POV: AIRYS
Recuei alguns passos, meu coração batendo contra as costelas. Ele avançava devagar, sua forma lupina imponente, cada passo calculado, silencioso e letal. O ar gelado queimava minha pele, mas o frio não era nada comparado ao pavor que percorria minha espinha.
— Me recuso a acreditar que a Deusa enviaria um monstro para me buscar. — Gritei, mesmo tremula.
Medo. Raiva.
Um instinto primitivo pulsava em minhas veias mandando fugir.
Daimon rosnou, o som profundo vibrando no peito dele, reverberando dentro de mim.
— Estou tão surpreso quanto, você, pequena coelhinha. — A provocação escorreu de seus lábios com um sarcasmo afiado, enquanto ele continuava a me encurralar.
Senti a borda do penhasco sob meus pés. Um passo a mais e eu cairia. Meus olhos desceram para o vazio abaixo, a neve deslocada rolando em queda livre.
— Salte! — A ordem veio como um desafio, fria e cruel. — Ou além de fraca, também é uma covarde?
Engoli seco. Ele me testava. Queria ver até onde eu iria.
— Eu te acertei uma vez, posso fazer isso de novo! — Minhas mãos se fecharam em punhos, assumindo uma postura defensiva ridícula diante de um Alfa Supremo.
Ele riu. Um som grave, sombrio, carregado de diversão e desprezo.
— Acha que pode derrotar um Alfa? — Seus olhos brilhavam, analisando cada detalhe do meu corpo tenso. Então ele inclinou a cabeça, inspirou profundamente e fechou os olhos por um segundo. — Você está ferida.
Segui o olhar dele e vi os cortes nos meus joelhos, o sangue manchando a pele fria.
— Me desculpe, vossa alteza, por danificar sua mercadoria. — Fiz uma reverência exagerada, carregada de provocação.
O frio deveria ter entorpecido minha mente,
Eu estava mesmo provocando o Alfa Supremo?
— Humana... — O tom de Daimon saiu baixo, feroz. Seus olhos se abriram, intensos, vermelhos como sangue fresco. — Você precisa aprender algumas lições.
Antes que eu pudesse reagir, ele avançou. O movimento foi rápido, preciso. Meu corpo congelou por um segundo antes do instinto gritar para eu recuar. Dei um passo em falso. A neve sob meus pés deslizou, e um grito escapou da minha garganta quando senti o vazio.
Fechei os olhos, esperando o impacto.
Mas algo me puxou de volta.
O tecido fino do meu vestido esticou com força, e quando abri os olhos, encarei Daimon. Agora, em sua forma humana.
O frio ficou em segundo plano.
Seus olhos, antes ferozes, estavam mais terrosos, com tons avermelhados que pareciam brilhar sob a luz fraca. O rosto era marcado por cicatrizes na bochecha, sobrancelha, espalhadas pelo corpo forte.
Ele parecia esculpido para a guerra!
Os cabelos escuros carregavam reflexos acobreados. O sotaque russo tornava sua voz ainda mais cortante, cada palavra carregada de autoridade.
Minha respiração vacilou quando meus olhos desceram. As tatuagens cobriam seu braço direito, subindo pelo ombro, deslizando pela lateral do peito e descendo pelo abdômen até o quadril. Meus olhos seguiram o traço até perceber...
Meu rosto pegou fogo.
— Você está nu! — Exclamei surpresa.
Daimon rosnou, os dentes cerrados.
— Humana tola. — Sua voz era um aviso, impaciência.
O braço dele segurava firme o tecido fino do meu vestido, mantendo-me suspensa sobre o abismo.
Meus pés não tocavam o chão. O vazio abaixo era aterrorizante. O vento assoviava contra minha pele, e o desespero me fez agarrar seu braço com força, tentando encontrar algum apoio.
Olhei para baixo, mas a escuridão engolia tudo. Eu não sabia a altura, só sabia que uma queda significava morte certa.
— Por favor, Alfa… — gaguejei, o pânico tomando conta. — Eu não quero morrer.
Meu coração batia forte, descompassado. Meus dedos apertavam ainda mais sua pele quente, na esperança de que ele me puxasse de volta.
