De volta para o bar, em meio a todas as pessoas que estavam ali, meu olhar se cruza coincidentemente com o homem misterioso.
Fingindo toda a naturalidade do mundo, continuo meu trabalho. Até que ao terminar de fazer um drink e me virar, me deparo com o homem misterioso, sentado de frente para mim.
- Quer alguma bebida? - pergunto me aproximando do balcão.
Ele ergue o copo ainda pela metade.
Assinto, voltando minha atenção para a mulher ao lado.
- Trabalha há muito tempo aqui? - Ele pergunta de repente.
- Três anos - digo sem parar o que estava fazendo.
- E como nunca vi você?
Dou de ombros.
- Não faço ideia.
Ele olha ao redor.
- É sempre assim?
- Na maioria das vezes - Se ele costumava frequentar a boate, com certeza já sabia disso, mas preferia puxar assunto da forma mais aleatória possível.
- Mora por aqui por perto? - Ergo um dos cantos da boca, já tendo uma noção do rumo que aquela conversa estava tendo.
Franzo os lábios, os movendo de um lado para o outro.
- Já entendi - diz ele, baixando a cabeça para sorrir - Fui invasivo.
Rodrigo se aproxima, com um meio sorriso no rosto.
- Tudo bem por aqui?
- Tudo sim - Ele responde, dividindo sua atenção por míseros segundos com Rodrigo, antes de voltar a olhar para mim.
- Posso preparar alguma bebida?
- Ela já está me atendendo - diz apontando o queixo na minha direção.
Rodrigo assenti, antes de se afastar.
- Gostei de você, Bruna - Ele continua, os olhos brilhando na luz difusa.
- Você nem me conhece.
- Não preciso conhecer muito as pessoas. Minha intuição me ajuda com o julgamento.
Ergo uma sobrancelha.
Então ele era do tipo que julgava em silêncio.
- Como eu disse antes, você se parece muito com uma pessoa que conheço - Ele me analisa - Ela ficaria chocada em saber que tem uma pessoa igual a ela, andando por aí.
Qual a porcentagem de tal coisa acontecer? Acreditava que bem pouca, já que não conhecia muitos casos como aquele que ele mencionava. Mesmo assim, a pergunta pairava no ar.
Quem é Malu?
Uma irmã?
Prima?
Filha...?
Claro, seria estranho demais se perguntasse e ele poderia enxergar aquela simples pergunta, como um cartão verde para o que fosse que estivesse pensando.
Quando um grupo de pessoas se aproxima do bar, agradeço mentalmente por encerrar aquela conversa e quando percebo, ele já não estava mais, o que acabou sendo um alívio.
Por não ter dormido o suficiente, antes mesmo do turno acabar, já estava completamente bêbada de sono e contando os minutos para fecharem a boate.
Rodrigo me esperava do lado de fora da boate, depois do fim do turno, olhando alguma coisa no celular.
Me aproximo bocejando, gostando dos primeiros raios de sol da manhã contra meu rosto.
- Quer ir lá pra casa? - Ele pergunta, guardando o celular - Provavelmente não tem ninguém em casa e vamos ter a casa só pra gente.
Na maioria das vezes, era o que fazíamos.
Não havia outros planos a não ser ir para a casa de Rodrigo, passar o dia trancado em seu quarto, até chegar a hora de eu ir para a boate e o deixar em casa, curtindo o restante da folga dele.
Contudo, naquela manhã, passar o dia na cama dele, me soou bastante atraente, então não recusei.
Rodrigo não era rico, pelo contrário, sua mãe era professora e seu pai contador. Não eram ricos e nem pobres, estavam no meio, já que viajavam pelo menos todo ano, tinham um carro comum e previlegios.
Moravam numa parte afastada do centro, que diferente de Paraisópolis era bem vista por todos os moradores, graças a segurança que o local transmitia.
A casa era grande, espaçosa, bem construída; além de ser decorada do jeito que a mãe de Rodrigo queria.
Ela nunca mandou o filho me chamar para um almoço ou algo do tipo. Isto fazia eu acreditar que talvez, ela soubesse que eu não era exatamente a pessoa que mostrava ser.
Assim que entramos na garagem, deixo meus sapatos do lado de fora da casa, temendo sujar o chão impecavelmente limpo.
Como imaginava, a casa estava limpa e arrumada, não havia um prato se quer na cozinha americana ou uma almofada fora do lugar.
