Donna McNight
Dezesseis anos
— Quem é esse garoto? — Alicia pergunta, coloca uma das suas mãos em cima dos meus ombros e olha a foto que eu estava olhando no I*******m.
— Ele é irmão do noivo da minha irmã — eu respondo suspirando e o sinal toca, avisando que as aulas já haviam se encerrado e eu finalmente estou livre.
Eu estava um pouco ansiosa, pois hoje seria a festa de noivado da minha sorella [irmã em Italiano], e seria a primeira vez que as famílias se reuniriam. É claro que como sou uma boa filha, fiz o meu dever de casa, procurando a família Kuhn em todas as redes sociais, e foi assim que encontrei Pietro Kuhn.
— Ele é um gato — Alicia diz e pega sua bolsa, me fazendo levantar. — Ele parece um modelo.
Eu acabo rindo ao ouvir isso e deslizo o dedo na tela do celular, seguindo para a próxima foto.
— Acho que já o vi em algum lugar — ela diz e eu acabo sorrindo.
— Deve ser nas revistas famosas da cidade — completo.
— Não o seu cunhado, o outro… — Ela pega o celular da minha mão e encara a foto do Pietro. — Ele já foi na minha casa — afirma.
— Você tem certeza?
— Sim, ele é amigo do meu irmão.
Pego meu celular novamente das suas mãos e encaro aquela foto de Pietro.
Pietro é lindo, uma das fotos que me chamou atenção é a que ele está na praia, de sunga branca, óculos de sol, um sorriso de canto a canto e claro, sem camisa, o que destacava muito bem seus gominhos, e o seu cabelo bagunçado que o deixava mais sexy.
— E você acha que algum dia ele olhará para você? — Alicia me pergunta enquanto caminhamos para fora da sala, seguindo para o estacionamento do colégio.
— Definitivamente não, ele é dois anos mais velho — eu falo, mas talvez estivesse errada.
Talvez Pietro olhasse para mim, se o nosso casamento fosse por conveniência, assim como o da minha irmã Bella estava sendo, mas correr o risco de me casar com alguém que poderia nunca me amar, me deixava receosa.
— Você deveria aceitar o convite do Gregório — Alicia diz, me tirando dos meus pensamentos e claro, mudando de assunto.
— Nunca que meus pais me deixariam sair com quem eles não conhecem — eu respondo quase no automático. Primeiro porque eu não queria sair com ele e segundo porque aquilo não era exatamente uma mentira. Em nosso mundo, qualquer desconhecido pode ser um inimigo, ou alguém que podia vir a nos prejudicar e Gregório estava longe de valer o risco.
Ele não valia o risco e assim como um dos melhores amigos do meu avô foi um traidor – ao menos é o que ele me disse uma vez –, Gregório também podia ser.
Seria fácil meu pai levantar a ficha completa do Gregório, eu sabia disso, mas não queria dar esperanças para alguém por quem eu não sinto nem borboletas na barriga.
— Posso fazer uma socialzinha na minha casa, é claro que seus pais não seriam contra.
Alicia insiste e nesses momentos eu queria muito que ela calasse a boca.
— Se eu for, Steffano tem que ir junto.
— Ah! Steffano, pena que já é um cachorro. — Revira os olhos. — Imagina quando seu irmão chegar nos 30 anos, será um completo galinha. — Ri.
— Com essa idade ele já estará casado.
— Falando de mim, Alicia? — Ouço a voz do meu gêmeo e claro que como ele estava falando com uma mulher, a voz dele estava com aquele tom ronronado que me irritava ao extremo.
Deus! O que eu tinha feito de tão ruim em tão pouco tempo de existência, pra merecer o Steffano?
— Sim. — Sua voz soa com deboche.
— Sei que tem uma queda por mim, não precisa se esconder com sarcasmo e deboche, quem sabe algum dia nós dois podemos… — ele dá aquele sorrisinho de canto e dá de ombros em seguida, antes de completar — sair.
Alicia ri.
— Steffano, você é um gato — ela diz e o meu irmão sorri mais ainda —, mas não quero ser apenas mais uma na lista de um adolescente mimado que nem você, então não, obrigada.