Daimon inclinou a cabeça devagar, estudando-me com aquele olhar afiado. Sua presença era bruta, opressiva, como se ele pudesse me esmagar sem esforço. Cada músculo do meu corpo estava tenso, arrepiado pela energia perigosa que ele emanava.
— Primeira lição, coelhinha. — Rosnou controlado, ameaçador.
Ele deu um passo à frente, levando-me junto. O pavor me dominou quando percebi que ele estava agora na linha limite do penhasco, segurando-me como se eu fosse nada em suas mãos.
Meu rosto ficou próximo demais do dele, perto o suficiente para que eu visse o brilho afiado das presas.
O calor de sua respiração tocou minha pele.
— Só fuja se tiver certeza de que pode escapar.
Engoli em seco, meu corpo reagindo por puro instinto. Assenti freneticamente, incapaz de formar palavras.
Gostaria de acreditar que era apenas o medo da morte iminente, o pânico de estar à mercê dele.
Mas algo dentro de mim pulsava de uma forma diferente. Algo que não fazia sentido. A presença dele me assustava e, ao mesmo tempo, despertava algo que eu não conseguia controlar.
Ele era perigoso. E eu sentia isso em cada fibra do meu corpo.
— Mais alguma lição, ou pretende me deixar cair? — As palavras saíram antes que eu pudesse pensar.
Eu devia ter perdido o juízo.
Daimon me encarou, e por um segundo, vi algo brilhar em seus olhos. Algo intenso, cruel… e interessado.
Um sorriso se formou no canto da boca de Daimon, lento, calculado, como se estivesse saboreando minha rendição. Seus olhos analisavam cada detalhe, como se decidisse o que faria comigo.
Antes que eu pudesse reagir, ele se moveu. Rápido. Preciso.
Meu corpo foi jogado contra a neve. O impacto foi frio, mas não senti o gelo. O calor que irradiava dele era sufocante. Ele pairava sobre mim, os músculos rígidos me mantendo presa.
Seus dedos envolveram meus pulsos, prendendo-os acima da minha cabeça. Tentei me soltar, mas ele apertou mais.
— Segunda lição, humana. — Sua voz saiu baixa, arrastada, cada palavra carregada de ameaça.
Senti o toque áspero de suas presas roçarem contra minha pele. Meu corpo ficou imóvel quando ele deslizou até meu ouvido e rosnou, rouco e perigoso:
— Não provoque minha fera de novo. Da próxima vez, posso não me conter.
Minha respiração ficou instável. Meus olhos se arregalaram ao encontrarem os dele, tão próximos, tão intensos.
Ele não parecia afetado pelo frio. Mas havia suor em sua testa, uma gota deslizando pela pele marcada por cicatrizes. Os músculos de seus braços estavam tensos, rígidos, cada fibra do seu corpo em alerta.
Eu mordi o canto do lábio sem pensar.
Os olhos de Daimon desceram para minha boca.
Tentei desviar o olhar, mas senti o toque afiado de uma garra sob meu queixo, me forçando a erguer o rosto. Sua respiração quente bateu contra minha pele, e ele se inclinou mais, nossas bocas quase se tocando.
— Lição número três. — Sua outra mão soltou meu pulso e se afundou na neve ao lado da minha cabeça, os dedos cravando no gelo. — Controle o seu cheiro, se não quiser virar janta de lobo.
Arregalei os olhos ao perceber suas intenções ocultas, o terroso agora, estava completamente moldado ao vermelho sangue, ao instinto puro de sua fera...
