Donna McNight
Dezessete anos Havia algumas horas desde que eu tinha chegado da escola e estava deitada em minha cama enquanto tentava me recordar qual foi a última vez que vi minha mamma andando pela nossa casa, pois já havia alguns dias que ela não saia da casa dos Kuhn devido aos preparativos do casamento da minha irmã, o que eu achava lindo, mas ia totalmente contra os meus princípios. Eu estava me tornando a filha rebelde, a que não tem medo de expor o que sente, o que pensa, enquanto Bella era a filha troféu, a que estava seguindo o seu destino, talvez terá sorte se ambos se apaixonarem e chegarem a ter um casamento feliz. — Donna? — Saio do meu devaneio quando ouço a voz do meu pappa atrás da porta fechada, me chamando. — Oi, pappa! Pode entrar — eu digo, me sentando na cama. — A que devo a honra? Logo que adentra em meu quarto, um sorriso largo aparece em seus lábios. — Diz como se eu não viesse aqui com frequência — comenta sorrindo enquanto adentra em meu quarto. — Trouxe um chocolate quente. — Só então percebo que está segurando uma xícara em suas mãos. O dia de hoje está chuvoso, o que faz jus a uma bebida quente. — Não precisava ter se incomodado, pappa — murmuro enquanto ele se aproxima e me entrega a caneca. — Malu disse que você não almoçou — ele diz e me encara preocupado. — Estou com cólica — confesso. — Malu até pensou que tinha feito algo que você não gostava. — Não, as mãos da Malu são de fadas. — Tinha três anos que Malu era nossa segunda cozinheira, ela cobria as folgas da Olga, e nos outros dias, dividia a limpeza da mansão com outros funcionários. — Quer me contar o que está acontecendo? — ele pergunta e continua em pé. — É que agora tudo gira em torno do casamento da sorella — eu digo. — Isso é verdade. — Se senta ao meu lado na cama. — E o próximo a se casar é Teffo e depois você, ou seja, todos terão um momento de exclusividade — ele diz e nós dois rimos. — Fala como se já não recebêssemos atenção o suficiente — eu digo e fico de joelho na cama, abraçando meu pappa. — Atenção que eu e sua mamma damos a vocês, nunca será o suficiente — ele acaba me dizendo e deposita um beijo no topo da minha cabeça. — Papai, quais são as chances de eu não me casar? — Como assim, mia bambina? — Pappa franze o cenho, esperando por uma resposta. Encaro aqueles enormes olhos verdes que não eram muito diferentes dos meus – eu sou quase uma cópia fiel do meu pai, até as leves sardas no rosto eu tinha –, as marcas de expressão já estavam bem evidentes, com um pouco mais de cinquenta anos, pappa já tinha vários cabelos brancos. Mas ainda assim, ele me encara sorrindo. — Não quero me casar — comento apreensiva, eu sabia que ele tinha dado a Bella a chance de não se casar, mas… seria o mesmo pra mim? — Bambina, você tem um longo tempo pela frente — ele diz se ajeitando na cama. — Você poderá se casar com quem ama… — Papai, não quero me casar. — Suspiro frustrada ao ouvir aquilo. — Quero viajar, estudar, me formar em medicina, e com isso não terei tempo para um casamento. — Me levanto da cama, colocando a xícara em cima da cômoda. — E ainda existem homens dentro da máfia que não aceita que suas companheiras trabalhem. Eu sinceramente… não pretendo ser como a Bella, eu não quero me casar, não quero ser um troféu de homem nenhum! — comento andando de um lado para outro. — E o senhor sabe, melhor que ninguém, que existem homens que querem apenas uma mulher submissa, uma que apenas cuide da casa e essas coisas fúteis. — Vinte e seis anos — ele diz, massageando suas têmporas. — No mais tardar, vinte oito anos, Donna. — Não estou entendendo. — Pisco várias vezes, tentando similar o que ele queria dizer com aquilo. — Se até os vinte oito anos não se apaixonar, terei que arrumar um pretendente pra você. É tudo que eu posso fazer, porque