- Adam... Eu não tô entendo... – digo, a voz fraca. – Como... como?- Eu também não estou entendendo, Kara. Achei... Achei que eu não deveria seguir adiante com isso sem você do meu lado, então... Precisei fingir um desaparecimento para te ter de volta. Desculpa pelo que te fiz passar.Eu mal escuto o que ele diz, um barulho agudo na minha orelha indicando que minha pressão está atingindo picos.- Eu não tô entendendo... – repito.- São novas coordenadas – Adam diz. – Seja lá quem mandou isso, queria que quem descobrisse esse storage box fosse até esse novo lugar.- Então vamos! – Digo.- Talvez não seja seguro...- E o que é seguro nessa porra toda?- Nada... – Adam volta a se aproximar de mim, e acariciar delicadamente meu rosto. – Só... Prometa não ser impulsiva e deixar que eu tome a frente? Não posso arriscar a sua segurança.- Prometo... – minto. Eu não tinha como prometer não ser impulsiva, era da minha natureza. Mas eu tentaria.- Não posso te perder. Não agora... – Adam me be
Eu sei, o que Adam e eu estávamos fazendo, indo atrás das provas que Otto deixou sem sequer avisar a polícia, era extremamente perigoso. Mas... a verdade? Eu estava pouco me importando! Desde que nos reencontramos, parecia que eu estava finalmente vivendo a lua de mel que eu queria ter vivido seis meses atrás. Adam e eu mal conseguíamos manter nossas mãos afastadas um do outro... Não conseguíamos parar de nos beijar, de nos provocar, de sorrir um para o outro.- Está cansado? – Pergunto, em certo ponto da viagem. – Quer que eu dirija um pouco?Adam tinha me dado umas aulas, depois que lhe contei o que encarei para chegar até ele.- Obrigado, Kara, mas precisamos chegar lá ainda esse ano.- Haha, engraçadinho... – reviro os olhos. Eu não era lenta no volante, eu era prudente. – Você ama estar no comando, não é? – Desdenho.- Você não pareceu se importar muito ontem à noite.Sinto minhas bochechas corarem e desvio o olhar, mas estou sorrindo. Adam sabia que eu gostava de controlar no se
Abro os olhos lentamente. O teto cafona com sancas brancas malfeitas e tinta descascando, devido a umidade, entra em foco. Onde, raios, eu estava? Minha mente começa a buscar as últimas lembranças... A viagem de carro... o hotel de beira de estrada... Adam e eu... Sorrio. Eu estava no hotel, não era isso? Me movo ligeiramente e noto Adam sentado em um sofá próximo a cama.- Eu tive um sonho muito louco... – digo. – Meu Deus, pareceu tão real que...- Kara... – Adam nega com a cabeça, me fazendo parar de falar.- O quê?- Não foi, exatamente...A porta se abre, atraindo nossas atenções.- Trouxe um chocolate quente pra quando... – Meus olhos encaram os olhos tão parecido com os meus me olhando de volta. – Ah, você acordou – Ele dá de ombros, como se não houvesse mais nada que pudesse fazer e diz: – Oi, maninha.Eu grito desesperadamente, enquanto me encolho na cama, tentando me afastar ao máximo daquela visão. Adam vem até mim e tenta me segurar para que eu pare de me debater, mas eu c
- É uma longa história... – Otto suspira, enquanto começa a arrumar seu prato.Era uma cena completamente bizarra. Não me entenda mal, Otto e eu não erámos mimadinhos que ficávamos esperando o tempo por outras pessoas nos servirem e que achavam que nossa mão ia cair de montar nosso próprio prato. Mas o fato é que sempre tínhamos pessoas nos servindo, sempre. Então, era simplesmente estranhos pensar que...- Você cozinhou isso? – Acho que não consigo conter uma careta.- Está gostoso, eu juro! Tive que aprender algumas coisas nossos últimos meses...Um pouco relutante, eu pego o menor pedaço possível de lasanha que consigo, sem parecer que eu estava fazendo uma desfeita. Mas quando provo...- Cacete, você é bom! – Elogio.- Parece mais gostosos do que seus biscoitos de Natal... – Adam ri.- Hey! Eu te fiz pudim! – Protesto, levando os dois às risadas.- Quanto tempo? – Otto pergunta, olhando de Adam para mim.- Hum? – Estranho a pergunta.- Desde que coloquei meus olhos nela... – Adam