As vezes me pegava pensando se eles deviam ter alguém para limpar a casa, uma diarista, como costumavam dizer. Me continha em perguntar isso para Rodrigo, temendo ouvir que uma Jussara ou Cleide, limpava a casa três vezes na semana e que tinha que se locomover de Paraisópolis até ali. E dito isto, logo falaria em como a comunidade só gerava criminosos e em como sua extinção, seria gratificante.
Com certeza falar sobre Paraisópolis, o lugar em que cresci, vendo de perto em como as pessoas lutavam para sobreviver, não era o tipo de assunto que queria debater com ele.
O quarto de Rodrigo era o último do corredor, já conhecendo o caminho, entro no cômodo, sendo recebida pela bagunça costumeira.
Na cama ainda por fazer, me deito, respirando fundo com os olhos fechados, sentindo em seguida o colchão ao lado afundar e a boca de Rodrigo contra a minha.
Sua língua não demora para invadir minha boca, procurando pela minha, enquanto suas mãos, automaticamente deslizam para dentro da minha calça jeans.
Gemo baixo quando finalmente ele encontra meu clitóris, o estimulando lentamente.
Sexo antes depois de uma noite cansativa e antes de dormir, era o que eu precisava, então estava mais do que convidativa, já que não demorou para sentir os dedos dele deslizando para dentro de mim.
Sempre fui bastante exigente e mente aberta em relação a sexo. Com poucos dias namorando Rodrigo, fui bastante direta e clara, ao dizer que sem preliminares bem feita, não teria como ter qualquer tipo de relação sexual com ele.
Gostava de sentir meu corpo sendo incendiado aos poucos, juntamente com o prazer que em determinado ponto, começava a emanar de meus poros, fazendo assim com que me desconectasse do mundo ao redor e me conectasse com ele, esquecendo completamente que existia pessoas além de nós no mundo.
Era isso que o sexo era para mim. Uma conexão. E também por isso, que nunca fui de fazer sexo com qualquer pessoa, pois acreditava que trocava energias e não era todo tipo de energia que era boa.
Jogo minha cabeça para trás, quando os dedos colocam um certo ritmo, me fazendo esquecer aos poucos de tudo ao meu redor.
Rodrigo era bom com seus dedos, algo que compensava muito bem o fato de não fazer oral.
Segundo ele, não era muito higiênico e se podia pegar facilmente uma doença.
Resumindo, ele não gostava e também não fazia.
Muitas vezes fantasiei seus lábios rosados, meramente cheios, me chupando completamente. Sugando minha lumbrificação a ponto de me deixar sem fôlego, só que não passava de fantasias que nunca iriam se realizar.
Outra coisa que ainda precisávamos lidar, era com a limitação de posições. Rodrigo gostava de papai e mamãe e, no máximo de ladinho.
Em sua mente parecia não haver algo além dessas duas posições e isto me frustrava. Incontáveis vezes, tentei desbloquear isso nele, mas a resposta que tinha, era que não conseguia atingir o orgasmo de outro jeito.
Enfim, ele era bonito, sabia como fazer uma mulher gozar apenas com os dedos, só que só se limitava a isso. Não saia da própria bolha que havia criado ao redor dele.
Perto de gozar, simplesmente ele para, tirando minha calça jeans o mais rápido que podia e indo até o guarda-roupa, cujas roupas estavam todas bagunçadas.
Em meio a bagunça, ele tira um preservativo com cheiro de morando e o veste no pênis mediano, se adiantando em se colocar em meio as minhas pernas, sem ao menos tirar minha blusa ou a blusa dele.
Quando seu pênis entra dentro de mim, não sinto dor, o prazer volta a se instalar dentro de mim e impaciente, começo a me mover contra a pélvis dele, desejando que me fizesse gozar logo. Um pouco sem jeito, ele se move, com cada mão ao lado do meu corpo, evitando de aproximar nossos corpos suados.
Mantenho contato visual, mordendo o lábio inferior, tentando ver no rosto dele, uma expressão que me deixasse mais excitada.
Só que não.
Rodrigo também não era muito expressivo e não que isso fosse um problema, só que as vezes não sabia quando ele estava gostando ou não.
Continuo me movendo, procurando me saciar antes dele, tão envolvida com o que estava acontecendo, que não ouvi quando deixamos de estar sozinhos.
A primeira pessoa a perceber isso, infelismente, foi Rodrigo, que ao olhar para a porta aberta do quarto, se deparou com o pai com os olhos cravados na cena em sua frente.
Mesmo diante daquela vergonha, não deixei de gozar. Foi como se meu corpo assumisse o controle e simplesmente um gemido baixo saiu da minha boca, me fazendo agarrar o lençol.
