Mentiras? Ou tentava captar minhas emoções?

— Depois, fui ao bar. Queria afogar tudo na tequila. — Fechei os olhos por um instante, buscando os fragmentos de memória. — Me lembro de ouvir Malik dizendo que eu precisava descansar… e Eloy sorria ao fundo.

Minhas mãos apertaram meu próprio colo.

— Meu corpo pesava. Minha mente pulsava. Eu não tinha bebido tanto para me sentir assim.

A ansiedade tomou conta, ofeguei algumas vezes incrédula por tudo.

Então, Daimon rosnou. O som reverberou pelo espaço fechado, vibrando dentro de mim.

— Te drogaram.

Não foi uma pergunta. Foi uma certeza.

— Sim. — Meus olhos lacrimejaram. — Depois disto, lembro apenas de um quarto e uma presença imponente... Havia aquele olhar, aqueles olhos predatórios fixos em mim, tão tristes... Tão famintos, tão...

Me virei para Daimon que parou o carro me fitou com intensidade, olhos terrosos cintilando vermelho sangue.

Aquele olhar. Aquela intensidade.

Ele se inclinou para frente próximo demais, agarrando meu queixo:

— Tão o quê?

— Perdido... — as palavras saíram baixas e sem força.

Daimon me estudou por um longo momento. Seus olhos analisavam cada detalhe do meu rosto. Sua respiração mudou, ficando mais pesada.

— Você sabe quem era o homem do quarto? — Seus dentes se mostraram por um instante quando ele rosnou, e as garras tilintaram contra o volante. — Por que te enviaram para ele?

Revirei as lembranças, tentando juntar peças que não se encaixavam. Nada.

Por que ele queria tanto essa resposta?

Era algum inimigo do Alfa Supremo?

— E-eu... — Sibilei buscando alguma resposta. — Não.

Daimon me agarrou pela nuca e me puxou para frente, colando nossas testas.

Minha pele queimava.

Coloquei as mãos contra seu peito em um reflexo instintivo, tentando empurrá-lo, mas ele era sólido, implacável. Não cedia.

— Você deseja vingança, humana? — Ressoou imponente, sua pergunta me pegou desprevenida.

— Eu não... — Vacilei e notei um singelo sorriso se formando no canto de sua boca.

 — Um dia, terá que decidir se será a presa… ou a caçadora, Airys Monveil!

Daimon saiu do carro sem dizer nada, me deixando sozinha com a confusão em minha mente.

Ele sabia quem eu era?

Antes que eu pudesse processar, ouvi um ruído metálico. A porta ao meu lado foi arrancada sem esforço.

Engoli em seco e saí do carro, sentindo o ar gélido envolver minha pele.

Diante de mim, um grande portão se erguia. As gravuras entalhadas na superfície eram símbolos antigos, a escrita dos Lycans.

Meus olhos se fixaram neles. Algo parecia errado.

As palavras mudavam. As letras se realinhavam, como se estivessem sendo traduzidas diante dos meus olhos.

Antes que pudesse ler, uma rajada de vento forte rodopiou ao meu corpo, arrepiando minha pele. Minha respiração ficou presa na garganta quando um sussurro, baixo e etéreo, ecoou junto ao vento:

“A escolhida.”

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