No dia seguinte, bem cedinho, Otto se comunica com seus contatos do programa de proteção à testemunha e dos investigadores da polícia. Encaramos longas horas de depoimentos, repetindo mais de uma vez as mesmas coisas. Eu conto, especialmente, sobre a história da cripta, onde o sistema de segurança provavelmente filmou a tentativa do meu tio de me assassinar, e como eu esperava que ele estivesse atrás das grades agora, se a denúncia de Luca tinha sido averiguada.- Vamos precisar de uns dias para checar todas as informações e pistas que vocês têm em mãos... – o investigar diz.- Posso... entrar em contato com uma pessoa?- Seja rápida... – ele me entrega seu próprio aparelho celular.Obviamente eu não sabia o número de Luca de cabeça, então, ligo para o meu próprio celular, que estava com ele. Ele atende no segundo toque, quase como se estivesse esperando por aquilo. Obedeço ao investigador e sou rápida, apenas informando que Adam e eu estávamos bem e logo estaríamos de volta levando u
~ TRÊS MESES DEPOIS ~- Daiquiri... – Manu me oferece a taça – Adam quem fez e pediu pra te entregar.Eu sorrio com o gesto carinhoso.- Acho que vou passar... – coloco a bebida em um aparador próximo. – Quero estar cem por cento sóbria hoje.- Como você está se sentindo? – Isa pergunta.- Eu não deveria estar nervosa, não é? Mas minha boca tá seca e minhas pernas tão tremendo – rio. – Quero dizer... por quê? Adam e eu já até nos casamos antes... – dou de ombro, como se aquilo não fosse importante.Mas era. Eu tinha passado os últimos três meses organizando tudo para que, dessa vez, fosse perfeito. E eu nem quis contratar uma cerimonialista ou coisas assim, tinha feito tudo pessoalmente, com a ajuda das minhas madrinhas: Manu, Lilly, Isa e Fernanda. Seus pares, Luca, André, Liam e Henrique, provavelmente estavam em alguma outra sala como essa agora, embebedando Adam. Otto também, claro. Ele só não entraria com Lilly porque ele teria a função de me levar ao altar.- Mas é diferente des
Eu odiava cemitérios. Algumas pessoas costumavam dizer que lugares como aquele traziam a calmaria para aqueles que precisavam do descanso eterno, o acalento para aqueles que ainda buscavam algum tipo de contato com seus entes que se foram, ou ainda a paz de espírito para aqueles que precisavam de um ponto final para certas histórias. Para mim, aquele lugar não passava de um depósito de corpos em decomposição e por isso eu tinha demorado cerca de seis meses para conseguir estar aí.- E aí? – Perguntei olhando para a lápide que exibia o nome Otto Milani. – Tô aqui... É estranho porque eu sinto que estou falando com um amontoado de ossos e não com você de verdade, mas a doutora Lee me disse que eu precisava fazer isso como um rito de passagem, ou sei lá, e aqui estou eu... Lembra dela, né, a dourara Lee? Minha psicóloga desde que perdi meus pais, e continuou sendo agora que perdi você.Meu olhar vaga pelo lugar enquanto tento encontrar palavras para continuar dizendo tudo que preciso diz
- Você tem uma mão pesada, garotinha.- Eu não sou uma garotinha.Adam e eu estávamos sentados, cada um em uma ponta, em uma longa mesa de madeira escura em um escritório de advocacia. Achei por bem manter uma distância segura o suficiente para não o atacar novamente. Já havia se passado três dias desde o nosso encontro no túmulo do meu irmão, mas meu ódio por ele parecia só aumentar.- Achei que tinha uns cinco, quando o Otto me pediu que se algo o acontecesse eu cuidasse de você.- Aposto que achou que eu tinha bem mais quando estava me despindo com os olhos naquela cripta.- Uns vinte e cinco, pelo menos... – disse sorrindo, enquanto tomava um gole do seu copo de café do Starbucks. – A roupa e a maquiagem ajudam.- Bom, eu tenho vinte, não sou uma garotinha e não preciso de uma babá.- Acho que o Otto discordava disso. E eu também, na verdade. Andei lendo sobre você.Poderia ter me afundado na cadeira naquele momento, mas assim como meu irmão, eu não era do tipo que me encolhia. E