Após essa afirmação, ficou bem claro que o meu irmão não ia continuar insistindo, até porque Steffano era um galinha sem causa, mas ele ainda tinha bom senso o suficiente para não insistir quando era recusado. Então o meu irmão simplesmente a ignora e entra no carro que está à nossa espera.
— Você pegou pesado. — Eu falo e nós duas rimos.
— Seu irmão merece — Alicia diz, me abraçando. — Até amanhã, Donna. — Ela diz se despedindo e depositando um beijo na minha bochecha.
— Até, amiga.
Eu falo e caminho em direção ao carro que também me esperava. Fred, nosso motorista, estava com a porta aberta, esperando que eu entrasse.
— Obrigada, Fred.
— Disponha, senhorita Donna.
— Já disse que é apenas Donna — resmungo entrando no carro.
Fred trabalha para nossa família desde antes mesmo dos meus pais cogitarem a minha existência, e mesmo assim, insiste em me chamar de senhorita.
É difícil lidar com gente teimosa assim, mas eu até que sou boa nisso, e sei que um dia vou conseguir convencer ele a parar, então eu entro e me sento ao lado do meu gêmeo, enquanto Fred dá partida.
— Ansiosa para conhecer o noivo da nossa sorella? — Steffano pergunta enquanto mexe em seu celular.
— Não exatamente.
— Não? — Ele me encara e arqueia uma das suas sobrancelhas, esperando por uma resposta minha.
— Teffo, com o casamento da Bella, o pappa [Pai em italiano] e a mamma [mãe em italiano] anunciam de forma bem clara que só falta nós dois. Logo eles vão querer nos casar em seguida — eu lembro o meu irmão do óbvio e os dois neurônios dele parecem funcionar na marra enquanto isso.
— Merda! Não havia pensando nisso. — Bufa ao dizer, guardando o seu celular no bolso da jaqueta preta que estava usando. — Mas tenho certeza que você se casará antes de mim, isso é ao menos é um alívio.
— Como pode ter tanta certeza?
— Tem apenas dois anos que eu fui iniciado, preciso entender melhor como as coisas funcionam nesse mundo… e claro que o pappa não vai deixar que eu me case sem ao menos saber como carregar o nome da nossa família e da minha futura esposa. Eu vou ser o herdeiro da família, preciso ser guiado e ensinado antes de me casar com alguém. — Ele faz uma pausa e sorri. — Por isso seria mais fácil encontrar um homem que já sabe como funciona o nosso mundo, para se tornar o seu futuro marido.
— Nosso pai deu a opção de escolha para nossa irmã, tenho certeza que fará o mesmo comigo — eu afirmo.
Já que assim como minha irmã, também nasci para ser um tipo de esposa troféu. É o meu papel, meu dever com a nossa família, uma vertente da máfia italiana.
Meu pai a muito custo se tornou um dos maiores nomes no submundo. E fora dele, Henry McNight sustenta uma imagem impecável. A imagem que todos nós precisamos carregar como legado.
E diferente de muitas mulheres na máfia, posso dizer que Bella e eu tivemos um pouco de sorte, pois depois de muitos anos de tradição, nosso pai nos possibilitou a escolha de nos unir ou não a uma pessoa, sem amá-lo.
Contudo, apesar de meu pai ser o Capo di Capi e a sua palavra ser lei, eu sabia que assim como sorella, eu tinha que fazer sacrifícios pela nossa família. Porque na máfia, não existe outra forma de fazer uma trégua de paz e expandir os negócios, além de usar a união que vem junto com o casamento.
Era seguro. Era claro. Era sucinto e também… era tradição.
Então eu sabia que logo depois de Bella, Steffano e eu seríamos os próximos a nos casar.