infelizmente, se não se casar, o conselho vai me pressionar, você não vai ter opção. Sabe como as coisas são no mundo onde vivemos — ele diz e sua voz é firme. — Mas… — Terá onze anos para se dedicar aos estudos — papai me interrompe — e sua profissão. — Se põe em pé. — Se ele for realmente apaixonado por você, não medirá esforços para poder trabalhar com o que deseja, mas é claro, com as devidas proteções. — Mas pappa… — Sou interrompida novamente, mas me mantenho em pé ao lado da cama. — Henry, Donna! — mamma aparece na porta. — O que estão aprontando? — Estavamos falando sobre o casamento da Donna. — Papai se levanta e caminha em direção da minha mãe — Céus! Já quer se casar? — ela pergunta incrédula. — Donna, você ainda é muito nova. — Não, mamma! Muito pelo contrário — sussurro. — Ela não quer se casar, mas dei um prazo a ela — meu pai fala e eu sei que é o melhor que eu vou conseguir. Esse acordo. 28 anos. — Me expliquem isso de uma vez e parem de rodeios — minha mãe pede, colocando as mãos na cintura. Meu pai ri e se levanta da cama, ele se aproxima dela e deposita um beijo no topo da cabeça da minha mãe e coloca seu braço nos ombros dela. — Donna tem até os vinte oito anos para encontrar alguém que a ame, incluindo viagens e estudos. — Faz uma pausa. — Se não encontrar alguém que a ame, iremos encontrar um pretendente. — Você tem o prazo de quase onze anos — mamãe salienta. — O prazo que sua irmã não teve. — Bella é a filha perfeita, esqueceram?! — resmungo — Eu preciso de mais tempo. — Não fale isso. Vocês são meus filhos perfeitos, mia bambina — mamma diz e logo se aproxima e me abraça. — Mamma, não quero me casar. — Eu insisto e suspiro, sentindo meus olhos marejados. — Por ora, vamos esquecer esse assunto, você está sofrendo por antecipação — papai conclui, me encarando com dúvida. — Tudo bem. — Eu acabo por dizer, minha voz saindo sem muita esperança. — Ah, eu quase me esqueci... esse acordo tem uma condição importante — ele diz ao se virar e eu o encaro sem entender. — Qual? — Você precisa se casar virgem — concluiu enquanto caminha em direção a porta do meu quarto. — Como manda a tradição, é claro — me lembra. — Não se preocupe. Não pretendo quebrar... as tradições — eu digo e sinto o meu rosto cora com minhas próprias palavras. — Bambina, não se preocupe — mamma fala segurando meus ombros e me encarando. — Tenho certeza que encontrará o amor verdadeiro antes do prazo e mesmo que esse não seja o caso, o seu pappa e eu daremos um jeito de arrumar para você um noivo por quem você vai poder se apaixonar — afirma. — Não acredito muito nisso. — Sinto um nó na garganta. — Eu também não acreditava. — Suspira com o olhar perdido. — Até conhecer seu pai, ele foi chave de tudo. — Um sorriso surge em seus lábios e seus olhos estão marejados. — Mamma, não chore. — Seco a lágrima que escorre com meus dedos. — É choro de felicidade, Donna — ela diz e respirou fundo. — Seu pai e eu passamos por muitas coisas. No começo, o nosso relacionamento era como uma montanha-russa. — Subia e descia? — pergunto curiosa. — Exato. Tenho muito orgulho da família que construímos, e é isso que desejo para meus filhos. — Ouvindo suas palavras, até me deu vontade de conhecer esse tal de amor, se é que ele existe — acabo murmurando e dou de ombros, sentando em minha cama novamente. — Você vai saber quando for real — minha mãe se contenta em dizer e sorri. — Será recíproco, mia bambina[minha garota, em italiano], e você não vai sofrer.Pietro Kuhn Dezenove anosDepois da viagem de família, precisei viajar para a Rússia, um dos carregamentos tinha sido roubado e eu precisava verificar quem havia feito isso.Assim que eu desci do meu carro em frente a boate que tínhamos de fachada, um dos nossos homens já me esperava.— Senhor! — Boris me cumprimenta.