JADEO medo era como uma segunda pele.Cada célula do meu corpo gritava para correr, fugir daquele ambiente carregado e perigoso.Mas meus pés permaneceram firmes no palco.Dançar era o que eu sabia fazer.Era o que pagava os remédios da minha mãe.Era o que garantia o futuro do Joaquim.Então eu dancei.Dancei mesmo com o medo cravado nos ossos.Dancei para o homem que agora eu sabia ser o verdadeiro dono da boate... e da minha liberdade.Ravi Trajano Telles.Meus olhos se prendiam nele, e nos homens brutais que o acompanhavam, tentando me lembrar que eu estava apenas cumprindo meu trabalho.Mas os olhares deles...Eram predadores famintos.Quando Ravi me chamou para descer e buscar bebidas para eles, senti o chão fugir dos meus pés.Caminhei até a mesa com as pernas bambas.Um deles riu, descarado:— Quanto você cobra pra passar a noite comigo, princesa?O nojo subiu até a garganta.Engoli em seco, sem responder.Desejei desaparecer.Mas Ravi, com aquela calma cruel, apenas ordenou:
CAPÍTULO — ENTRE O MEDO E A ESPERANÇAJADETomei a decisão naquela mesma noite: não.Não me submeteria ao Ravi.Não aceitaria ser a propriedade particular de um homem arrogante, que achava que dinheiro comprava tudo — até dignidade.Eu não era moeda de troca.Arrastei meu corpo cansado para casa, tentando afastar as imagens dele da minha cabeça: o olhar de posse, o sorriso cruel, a ameaça velada em cada palavra.Mas era difícil.Muito difícil.**Assim que entrei, o silêncio da casa me acolheu.Minha mãe já dormia.Meu irmão também.Tirei a máscara com cuidado, sentindo como se estivesse arrancando também a fachada de força que precisei usar durante toda a noite.Me joguei no sofá.Fiquei ali, olhando para o teto, tentando entender onde minha vida tinha se perdido.Quando foi que meus sonhos viraram sobrevivência?**A porta da escada rangeu.Olhei para o lado e vi Joaquim, com o rosto inchado de sono, caminhando até mim.Sentou-se ao meu lado, esfregando os olhos.— O que está fazend
CAPÍTULO — QUANDO O MUNDO DESABAJADEDeixei o consultório da Dra. Valéria com o coração em pedaços.Meus passos eram lentos, pesados.A rua à minha frente parecia longa demais, como se o caminho de volta para casa fosse outro fardo que eu teria que carregar.Caminhei sem pressa, deixando o vento bater no meu rosto, tentando clarear a cabeça.Como seguir em frente depois daquela notícia?Como carregar a culpa de saber que, enquanto eu dançava para desconhecidos, minha mãe lutava sozinha contra uma doença mortal?**Quando cheguei em casa, encontrei os dois sentados à mesa.Minha mãe sorria ao ver Joaquim devorando o café da manhã.Senti um aperto no peito.Ela ainda tentava manter a fachada de normalidade, mesmo que tudo estivesse desmoronando por dentro.**— Fiquei preocupada, filha. Não te vi no quarto. Onde você foi tão cedo? — perguntou ela, enquanto arrumava a mesa.— Tive que resolver umas pendências. — respondi, tentando soar casual.— Você parece estranha, Jade. Está tudo bem
CAPÍTULO — QUANDO A DOR TEM ROSTOJADEDemitida.A palavra não parava de ecoar na minha cabeça.Cada sílaba parecia um golpe de marreta.**Meu corpo tremia.O chão debaixo dos meus pés parecia prestes a abrir, e eu, sem forças, só conseguia olhar para Diogo como se ele tivesse puxado o gatilho.**Ele me segurou pelos braços quando viu que eu ia cair.— Jade, senta. — murmurou, tentando me arrastar para dentro da boate.Eu não resisti.Não porque queria.Mas porque não tinha energia nem para lutar.**Sentei em uma cadeira qualquer.Uma boneca vazia, quebrada, esquecida.**Minha mão tremia ao puxar a máscara do meu rosto.Ela caiu no chão, insignificante.Assim como eu me sentia.**— Você tá bem? — Diogo perguntou, hesitante.**A risada que saiu da minha boca foi horrível.Um som quebrado, dolorido, que nem parecia humano.**— Bem? — repeti, sarcástica.— Eu fui chutada como lixo!Você realmente acha que alguém fica bem depois de ser tratada como um objeto descartável?**Diogo s
