03.

Na cozinha, Rita se move de um lado para o outro, terminando de preparar a janta.

- Pensei que nunca mais ele iria sair da cadeia - murmura, lavando alguns utensílios que havia usado.

- Parece que não tinham motivos o suficiente para manter ele lá - Suspiro.

- Por mim, você pode ficar.

- E o André? - Ela se vira para mim.

- Ele nem passa muito tempo em casa. Além do mais, você é irmã dele.

         Contudo já fazia algum tempo que não tínhamos uma certa aproximação. E eu até sentia falta disso.

         Acabou que Rita cedeu o quarto de hóspedes, que ainda estava sem cama e guarda-roupa. Mas para uma pessoa que só precisava de um lugar para dormir, o colchão de solteiro que ela pegou emprestado com a vizinha até o dia seguinte, ajudou bastante.

        Depois de jantar com ela, saio da casa em direção ao ponto de ônibus, recalculando mentalmente o tempo que gastaria para chegar na boate.

        E para meu azar, chegaria atrasada.

        A maioria dos funcionários já haviam chegado, quando entrei rapidamente na boate pela parte dos fundos, indo direto para o vestiário.

       Substituo as roupas que estava vestindo rapidamente pelo uniforme preto, prendendo o cabelo num rabo-de-cavalo enquanto saia de um dos reservados.

       Rodrigo ao me ver se aproximar, gesticula.

- O que aconteceu? - pergunta.

- Tive um imprevisto.

- Está tudo bem?

- Está - Dou de ombros - Só foi um imprevisto.

       Por um breve momento, ele me olha, tentando me decifrar, antes de voltar para o que estava fazendo. Faço o mesmo, me obrigando a ocupar minha mente.

       Horas depois quando a boate abre, o lugar não demora para encher. Pessoas transitam de um lado para o outro, alternando em dançar e cumprimentar conhecidos.

       Ao meu lado, Rodrigo oferecia seu melhor serviço, sempre para mulheres, já que faziam questão de ser atendidas por ele e ele como um bom funcionário, aceitava as cantadas e o modo sedutor que o olhavam.

        Isso não significava que eu não recebia cantadas as vezes, recebia. Tanto de homens, quanto de mulheres, lidando da melhor forma possível.

       Boa parte das pessoas quando faziam isso, já estavam um pouco alcoolizadas e o máximo que eu podia fazer ou era ignorar ou fingir que era algo normal.

       Mas em como todos os casos, sempre existia aquele que queria ultrapassar os limites, que me esperava do lado de fora da boate, para tentar realmente alguma coisa e era estes casos que me assustava. Pois haviam homens, que confundiam facilmente o fato de ser bem recepcionados, com um flerte.

       Umas das garçonetes havia sido assediada por um dos clientes em meio a outras pessoas que, indignadas com a situação, a apoiaram em levar o caso para a polícia. A principio a garçonete se negou, já que não queria por seu emprego em risco, por ter uma filha pequena e a mãe doente dependente dela, mas devida a tanta pressão, acabou aceitando e como no país onde moramos nada faz sentido, foi demitida pouco tempo depois.

- Vou no banheiro - murmuro perto do ouvido de Rodrigo, quando já não estava mais aguentando minha bexiga.

      Ele simplesmente assenti, voltando a atender a cliente em sua frente.

      Saio do bar com o destino ao banheiro, precisando desviar de algumas pessoas no caminho. Levo alguns esbarrões no caminho e longos olhares, até ser parada abruptamente por alguém que segura meu braço com força.

- O que você tá fazendo aqui, Malu? - Viro automáticamente para o homem que segurava meu baço, sustentando seu olhar.

       Franzo o cenho com um leve sorriso no rosto, balançando a cabeça, antes de puxar gentilmente meu braço e dar as costas.

       Ele volta a segurar meu braço, dessa vez, me puxando para trás.

- Vai me ignorar mesmo? - Sua voz era suave em meio a música alta, entretanto, firme, com um pingo de raiva no final.

       Me viro novamente, o olhando com atenção.

       Era um homem alto, alguns centímetros mais alto que Rodrigo. Pele negra, olhos verdes-escuros e cabeça raspada.

       Seu porte físico não demonstrava que fazia exercícios, entretanto dava para perceber seus bíceps apertados na manga da camisa polo azul marinho.

       Uma aliança prateada brilhava na mão direita que apertava meu braço.

        Volto a olhar para seus olhos verdes, mexendo na ponta do meu nariz.

- Você está me confundindo com outra pessoa! - grito por cima da música. Ele estreita os olhos, ainda não acreditando - Meu nome é Bruna - finalizo.

        É apenas quando ele me olha com atenção, que a mão afrouxa em meu braço.

       Se inclinando em minha direção, aproxima a boca do meu ouvido.

- Você se parece muito com uma pessoa que conheço - diz controlando o tom de voz - Poderiam até ser gêmeas - Ele dá um passo para trás, me olhando.

       Ergo as sobrancelhas, sem entender exatamente o rumo que aquela conversa estava tomando.

- Já tenho um gêmeo - digo com um leve sorriso no rosto, antes de girar o tronco e finalmente ir para o banheiro.

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