Os meus dedos correm pelo teclado do computador e dígito a primeira coisa que vem na minha cabeça: "Bullying.”.
Com lágrimas nos olhos, opto pela primeira fonte de pesquisa: "O que é?”.
[...]
Rapidamente fecho a página da internet, jogo o notebook para o outro lado da cama
A música começa a tocar, mas ninguém pode ouvir. Ninguém além de mim mesma. Essa definitivamente é uma das coisas que eu mais amo fazer. Sempre que eu passo pelo corredor do colégio, penso em uma melodia e atravesso sem ouvir o que dizem sobre mim. Isso funcionou na minha antiga escola no Alabama, talvez também pudesse funcionar aqui. Não importa em quantos lugares você tenha estado eu aposto que eu vivi em muitas outras cidades do que você. Eu tenho um pai em casa que sempre está focado em seu trabalho e uma mãe meio paranoica. Para eles, o fato de eu ter estudado em 10 escolas, desde o primário, é normal e, além de ser aparentemente divertido, vai fazer com que seus filhos sejam responsáveis e tenham o que chamam de cultura. Mas na prática, as coisas não são tão fáceis assim. Eu não gostava muito do Alabama, era quente de mais e meu pai sempre vivia resfriado. Ele chupava tantos picolés de uva, que chegamos a fabricar nossos próprios sorvetes em casa. A escola era enorme, eu me per
Eu nunca entendi o motivo das pessoas se afastaram de mim, ou basicamente, porque ninguém nunca tentou aproximar-se de mim. Ou tentou e o meu medo e timidez não me deixaram ver, geralmente não sou tão tímida, mas só quando estou escrevendo ou não estou fantasiando uma vida que não é minha, fora desses requisitos, eu sou um desastre. Eu não sou uma adolescente muito jeitosa, o meu cabelo não é tão bonito quanto os das outras garotas, o meu corpo é esquio e desengonçado, a minha pele tem sardas e a maioria das pessoas, inclusive os meus pais, nunca ouviram a minha voz. No meu antigo colégio, o meu apelido era bruxinha silenciosa. Pois quando se aproximavam de mim, os meus colegas sempre me encontravam lendo os livros que a minha avó costumava me dar no Natal. No ano novo de 2012, ela me deu um livro de feitiços para fadas, eu adorei o presente, mas lembro de ter tido sérios problemas por sua causa. Um livro nunca fará mal as pessoas, mas o que sai da boca de muitos é capaz de acabar com
Os dias foram se arrastando. Escondida entre os meus livros e os fios soltos do meu cabelo, eu me refugiei dos caçadores. Ou em outras palavras, dos outros alunos. Pouco a pouco, descobri os nomes das pessoas da minha classe, inclusive do menino que esbarrou em mim. O nome dele era Noah. Ele estava na equipe de basquete, era bom em matemática e não gostava de mostrar isso aos outros. Como eu sei disso? Ontem, na aula de matemática, vi-o resolver os exercícios em menos de um minuto. Mas quando a professora perguntou, ele riu e deu o resultado errado. Além de participar da equipe de basquete, Noah é o amigo do cara com pinta de valentão,, que eu vi no gramado, no meu primeiro dia na escola. O nome dele é Edgard e o nome da namorada dele é Alice. A melhor amiga dela, Kate, tem um caso com Edgard e os dois transam no estacionamento da escola, em um BRM de 2001. Por conta da minha falta de sorte, vi-os juntos hoje, quando fui buscar a minha bicicleta para ir embora. Kate e Alice andam sem
