Capítulo 04

Donna McNight

Dezessete anos

— Donna. — Ouço a voz da Jenny, minha prima, me chamar e quando me viro, ela está acompanhada do homem que a poucos minutos estava ao lado de Pietro. 

— Jenny. — Eu acabo sorrindo novamente ao cumprimentá-la.

— Tem um amigo meu que deseja lhe conhecer — ela diz e eu sinto meu rosto corar só em pensar que esse amigo poderia ser o alemão em quem eu estava interessada. 

— Amigo? — Tento não gaguejar na frente do seu acompanhante. 

— Venha, ele está no jardim — Jenny diz e me puxa pela mão, praticamente sai me puxando pelo meio dos convidados, enquanto seu amigo, Brian, nos segue. — Ali está ele.

Ela diz soltando minha mão e o seu amigo se mantém de costas. Eu sinto um frio na barriga quando olho para cada parte do seu corpo e mesmo de costas, eu sei quem é.

— Vamos, Jenny? — Brian a chama e ouço eles se afastando sem sequer me dar tempo de falar.

— Donnatela — Pietro praticamente sussurra meu nome quando se vira. Ele mantém uma das mãos no bolso da calça e com a outra segura uma taça de champanhe.

Sinto meu rosto corar, eu nunca me senti assim antes na presença de nenhum outro garoto.

Garoto? Céus! Ele é um homem, ele não chega nem perto de um garoto. 

— Eu sou…

— Pietro Kuhn. — Eu o interrompo ao completar e ele sorri, se aproximando de mim. 

— Venha, vamos nos sentar. — Ele dá espaço para que eu desça os pequenos degraus que nos guiam até a fonte no meio do jardim.

Me sento em um dos bancos de pedra que tem ali e ele se senta na beirada.

Pietro me encara e sorri, bebericando a sua bebida.

— O que devo a honra, senhor Kuhn? — Faço sinal de reverência.

— Você é sempre assim? — Seu sorriso aumenta. — Debochada?

— Depende do seu ponto de vista — confesso. — Minha mamma sempre diz que sou uma mistura dela com o meu pappa, e que dessa mistura, puxei apenas o lado desbocado — finalizo.

— Precisa de alguém para por limites. 

Sorrio sem ânimo, as palavras de Pietro não soam de uma maneira agradável aos meus ouvidos.

Limites?

Eu queria enfiar os limites goela abaixo dele, junto com aquele champanhe que ele estava fingindo beber. 

— Se deseja alguém para colocar um cabresto, está falando com a pessoa errada. —  Me ponho em pé e quando dou um passo para voltar pelo caminho que vim, sinto uma das suas mãos segurando meu pulso e um arrepio percorre por todo meu corpo com o seu gesto.

— Não foi o que quis dizer, mein Kleiner[minha pequena, em alemão]. — Sinto meu rosto corar com a palavra que acabou se sair daqueles lábios carnudos. 

— Ah! Não foi? — Saio do seu aperto e cruzo meus braços na frente do meu peito, esperando por uma resposta.

— Foi apenas modo de falar — ele diz com um sorriso de canto. — Ouvi dizer que as mulheres da família McNigth não se deixam intimidar.

— Ouviu certo, a não ser minha irmã.

— O que tem ela? 

— Fomos treinadas para ser esposas troféu, e Bella não gosta de desapontar o nosso pai…

— Ao contrário de você — debocha mais uma vez.

— Percebo que não partilhamos dos mesmos pensamentos, senhor Kuhn. — Respiro fundo para não falar tudo o que está na ponta da minha língua. — Passar bem.

Dessa vez sou mais rápida, caminho em passos largos para dentro da casa novamente.

Me sentindo uma idiota por ter achado que ele seria melhor do que isso. 

— Onde estava? — Saio do meu devaneio quando ouço a voz do Teffo. — O que aconteceu? — ele pergunta quando me viro e vê meus olhos marejados. 

— Não foi nada. — Respiro fundo.

— O que aquele babaca fez para você? — Como um bom irmão, ele simplesmente me abraça. — Sabe que sempre estarei aqui.

— Eu te amo — sussurro, porque no fim, por mais que Steffano não valha nada, ele ainda é melhor que 90% dos homens e eu sei bem disso.

***

Após o episódio com Pietro, me mantive longe dele e próximo ao Steffano, pois sabia que ele não chegaria perto enquanto meu irmão gêmeo estivesse fazendo minha guarda.

Dou graças quando nosso pai nos avisa que em breve partiríamos. Caminho rapidamente para fora daquele lugar, evitando despedidas e rezando para que o manobrista já esteja nos esperando.

Sim, o carro já está à nossa espera, mas assim que o motorista abre a porta para que eu entre, Pietro segura a maçaneta da porta, impedindo minha passagem, fazendo com que o homem se afaste.

— O que você quer? — Eu já estava sem paciência para o teatrinho daquele mimado. 

— Me desculpa. — Sua voz é leve ao dizer e eu o encaro com surpresa.

— Pelo o que, exatamente? — questiono, ainda mantendo minha pose.

— Pelas palavras ditas, foi apenas uma brincadeira, Donna, apenas isso. — Dá um passo em minha direção. — Me equivoquei quando disse aquelas coisas, e sei que você é diferente das mulheres que foram moldadas para se tornarem uma esposa troféu, assim como disse. — Pietro leva uma das suas mãos até meu queixo e o ergue, me fazendo encará-lo. — Podemos ser amigos, talvez assim você me ensine como tratar uma dama de forma apropriada — completa.

Seus olhos percorreram o meu corpo e eu vacilo por um segundo. Por que ele tinha que ser tão… atraente e gostoso ao mesmo tempo?

Deus! Olhe o tipo de coisa na qual eu estava pensando! 

— Posso pensar — sussurro.

— Amanhã te espero na frente do colégio. 

— Não! — Quase grito.

— Não? — Pisca sem entender minha reação.

— Meu pai não deixa que eu saia sem um dos seus homens, e muito menos ir a um encontro com um garoto mais velho. — Sinto meus lábios tremerem.

— Posso dar um jeito. — Seus olhos brilham.

— Pietro, acho melhor… esquecermos essa história. — Era a única solução no momento. — Nos veremos com uma certa frequência devido a aliança das nossas famílias, e caso algo aconteça entre nós, será natural, nada forçado — finalizo.

— Você tem certeza? — Sua expressão muda.

Apenas concordo.

— Não irei insistir, Donnatela. — Sua voz soa como uma ameaça.

— Eu sei — sussurro, sentindo a bile na garganta.

Pietro olha por cima do meu ombro, respirando fundo.

— Não direi adeus, devido às nossas famílias. — Me encara. — Então… até mais, senhorita McNight.

Ele declara e gira nos calcanhares, se afastando lentamente.

Talvez eu tenha sido precipitada com minhas palavras?!

Mas é a única solução no momento, e também é a coisa mais coerente a se fazer.

Pietro é um homem que pode ter qualquer mulher a seus pés, eu seria apenas mais uma em sua lista. Seria melhor ter o coração partido aos 16 anos com alguém da minha idade e que não desejasse algo que eu não poderia dar. Como uma esposa troféu, preciso me casar virgem para ser selada a próxima aliança com alguma família e mesmo que eu não deseje isso, não ia dar a minha virgindade para alguém

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