— Tem certeza que ele é o informante? — pergunto, dobrando as mangas da minha camisa branca e puxando minha própria arma do quadril, engatilhando-a. — Sim — afirma puxando sua arma e destravando.Ele abre a porta do bar e seguimos pela lateral que dá acesso ao estoque, onde tinha uma passagem secreta que dava para o subsolo.Boris aperta um botão que faz a parede vir um pouco para frente, onde a empurra, digitando uma senha e seguimos para dentro da sala que tinha isolamento acústico, o que nos dava privacidade para nossos trabalhos e negócios.— Então é você! — afirmo enquanto encaro o homem. — Acredito que você não tenha entendido porque foi treinado e contratado. —
Donna McNight Dezessete anosA celebração foi maravilhosa e Bella estava linda, apesar do medo que estava estampado em seu rosto no começo da cerimônia.Sigo para o banheiro, preciso respirar e tirar Pietro da minha cabeça, e ficar sozinha parecia a melhor solução naquele momento, então aproveito que Teffo tinha me deixado de lado devido a um rabo de saia. Isso me fazia sentir pena da mulher que se casar com ele, se aos dezessete anos já é assim, imagina quando tiver a idade do nosso cunhado! Empurro a enorme porta marrom seguindo para uma das cabines e me sentando na privada que está com a tampa abaixada, aproveitando para tirar meus saltos e massageio meus pés. Em seguida, encosto minha cabeça na parede. Eu estava exausta e a festa acabara de começar, pego meu celular de dentro da minha bolsa e tem uma notificação da minha melhor amiga. Isso faz com que eu me arrependesse de não ter insistido que me acompanhasse.Minutos depois, saio da cabine me apoiando na pia esculpida de mármo
Donna McNight Dezessete anosOlho para o relógio que estava pendurado em uma das paredes da sala de estar, eu estava ansiosa para encontrar com Pietro, mesmo que algo dentro de mim me dissesse para não o fazer.Mesmo assim, eu disse aos meus pais que sairia com Jenny e Brian, e minha prima alimentou a mentira quando passou em nossa casa para me buscar.Fiquei feliz por Brian estar junto, pois assim Jenny não me encheria de perguntas.O beijo da noite anterior ficou repassando em minha mente por toda a noite, foi impossível dormir, sempre que fechava meus olhos era como se sentisse seus lábios sobre os meus. Precisava contar para Alicia, mas tinha que ser pessoalmente, mas como estávamos de férias, precisava esperar até que nos encontrássemos, mesmo eu sabendo que me envolver com Pietro era um problema.— Donna... Donna... — Estava absorta em meus pensamentos quando sinto as mãos de Jenny tocando minha perna. — Chegamos — avisa quando nossos olhares se encontraram. — Está tudo bem?—
Pietro Kuhn Vinte e Dois anosDois anos, tem quase dois anos desde a última vez que vi Donnatela e desde então, ela não respondia minhas mensagens de jeito nenhum.Sua viagem para Inglaterra foi mais rápida que o previsto, e eu sabia que ela estava querendo me evitar a todo custo, principalmente porque ela tinha ficado furiosa comigo depois daquele maldito vacilo.Após o nosso desencontro na praça e claro, o encontro na casa do Ed, eu tentei falar com ela de todas as formas, mas foi em vão. Eu até pedi a ajuda do meu irmão e de sua esposa, porém, Donna estava irredutível, ela não queria nem olhar na minha cara.Sei que fiz errado em ter ficado na casa, em ter aceitado o convite do Edward ao invés de ter seguido o combinado com mia piccola naquele dia, mas... eu sabia que Donna era jovem e eu não podia ter dela o que as outras garotas podiam me dar.Então agora, eu só estava esperando a oportunidade para visitá-la no dia do seu aniversário. Como Thomas ficou alguns meses em lua de mel
