Capítulo 03

Pietro Kuhn

Dezoito anos

Ser o filho do meio tinha suas vantagens, meu pai decidiu assim que eu fiz 15 anos, que iria fazer minha iniciação dentro da máfia alemã, enquanto procurava uma noiva para o meu irmão.

Viver na sombra do meu irmão mais velho e do nosso primo Brian, que era seu consigliere [conselheiro], era mais fácil, pois não havia tantas cobranças. Minha iniciação não foi nada fácil, nunca gostei do estilo de vida que levávamos, é claro que seria muita hipocrisia se dissesse que não gostava do dinheiro, poder e das mulheres que iam e viam com facilidade, é claro que

aproveitava cada segundo que o poder me proporcionava, mas isso não queria dizer que eu gostava de todo o resto.

— Pietro, nos vemos amanhã? — Isabel pergunta toda manhosa. 

— Talvez, tenho muito trabalho. — Me levanto da cama a procura das minhas roupas. 

— Sabe que posso estar indisponível se não me der a certeza que virá. — Enrolada no lençol, ela me encara.

Isabel é uma acompanhante de luxo, já tem um ano que nos conhecemos, ela trabalha numa casa de shows que um dos meus colegas da universidade me apresentou.

Ele me avisou que o fato de ficar com apenas uma garota desse local, poderia me trazer sérios problemas, chegaria um momento que ela se apaixonaria, e era realmente o que estava acontecendo. Para que isso não se estendesse por muito tempo, comecei a ir apenas uma vez por semana ou quando ia, simplesmente ficava com outra, apenas para lhe mostrar que não havia nada sério entre nós e que isso nunca aconteceria. 

— Sabe que não pago por sua exclusividade. — Visto minha boxer, em seguida minha calça jeans. — É apenas sexo, Isabel, nada, além disso. 

Me encara com os olhos marejados. 

Merda! Céus!

Qual o problema dessa mulher?! Nunca prometi nada a ela. Jamais me casaria com uma acompanhante.

Como era de se esperar, ela levanta rápido da cama e caminha em direção ao banheiro, batendo a porta com tudo. Se ela espera que eu vá consolá-la, está muito enganada.

Visto minha camisa e saio do quarto, seguindo para fora do apartamento. Sempre que precisava me divertir, pedia para um dos meus seguranças buscar a Isabel ou outra mulher, é claro que tinha esse apartamento apenas para diversão, a única coisa que Thomas sempre me dizia era: não arrume nenhum bastardo ou pegue alguma doença na cabeça de pau. Ou deixe que nosso pai desconfie das suas escapadas no horário de trabalho para fodas.

***

Assim que saio do apartamento, sigo para casa e entro antes mesmo que minha mutter [mãe, em alemão] note minha presença, já que hoje cedo havia tirado fora do sério zombando do casamento de Thomas, e ainda mais ter notado, assim como meu irmão, a maquiagem que cobria seu pescoço, indicando um novo amante. Esse era um dos motivos por não querer relacionamentos sérios ou um casamento, mas como meu irmão, estava fadado a me casar com alguém que talvez nunca desejasse. 

Praticamente corro a escadaria e sigo para o meu quarto. Hoje é o dia do noivado do Thomas e como o nosso vater [Pai, em alemão] diz: nada melhor que a união de grandes poderes.

Para ele, a família sempre estava em primeiro lugar, mas era o que ele dizia e não o que acontecia na nossa casa.

Tomo um banho relaxante e decido vestir um terno simples, na cor azul royal de linho, calço um sapato preto da LV, penteio meu cabelo para trás, coloco meu relógio de pulso preto, um anel prata com pedra de esmeralda que ganhei da minha mamma no meu aniversário de 16 anos.

Me olho no espelho e estou muito bem.

Saio do meu quarto e desço a escadaria, a casa está cheia, dona Francesca não economizou na festa e nem com a quantidade de convidados. Termino os degraus e assim que um garçom passa ao meu lado segurando uma bandeja com algumas taças de champanhe, pego uma e tento me dispersar no meio dos convidados, o que é muito difícil, pois ser o filho de Vicente Kuhn é como se carregasse o mundo nas costas.

Passo cumprimentando algumas pessoas que conheço, olho a hora no meu relógio de pulso e percebo que já está quase no horário que a família McNight chegará, caminho para o jardim da frente e fico entre as árvores, sentindo a brisa do ar.

Alguns minutos se passam e avisto duas SUV pretas chegando, tudo indica ser a família que estamos esperando.

Observo cada membro saindo do carro, e de fato meu irmão tirou a sorte grande, pois sua noivinha realmente é linda, mas o que me chama atenção é a moça do vestido na cor rose, seus traços são mais marcantes o que faz lembrar da senhora McNight.

Espero que todos entrem na casa, para fazer o mesmo a seguir.

Como já era de se esperar, meu pai e minha mãe os recebem de braços abertos e Thomas encara a menina como se fosse um lobo apaixonado.

Pode se apaixonar antes mesmo de se conhecerem?

Será que ele teve aquela coisa do filme do Crepúsculo, um imprinting[Na saga Crepúsculo, o imprinting é uma ligação inequívoca entre dois seres de sexos opostos.]?

Rio internamente com essa possibilidade.

— Já viu a irmã da noiva? — Ouço a voz do Brian e me viro. — O que está fazendo atrás das escadas?

— Uma pergunta de cada vez. — O encaro e pego mais uma taça de champanhe quando o garçom passa. — Ela é irmã da noiva?

— Seus traços são bem marcantes para não perceber, mi cugino [Meu primo, me italiano.]— debocha. 

— Ela é mais linda que a minha futura cunhada — confesso.

— A menina ainda é menor de idade, acredito que não queira arrumar confusão com o senhor McNight. — Enquanto suas palavras ecoam na minha cabeça, a menina me encara e dá um leve sorriso de canto. — Pietro, está me ouvindo?

— Sim, estou. — Levo a taça até minha boca enquanto encaro aqueles olhos verdes.

— Se você estragar os negócios do seu pai, ele vai te matar — ralha. 

— Só estou admirando a beleza da mais nova agregada da família — debocho.

— Olha, seu pai vai começar o discurso. — Paro de admirar a beleza da pequena jovem e presto atenção nas palavras do meu pai e em seguida o pedido de casamento do meu irmão. 

— Espero que essa merda toda dê certo — resmungo. 

— O quê?

— Nada, Brian, nada. 

Pego mais uma taça de champanhe, coloco uma das minhas mãos no bolso da minha calça e sigo para o jardim dos fundos. A única coisa que desejo é que isso não aconteça comigo tão cedo, não sei como fugirei das garras do meu pai, mas farei o possível para que isso seja quase impossível, até passaria o meu cargo para meu primo Brian e me tornaria seu consigliere para continuar com minhas aventuras.

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