Donna McNight
Dezesseis anos
No começo da noite, nós nos arrumamos para a tão esperada festa de noivado, e outra vez o nosso papa deixou claro para Bella que ela poderia desfazer o contrato de casamento se esse fosse seu desejo.
Por mais que ela não o conhecesse tão bem, era algo possível para ela, mas minha irmã não o quis fazer.
E como seria a primeira vez que eu veria Pietro Kuhn além das fotos, caprichei no meu look. Optei por um vestido rose longo, com uma fenda na perna esquerda, um leve decote coração sem alças e finalizei o cabelo com um rabo de cavalo baixo. A maquiagem foi batom nude, olho bem marcado com um delineado gatinho e eu estava pronta, perfeita.
Eu me olho no espelho me sentindo satisfeita com o resultado e ouço minha barriga roncar. Aquilo era suficiente pra mim, então saio do meu quarto e vou direto para a cozinha, afinal, eu precisava comer alguma coisa.
E como não havia nenhum dos empregados naquele cômodo, decido preparar um sanduíche eu mesma. Mas enquanto preparo meu lanche, Steffano passa pela porta vidrado em seu celular e se senta na bancada.
— Quer um sanduíche? — eu pergunto por educação e ele sorri.
— Ainda pergunta?! — Bufo.
Toda santa vez que eu preparava alguma coisa para comer, Steffano sempre surgia de algum lugar e eu sempre era obrigada a dividir com ele.
Mas esse nem era o meu foco. Eu, na verdade, não conseguia parar de pensar em como nossas vidas mudariam depois dessa noite. Então, pigarreio e encarando meu irmão, pergunto.
— E aí… você está preparado?
— Depois do que você me disse hoje cedo? Não — ele diz, respirando fundo e pegando o prato enquanto deixava o celular de lado. — Não quero me casar logo após a Bella. Sou novo demais pra isso.
Ele reclama e eu solto um riso bufado.
— Imagina eu.
Falo me sentando ao seu lado, mas antes mesmo de dar uma mordida em meu sanduíche, ouço os saltos da nossa mamma ecoando pelo piso.
— Donna? Teffo? — Sua voz ecoa enquanto ela nos chama e Steffano me encara.
— Preparada? — Dessa vez é o meu gêmeo que me faz a m*****a pergunta.
— Não — respondo em um resmungo estrangulado.
— Sabe que sempre estarei aqui — ele diz e segura uma das minhas mãos, me guiando para que pudéssemos seguir em direção a voz da nossa mãe.
— Teffo? Donna? — Ela volta a nos chamar.
— Estamos indo — nós dois respondemos juntos.
— Pronto! — mamãe grita enquanto caminha na nossa frente e b**e os saltos no chão.
Bella conversa algo com o nosso pai e eu posso perceber a incerteza estampada em seu rosto. Eu sentia pena dela, era um fato, mas aquele era o nosso destino, pelo menos o dela, pois eu iria até o fim para não ter esse tipo de casamento.
Eu sabia que tinha uma chance, e diferente de Bella? Eu definitivamente preferia lutar.
— Vamos? — Saio do meu devaneio quando mamãe disse alto, caminhando para fora da mansão junto com nosso pai e a minha sorella.
— Agora não temos escapatória — Teffo comenta em tom de brincadeira, mas aquilo não era mesmo uma brincadeira, era a realidade, a menos que Bella fugisse do próprio casamento.
Mas eu nunca fui o tipo de pessoa conformada e não começaria a ser logo agora.
— Ah, eu tenho! — afirmo convicta, porque eu faria qualquer coisa que fosse necessária para evitar um fim igual ao dela.
— Pense o que quiser — o meu gêmeo diz dando de ombros, e nós seguimos para fora da mansão, onde as SUV estavam à nossa espera.
Nos acomodamos em um dos carros, enquanto no outro posso ver que nossos tios e primos iriam. Papai entra logo em seguida e ele e a minha mãe não pararam de falar sobre esse noivado. Já Bella? Ela parece estar no mundo da lua, perdida em seus pensamentos.
***
O caminho até a mansão da família Kuhn foi mais curto do que eu pensei que seria, e nós fomos devidamente apresentados, como deveria ser.
Uma parte minha estava ansiosa para conhecer Pietro Kuhn, e tinha esperança que ele fosse tão lindo como nas fotos, porque no meio de toda aquela confusão, era nisso que eu queria concentrar a minha atenção.
Mas até aquele momento, não tínhamos visto Pietro ainda, nem mesmo na apresentação.
Eu e Teffo estávamos parados próximo à entrada da sala, enquanto Vicente fazia um breve discurso. Aproveito a distração dos meus pais e percorro meus olhos por todo ambiente, até que me deparo com aqueles olhos azuis penetrantes sob mim. Nesse momento sinto meu rosto esquentar, pois Pietro está segurando uma taça de bebida em uma das suas mãos, e quando se dá conta que eu também o fitava, um sorriso surge em seus lábios.
