~ TRÊS MESES DEPOIS ~- Daiquiri... – Manu me oferece a taça – Adam quem fez e pediu pra te entregar.Eu sorrio com o gesto carinhoso.- Acho que vou passar... – coloco a bebida em um aparador próximo. – Quero estar cem por cento sóbria hoje.- Como você está se sentindo? – Isa pergunta.- Eu não deveria estar nervosa, não é? Mas minha boca tá seca e minhas pernas tão tremendo – rio. – Quero dizer... por quê? Adam e eu já até nos casamos antes... – dou de ombro, como se aquilo não fosse importante.Mas era. Eu tinha passado os últimos três meses organizando tudo para que, dessa vez, fosse perfeito. E eu nem quis contratar uma cerimonialista ou coisas assim, tinha feito tudo pessoalmente, com a ajuda das minhas madrinhas: Manu, Lilly, Isa e Fernanda. Seus pares, Luca, André, Liam e Henrique, provavelmente estavam em alguma outra sala como essa agora, embebedando Adam. Otto também, claro. Ele só não entraria com Lilly porque ele teria a função de me levar ao altar.- Mas é diferente des
Eu odiava cemitérios. Algumas pessoas costumavam dizer que lugares como aquele traziam a calmaria para aqueles que precisavam do descanso eterno, o acalento para aqueles que ainda buscavam algum tipo de contato com seus entes que se foram, ou ainda a paz de espírito para aqueles que precisavam de um ponto final para certas histórias. Para mim, aquele lugar não passava de um depósito de corpos em decomposição e por isso eu tinha demorado cerca de seis meses para conseguir estar aí.- E aí? – Perguntei olhando para a lápide que exibia o nome Otto Milani. – Tô aqui... É estranho porque eu sinto que estou falando com um amontoado de ossos e não com você de verdade, mas a doutora Lee me disse que eu precisava fazer isso como um rito de passagem, ou sei lá, e aqui estou eu... Lembra dela, né, a dourara Lee? Minha psicóloga desde que perdi meus pais, e continuou sendo agora que perdi você.Meu olhar vaga pelo lugar enquanto tento encontrar palavras para continuar dizendo tudo que preciso diz
- Você tem uma mão pesada, garotinha.- Eu não sou uma garotinha.Adam e eu estávamos sentados, cada um em uma ponta, em uma longa mesa de madeira escura em um escritório de advocacia. Achei por bem manter uma distância segura o suficiente para não o atacar novamente. Já havia se passado três dias desde o nosso encontro no túmulo do meu irmão, mas meu ódio por ele parecia só aumentar.- Achei que tinha uns cinco, quando o Otto me pediu que se algo o acontecesse eu cuidasse de você.- Aposto que achou que eu tinha bem mais quando estava me despindo com os olhos naquela cripta.- Uns vinte e cinco, pelo menos... – disse sorrindo, enquanto tomava um gole do seu copo de café do Starbucks. – A roupa e a maquiagem ajudam.- Bom, eu tenho vinte, não sou uma garotinha e não preciso de uma babá.- Acho que o Otto discordava disso. E eu também, na verdade. Andei lendo sobre você.Poderia ter me afundado na cadeira naquele momento, mas assim como meu irmão, eu não era do tipo que me encolhia. E
Eu assinei aquele contrato idiota que fazia valer a vontade do meu irmão, é claro. Era isso ou aprender a trabalhar com coisas como... sei lá, eu nunca precisei nem arrumar minha cama ou lavar um copo sozinha, não faço ideia de com o que eu poderia trabalhar. Seriam só dois anos. Esse era o tempo que eu levaria até terminar a faculdade e poder responder pelo meu dinheiro, minhas ações da Milani e pelos meus próprios atos.- Eu andei pensando muito nos últimos dias... Precisamos definir algumas coisas. Algumas regras.Adam tinha me convidado para almoçar no restaurante do Milani de Copacabana. Era nosso hotel conceito no Brasil e o único que agregava, além de quartos para hospedes tradicionais – que normalmente ficavam pouco tempo - uma ala inteira para hospedes de longo prazo, que normalmente eram alugados semestralmente ou anualmente e funcionavam como verdadeiros apartamentos, mas com os privilégios de ter café da manhã gratuito, serviço de quarto por 24 horas, camareira todos os di