Hoje de manhã, algo diferente, aconteceu comigo na escola. Talvez eu devesse ter marcado aquilo com caneta vermelha, na minha agenda de palavras complexas. Mas vindo de quem veio, eu posso apostar, que não passou de uma piada.Eu estava na classe de literatura avançada. Ao que tudo indica, os professores realmente gostavam da minha poesia e queria que eu fizesse parte do grupo de edição do jornal da escola. Eles me deram alguns papéis em branco e me pediram para escrever alguns poemas sobre qualquer coisa que viesse na minha cabeça. Eu os fiz, mas acabei não gostando muito deles. Embolei os papéis numa bola e os joguei na lata de lixo.A minha professora estava ocupada falando ao telefone e não me viu saindo da sala. Entrei no banheiro antes do intervalo, lavei o meu rosto e fui direto ao meu armário. Quando eu abri o cadeado, um papel amassado caiu e eu vi as minhas anotações da aula de literatura.O meu poema dizia:
As pessoas sempre falaram sobre as minhas orelhas, quando eu era pequena, minha avó Madison disse que eu parecia uma fada, pois nos livros de contos ilustrados que ela me dava, as fadas tinham orelhas pontudas, não tanto como a de um gnomo, mas eram semelhantes às minhas. A partir desse momento, eu comecei a me sentir mais confortável, mas depois chegou à quinta série e as coisas mudaram. Mesmo acreditando no que a minha avó dizia sobre as minhas orelhas, eu me sentia oprimida pelo fato dos comentários maliciosos ultrapassarem os limites e não serem mais apenas comentários bobos. Eu comecei a esconder as orelhas atrás do meu cabelo. Desde então, as pessoas nunca mais comentaram sobre elas, ou eu pensei que nunca mais falariam.Saí da sala o mais rápido que pude, eu sabia que tomaria uma advertência por sair enquanto uma professora ainda estava ensinando, mas eu não c
O meu despertador tocou e, preguiçosamente, acertei-o com um soco para desliga-lo. Tudo o que eu queria era poder ficar em casa, assistir algum filme, escrever letras de músicas ou novos poemas. Eu não queria ir a um funeral, muito menos com os meus pais. Eu me levantei e rastejei o meu corpo para o banheiro, liguei o chuveiro e deixei cair à água quente no meu corpo. Era sábado, eu estava me preparando para um funeral, em certas partes, nada é tão ruim quanto ter que sair do carro com nós três dentro dele. Sempre quando saímos, o papai e a mamãe discutem, eles também discutem em casa, mas quando saímos de carro é muito pior. O papai fala no telefone, a minha mãe tenta fazê-lo prestar atenção no volante, ele diz que são negócios e que não pode simplesmente desligar, a minha mãe responde que se ele quiser permanecer vivo precis
A chuva nos encontrou quando viramos a esquina. Alguns chuviscos pingaram no vidro do carro e papai blasfemou um palavrão.“Merda!” Ele socou o volante. “Tinha que chover justo hoje?”Era apenas chuva, nada demais. Às vezes eu penso que o meu pai odeia tudo e a todos e que em certos dias, odeia ele mesmo.“Querido, não fale mal na frente da nossa filha, sabes que eu não aprovo o uso de palavrões.”“Ah, cala a boca Rebecca!” Ele esbraveja. “Você nunca aprova nada, para de ser tão paranoica, tenho certeza que nossa filha nem está prestando atenção no que estamos discutindo.”Seu telefone celular começou a tocar, meu pai desviou o olhar da minha mãe e segurou-o.“Por favor, querido. Desligue o telefone, sabes que dirigir falando ao telefone gera multa.”“Já vai começ
O Noah me seguiu. Eu não queria que ele me seguisse, na verdade, eu não queria que ninguém viesse atrás de mim. Com o tempo, você aprende a lidar com o desapego das pessoas.“Espere!” Ele gritava enquanto eu corria na chuva. “Por favor, espere!”Quando eu estava perto da saída do cemitério, senti a mão dele pressionar a minha e ele me virou com força batendo seu peito contra o meu.Nossos olhos se encontraram e a sua expressão perplexa, mas não tanto quanto minha, me fez reparar na estrutura facial de seu rosto.“Não fuja de mim.” Ele disse. “Por favor, não fuja como você fugiu ontem na escola.”Forcei o meu braço para trás, mas ele não me soltou.A chuva caía sobre nós.“Eu sei como você está se sentindo, venha comigo...” Ele segurou