Ah, ele está tão lindo vestindo um terno na cor azul royal, com uma camisa branca por dentro com os primeiros botões abertos. Céus! Ele está gato!
Suspiro, vendo que ao menos algo ali tinha suprido as minhas expectativas e claro que Tefo não podia me deixar em paz, nem mesmo nesse breve instante...
— Donna, nunca que ele vai olhar para você… então limpa essa baba — Steffano diz e eu sou arrancada do meu devaneio quando ouço a voz dele, que é cheia de deboche. Ele dá um tapinha em minhas costas e caminha em direção a mesa.
Eu sei que no fundo Teffo tem razão, ele nunca olharia para uma menina como eu, principalmente comigo sendo mais nova e uma união entre nossas famílias – uma segunda – sendo inútil.
Pietro e eu temos poucos anos de diferença de idade, e mesmo assim eu já posso dizer que ele vai se tornar um homem absurdamente lindo.
Ele seria um problema no futuro, mas… seria um problema que não teria nada a ver comigo.
Pietro Kuhn Dezoito anosSer o filho do meio tinha suas vantagens, meu pai decidiu assim que eu fiz 15 anos, que iria fazer minha iniciação dentro da máfia alemã, enquanto procurava uma noiva para o meu irmão.Viver na sombra do meu irmão mais velho e do nosso primo Brian, que era seu consigliere [conselheiro], era mais fácil, pois não havia tantas cobranças. Minha iniciação não foi nada fácil, nunca gostei do estilo de vida que levávamos, é claro que seria muita hipocrisia se dissesse que não gostava do dinheiro, poder e das mulheres que iam e viam com facilidade, é claro queaproveitava cada segundo que o poder me proporcionava, mas isso não queria dizer que eu gostava de todo o resto.— Pietro, nos vemos amanhã? — Isabel pergunta toda manhosa. — Talvez, tenho muito trabalho. — Me levanto da cama a procura das minhas roupas. — Sabe que posso estar indisponível se não me der a certeza que virá. — Enrolada no lençol, ela me encara.Isabel é uma acompanhante de luxo, já tem um ano q
Donna McNight Dezessete anos— Donna. — Ouço a voz da Jenny, minha prima, me chamar e quando me viro, ela está acompanhada do homem que a poucos minutos estava ao lado de Pietro. — Jenny. — Eu acabo sorrindo novamente ao cumprimentá-la.— Tem um amigo meu que deseja lhe conhecer — ela diz e eu sinto meu rosto corar só em pensar que esse amigo poderia ser o alemão em quem eu estava interessada. — Amigo? — Tento não gaguejar na frente do seu acompanhante. — Venha, ele está no jardim — Jenny diz e me puxa pela mão, praticamente sai me puxando pelo meio dos convidados, enquanto seu amigo, Brian, nos segue. — Ali está ele.Ela diz soltando minha mão e o seu amigo se mantém de costas. Eu sinto um frio na barriga quando olho para cada parte do seu corpo e mesmo de costas, eu sei quem é.— Vamos, Jenny? — Brian a chama e ouço eles se afastando sem sequer me dar tempo de falar.— Donnatela — Pietro praticamente sussurra meu nome quando se vira. Ele mantém uma das mãos no bolso da calça e c
Pietro KuhnDezenove anos— Você precisa de uma noiva — meu pai fala quando me vê passar pelo hall. Respiro fundo e caminho em direção da sala. Quando passo pela porta, encontro mamma lendo e ele vendo algum noticiário. — Não acredito, você com essa história idiota de novo. — Bufo. — Figlio[filho, em italiano]… não fale assim com seu pappa. — Como sempre, mamma tenta apaziguar os ânimos. — Mamma, vocês ainda nem casaram o Thomas e estão pensando em me jogar para os lobos?! — Caminho em direção ao pequeno bar que tem na sala, tiro minha arma da cintura e coloco em cima do balcão espelhado. — Sabe que isso é uma tradição de famiglia, [família, em italiano]cedo ou tarde terá que se casar — ele rosna, irritado com a forma como sempre acabo fugindo do assunto. — Pode ter certeza que irei postergar esse evento. — Pego um copo, coloco duas pedras de gelo e preencho com a bebida que tinha na garrafa. — Podemos fazer um acordo com a filha mais nova dos McNight — minha mãe sugere, parece
Donna McNight Dezessete anosHavia algumas horas desde que eu tinha chegado da escola e estava deitada em minha cama enquanto tentava me recordar qual foi a última vez que vi minha mamma andando pela nossa casa, pois já havia alguns dias que ela não saia da casa dos Kuhn devido aos preparativos do casamento da minha irmã, o que eu achava lindo, mas ia totalmente contra os meus princípios. Eu estava me tornando a filha rebelde, a que não tem medo de expor o que sente, o que pensa, enquanto Bella era a filha troféu, a que estava seguindo o seu destino, talvez terá sorte se ambos se apaixonarem e chegarem a ter um casamento feliz. — Donna? — Saio do meu devaneio quando ouço a voz do meu pappa atrás da porta fechada, me chamando. — Oi, pappa! Pode entrar — eu digo, me sentando na cama. — A que devo a honra? Logo que adentra em meu quarto, um sorriso largo aparece em seus lábios. — Diz como se eu não viesse aqui com frequência — comenta sorrindo enquanto adentra em meu quarto. — Trou