Donna McNight Vinte anosEu estaria mentindo se não admitisse que me senti vulnerável ao encontrar Pietro na minha frente com aqueles presentes. Pude notar de cara que não mudou muito fisicamente desde a última vez que nos vimos, ele estava trajando uma calça jeans preta, camiseta preta, um sobretudo acompanhando a mesma cor, nos pés usava um coturno, ele era a última pessoa que eu acreditava que viria. Por mais que ainda me mandasse mensagens e eu o ignorasse, não pensei que ele se daria ao trabalho de ir me visitar no campus, e uma parte minha não queria que ele viesse.Depois da festa na casa da Alicia, ele tentou se reaproximar, mas o medo falou mais alto e decidi que viria para Inglaterra antes do previsto. Eu disse aos meus pais que queria escolher de perto o apartamento que iria morar, ainda mais porque seria um presente deles, e eu precisava escolher com cautela, já que seria o lugar que eu moraria por alguns anos, ou até mesmo passaria o resto da minha vida, já que não pret
Donna McNight Vinte anosNosso beijo é calmo e gentil, e faz tanto tempo desde o nosso último beijo. E era tão bom senti-lo de novo. Só paramos por falta de fôlego. Pietro encosta sua testa na minha, nossas respirações estão ofegantes e seus olhos azuis me fitam. Me sinto nua só com o seu olhar.Ele coloca uma mecha do meu cabelo para trás da minha orelha e o meu corpo todo arrepia-se. Observo cada detalhe do seu rosto e não consigo tirar os olhos da sua boca.— Desculpa. — Pede e se afasta. — Eu precisava apenas sentir seus lábios novamente — ele confessa e eu tento mudar de assunto, drasticamente.— Vou pedir um lanche, você quer? — indago enquanto olho em volta em busca do meu celular, me afastando dele o mais rápido que consigo.— Pensei que tomaria um cappuccino — lembra.— Ah, havia me esquecido. — Respiro fundo, dando a volta na ilha da cozinha e indo até a mesa pegando meu celular. — Amanhã eu tomo. — Estava tão inquieta com a situação que acabara de acontecer que acabei esqu
Pietro Kuhn Vinte e Dois anosUm caso, talvez fosse a melhor forma de rotular o que eu e Donna estamos criando.O importante era nossas famílias não descobrirem sobre isso, pois a última coisa que desejo, é me casar por obrigação — até porque, nem casar eu quero, pra ser bem honesto.— Está pensando demais? — Donna pergunta quando guarda a caixa da pizza.— Não é nada — minto.— Entendi… — ela solta enquanto cambaleia um pouco. — Ah… acho que estou ficando um pouco tonta.— Essa é a quarta garrafa de vinhos que você abre — a lembro. — E você nem comeu direito...— Não deveria ter começado a beber antes de comer — confessa, se sentando ao meu lado no sofá. — Então me dê isso aqui. — Pego a taça da sua mão e coloco na mesa de centro junto com a minha. — O que acha de ir se deitar?— O que acha que continuarmos de onde paramos? — indaga com a voz aveludada e um olhar felino que quase me faz jogar o meu bom-senso pela janela.— Você não está em condições...— Não estou bêbada. — Donna
Donna McNightVinte anos— Ai. — Minha cabeça lateja quando a claridade da janela invade o meu quarto e vem direto aos meus olhos.Me levanto lentamente para a dor não aumentar e fico surpresa quando percebo que estou vestindo a camisola da noite anterior.— Céus! O que aconteceu? — questiono para mim mesma.Alguns flashes da noite passada começam a voltar, me lembro que tirei a camiseta ficando com a parte de cima nua na frente do Pietro e o desafiando, mas, como vim parar aqui?Ergo o lençol e percebo que ainda estou com a calcinha, molhada, porém ainda está lá. Passo as mãos pelos meus cabelos e ainda estão molhados.Ainda assim, não consigo me lembrar de como tomei banho.Será que Pietro ainda está aqui?!Me levanto pegando meu robe e o vestindo, sigo em direção a sala e no sofá tem apenas um travesseiro e um lençol.Merda! Será que dei vexame e Pietro se foi?!— Donna? — Ouço a voz do Pietro e quando me viro, me deparo um ele trajando apenas uma toalha na cintura e com a parte d