POV: AIRYSMinhas pernas vacilaram.Uma única lágrima escorreu pelo canto do meu olho antes que eu pudesse evitar. O aperto no peito veio forte, esmagador. Meus lábios estremeceram.Fiquei em silêncio, sem coragem de encará-lo.“Como ele sabe?”“Como consegue sentir isso?”Desde que minha mãe morreu ou melhor, foi assassinada, nunca me senti verdadeiramente amada. Sempre fui um erro. Sempre fui... apenas a humana.Engoli a dor respirando fundo, tentando me recompor.— Eu já terminei minha refeição, Alfa. Posso me recolher? — Era tudo o que conseguia dizer.Daimon deslizou o polegar por minha bochecha, limpando a trilha úmida da lágrima. Seu toque era quente, áspero e impiedoso.— Me olhe. — Sua voz saiu baixa predatória e fria, seguida por uma autoridade que não permitia questionamentos.Relutei, mas fiz o que ele ordenou, abaixando levemente a cabeça até que nossos olhares se alinhassem.— A dor nos torna mais fortes. — Seu tom era direto, impassível. — Pegue o que sente e sobreviva.
POV: AIRYSSoltei uma risada seca, balançando a cabeça.— Com dois médicos nesta alcateia, uma enfermeira e outra que mal sabe andar pelos corredores, eu discordo.Antes que pudesse continuar, sentir uma pressão forte sobre a ferida.Grunhi, rangendo os dentes pela dor que pulsava e queimava em minha pele.A médica sorriu de canto, as mãos ainda sobre o machucado, aplicando mais força desnecessária.Meu olhar se estreitou.— Se fizer isso de novo, vou costurar seus olhos.Minha ameaça fez a mulher soltar uma risada debochada.— Seria um prazer ver você tentar. — Ela pigarreou e terminou o curativo com eficiência. — Pronto, novinha em folha.Revirei os olhos.— Tenho minhas dúvidas.Levantei-me e soltei a camisola, pegando minha blusa para vestir. Enquanto a puxava sobre a cabeça, notei o beta desviando o olhar para o teto, evitando me encarar.Franzi o cenho.Era incomum para um lobo desviar o contato. Afinal, mutações não permitiam que roupas ficassem intactas, e a nudez era algo co
POV: DAIMON“Ela nos desafia.” Fenrir rugiu em minha mente, sua voz grave reverberando dentro de mim.— É uma humana. Não se subjuga facilmente diante do poder Lycan. — Rosnei por entre as presas, caminhando a passos pesados pela alcateia.A raiva queimava no peito. Minha respiração era irregular, a fúria pulsando em cada fibra do meu corpo. Eu precisava descarregar essa energia, acalmar a fera que rugia dentro de mim. Olhei para o beta que aguardava do lado de fora, inclinando a cabeça, ele já estava ciente do que precisava ser feito!“Deveríamos ensiná-la a se ajoelhar em nossos pés.” Fenrir intensificou, rosnando em minha mente. “A nos obedecer.”Meus punhos cerraram.— Se quer que ela sobreviva aos testes, não devemos assustá-la. — Bufei, a impaciência me corroendo. Passei por um dos pilares e acertei um soco direto, sentindo a pedra ceder sob minha força. Minha respiração ficou pesada. Fenrir estava próximo demais da superfície. — Airys é a escolhida. Esperamos por ela há décadas
POV: AIRYSMeus olhos estavam arregalados, ardendo com as lágrimas que se acumulavam na linha fina das pálpebras. Minhas pernas falhavam, o estômago revirava e um frio rastejava por minhas veias, me deixando tonta.— O que... o que você disse? — Minha voz saiu fraca, quase inaudível.— Você me ouviu, pequena. Mate-o! — Daimon rosnou, impiedoso, enquanto tocava meu queixo com os dedos sujos de sangue, manchando minha pele com aquele líquido viscoso e quente.Meu corpo se contraiu. O cheiro metálico se misturava ao aroma bruto e denso que emanava dele.— O que foi? — Zombou, os olhos terrosos cintilando em nuances de desejo por sangue. — Não tem coragem?Eu tentei engolir, mas minha garganta estava fechada.— Eu... — As palavras tropeçaram, presas em nós de desespero. — Eu não sou uma assassina! Não tiro vidas... eu as salvo!Daimon soltou um riso baixo e descrente, inclinando a cabeça.— Salvará muitas vidas se livrar o mundo desse verme. — Ele estalou a língua, o olhar impiedoso me pe
POV: AIRYSE então, sem esperar uma resposta, corri.Meus pés se moveram antes que meu cérebro processasse. Disparei para fora do galpão, ignorando os gritos do beta, passando por ele sem nem olhar para trás.O ar frio cortava minha pele, mas eu não parei.Subi os degraus da mansão às pressas, os músculos das pernas queimando. Assim que alcancei o quarto, bati a porta com força, trancando-a rapidamente.Meus joelhos fraquejaram.Deslizei pela madeira dura até o chão, puxando as pernas contra o peito.O choro veio, forte, incontrolável.Meus ombros tremiam, a respiração falhando entre soluços.Eu não sabia se estava chorando de medo.Ou porque, no fundo, sabia que fugir de Daimon Fenrir era impossível.Não sei quanto tempo fiquei no chão. Meu corpo tremia, mas finalmente consegui me arrastar até a cama. Me cobrir por completo, me encolhendo sob as cobertas, tentando afastar a sensação sufocante que tomava conta de mim."Ele não está errado." A voz em minha mente sussurrava, insistente.
