AIYANA
A lua não brilha hoje.
E talvez seja por isso que eu esteja à beira de gritar.
Percorro o quarto em círculos, como uma loba enjaulada, com os dedos batendo ritmicamente contra a lateral da coxa coberta por couro. O som é abafado, mas não o suficiente para me impedir de ouvir os sussurros que atravessam minha janela.
"A chama vai corrigir o erro."
"A bruxa será desmascarada."
"O Alfa vai ter sua verdadeira companheira."
Eu cerro os punhos. As palavras queimam como se fossem brasas jogadas sobre minha pele. Não importa o quanto eu negue, grite, prove. Eles já decidiram quem eu sou.
AIYANASeus olhos âmbar estavam cravados em mim.Mas dessa vez… havia algo a mais ali.Algo que tremia na mesma frequência que a minha alma.A clareira parecia conter a respiração. As chamas ainda tremeluziam em verde, incandescentes como se a própria floresta queimasse com elas.Ao nosso redor, os murmúrios começaram. Baixos. Apressados. Crescendo como uma tempestade de vozes que não se continham mais.— Ela não é a parceira do nosso alfa...— Ele é um forasteiro!—
AIYANAAs mãos dela estavam cravadas no braço dele, como garras tentando impedir o inevitável.— Você prometeu, Max! Você me prometeu! — seus olhos estavam cheios de lágrimas, borrando toda a maquiagem que ela usava. — Você disse que ia se casar comigo! Que ia ser eu!Scott se aproximou lentamente, sem dizer nada dessa vez, apenas observando.Eu podia dizer, pela forma que ele olhava para o filho, que estava decepcionado e preocupado.Max continuava imóvel.A mandíbula cerrada, os olhos fixos no chão, como se cada palavra de Isabela lhe causasse vergonha.
AIYANAO céu rugia em cinzas. O cheiro de sangue fresco e fumaça queimava minhas narinas.—Ela estava perto do celeiro! —gritei, correndo ao lado de Icarus. A grama molhada grudava nas solas das minhas botas, a terra marcada pelas patas dos inimigos que invadiram nossa casa.Icarus assentiu com um grunhido e acelerou o passo.Minha avó. A única família de verdade que me restava. Precisávamos encontrá-la.Mas meu coração não obedecia a lógica. Meu corpo corria para um lado, enquanto minha alma ficava presa a outro, a ele.Virei a cabeça.E lá estava ele.<
AIYANAO dia amanheceu em tons dourados e rosados, mas a tensão no ar parecia tingi-lo de algo mais sombrio. O grande evento da noite lançava uma sombra sobre cada olhar e gesto da minha prima e tia, elas estavam reluzentes e tentei ficar minimamente feliz por elas.A aldeia estava em alvoroço desde cedo. As amigas de Isabela entravam e saíam do pequeno quarto de madeira, carregando vestidos, bijuterias brilhantes e potes de unguentos perfumados. O cheiro adocicado de jasmim e baunilha impregnava o ar, tornando tudo ainda mais sufocante. Eu me encostei no batente da porta, observando minha prima sentada diante de um espelho rachado, sorrindo de forma presunçosa enquanto uma de suas amigas trançava seu cabelo negro e sedoso, que descia como um rio escuro até sua cintura. Cada movimento dela era preciso, ensaiado. Ela sempre soube como cativar a atenção de uma sala inteira, e hoje não seria diferente.— Você está especialmente pensativa hoje, Aiyana. — A voz de Isabela tinha um tom quas
AIYANAA sensação de calor no peito, aquele fogo incontrolável que dançava dentro de mim, ainda estava lá, como se a chama ancestral tivesse se enraizado em meu corpo. Mas o que antes parecia ser um privilégio agora só me trazia agonia.A cada passo que dava, sentia os olhares da alcateia pesando sobre mim, frios, duros, implacáveis. O desprezo estampado em seus rostos me cortava mais do que qualquer palavra. Eles me viam como uma intrusa, uma ameaça. Não pertencente a eles. E, se já não fosse suficiente, eu tinha que enfrentar o ódio de Isabela e a rejeição estampada no olhar de Maxim.Isabela se aproximou com um sorriso venenoso nos lábios, seus olhos brilhando com um ódio latente. Eu podia quase sentir a tensão pulsando no ar.— Você realmente acha que pode simplesmente ser a "escolhida", Aiyana? — disse ela, a voz baixa e cortante, quase como se quisesse me ferir com cada sílaba. — Sua mãe era uma bruxa, e agora você acha que a chama te escolheu por acaso? Não engula essa mentira.
AIYANAO amanhecer estava perto de chegar, mas eu já estava de volta à beira da floresta, caminhando devagar. Meu corpo cansado ainda sentia os efeitos da noite mal dormida, e minha mente estava um turbilhão. A caverna onde passei a noite, embora já fosse um lugar familiar para mim, não me trouxe a paz que eu procurava. Dormir na floresta já não era tão fácil quanto antes. As árvores começaram a clarear com os primeiros raios de sol, mas o ar ainda estava frio, e eu sentia meu corpo arrepiado, não só pela temperatura, mas também pela inquietação. Meu coração batia mais rápido a cada passo que dava em direção à aldeia. Eu não sabia o que iria enfrentar lá, mas sabia que não podia continuar fugindo. Eu precisava voltar.De repente, alguém me pegou pela cintura, puxando-me com força para fora da trilha. Antes que pudesse reagir, uma mão cobriu minha boca, abafando meu grito. Meu corpo entrou em pânico, mas não pude fazer mais nada além de tentar me soltar. Estava sendo arrastada, forçad
AIYANAUma batida suave na porta me acordou, e eu levantei a cabeça, atordoada e ainda com a sensação de que a noite inteira tinha sido uma luta. A batida se repetiu, mais firme desta vez.Já se passou um ano desde que a chama revelou que Maxim e eu somos companheiros destinados, e as coisas só pioraram. Isabela se tornou mais cruel a cada dia, e ela fazia questão de transformar cada minuto que eu passava perto dela em um inferno. Não havia um só momento em que ela não fizesse questão de esfregar na minha cara o quanto ela e Maxim estavam juntos e felizes, com toques constantes e beijos sempre visíveis ou quando ela o fazia dizer que a amava. Ele, por sua vez, me ignorava na maior parte das vezes, mas não fazia nada para impedir Isabela em seus ataques maldosos.Às vezes, eu sentia o olhar dele. Um olhar que parecia me atravessar, e por um breve momento, eu via algo ali. Mas era tão efêmero, tão pequeno, que logo desaparecia. Maxim continuava distante, implacável, como se eu fosse ins
AIYANAA música pulsa no salão, a batida vibrando no meu peito enquanto giro ao lado de Alyssa. As luzes coloridas refletem no vestido rosa brilhante dela, e por um momento, me sinto leve. O vestido verde floresta molda-se ao meu corpo, valorizando minhas curvas, e o decote ousado me faz sentir poderosa. Nunca me senti bem dançando, mas prometi à vovó que me divertiria, então estou tentando. E, de certa forma, está funcionando.Até que uma sensação quente percorre minha espinha, um arrepio que nada tem a ver com a música ou com a pista de dança lotada. É um olhar. O olhar. Não preciso ver para saber que é Maxim.O fogo daquele olhar queima minha pele como um chamado que me recuso a atender. Ele está aqui. Em algum canto do salão, observando-me. Alyssa puxa minha mão, rindo animada.— Dois gatos a caminho, e um deles está olhando direto para você!— Quê? — arqueio a sobrancelha, mas antes que eu possa reagir, os veteranos já estão aqui.Um deles, alto, cabelos castanhos desarrumados e