POV: AIRYSPisquei algumas vezes quando ele se moveu rápido, me puxando para cima sem aviso.Seus braços fortes envolveram minhas pernas, me tirando do chão sem esforço. Meu corpo ficou colado ao dele, minha cabeça próxima ao seu tórax. O calor que ele emanava contrastava com o frio ao redor.— Eu posso andar. — Resmunguei, mesmo gostando do calor que sua pele irradiava.— Sangrará mais. — Daimon respondeu, indiferente.Fiz uma careta.— Isso não pareceu te preocupar antes, quando estava me caçando. — Empurrei seu ombro, tentando me soltar. — Me deixe descer.Ele ignorou minha tentativa de resistência.— Seu sangue tem um cheiro doce. Atrairá predadores. — Seu olhar encontrou o me dê forma intensa.— Além do predador que já me carrega? — Levantei o queixo, desafiando-o. — Não sabia que o Alfa Supremo era irônico.Ele riu baixo, um som grave, sem humor.— Para uma presa, você fala demais. — O tom veio carregado de irritação.Daimon parou em frente ao carro e me lançou um olhar frio.—
POV: DAIMON“Você ouviu?” Fenrir rosnou dentro de mim, sua voz grave e fria ressoando na minha mente.Assenti levemente, analisando a pequena criatura à minha frente. Ela tremia, encolhida contra o frio, tentando se aquecer com as próprias mãos. Presa. Frágil. Pequena demais para estar aqui.— Por que ela? — Questionei Fenrir, observando a humana se aproximar das gravuras entalhadas na pedra. Apenas receptáculos do grande lobo ancestral conseguiam lê-las. Mas Airys… ela parecia entender algo.Seus dedos deslizaram pelas inscrições. Notei quando seus olhos se fecharam por um instante, a respiração ficando mais pesada. Um segundo depois, ela recuou bruscamente, como se tivesse visto um fantasma. Seu cheiro mudou. O medo de sempre ainda estava ali, mas agora misturado a algo diferente. Algo mais profundo.“Temendo mais do que nós.” Fenrir estalou a língua, impaciente. Ele estava perto demais da superfície.— Há algo nela. — Tombei a cabeça de lado, tocando sua costas a empurrando para fr
POV: AIRYSMe via em meio à escuridão. Próximo à grande janela, uma silhueta imponente chamava minha atenção. Ombros largos, pele nua iluminada pela pouca luz. Ele virava lentamente com um copo entre os dedos, fixando em mim.Olhos terrosos que cintilavam em um vermelho intenso. Predatórios. Avaliando. Caçando.Meu peito subia e descia rápido, como se algo dentro de mim soubesse que eu precisava correr. Mas meus pés não se moviam. Algo nele me chamava, me atraía. No instante seguinte, ele desapareceu.Um arrepio subiu por minha espinha quando senti o calor de sua respiração contra minha nuca.— Fuja enquanto ainda há tempo. — A voz grave e rouca vibrava contra meus cabelos, provocando um estremecimento involuntário em meu corpo.Não respondi. Apenas me virei, lentamente, encarando o homem à minha frente. A tensão entre nós se expandia. Minha mão subiu, hesitante, tocando sua pele quente. Meus dedos deslizaram por seu peito firme, sentindo cada contorno, cada músculo que se enrijecia s
POV: AIRYS— Designada? — Indaguei confusa, tentando compreender o significado. — O que isto quer dizer?Daimon não respondeu. Seu olhar permaneceu fixo na mulher de olhos celestes, como se a conversa não me envolvesse. Um frio percorreu minha espinha.O que eu estava fazendo ali?— Inicie o teste. — Daimon ordenou, sua voz grave ecoando no salão.— Que teste? — Minha voz se elevou, tentando quebrar a barreira de silêncio. — O que vão fazer comigo?!Ninguém respondeu.Antes que pudesse reagir, algo me atingiu. Meu corpo perdeu a firmeza, minha visão turvou. O ar foi arrancado dos meus pulmões, e o chão desapareceu sob meus pés. O salão sumiu. O tempo deixou de existir.Minha cabeça girava quando me vi em um lugar desconhecido.A névoa espessa cobria o chão, rastejando ao redor como se tivesse vida própria. O cheiro úmido da terra invadiu minhas narinas. Meu corpo arrepiou inteiro, a sensação de perigo se tornando insuportável.“É perigoso ficarmos aqui.” Uma voz sussurrou ao meu redor