POV: AIRYS— Não! — Gritei, correndo em direção a criança, mas algo me fez parar.Símbolos brilhantes surgiram ao redor do cesto. Um rugido profundo sacudiu o ambiente, o chão tremeu sob meus pés. Correntes espessas emergiram, enlaçando a pequena cesta, como se a protegessem. E então… o bebê voltou a chorar, um som agudo e desesperado.A porta do templo explodiu, quebrando-se em pedaços. Rosnado reverberaram, seguidos por rugidos ameaçadores que me fizeram estremecer. Minhas pernas ficaram rígidas, o coração martelando dentro do peito.O Alfa Antigo, Stephan, invadiu o templo com passos firmes e pesados. Ao seu lado, meu pai entrou atrás dele, os olhos brilhando com fúria.— O que você fez?! — Ele rugiu, sua voz carregada de ódio.Em um movimento brutal, avançou contra minha mãe, agarrando-a pelo pescoço e erguendo-a do chão como se fosse nada. Suas garras se cravaram em sua pele, e o cheiro de sangue preencheu o ambiente. O líquido quente de sangue escorreu por seus dedos, manchando
POV: DAIMON“Que sensação estranha” Fenrir rosnou em minha mente enquanto eu limpava a mão ensanguentada na pia. “Você sente?”Parei, farejando o ar, apurando meus sentidos movendo as orelhas. Sussurros permeavam por entre a brisa fria, seu cheiro parecia fraco e distante.— Tem algo acontecendo. — Abrir os olhos, caminhando a passos largos atravessando a alcateia.— Alfa, precisamos conversar. — A voz do beta me alcançou quando ele apressou o passo para me acompanhar. Sua expressão carregava preocupação. — Airys entrou no banheiro há um tempo e ainda não saiu.Meu maxilar enrijeceu.— E não foi verificar? — Minha mão agarrou sua camisa antes que ele sequer pensasse em responder. Ergui-o com facilidade, meus dedos fechados no tecido com força. — Eu te mandei vigiá-la, Symon. Ordenei que cuidasse dela!Vi o terror tomar seus olhos. Ele engoliu em seco.— Me perdoe, rei Lycan. Não queríamos causar uma situação desconfortável ao pegá-la… vulnerável. Mas a vi saindo correndo do galpão e a
POV: DAIMON— Eu não... — Ela gaguejou, engolindo em seco. — Não sei o que houve."Isso não é toda a verdade." A diversão no tom de Fenrir era evidente. "Ela vai nos dar muito trabalho."Airys abaixou a cabeça, me olhando de canto, mordendo o lábio. Havia ousadia em seus olhos cintilantes que me desafiava.Então, sem hesitação, ela soltou a toalha.O tecido deslizou por seu corpo, caindo aos seus pés, deixando-a completamente nua diante de mim.Tensionei o maxilar, meus olhos desceram lentamente capturando cada detalhe de sua pele exposta.— Diga-me Alfa Supremo. — Observei seus olhos vibrarem em tons mel claro, em provocação e desafio afiado, tão audaciosa. — É isto que deseja de mim?Suas mãos hesitantes tocaram meus ombros, deslizando lentamente por meus braços. O aperto dos seus dedos era incerto, testando limites. Franzi o cenho e inclinei a cabeça de lado, permitindo sua ousadia. Queria ver até́ onde ela iria.Seus dedos voltaram, traçando um caminho lento por meu tórax.