Donna McNight Dezesseis anosNo começo da noite, nós nos arrumamos para a tão esperada festa de noivado, e outra vez o nosso papa deixou claro para Bella que ela poderia desfazer o contrato de casamento se esse fosse seu desejo. Por mais que ela não o conhecesse tão bem, era algo possível para ela, mas minha irmã não o quis fazer. E como seria a primeira vez que eu veria Pietro Kuhn além das fotos, caprichei no meu look. Optei por um vestido rose longo, com uma fenda na perna esquerda, um leve decote coração sem alças e finalizei o cabelo com um rabo de cavalo baixo. A maquiagem foi batom nude, olho bem marcado com um delineado gatinho e eu estava pronta, perfeita.Eu me olho no espelho me sentindo satisfeita com o resultado e ouço minha barriga roncar. Aquilo era suficiente pra mim, então saio do meu quarto e vou direto para a cozinha, afinal, eu precisava comer alguma coisa.E como não havia nenhum dos empregados naquele cômodo, decido preparar um sanduíche eu mesma. Mas enquanto
Pietro Kuhn Dezoito anosSer o filho do meio tinha suas vantagens, meu pai decidiu assim que eu fiz 15 anos, que iria fazer minha iniciação dentro da máfia alemã, enquanto procurava uma noiva para o meu irmão.Viver na sombra do meu irmão mais velho e do nosso primo Brian, que era seu consigliere [conselheiro], era mais fácil, pois não havia tantas cobranças. Minha iniciação não foi nada fácil, nunca gostei do estilo de vida que levávamos, é claro que seria muita hipocrisia se dissesse que não gostava do dinheiro, poder e das mulheres que iam e viam com facilidade, é claro queaproveitava cada segundo que o poder me proporcionava, mas isso não queria dizer que eu gostava de todo o resto.— Pietro, nos vemos amanhã? — Isabel pergunta toda manhosa. — Talvez, tenho muito trabalho. — Me levanto da cama a procura das minhas roupas. — Sabe que posso estar indisponível se não me der a certeza que virá. — Enrolada no lençol, ela me encara.Isabel é uma acompanhante de luxo, já tem um ano q
Donna McNight Dezessete anos— Donna. — Ouço a voz da Jenny, minha prima, me chamar e quando me viro, ela está acompanhada do homem que a poucos minutos estava ao lado de Pietro. — Jenny. — Eu acabo sorrindo novamente ao cumprimentá-la.— Tem um amigo meu que deseja lhe conhecer — ela diz e eu sinto meu rosto corar só em pensar que esse amigo poderia ser o alemão em quem eu estava interessada. — Amigo? — Tento não gaguejar na frente do seu acompanhante. — Venha, ele está no jardim — Jenny diz e me puxa pela mão, praticamente sai me puxando pelo meio dos convidados, enquanto seu amigo, Brian, nos segue. — Ali está ele.Ela diz soltando minha mão e o seu amigo se mantém de costas. Eu sinto um frio na barriga quando olho para cada parte do seu corpo e mesmo de costas, eu sei quem é.— Vamos, Jenny? — Brian a chama e ouço eles se afastando sem sequer me dar tempo de falar.— Donnatela — Pietro praticamente sussurra meu nome quando se vira. Ele mantém uma das mãos no bolso da calça e c
Pietro KuhnDezenove anos— Você precisa de uma noiva — meu pai fala quando me vê passar pelo hall. Respiro fundo e caminho em direção da sala. Quando passo pela porta, encontro mamma lendo e ele vendo algum noticiário. — Não acredito, você com essa história idiota de novo. — Bufo. — Figlio[filho, em italiano]… não fale assim com seu pappa. — Como sempre, mamma tenta apaziguar os ânimos. — Mamma, vocês ainda nem casaram o Thomas e estão pensando em me jogar para os lobos?! — Caminho em direção ao pequeno bar que tem na sala, tiro minha arma da cintura e coloco em cima do balcão espelhado. — Sabe que isso é uma tradição de famiglia, [família, em italiano]cedo ou tarde terá que se casar — ele rosna, irritado com a forma como sempre acabo fugindo do assunto. — Pode ter certeza que irei postergar esse evento. — Pego um copo, coloco duas pedras de gelo e preencho com a bebida que tinha na garrafa. — Podemos fazer um acordo com a filha mais nova dos McNight — minha mãe sugere, parece