Pietro Kuhn Dezenove anosDepois da viagem de família, precisei viajar para a Rússia, um dos carregamentos tinha sido roubado e eu precisava verificar quem havia feito isso.Assim que eu desci do meu carro em frente a boate que tínhamos de fachada, um dos nossos homens já me esperava.— Senhor! — Boris me cumprimenta.— Tem certeza que ele é o informante? — pergunto, dobrando as mangas da minha camisa branca e puxando minha própria arma do quadril, engatilhando-a. — Sim — afirma puxando sua arma e destravando.Ele abre a porta do bar e seguimos pela lateral que dá acesso ao estoque, onde tinha uma passagem secreta que dava para o subsolo.Boris aperta um botão que faz a parede vir um pouco para frente, onde a empurra, digitando uma senha e seguimos para dentro da sala que tinha isolamento acústico, o que nos dava privacidade para nossos trabalhos e negócios.— Então é você! — afirmo enquanto encaro o homem. — Acredito que você não tenha entendido porque foi treinado e contratado. —
Donna McNight Dezessete anosA celebração foi maravilhosa e Bella estava linda, apesar do medo que estava estampado em seu rosto no começo da cerimônia.Sigo para o banheiro, preciso respirar e tirar Pietro da minha cabeça, e ficar sozinha parecia a melhor solução naquele momento, então aproveito que Teffo tinha me deixado de lado devido a um rabo de saia. Isso me fazia sentir pena da mulher que se casar com ele, se aos dezessete anos já é assim, imagina quando tiver a idade do nosso cunhado! Empurro a enorme porta marrom seguindo para uma das cabines e me sentando na privada que está com a tampa abaixada, aproveitando para tirar meus saltos e massageio meus pés. Em seguida, encosto minha cabeça na parede. Eu estava exausta e a festa acabara de começar, pego meu celular de dentro da minha bolsa e tem uma notificação da minha melhor amiga. Isso faz com que eu me arrependesse de não ter insistido que me acompanhasse.Minutos depois, saio da cabine me apoiando na pia esculpida de mármo
Donna McNight Dezessete anosOlho para o relógio que estava pendurado em uma das paredes da sala de estar, eu estava ansiosa para encontrar com Pietro, mesmo que algo dentro de mim me dissesse para não o fazer.Mesmo assim, eu disse aos meus pais que sairia com Jenny e Brian, e minha prima alimentou a mentira quando passou em nossa casa para me buscar.Fiquei feliz por Brian estar junto, pois assim Jenny não me encheria de perguntas.O beijo da noite anterior ficou repassando em minha mente por toda a noite, foi impossível dormir, sempre que fechava meus olhos era como se sentisse seus lábios sobre os meus. Precisava contar para Alicia, mas tinha que ser pessoalmente, mas como estávamos de férias, precisava esperar até que nos encontrássemos, mesmo eu sabendo que me envolver com Pietro era um problema.— Donna... Donna... — Estava absorta em meus pensamentos quando sinto as mãos de Jenny tocando minha perna. — Chegamos — avisa quando nossos olhares se encontraram. — Está tudo bem?—
Pietro Kuhn Vinte e Dois anosDois anos, tem quase dois anos desde a última vez que vi Donnatela e desde então, ela não respondia minhas mensagens de jeito nenhum.Sua viagem para Inglaterra foi mais rápida que o previsto, e eu sabia que ela estava querendo me evitar a todo custo, principalmente porque ela tinha ficado furiosa comigo depois daquele maldito vacilo.Após o nosso desencontro na praça e claro, o encontro na casa do Ed, eu tentei falar com ela de todas as formas, mas foi em vão. Eu até pedi a ajuda do meu irmão e de sua esposa, porém, Donna estava irredutível, ela não queria nem olhar na minha cara.Sei que fiz errado em ter ficado na casa, em ter aceitado o convite do Edward ao invés de ter seguido o combinado com mia piccola naquele dia, mas... eu sabia que Donna era jovem e eu não podia ter dela o que as outras garotas podiam me dar.Então agora, eu só estava esperando a oportunidade para visitá-la no dia do seu aniversário. Como Thomas ficou alguns meses em lua de mel