05.

 Ainda no quarto, ao lado da porta, ouço a conversa tensa que se iniciava.

- Quem é essa aí?

- Minha...minha namorada - Rodrigo gagueja.

- Desde quando?

- Um ano. Eu acho - murmura - A mãe sabia.

      Breve pausa.

- Então era dela que a sua mãe estava falando - diz sério - Ela tinha razão em dizer que não havia gostado dela - Ele diminui o tom de voz - Manda ela ir embora antes que ela chegue.

     O silêncio de Rodrigo, foi o suficiente para tirar minhas próprias conclusões.

      Não era bem vinda ali e Rodrigo não fazia muita questão em mudar isso.

       Pego minha bolsa ao lado do guarda-roupa, saindo do quarto antes de ser pedida para me retirar. No meio do caminho, no final do corredor, encontro Rodrigo e o pai que, automaticamente dão um passo para trás para que eu passasse.

- Já tô indo - murmuro.

       Rodrigo desvia o olhar de mim para o pai rapidamente, antes de me olhar novamente e me seguir.

- Levo você, Bruna.

- Não precisa - Continuo a andar, ouvindo-o logo atrás.

- A gente se fala depois então - diz ele, quando já estávamos na garagem e eu prestes a passar pelo portão.

       Não respondo.

       Não me sentia bem suficiente para responder. Naquele momento, só queria sair dali o mais rápido que eu pudesse.

      Ainda no ônibus, minutos mais tarde, Rodrigo me mandou mensagens de texto, perguntando se estava tudo bem e dizendo o quanto que o pai era ignorando com pessoas que não conhecia.

      As palavras dele ainda ecoavam em minha cabeça e isto me fez me questionar o tipo de mulher que deveria ser a certa para Rodrigo. E sem pensar muito, o estereótipo que havia criado para Rodrigo, surgiu em minha mente e novamente o fato de eu ser o contrário disso, me fez acreditar que aquele relacionamento, não iria muito longe.

        Em pé no ônibus, após dar sinal para descer no próximo ponto, vejo André não muito longe, conversando com dois homens.

        Desço do ônibus, andando em sua direção, arrumando a alça da bolsa no ombro.

        André continua conversando com os dois rapazes que dava entre 17 e 20 anos de idade. Ambos o escutavam atentamente, enquanto o mesmo gesticulava, apontando em algumas direções.

        Continuo me aproximando, atraindo o olhar de um e só depois o do outro, por último André que me olha voltando a olhar para eles, me olhando novamente ao se dar conta que era eu.

       Paro alguns passos deles, esperando que ele terminasse a conversa e quando termina, caminha até mim despreocupadamente, com os olhos fixos nos meus.

- Rita disse que brotou lá em casa ontem.

- Não tinha pra onde ir.

- O que tá pegando, Bruna?

        André havia tido mudança significativa. Não era mais o menino alto, magro, que estava prestes a ser corcunda.

        Em seu corpo tinha músculos por toda parte, tatuagens e um cavanhaque que não tinha antes.

        Mas ele não havia mudado apenas fisicamente, seu olhar estava frio, como se não tivesse mais uma alma dentro dele.

       Era difícil reconhecer o homem me minha frente, ver o menino que brincava de boneca comigo e que fazia tranças no meu cabelo.

- Provavelmente uma hora dessas ele já saiu.

       Ele olha ao redor, antes de estreitar os olhos.

- Quem falou isso?

- Tati.

      Os olhos dele vagam por cima da minha cabeça, pensativo.

- Se eu não puder ficar na sua casa, arrumo outro lugar - continuo - Na verdade, vou arrumar, só estou esperando minha folga.

- Você é bem vinda lá. Não precisa de convite.

- Só que você não parece muito feliz em me ter em sua casa.

- Não é isso.

- E o que é então? - Cruzo os braços, já completamente sem entender o comportamento dele.

- Meu único problema já não é mais saber se vou apanhar quando ver ele - murmura, desbloqueando automaticamente uma lembrança.

       Costumávamos passar o dia bem, íamos para a escola pela manhã, a tarde brincávamos e quando a noite começava a se aproximar, o medo vinha junto. Pois sabíamos que quando ele chegasse, qualquer coisa o faria perder a paciência e descontar a raiva toda que teve durante o dia em nós.

       Dessa forma, a noite quando ele estava em casa no telefone ou recebendo pessoas, fazíamos o mínimo barulho possível e mesmo assim, até o fato de respirarmos pelo dele, já era um motivo para usar o que estivesse por perto para nos bater.

      Engulo em seco, sentindo a tensão pelo meu corpo.

      Antes que dissesse alguma coisa, um carro se aproximou, parando ao nosso lado. Dou um passo para trás, enquanto André simplesmente encara o vidro fechado.

      O vidro desce um pouco e metade do rosto do homem misterioso aparece, inicialmente os olhos se fixando em mim, antes de sustentar o olhar dele.

- Resolveu o problema dos ratos?

- Já espalhei as ratoeiras.

      Ele apenas assenti, fechando novamente o vidro, colocando novamente o carro em movimento.

- Conhece ele? - pergunto com as sobrancelhas erguidas.

      André me olha como se não entendesse exatamente o motivo da pergunta.

- Mais fácil você perguntar quem não conhece.

       Dou de ombros.

- Eu.

       Ele balança a cabeça de um lado para o outro, antes de andar em direção a um carro cinza do outro lado da rua.

- Estou falando sério - digo seguindo ele - Não tenho vida social. Então...

       Ele não diz mais nada, mesmo eu querendo saber quem era aquele cara e como ele conhecia o meu irmão.

     

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