Rodrigo mais do que rapidamente, sai de cima de mim, se encolhendo no canto do quarto, só então após fazer contato visual pela segunda vez com o pai, que j**a a coberta que estava no chão em cima de mim.
- Quero falar com você - diz o pai dele, sério, me olhando antes de ir para a sala.
Rodrigo pega a calça dele ao lado, não se dando o trabalho em tirar o preservativo ao vesti-la.
- Se veste - murmura, antes de sair em passos largos e rápidos do quarto.
Com o rosto queimando, obedeço, vestindo a calça que ainda estava com uma das pernas grudadas em meu pé. Não sabendo se me odiava pelo fato de ter gozado ou de ter sido pega naquela situação.
Ainda no quarto, ao lado da porta, ouço a conversa tensa que se iniciava.- Quem é essa aí?- Minha...minha namorada - Rodrigo gagueja.- Desde quando?- Um ano. Eu acho - murmura - A mãe sabia. Breve pausa.- Então era dela que a sua mãe estava falando - diz sério - Ela tinha razão em dizer que não havia gostado dela - Ele diminui o tom de voz - Manda ela ir embora antes que ela chegue. O silêncio de Rodrigo, foi o suficiente para tirar minhas próprias conclusões. Não era bem vinda ali e Rodrigo não fazia muita questão em mudar isso. Pego minha bolsa ao lado do guarda-roupa, saindo do quarto antes de ser pedida para me retirar. No meio do caminho, no final do corredor, encontro Rodrigo e o pai que, automaticamente dão um passo para trás para que eu passasse.- Já tô indo - murmuro. Rodrigo desvia o olhar de mim para o pai rapidamente, antes de me olhar novamente e me seguir.- Levo você, Bruna.- Não precisa - Continuo a andar, ouvindo-o logo atrás.-
O trajeto até a casa de André, é feita em completo silêncio ou quase, já que tocava uma música do pen drive. O silêncio dele, só me deixava ainda mais encucada. Rita veio ao nosso encontro quando nos ouviu entrar na casa, secando a mão num pano de prato, enquanto em frente ao seu corpo havia um avental com o corpo de uma mulher de biquíni estampado.- Mulher, onde você se meteu? Tava preocupada com você - diz me olhando.- Passei num lugar depois que sai do trabalho - André sobe os degraus da escada, mantendo seu silêncio - Ele é sempre assim agora? Rita continua a olhar para a escada, mesmo depois de André ter sumido de vista.- Se tornou um homem de poucas palavras - Ela me olha - Mas ainda tem um bom coração. Tinha minhas dúvidas se ainda havia um coração dentro de André. Ele me parecia tão distante. Rita volta para a cozinha, se movendo com agilidade, dividindo sua atenção em ver as panelas e cortar temperos.- Quer ajuda?- E desde quando você sabe
Quarenta minutos depois, ouço uma buzina em frente da casa. Praticamente voou escada abaixo, quase me encontrando o fim dela, tentando controlar o nervosismo antes de sair. Rodrigo terminava de trancar o carro quando me aproximo do portão. Assim que me vê, um leve sorriso surge em seu rosto.- Você acredita que nunca vim aqui?- Nunca veio em Paraisópolis? - Não era algo que precisava para ter surpresa, já era esperado. Só era preciso fingir surpresa.- Não - Ele continua sorrindo, olhando ao redor - Mas é melhor do que imaginava. Está longe do que imaginei.- E... como você imaginava? - pergunto cruzando os braços.- Um lugar hostil e perigoso. Talvez por ter crescido naquele lugar, não o considerava o inferno, muito menos o céu. Era um lugar, assim como os demais, que tinha certo periculosidade e infelismente, já nos sentíamos fadados à isso.- Mas parece ser tranquilo aqui - Ele volta a me olhar - Faz muito tempo que seu irmão mora aqui?- Faz - digo sem pensa
- Gozei - diz sem fôlego, dando um beijo em meu ombro. Solto o ar dos pulmões, me afastando dele, procurando minha roupa.- Percebi.- Você não gozou não? - Tenciono meu maxilar, vestindo a roupa.- Quando eu estava pra gozar, você não deixou.- Pensei que íamos gozar junto. Balanço a cabeça de um lado para o outro. Estava prestes para rebater ele, quando ouvi a porta da frente abrir num barulho alto, o que me fez levantar com o coração acelerado, imaginando que deveria ser meu pai. Assustada, encaro a porta do quarto fechada, incapaz de me mexer.- Você ouviu? - Rodrigo pergunta, se vestindo. Assinto.- Ouvi.- E não vai lá ver? - Olho para ele. Até aquele momento, eu morava ali, então era eu que tinha que ir, não é? Prestes a abrir a porta, ouço passos vindo para o segundo andar. Me detenho, sentindo todo meu corpo gelar, até que ouço o bater de uma porta e concluo que não deveria ser meu pai e sim Rita ou até mesmo André. Abro