- Ele é 10/10! – Manu me devolve meu iphone, que exibia uma foto de Adam sem camisa durante um jogo de futebol.Eu tinha encontrado o Instagram dele, é claro. Não que tivesse muita coisa por lá, ele parece ser do tipo mais reservado nas redes sociais. Mas aquela foto em específico me chamou atenção, assim como chamou de Manu. Era impossível não reparar no corpo sarado e super desenhado de Adam.- Ele é chato! – Afirmo.Minha melhor amiga e eu estávamos deitadas em espreguiçadeiras acolchoadas na praia, embaixo de grandes guarda-sóis que tinham a função de não deixar a minha pele alva fazer cosplay de tomate cereja em menos de cinco minutos. Meus longos cabelos loiros estavam amarrados em um coque despretensioso e grandes óculos escuros escondiam meus olhos.Por mais que o Milani tivesse uma praia privativa, Manu e eu gostávamos de ficar em uma área pública, próximo de um excelente ponto para surfistas e uma área onde sempre havia garotos jogando vôlei. Era, no mínimo, agradável aos ol
Eu tinha feito um bom trabalho com o blazer e o cinto. Acabei abotoando novamente a peça, porém propositalmente com uma casa de diferença, ganhando uma pequena fenda na parte das pernas. Não vesti as mangas, amarrando-as para trás de forma a dar um laço. Por fim, arrematei tudo com o cinto de Adam, marcando minha cintura fina. Cacei na bolsa um prendedor de cabelo e fiz um coque despretensioso nos meus fios loiros. E pronto! Até parecia que eu tinha me vestido daquela forma premeditadamente, não sei por que Adam continuava com aquela cara amarrada.- Ela é tão estilosa! – Ouvi uma voz feminina dizer, quando eu ia passando e sorri em resposta. Eu era mesmo, não era?A sala de reuniões não era diferente de muitas das outras que eu já tinha visto – em filmes! Uma grande mesa central de madeira com poltronas acolchoadas, um telão pronto para exibir apresentações e extensas janelas de vidro com vista para o mar.- Perdoem-me o atraso, senhores – Adam já foi logo dizendo ao se deparar com a
Eu nunca fui capaz de entender tão perfeitamente, quanto naquela manhã, o motivo pelo qual as pessoas reclamavam tanto de um dia de trabalho. O fato é que o dia mal tinha começado e já estava indo bem mal. A começar pelo fato de que ainda que eu tivesse levantado muito cedo, eu já estava atrasada. Então, precisei me arrumar correndo e nem mesmo tive tempo de desfrutar do café da manhã do hotel.Por sorte, no momento em que cruzei as portas de vidro que davam acesso ao prédio do escritório administrativo da Milani, uma menina sorridente vinha passando com uma bandeja de papelão com dois copos da Starbucks. Caramba, eu até imaginei que nós teríamos máquinas de café expresso para os funcionários, mas serviço de entrega de café da Starbucks era muito legal!- Obrigada! – Agradeço, feliz por consegui pegar as duas últimas unidades e automaticamente levando um dos copos aos lábios.- Hey, o que você pensa que tá... – A garota se cala e arregala ligeiramente os olhos. – Senhorita Milani! Des
Eu tinha tanta convicção de quão perfeita a minha ideia era que apenas decidi colocar em prática. Como diziam, era mais fácil pedir perdão do que pedir permissão. Sendo assim, Adam não podia nem sonhar em descobrir algo antes da hora. O que não era exatamente um problema, eu duvidava muito que qualquer um daqueles jovens tivessem acesso a ele. Agora, Sandra era a pessoa que podia colocar tudo a perder.- Eu não posso permitir que você faça isso... – ela me olhava com os olhos ligeiramente arregalados quando a procurei em sua sala para explicar. – Liberar não só o pessoal do marketing como vários outros funcionários? Eu nem tenho autoridade para isso.- Não é liberar – eu tento negociar. – É um dia de trabalho. Só que um pouco diferente.- Kara, você sabe que precisa de uma aprovação do senhor Benatti para...- Sandra... – eu sorrio e caminho até a cadeira diante dela, me sentando mesmo sem ter sido convidada. – É meu hotel. É minha empresa. É minha ideia. E você sabe que é uma excelen