Abro os olhos lentamente. O teto cafona com sancas brancas malfeitas e tinta descascando, devido a umidade, entra em foco. Onde, raios, eu estava? Minha mente começa a buscar as últimas lembranças... A viagem de carro... o hotel de beira de estrada... Adam e eu... Sorrio. Eu estava no hotel, não era isso? Me movo ligeiramente e noto Adam sentado em um sofá próximo a cama.- Eu tive um sonho muito louco... – digo. – Meu Deus, pareceu tão real que...- Kara... – Adam nega com a cabeça, me fazendo parar de falar.- O quê?- Não foi, exatamente...A porta se abre, atraindo nossas atenções.- Trouxe um chocolate quente pra quando... – Meus olhos encaram os olhos tão parecido com os meus me olhando de volta. – Ah, você acordou – Ele dá de ombros, como se não houvesse mais nada que pudesse fazer e diz: – Oi, maninha.Eu grito desesperadamente, enquanto me encolho na cama, tentando me afastar ao máximo daquela visão. Adam vem até mim e tenta me segurar para que eu pare de me debater, mas eu c
- É uma longa história... – Otto suspira, enquanto começa a arrumar seu prato.Era uma cena completamente bizarra. Não me entenda mal, Otto e eu não erámos mimadinhos que ficávamos esperando o tempo por outras pessoas nos servirem e que achavam que nossa mão ia cair de montar nosso próprio prato. Mas o fato é que sempre tínhamos pessoas nos servindo, sempre. Então, era simplesmente estranhos pensar que...- Você cozinhou isso? – Acho que não consigo conter uma careta.- Está gostoso, eu juro! Tive que aprender algumas coisas nossos últimos meses...Um pouco relutante, eu pego o menor pedaço possível de lasanha que consigo, sem parecer que eu estava fazendo uma desfeita. Mas quando provo...- Cacete, você é bom! – Elogio.- Parece mais gostosos do que seus biscoitos de Natal... – Adam ri.- Hey! Eu te fiz pudim! – Protesto, levando os dois às risadas.- Quanto tempo? – Otto pergunta, olhando de Adam para mim.- Hum? – Estranho a pergunta.- Desde que coloquei meus olhos nela... – Adam
No dia seguinte, bem cedinho, Otto se comunica com seus contatos do programa de proteção à testemunha e dos investigadores da polícia. Encaramos longas horas de depoimentos, repetindo mais de uma vez as mesmas coisas. Eu conto, especialmente, sobre a história da cripta, onde o sistema de segurança provavelmente filmou a tentativa do meu tio de me assassinar, e como eu esperava que ele estivesse atrás das grades agora, se a denúncia de Luca tinha sido averiguada.- Vamos precisar de uns dias para checar todas as informações e pistas que vocês têm em mãos... – o investigar diz.- Posso... entrar em contato com uma pessoa?- Seja rápida... – ele me entrega seu próprio aparelho celular.Obviamente eu não sabia o número de Luca de cabeça, então, ligo para o meu próprio celular, que estava com ele. Ele atende no segundo toque, quase como se estivesse esperando por aquilo. Obedeço ao investigador e sou rápida, apenas informando que Adam e eu estávamos bem e logo estaríamos de volta levando u
~ TRÊS MESES DEPOIS ~- Daiquiri... – Manu me oferece a taça – Adam quem fez e pediu pra te entregar.Eu sorrio com o gesto carinhoso.- Acho que vou passar... – coloco a bebida em um aparador próximo. – Quero estar cem por cento sóbria hoje.- Como você está se sentindo? – Isa pergunta.- Eu não deveria estar nervosa, não é? Mas minha boca tá seca e minhas pernas tão tremendo – rio. – Quero dizer... por quê? Adam e eu já até nos casamos antes... – dou de ombro, como se aquilo não fosse importante.Mas era. Eu tinha passado os últimos três meses organizando tudo para que, dessa vez, fosse perfeito. E eu nem quis contratar uma cerimonialista ou coisas assim, tinha feito tudo pessoalmente, com a ajuda das minhas madrinhas: Manu, Lilly, Isa e Fernanda. Seus pares, Luca, André, Liam e Henrique, provavelmente estavam em alguma outra sala como essa agora, embebedando Adam. Otto também, claro. Ele só não entraria com Lilly porque ele teria a função de me levar ao altar.- Mas é diferente des