- Não para de pressionar! - digo praticamente em cima do volante, numa velocidade perigosa para alguém que claramente não sabia o que estava fazendo.- E você presta atenção na rua - diz ele tencionando o maxilar. Eu estava tentando. Sério, estava. Mas era difícil se concentrar, quando ao seu lado, seu irmão dava todos os sinais que estava perdendo uma grande quantidade de sangue que poderia sim, fazer falta para ele depois. Freio bruscamente quando simplesmente, uma menina de aproximadamente 15 anos surge em frente do carro.- Tá maluca?! - grito, batendo no volante - Poderia ter matado você!- Bruna... - diz André baixo, me lembrando de sua existência.- Desculpa - murmuro, afundando meu pé no acelerador e tendo como resposta, o carro morrer. Tento novamente, só conseguindo que o carro desse um solavanco forte para a frente. André vira a cabeça na minha direção, com os lábios pálidos entre abertos e as pálpebras semicerradas.- A marcha - sussurra. Olho para
- Onde vocês dois se meteram? Eu cheguei e... - Ela para de falar ao ver o marido sem camisa, sujo de sangue e parecendo um corcunda - O que aconteceu? - pergunta baixo, passando por mim.- Levei um tiro - Ele murmura, observando-a analisá-lo.- Meu Deus, André - Ela leva as duas mãos para a cabeça, antes de soltar o ar dos pulmões.- Eu tô bem. Sério. Quase que foi de raspão.- Hoje ele encrencou com a palavra quase - digo atraindo ambos os olhares. André revira os olhos, andando para dentro da casa - Isso. Me ignora - Rita se aproxima com os braços cruzados sob o peito, olhando para a porta aberta - Parece que algumas coisas você deixou de me dizer. Ela inclina a cabeça para o lado.- A gente tava na pior, Bruna. E o André não queria aceitar ajuda da minha mãe.- Você tinha que ter me dito.- E o que você iria fazer? O óbvio. Iria por na cabeça dele, nem que precisasse abri-la, que aquele não era o melhor caminho, que tudo não passava de uma ilusão e da mesma fo
- Quem mora aqui? - pergunto olhando com atenção os quatro carros aparentemente caros. Ninguém me responde. Invés disso, minha pergunta se responde quando na porta do que deveria ser a sala, o cara misterioso aparece. Puta merda. Mais rápido que queria, tudo começa a se encaixar bem diante dos meus olhos.- Molhou - diz André. O cara para de me olhar e olha para André.- O que foi?- Descobriram minha casa. Ele desvia o olhar, olhando o vazio.- A gente tem que matar eles - diz o cara ao lado, soando perigoso - Vão caçar cada um de nós.- Não, eles não vão - diz o cara misterioso calmamente.- Como sabe? - Não soa como uma simples pergunta, era como se ele desafiasse ele. Dou alguns passos pelo pátio, em busca de uma cadeira ou algum canto que pudesse me sentar.- Estão atrás dela - Volto a prestar atenção novamente na conversa, ao sentir que ele estava falando de mim. André olha por cima do ombro, mesmo sabendo que
Passo pelo quarto que André estava com Rita e o encontro vazio, o que me fez ir para o primeiro andar, onde encontro Rita na sala.- Cadê o André?- Saiu cedo.- Pra onde? Ela dá de ombros.- Não sei. Ele não falou - Ela me olha - Dormiu bem?- Muito - Sento ao lado dela.- Aquele colchão é ótimo, não é?- André deveria mudar o colchão de toda a casa.- Ele teria que vender muita droga pra isso. Um silêncio estranho se instala de repente, o que me faz olhar ao redor.- Será que já posso voltar para minha normalidade?- É isso também que quero saber. Depois da nossa breve conversa, tomamos café, não só uma vez, duas. A comida que era nos oferecida, era muito boa para comer apenas uma vez. Após o segundo café da manhã, decidi por conta própria “passear” pela casa, mesmo isso sendo uma tremenda falta de educação. A casa era enorme, os cômodas espaçosos e tudo muito bem decorado da melhor forma possível, deixando claro o poder aquisitivo de Átila