06 – A HUMANA PECULIAR

POV: DAIMON

“Você ouviu?” Fenrir rosnou dentro de mim, sua voz grave e fria ressoando na minha mente.

Assenti levemente, analisando a pequena criatura à minha frente. Ela tremia, encolhida contra o frio, tentando se aquecer com as próprias mãos. Presa. Frágil. Pequena demais para estar aqui.

— Por que ela? — Questionei Fenrir, observando a humana se aproximar das gravuras entalhadas na pedra. Apenas receptáculos do grande lobo ancestral conseguiam lê-las. Mas Airys… ela parecia entender algo.

Seus dedos deslizaram pelas inscrições. Notei quando seus olhos se fecharam por um instante, a respiração ficando mais pesada. Um segundo depois, ela recuou bruscamente, como se tivesse visto um fantasma. Seu cheiro mudou. O medo de sempre ainda estava ali, mas agora misturado a algo diferente. Algo mais profundo.

“Temendo mais do que nós.” Fenrir estalou a língua, impaciente. Ele estava perto demais da superfície.

— Há algo nela. — Tombei a cabeça de lado, tocando sua costas a empurrando para frente para dentro da mansão imponente, sua pele estava fria sob os meus dedos quentes. Ela obedeceu sem resistência, os passos curtos e hesitantes conforme cruzava a entrada da mansão imponente.

Airys olhava ao redor, os olhos atentos ao ambiente, quando os murmúrios começaram, vi sua postura encolher ainda mais. Os olhares sobre ela não eram de ameaça, eram de pena.

— Por que estão nos encarando? — Sua voz saiu incerta, quase um sussurro.

— Você está perto demais de mim. — Dei de ombros, conduzindo-a pelos corredores a meia luz. — E ainda está viva...

— Por quê? — A humana parou no pé da escada em espiral, a voz hesitante. — Você pretende me matar, Alfa Supremo?

Virei-me lentamente, deixando minha presença pesar sobre ela. Meus olhos a prenderam no lugar, a ameaça clara na forma como minha presa se projetava sutilmente.

— Se eu quisesse você morta — falei, a voz baixa e afiada. — Já estaria no chão.

Ela estremeceu, o corpo tenso. Mas, para minha surpresa, ergueu o queixo. Seu medo era óbvio, os punhos fechados ao lado do corpo, os músculos contraídos, mas ela se recusava a recuar.

— O que pretende fazer comigo, fera? — Sua voz soou firme, mas havia um leve tremor. Seus olhos cor de mel brilharam, nuances esverdeadas que surgiam sutilmente em sua íris.

“A marca divina.” Fenrir rosnou dentro de mim, raspando as garras contra minha mente. Sua curiosidade era tão nítido quanto o meu próprio.

— Ainda não. — Cortei sua fome impaciente. Não era hora. Ainda não.

— Por que tanto interesse em uma humana traidora? — Airys forçou as palavras, sua respiração vacilante quando meu olhar pesou sobre ela. Dei um passo à frente, absorvendo seu aroma. Doce. Marcante. Seus sentimentos estavam em caos e eu gostava disso.

Gostava da forma como sua pele entregava o que sua boca tentava esconder.

Me Inclinei para frente, obrigando-a a ficar em silêncio. O único som que vinha dela era do seu coração acelerado e a respiração descompassada. Raspei minhas presas contra sua bochecha, cortando um filete de sangue. Lambi a gota vermelha lentamente. Seu corpo tremeu, um arfar abafado escapou de sua garganta.

— É o que pretendo descobrir. — Sussurrei, rosnando baixo antes de me afastar. Observei a confusão em seu semblante, a respiração ainda irregular.

Voltamos a caminhar. Airys olhava ao redor, absorvendo cada detalhe do ambiente. Parou diante dos quadros na parede, retratos dos antigos Fenrir. Seus dedos tocaram os olhos entalhados com reverência.

— Os antigos Supremos... Ouvi muitas histórias sobre eles. Lycans poderosos e temidos. — Seu timbre carregava curiosidade. Ela se aproximou mais, analisando os detalhes. — Mas os olhos... os seus são diferentes.

Ela se virou para mim, hesitante. Seus olhos percorreram meu rosto antes de dar um passo à frente. Com a mão trêmula, ergueu-a em minha direção. Rosnei em aviso, deixando meus caninos à mostra. Airys hesitou, mas algo a fez continuar. Seus dedos tocaram minha pele, deslizando pelas cicatrizes da bochecha, subindo pela sobrancelha e descendo ao redor dos meus olhos.

— Os seus são únicos. — Sua voz foi um sussurro.

Agarrei seu pulso com firmeza. Ela arfou, seus olhos se arregalaram.

— Alfa... — A palavra escapou de seus lábios.

— É perigoso me tocar sem permissão, humana. — grunhir baixo, carregado de ameaça. Ela não parecia entender ou temer a instabilidade da minha fera. Se conhecia os Fenrir, deveria estar apavorada como todos os outros.

— Não se iluda, você é apenas uma mercadoria vendida e comprada. Não tente se enganar com algo diferente. — Meus olhos fixaram nos dela, reforçando sua posição.

— E com o que eu me iludiria, fera? — Airys respondeu com desgosto. — Até onde sei, sou sua prisioneira contra a minha vontade e estou à mercê de um monstro cujas intenções ainda não me foram esclarecidas.

Arqueei uma sobrancelha, os olhos semicerrados.

— Prefere o bordel? Ou servir ao seu marido e sua irmã infiéis?

— Eu prefiro ser livre! — Ela gritou.

Abri a porta atrás dela e a empurrei para dentro do quarto sem paciência.

— Liberdade é algo que se conquista, coelhinha. — Rosnei, os caninos expostos. — Vá dormir. Amanhã, sua vida mudará para sempre.

Fechei a porta com força, ouvindo seus punhos baterem contra a madeira, acompanhados de um grito.

— Eu te odeio, Alfa Supremo!

Um sorriso surgiu em meus lábios.

“Ódio é um sentimento.” Fenrir provocou dentro de mim.

— É um começo. — Respondi, caminhando até a sala onde Symon esperava.

Meus olhos se voltaram para as telas de vigilância. Airys estava encolhida na cama, abraçando os joelhos, tremendo. Puxou a coberta sobre a cabeça, tentando se esconder do mundo.

“Choro.” Fenrir bufou dentro de mim. Eu sentia seu hálito quente na minha mente. Desde aquela noite, ele conseguia farejar e sentir suas emoções. Era... “Intenso.”

— Meu rei, tem certeza disto? — Symon reverenciou, chamando minha atenção.

Me virei para ele e depois voltei o olhar para as telas.

— Ela é apenas uma humana. Não tem um lobo. Poderá morrer. — O beta argumentou.

— Se ela for a designada, sobreviverá. — Me sentei na poltrona majestosa. — Se não... Terei desperdiçado tempo e recursos com uma presa interessante.

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