Eu odiava cemitérios. Algumas pessoas costumavam dizer que lugares como aquele traziam a calmaria para aqueles que precisavam do descanso eterno, o acalento para aqueles que ainda buscavam algum tipo de contato com seus entes que se foram, ou ainda a paz de espírito para aqueles que precisavam de um ponto final para certas histórias. Para mim, aquele lugar não passava de um depósito de corpos em decomposição e por isso eu tinha demorado cerca de seis meses para conseguir estar aí.- E aí? – Perguntei olhando para a lápide que exibia o nome Otto Milani. – Tô aqui... É estranho porque eu sinto que estou falando com um amontoado de ossos e não com você de verdade, mas a doutora Lee me disse que eu precisava fazer isso como um rito de passagem, ou sei lá, e aqui estou eu... Lembra dela, né, a dourara Lee? Minha psicóloga desde que perdi meus pais, e continuou sendo agora que perdi você.Meu olhar vaga pelo lugar enquanto tento encontrar palavras para continuar dizendo tudo que preciso diz
- Você tem uma mão pesada, garotinha.- Eu não sou uma garotinha.Adam e eu estávamos sentados, cada um em uma ponta, em uma longa mesa de madeira escura em um escritório de advocacia. Achei por bem manter uma distância segura o suficiente para não o atacar novamente. Já havia se passado três dias desde o nosso encontro no túmulo do meu irmão, mas meu ódio por ele parecia só aumentar.- Achei que tinha uns cinco, quando o Otto me pediu que se algo o acontecesse eu cuidasse de você.- Aposto que achou que eu tinha bem mais quando estava me despindo com os olhos naquela cripta.- Uns vinte e cinco, pelo menos... – disse sorrindo, enquanto tomava um gole do seu copo de café do Starbucks. – A roupa e a maquiagem ajudam.- Bom, eu tenho vinte, não sou uma garotinha e não preciso de uma babá.- Acho que o Otto discordava disso. E eu também, na verdade. Andei lendo sobre você.Poderia ter me afundado na cadeira naquele momento, mas assim como meu irmão, eu não era do tipo que me encolhia. E
Eu assinei aquele contrato idiota que fazia valer a vontade do meu irmão, é claro. Era isso ou aprender a trabalhar com coisas como... sei lá, eu nunca precisei nem arrumar minha cama ou lavar um copo sozinha, não faço ideia de com o que eu poderia trabalhar. Seriam só dois anos. Esse era o tempo que eu levaria até terminar a faculdade e poder responder pelo meu dinheiro, minhas ações da Milani e pelos meus próprios atos.- Eu andei pensando muito nos últimos dias... Precisamos definir algumas coisas. Algumas regras.Adam tinha me convidado para almoçar no restaurante do Milani de Copacabana. Era nosso hotel conceito no Brasil e o único que agregava, além de quartos para hospedes tradicionais – que normalmente ficavam pouco tempo - uma ala inteira para hospedes de longo prazo, que normalmente eram alugados semestralmente ou anualmente e funcionavam como verdadeiros apartamentos, mas com os privilégios de ter café da manhã gratuito, serviço de quarto por 24 horas, camareira todos os di
- Ele é 10/10! – Manu me devolve meu iphone, que exibia uma foto de Adam sem camisa durante um jogo de futebol.Eu tinha encontrado o Instagram dele, é claro. Não que tivesse muita coisa por lá, ele parece ser do tipo mais reservado nas redes sociais. Mas aquela foto em específico me chamou atenção, assim como chamou de Manu. Era impossível não reparar no corpo sarado e super desenhado de Adam.- Ele é chato! – Afirmo.Minha melhor amiga e eu estávamos deitadas em espreguiçadeiras acolchoadas na praia, embaixo de grandes guarda-sóis que tinham a função de não deixar a minha pele alva fazer cosplay de tomate cereja em menos de cinco minutos. Meus longos cabelos loiros estavam amarrados em um coque despretensioso e grandes óculos escuros escondiam meus olhos.Por mais que o Milani tivesse uma praia privativa, Manu e eu gostávamos de ficar em uma área pública, próximo de um excelente ponto para surfistas e uma área onde sempre havia garotos jogando vôlei. Era, no mínimo, agradável aos ol