POV: AIRYSMeus olhos estavam arregalados, ardendo com as lágrimas que se acumulavam na linha fina das pálpebras. Minhas pernas falhavam, o estômago revirava e um frio rastejava por minhas veias, me deixando tonta.— O que... o que você disse? — Minha voz saiu fraca, quase inaudível.— Você me ouviu, pequena. Mate-o! — Daimon rosnou, impiedoso, enquanto tocava meu queixo com os dedos sujos de sangue, manchando minha pele com aquele líquido viscoso e quente.Meu corpo se contraiu. O cheiro metálico se misturava ao aroma bruto e denso que emanava dele.— O que foi? — Zombou, os olhos terrosos cintilando em nuances de desejo por sangue. — Não tem coragem?Eu tentei engolir, mas minha garganta estava fechada.— Eu... — As palavras tropeçaram, presas em nós de desespero. — Eu não sou uma assassina! Não tiro vidas... eu as salvo!Daimon soltou um riso baixo e descrente, inclinando a cabeça.— Salvará muitas vidas se livrar o mundo desse verme. — Ele estalou a língua, o olhar impiedoso me pe
POV: AIRYSE então, sem esperar uma resposta, corri.Meus pés se moveram antes que meu cérebro processasse. Disparei para fora do galpão, ignorando os gritos do beta, passando por ele sem nem olhar para trás.O ar frio cortava minha pele, mas eu não parei.Subi os degraus da mansão às pressas, os músculos das pernas queimando. Assim que alcancei o quarto, bati a porta com força, trancando-a rapidamente.Meus joelhos fraquejaram.Deslizei pela madeira dura até o chão, puxando as pernas contra o peito.O choro veio, forte, incontrolável.Meus ombros tremiam, a respiração falhando entre soluços.Eu não sabia se estava chorando de medo.Ou porque, no fundo, sabia que fugir de Daimon Fenrir era impossível.Não sei quanto tempo fiquei no chão. Meu corpo tremia, mas finalmente consegui me arrastar até a cama. Me cobrir por completo, me encolhendo sob as cobertas, tentando afastar a sensação sufocante que tomava conta de mim."Ele não está errado." A voz em minha mente sussurrava, insistente.
POV: AIRYS— Não! — Gritei, correndo em direção a criança, mas algo me fez parar.Símbolos brilhantes surgiram ao redor do cesto. Um rugido profundo sacudiu o ambiente, o chão tremeu sob meus pés. Correntes espessas emergiram, enlaçando a pequena cesta, como se a protegessem. E então… o bebê voltou a chorar, um som agudo e desesperado.A porta do templo explodiu, quebrando-se em pedaços. Rosnado reverberaram, seguidos por rugidos ameaçadores que me fizeram estremecer. Minhas pernas ficaram rígidas, o coração martelando dentro do peito.O Alfa Antigo, Stephan, invadiu o templo com passos firmes e pesados. Ao seu lado, meu pai entrou atrás dele, os olhos brilhando com fúria.— O que você fez?! — Ele rugiu, sua voz carregada de ódio.Em um movimento brutal, avançou contra minha mãe, agarrando-a pelo pescoço e erguendo-a do chão como se fosse nada. Suas garras se cravaram em sua pele, e o cheiro de sangue preencheu o ambiente. O líquido quente de sangue escorreu por seus dedos, manchando
POV: DAIMON“Que sensação estranha” Fenrir rosnou em minha mente enquanto eu limpava a mão ensanguentada na pia. “Você sente?”Parei, farejando o ar, apurando meus sentidos movendo as orelhas. Sussurros permeavam por entre a brisa fria, seu cheiro parecia fraco e distante.— Tem algo acontecendo. — Abrir os olhos, caminhando a passos largos atravessando a alcateia.— Alfa, precisamos conversar. — A voz do beta me alcançou quando ele apressou o passo para me acompanhar. Sua expressão carregava preocupação. — Airys entrou no banheiro há um tempo e ainda não saiu.Meu maxilar enrijeceu.— E não foi verificar? — Minha mão agarrou sua camisa antes que ele sequer pensasse em responder. Ergui-o com facilidade, meus dedos fechados no tecido com força. — Eu te mandei vigiá-la, Symon. Ordenei que cuidasse dela!Vi o terror tomar seus olhos. Ele engoliu em seco.— Me perdoe, rei Lycan. Não queríamos causar uma situação desconfortável ao pegá-la… vulnerável. Mas a vi saindo correndo do galpão e a
POV: DAIMON— Eu não... — Ela gaguejou, engolindo em seco. — Não sei o que houve."Isso não é toda a verdade." A diversão no tom de Fenrir era evidente. "Ela vai nos dar muito trabalho."Airys abaixou a cabeça, me olhando de canto, mordendo o lábio. Havia ousadia em seus olhos cintilantes que me desafiava.Então, sem hesitação, ela soltou a toalha.O tecido deslizou por seu corpo, caindo aos seus pés, deixando-a completamente nua diante de mim.Tensionei o maxilar, meus olhos desceram lentamente capturando cada detalhe de sua pele exposta.— Diga-me Alfa Supremo. — Observei seus olhos vibrarem em tons mel claro, em provocação e desafio afiado, tão audaciosa. — É isto que deseja de mim?Suas mãos hesitantes tocaram meus ombros, deslizando lentamente por meus braços. O aperto dos seus dedos era incerto, testando limites. Franzi o cenho e inclinei a cabeça de lado, permitindo sua ousadia. Queria ver até́ onde ela iria.Seus dedos voltaram, traçando um caminho lento por meu tórax.