Donna McNight Dezessete anosHavia algumas horas desde que eu tinha chegado da escola e estava deitada em minha cama enquanto tentava me recordar qual foi a última vez que vi minha mamma andando pela nossa casa, pois já havia alguns dias que ela não saia da casa dos Kuhn devido aos preparativos do casamento da minha irmã, o que eu achava lindo, mas ia totalmente contra os meus princípios. Eu estava me tornando a filha rebelde, a que não tem medo de expor o que sente, o que pensa, enquanto Bella era a filha troféu, a que estava seguindo o seu destino, talvez terá sorte se ambos se apaixonarem e chegarem a ter um casamento feliz. — Donna? — Saio do meu devaneio quando ouço a voz do meu pappa atrás da porta fechada, me chamando. — Oi, pappa! Pode entrar — eu digo, me sentando na cama. — A que devo a honra? Logo que adentra em meu quarto, um sorriso largo aparece em seus lábios. — Diz como se eu não viesse aqui com frequência — comenta sorrindo enquanto adentra em meu quarto. — Trou
Pietro Kuhn Dezenove anosDepois da viagem de família, precisei viajar para a Rússia, um dos carregamentos tinha sido roubado e eu precisava verificar quem havia feito isso.Assim que eu desci do meu carro em frente a boate que tínhamos de fachada, um dos nossos homens já me esperava.— Senhor! — Boris me cumprimenta.— Tem certeza que ele é o informante? — pergunto, dobrando as mangas da minha camisa branca e puxando minha própria arma do quadril, engatilhando-a. — Sim — afirma puxando sua arma e destravando.Ele abre a porta do bar e seguimos pela lateral que dá acesso ao estoque, onde tinha uma passagem secreta que dava para o subsolo.Boris aperta um botão que faz a parede vir um pouco para frente, onde a empurra, digitando uma senha e seguimos para dentro da sala que tinha isolamento acústico, o que nos dava privacidade para nossos trabalhos e negócios.— Então é você! — afirmo enquanto encaro o homem. — Acredito que você não tenha entendido porque foi treinado e contratado. —
Donna McNight Dezessete anosA celebração foi maravilhosa e Bella estava linda, apesar do medo que estava estampado em seu rosto no começo da cerimônia.Sigo para o banheiro, preciso respirar e tirar Pietro da minha cabeça, e ficar sozinha parecia a melhor solução naquele momento, então aproveito que Teffo tinha me deixado de lado devido a um rabo de saia. Isso me fazia sentir pena da mulher que se casar com ele, se aos dezessete anos já é assim, imagina quando tiver a idade do nosso cunhado! Empurro a enorme porta marrom seguindo para uma das cabines e me sentando na privada que está com a tampa abaixada, aproveitando para tirar meus saltos e massageio meus pés. Em seguida, encosto minha cabeça na parede. Eu estava exausta e a festa acabara de começar, pego meu celular de dentro da minha bolsa e tem uma notificação da minha melhor amiga. Isso faz com que eu me arrependesse de não ter insistido que me acompanhasse.Minutos depois, saio da cabine me apoiando na pia esculpida de mármo
Donna McNight Dezessete anosOlho para o relógio que estava pendurado em uma das paredes da sala de estar, eu estava ansiosa para encontrar com Pietro, mesmo que algo dentro de mim me dissesse para não o fazer.Mesmo assim, eu disse aos meus pais que sairia com Jenny e Brian, e minha prima alimentou a mentira quando passou em nossa casa para me buscar.Fiquei feliz por Brian estar junto, pois assim Jenny não me encheria de perguntas.O beijo da noite anterior ficou repassando em minha mente por toda a noite, foi impossível dormir, sempre que fechava meus olhos era como se sentisse seus lábios sobre os meus. Precisava contar para Alicia, mas tinha que ser pessoalmente, mas como estávamos de férias, precisava esperar até que nos encontrássemos, mesmo eu sabendo que me envolver com Pietro era um problema.— Donna... Donna... — Estava absorta em meus pensamentos quando sinto as mãos de Jenny tocando minha perna. — Chegamos — avisa quando nossos olhares se encontraram. — Está tudo bem?—