capítulo 5

JADE

O medo era como uma segunda pele.

Cada célula do meu corpo gritava para correr, fugir daquele ambiente carregado e perigoso.

Mas meus pés permaneceram firmes no palco.

Dançar era o que eu sabia fazer.

Era o que pagava os remédios da minha mãe.

Era o que garantia o futuro do Joaquim.

Então eu dancei.

Dancei mesmo com o medo cravado nos ossos.

Dancei para o homem que agora eu sabia ser o verdadeiro dono da boate... e da minha liberdade.

Ravi Trajano Telles.

Meus olhos se prendiam nele, e nos homens brutais que o acompanhavam, tentando me lembrar que eu estava apenas cumprindo meu trabalho.

Mas os olhares deles...

Eram predadores famintos.

Quando Ravi me chamou para descer e buscar bebidas para eles, senti o chão fugir dos meus pés.

Caminhei até a mesa com as pernas bambas.

Um deles riu, descarado:

— Quanto você cobra pra passar a noite comigo, princesa?

O nojo subiu até a garganta.

Engoli em seco, sem responder.

Desejei desaparecer.

Mas Ravi, com aquela calma cruel, apenas ordenou:

— Vá pegar nossos drinks.

Sem direito de recusar, obedeci.

Tremendo.

**

Quando voltei com as bebidas, a tensão no ar era sufocante.

Entreguei os copos, mas quando me aproximei de Ravi, ele se levantou de repente.

Segurou meu pulso firme, me puxando para longe da mesa.

Eu estremeci.

— Por que está tremendo? — sussurrou no meu ouvido, a voz carregada de sarcasmo. — Há pouco, você dançava para todos como uma vadia.

Cerrei os dentes.

— Eu apenas cumpro meu trabalho. — consegui murmurar.

Ele sorriu de lado, cruel.

— Onde está a selvagem que ousou me desafiar ontem?

**

Antes que pudesse responder, a situação mudou.

Um dos homens sacou uma arma, apontando diretamente para Ravi.

Eu fiquei paralisada, o medo explodindo no meu peito.

Antes que pudesse entender, Donatello — o homem que parecia ser o braço direito de Ravi — me puxou para fora, quase me carregando até o camarim.

— Calma, moça. — disse ele, ao ver minhas lágrimas de terror. — Você tá segura.

— Segura? — rebati, a voz falha. — Quem são vocês?

Ele sorriu de um jeito estranho.

— Melhor não fazer perguntas, Pantera.

Nem todo mundo aqui é... amigável.

Me encolhi em um canto do camarim, o corpo tremendo descontroladamente.

**

Alguns minutos depois, Ravi entrou.

O ambiente pareceu encolher.

Donatello saiu, nos deixando a sós.

Eu quis perguntar, quis gritar, mas as palavras morriam na garganta.

Ainda assim, não consegui conter a pergunta que me queimava por dentro.

— Quem é você... de verdade?

Ele se aproximou devagar, como quem ronda uma presa ferida.

Sorriu de maneira fria.

— Isso não importa, Pantera.

O que importa é o que eu sou para você.

E, se você ousar contar a alguém o que viu esta noite... — sua voz desceu a um tom de pura ameaça — eu mando alguém fazer uma visita muito especial à sua família.

Meu corpo inteiro congelou.

Mamãe... Joaquim...

Ele sabia.

Sabia onde me atingir.

**

Quando tentei recuar, Ravi avançou, me encurralando contra a parede.

Minha respiração acelerou.

O coração parecia querer rasgar o peito.

Ele se inclinou, tão perto que senti o hálito quente contra a minha boca.

— Está com medo, Pantera? — provocou, com um sorriso perverso. — Se for uma boa menina, posso te mostrar coisas que você nem sonha.

Minha pele se arrepiou.

De raiva.

De medo.

De algo que eu não queria admitir.

Empurrei-o com força, mas ele apenas riu.

Um riso baixo, carregado de deboche.

**

— Você está louco! — cuspi, furiosa. — Eu jamais quero algo vindo de você!

Os olhos dele brilharam de diversão.

— Agora que sabe quem manda aqui... tem certeza?

— Tenho.

Se for pra aceitar isso, prefiro me demitir!

Ele me encarou como se avaliasse um objeto interessante.

Um troféu que ainda precisava conquistar.

**

De repente, sua mão foi até meu cabelo.

Soltou a fita que prendia minha máscara, deixando-a pender.

Eu reagi na mesma hora, agarrando o pulso dele.

— Nunca tente tirar minha máscara. — falei com firmeza. — Assim como você esconde quem é... eu também escondo.

Por um segundo, vi algo passar nos olhos dele.

Respeito?

Divertimento?

Desejo?

Não sei.

**

Ele recuou alguns passos e se jogou numa poltrona, relaxado, o rei absoluto da situação.

— Calma, Pantera.

Só fiquei curioso.

Apoiou o queixo na mão, me observando como se eu fosse parte de um leilão.

— Gostei do seu desempenho.

Quero que dance só pra mim, a partir de agora.

Franzi a testa.

— Como assim?

— Vou triplicar seu salário.

Você será minha dançarina particular.

Nada de expor esse corpo delicioso para outros.

A proposta caiu sobre mim como uma bomba.

**

— E se eu não aceitar? — perguntei, a voz embargada.

O sorriso dele desapareceu.

— Então pegue suas coisas e suma daqui.

Mas saiba de uma coisa: se recusar, não dançará em mais lugar nenhum nesta cidade.

— Isso é uma ameaça? — sussurrei, horrorizada.

— É uma promessa.

E eu sempre cumpro o que prometo.

**

Fiquei imóvel, o sangue gelado nas veias.

Ele se levantou, cruzou o espaço entre nós em poucos passos e segurou meu rosto com força.

Sua boca pairou a centímetros da minha.

— Pense rápido, Pantera.

Eu não sou um homem paciente.

Tentei me soltar, virei o rosto no último instante, impedindo que ele me beijasse.

Ravi soltou uma risada baixa, recuou, e caminhou até a porta.

Antes de sair, lançou:

— Você tem até amanhã pra decidir.

Depois disso...

não garanto que terá outra chance.

E a porta se fechou com um estrondo.

**

Fiquei ali, imóvel, abraçando a mim mesma, enquanto o mundo desabava em minha cabeça.

Se eu aceitasse, estaria vendendo minha alma para um demônio.

Se recusasse, jogaria minha família no desespero.

O que fazer quando todas as opções levam à ruína?

E, pior ainda...

Como escapar de um homem que já me prendeu sem nem sequer me tocar?

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