POV: AIRYS— O que foi aquilo?! — Gritei, recuperando o fôlego enquanto socava o chão. Meu corpo tremia, não sabia se era pelo medo ou pela raiva. Me levantei bruscamente, os olhos varrendo o ambiente. — O que vocês fizeram comigo? Onde eu estava?!As mulheres se entreolharam, mas nenhuma respondeu. Seus olhares recaíram sobre Daimon, que permanecia impassível, como se minha fúria não fosse nada além de um incômodo menor.— Você! — Avancei em sua direção, o sangue fervendo em minhas veias. Daimon não se moveu. Mantinha as mãos nos bolsos, a postura relaxada, mas seu olhar seguia cada um dos meus passos. Como se já soubesse exatamente o que eu faria.Levantei o dedo, apontando para ele.— Acha que pode me caçar, me jogar naquele inferno com uma fera e brincar comigo?!Seus olhos desceram lentamente para meu dedo erguido. Seu cenho franziu levemente e uma sobrancelha arqueou, a expressão carregada de um aviso silencioso.— Eu não vou ser sua presa! — Continuei sentindo a adrenalina alim
POV: AIRYSA voz do beta rompeu o silêncio, e eu me virei para ele.— O Alfa me alertou que você estava analisando cada caminho por onde passava. A mansão foi construída para ser impenetrável.Eles haviam percebido minhas intenções.— Estão tentando evitar que alguém entre... ou saia? — Me aproximei do seu lado.— Você é astuta. — Symon comentou enquanto dobrava um corredor estreito, escolhendo um caminho diferente. Franzi o cenho, confusa com a mudança de rota.— A segunda opção é a mais adequada. — Ele continuou, sem me olhar. — Deve saber das histórias sobre o novo Lycan Supremo.Engoli em seco.— Sei que sua fera é instável. Na noite do Solstício Sombrio, Daimon foi consumido por seu lobo, Fenrir. Ele perdeu o controle, tomado pela sede de sangue e guerra... e isso levou à morte de seu próprio irmão. — Minha voz vacilou ao lembrar da história que o antigo Alfa da minha alcateia, o pai de Malik, contava com tanto temor. — É isso que estão tentando conter?Symon permaneceu em silênc
POV: AIRYSMeu corpo estava tenso. Controlei a respiração, tentando não demonstrar o medo que sempre surgia quando ele se aproximava. Se Daimon quisesse me matar, bastaria um único movimento. Eu não teria chance.— Vai manter o mistério ou pretende me contar por que ainda estou viva? — Arqueei uma sobrancelha, em um desafio perigoso.Inclinei-me para frente, reunindo uma coragem que eu fingia ter. Meus dedos deslizaram lentamente por sua camisa, ousados demais para alguém na minha posição.Daimon permaneceu imóvel, observando cada movimento, seus olhos terrosos me analisando com atenção afiada.Minhas mãos pararam nos botões abertos de sua camisa. O tecido se afastou levemente quando toquei sua pele quente, revelando as tatuagens marcadas em traços profundos.— Os quatro pilares do equilíbrio lupino… — murmurei, reconhecendo as inscrições e símbolos.Passei os dedos pelas marcas, sentindo a textura da tinta e da pele sob eles.— O que mais suas tatuagens contam, Rei Alfa?Daimon não r
POV: AYRIS— Eu não entendo. — Sussurrei contra o seu rosto, respirando de forma lenta e irregular. Meu coração martelava no peito, minha pele formigava com sua proximidade sufocante. — Você quer que eu lute para me livrar de você?Daimon soltou um riso baixo, rouco, carregado de um sarcasmo que fez meu estômago se contrair. Sua mão deslizou para os meus cabelos, os dedos afundando com uma possessividade que me fez estremecer.— Pequena humana, você não é tão fraca quanto pensa. — Sua voz era grave, cada palavra carregada de uma certeza assustadora.Minha respiração vacilou quando seus dedos se moveram em minha nuca, massageando suavemente, um contraste perigoso com a brutalidade que exalava. Um arrepio subiu por minha espinha, meu corpo reagindo contra minha vontade. Daimon percebeu. Seus olhos predatórios brilharam, e antes que pudesse me afastar, ele tirou a mão, deixando-a suspensa ao lado do meu rosto, como se testasse meus limites.— O que você sabe sobre sua linhagem?Minha men