POV: AIRYS— Tem razão, rei Lycan. — Torci o nariz, ainda presa em seu agarro. Meus dedos pressionaram o pulso dele, sem sucesso. — Na próxima vez que sua língua invadir minha boca, eu a arranco com os dentes.Os olhos terrosos dele brilharam, quase divertidos.— Posso gostar disso, pequena presa. — A voz saiu baixa, com ameaça velada e algo mais perigoso.Daimon me soltou lentamente, como se quisesse deixar claro que só me deixava ir porque queria. Sua postura continuava imponente, me observando de cima com presunção.— Vista-se e me siga.Minha mandíbula travou.— Para onde?Toquei meu pescoço, onde suas mãos estiveram momentos atrás. Ele poderia ter me enforcado se quisesse. Era o rei Lycan. Ninguém contestaria. Ninguém viria me salvar.Mas ele não o fez.Por quê?Eu o havia afrontado. Tinha desferido um tapa contra seu rosto. No mínimo, deveria ter perdido minhas mãos."Não é sua intenção nos ferir."Engoli em seco, afastando o pensamento.Daimon se virou para a porta, sua voz gra
POV: AIRYSMeus olhos estavam arregalados. O vento rugia ao nosso redor, bagunçando a pelagem imponente de Fenrir. Na escuridão, apenas seus olhos brilhavam, vermelhos, fixos em mim.Seu focinho se ergueu na minha direção, farejando.Instintivamente, recuei a mão.— Há lendas que dizem que somos ligados aos nossos ancestrais através dos sonhos. — O lobo rosnou grave.Ele começou a caminhar lentamente ao meu redor, um predador marcando território. Suas enormes patas afundavam na neve, deixando rastros profundos na fauna congelada.— Podemos ver o passado, nos conectar a eles… e até mesmo descobrir seus segredos.Engoli em seco, sentindo meu peito apertar.— E-eu… não sabia disso. — Minha voz falhou.Segui seus movimentos, girando meu corpo para acompanhá-lo, sem nunca lhe dar as costas.— Ouvimos uma voz assim que entramos no banheiro, pequena presa. — Ele sacudiu o corpo, espalhando a neve acumulada em sua pelagem densa. — Daimon queria evitar nosso encontro tão cedo. Mas, graças à lu
POV: DAIMONFenrir não pedia. Ele tomava.Nas noites de lua cheia, sua fome era absoluta. Meu pai, a antiga casca da minha fera, costumava dizer:"A natureza de Fenrir é indomável. Ele é um lobo primitivo, feroz e insaciável. Mas é astuto. Sabe o que quer. Complete o elo e tornem-se um só."Fenrir me guiou até aquele leilão. Eu não deveria estar lá, mas algo nos chamava. Quando vi a pequena humana, tudo fez sentido. O cheiro dela... o gosto daquela noite ainda estava em mim. Nós a procurávamos. Desde então.E ali estava ela.Seu medo era palpável, um perfume agridoce que me instigava ainda mais. Mas não era só isso. Ela era diferente. Não se curvava, não se encolhia como as outras. Havia algo mais fundo, algo quebrado, mas que ainda lutava para ficar de pé."O destino nos trouxe a escolhida. A de milênios esperada." Fenrir rugia em minha mente, inquieto.Bastou um olhar para entender.Os olhos dela... um dourado intenso, selvagem. Uma mistura de resistência e temor. Havia medo ali, ma