Capítulo 06

Donna McNight

Dezessete anos

Havia algumas horas desde que eu tinha chegado da escola e estava deitada em minha cama enquanto tentava me recordar qual foi a última vez que vi minha mamma andando pela nossa casa, pois já havia alguns dias que ela não saia da casa dos Kuhn devido aos preparativos do casamento da minha irmã, o que eu achava lindo, mas ia totalmente contra os meus princípios.

Eu estava me tornando a filha rebelde, a que não tem medo de expor o que sente, o que pensa, enquanto Bella era a filha troféu, a que estava seguindo o seu destino, talvez terá sorte se ambos se apaixonarem e chegarem a ter um casamento feliz.

— Donna? — Saio do meu devaneio quando ouço a voz do meu pappa atrás da porta fechada, me chamando.

— Oi, pappa! Pode entrar — eu digo, me sentando na cama. — A que devo a honra?

Logo que adentra em meu quarto, um sorriso largo aparece em seus lábios.

— Diz como se eu não viesse aqui com frequência — comenta sorrindo enquanto adentra em meu quarto. — Trouxe um chocolate quente. — Só então percebo que está segurando uma xícara em suas mãos.

O dia de hoje está chuvoso, o que faz jus a uma bebida quente.

— Não precisava ter se incomodado, pappa — murmuro enquanto ele se aproxima e me entrega a caneca.

— Malu disse que você não almoçou — ele diz e me encara preocupado.

— Estou com cólica — confesso.

— Malu até pensou que tinha feito algo que você não gostava.

— Não, as mãos da Malu são de fadas. — Tinha três anos que Malu era nossa segunda cozinheira, ela cobria as folgas da Olga, e nos outros dias, dividia a limpeza da mansão com outros funcionários.

— Quer me contar o que está acontecendo? — ele pergunta e continua em pé.

— É que agora tudo gira em torno do casamento da sorella — eu digo.

— Isso é verdade. — Se senta ao meu lado na cama. — E o próximo a se casar é Teffo e depois você, ou seja, todos terão um momento de exclusividade — ele diz e nós dois rimos.

— Fala como se já não recebêssemos atenção o suficiente — eu digo e fico de joelho na cama, abraçando meu pappa.

— Atenção que eu e sua mamma damos a vocês, nunca será o suficiente — ele acaba me dizendo e deposita um beijo no topo da minha cabeça.

— Papai, quais são as chances de eu não me casar?

— Como assim, mia bambina? — Pappa franze o cenho, esperando por uma resposta.

Encaro aqueles enormes olhos verdes que não eram muito diferentes dos meus – eu sou quase uma cópia fiel do meu pai, até as leves sardas no rosto eu tinha –, as marcas de expressão já estavam bem evidentes, com um pouco mais de cinquenta anos, pappa já tinha vários cabelos brancos.

Mas ainda assim, ele me encara sorrindo.

— Não quero me casar — comento apreensiva, eu sabia que ele tinha dado a Bella a chance de não se casar, mas… seria o mesmo pra mim?

— Bambina, você tem um longo tempo pela frente — ele diz se ajeitando na cama. — Você poderá se casar com quem ama…

— Papai, não quero me casar. — Suspiro frustrada ao ouvir aquilo. — Quero viajar, estudar, me formar em medicina, e com isso não terei tempo para um casamento. — Me levanto da cama, colocando a xícara em cima da cômoda. — E ainda existem homens dentro da máfia que não aceita que suas companheiras trabalhem. Eu sinceramente… não pretendo ser como a Bella, eu não quero me casar, não quero ser um troféu de homem nenhum! — comento andando de um lado para outro. — E o senhor sabe, melhor que ninguém, que existem homens que querem apenas uma mulher submissa, uma que apenas cuide da casa e essas coisas fúteis.

— Vinte e seis anos — ele diz, massageando suas têmporas. — No mais tardar, vinte oito anos, Donna.

— Não estou entendendo. — Pisco várias vezes, tentando similar o que ele queria dizer com aquilo.

— Se até os vinte oito anos não se apaixonar, terei que arrumar um pretendente pra você. É tudo que eu posso fazer, porque infelizmente, se não se casar, o conselho vai me pressionar, você não vai ter opção. Sabe como as coisas são no mundo onde vivemos — ele diz e sua voz é firme.

— Mas…

— Terá onze anos para se dedicar aos estudos — papai me interrompe — e sua profissão. — Se põe em pé. — Se ele for realmente apaixonado por você, não medirá esforços para poder trabalhar com o que deseja, mas é claro, com as devidas proteções.

— Mas pappa… — Sou interrompida novamente, mas me mantenho em pé ao lado da cama.

— Henry, Donna! — mamma aparece na porta. — O que estão aprontando?

— Estavamos falando sobre o casamento da Donna. — Papai se levanta e caminha em direção da minha mãe

— Céus! Já quer se casar? — ela pergunta incrédula. — Donna, você ainda é muito nova.

— Não, mamma! Muito pelo contrário — sussurro.

— Ela não quer se casar, mas dei um prazo a ela — meu pai fala e eu sei que é o melhor que eu vou conseguir. Esse acordo. 28 anos.

— Me expliquem isso de uma vez e parem de rodeios — minha mãe pede, colocando as mãos na cintura. Meu pai ri e se levanta da cama, ele se aproxima dela e deposita um beijo no topo da cabeça da minha mãe e coloca seu braço nos ombros dela.

— Donna tem até os vinte oito anos para encontrar alguém que a ame, incluindo viagens e estudos. — Faz uma pausa. — Se não encontrar alguém que a ame, iremos encontrar um pretendente.

— Você tem o prazo de quase onze anos — mamãe salienta. — O prazo que sua irmã não teve.

— Bella é a filha perfeita, esqueceram?! — resmungo — Eu preciso de mais tempo.

— Não fale isso. Vocês são meus filhos perfeitos, mia bambina — mamma diz e logo se aproxima e me abraça.

— Mamma, não quero me casar. — Eu insisto e suspiro, sentindo meus olhos marejados.

— Por ora, vamos esquecer esse assunto, você está sofrendo por antecipação — papai conclui, me encarando com dúvida.

— Tudo bem. — Eu acabo por dizer, minha voz saindo sem muita esperança.

— Ah, eu quase me esqueci... esse acordo tem uma condição importante — ele diz ao se virar e eu o encaro sem entender.

— Qual?

— Você precisa se casar virgem — concluiu enquanto caminha em direção a porta do meu quarto. — Como manda a tradição, é claro — me lembra.

— Não se preocupe. Não pretendo quebrar... as tradições — eu digo e sinto o meu rosto cora com minhas próprias palavras.

— Bambina, não se preocupe — mamma fala segurando meus ombros e me encarando. — Tenho certeza que encontrará o amor verdadeiro antes do prazo e mesmo que esse não seja o caso, o seu pappa e eu daremos um jeito de arrumar para você um noivo por quem você vai poder se apaixonar — afirma.

— Não acredito muito nisso. — Sinto um nó na garganta.

— Eu também não acreditava. — Suspira com o olhar perdido. — Até conhecer seu pai, ele foi chave de tudo. — Um sorriso surge em seus lábios e seus olhos estão marejados.

— Mamma, não chore. — Seco a lágrima que escorre com meus dedos.

— É choro de felicidade, Donna — ela diz e respirou fundo. — Seu pai e eu passamos por muitas coisas. No começo, o nosso relacionamento era como uma montanha-russa.

— Subia e descia? — pergunto curiosa.

— Exato. Tenho muito orgulho da família que construímos, e é isso que desejo para meus filhos.

— Ouvindo suas palavras, até me deu vontade de conhecer esse tal de amor, se é que ele existe — acabo murmurando e dou de ombros, sentando em minha cama novamente.

— Você vai saber quando for real — minha mãe se contenta em dizer e sorri. — Será recíproco, mia bambina[minha garota, em italiano], e você não vai sofrer.

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