CAPÍTULO — O DONO DA CENARAVIDeixei a boate na noite anterior carregando um misto de irritação e desejo preso na garganta.Fui direto para o meu apartamento.Sem perder tempo, chamei uma das garotas que costumavam me satisfazer.**Enquanto eu a fodia sem misericórdia, minha mente viajava.O rosto que surgia nos meus pensamentos não era dela.Era o da dançarina mascarada.A Pantera.A mulher que ousou me dizer não.**A fúria queimava dentro de mim.Nunca aceitei rejeição.E não seria agora.**Enquanto o corpo suado da garota arqueava sob o meu, tomei uma decisão definitiva:ou ela seria minha, ou seria nada.**Quando terminei, enfiei algumas notas na mão dela e mandei que se vestisse e saísse.A presença dela me enojava.**Fui para o banheiro, tomei uma ducha fria, vesti apenas uma cueca e desabei na cama.O sono me venceu rápido, mas a imagem dela — os olhos por trás da máscara — não me deixaram em paz nem nos sonhos.**[...]Acordei atrasado.Me arrastei da cama, fiz a higien
JADECom a bolsa apertada contra o peito, dei alguns passos apressados para longe daquela sala.Meu coração batia como um tambor ensandecido.Meu orgulho sangrava.As palavras cruéis de Ravi martelavam dentro da minha cabeça como martelos de ferro.Cada insulto, cada desprezo, cada humilhação...**Eu poderia simplesmente ir embora.Deixar que ele acreditasse que havia vencido.Mas algo dentro de mim — algo bruto, queimando como fogo — me impediu.**Meus pés travaram.Minha respiração ficou pesada.Me virei de volta.**Sem pensar duas vezes, empurrei a porta com força.O estrondo ecoou pela sala, fazendo Ravi erguer o olhar, surpreso.**Caminhei até ele, decidida, o ódio queimando em cada passo.Não ia sair dali derrotada.Não dessa vez.**Parei em frente à sua mesa.Segurei o olhar dele.Fria.Firme.Sem medo.**— Você está me deixando confusa, Ravi. — disparei, a voz firme como aço. — Fez de tudo para me demitir. Agora que estou aqui, você diz que não me quer como sua dançarina
RAVIReceber dois tapas daquela maldita dançarina só serviu pra uma coisa:Me deixar ainda mais doente por ela.**Jade era diferente de qualquer mulher que eu já encostei.Ela não se curvava.Não tinha medo.Não implorava.**E essa resistência toda só fazia crescer o desejo insuportável de vê-la de joelhos — por minha causa.**Me joguei na cadeira, massageando a mandíbula dolorida, e ri baixo.Uma vadia que deveria estar implorando por trabalho teve a audácia de me enfrentar.**Mas eu ia dobrá-la.Eu sempre dobrava.**Jade precisava de dinheiro.Eu precisava de uma esposa.**Simples.**Quando propus o acordo, vi o choque nos olhos dela.**Ravi (frio, cortante):— Eu pago o tratamento da sua mãe, boto seu irmão na melhor escola, encho tua geladeira e tu nunca mais vai precisar rebolar por gorjeta.— Em troca, vai se casar comigo.— E só sai quando eu mandar.**Ela abriu a boca, indignada.**Jade:— Você realmente acredita que eu vou me casar com você, o homem que me humilhou
Capítulo 1 — A Máscara da PanteraJADEMais um dia. Mais uma batalha silenciosa.Entro na boate com o pensamento martelando na cabeça: é só mais um dia, é só mais uma vez...Aqui, onde meu corpo dança para homens que não conheço, encontrei a única forma de sobreviver. Não é uma escolha. É necessidade.Meu nome é Jade. Mas para eles, sou apenas a Pantera.Uso uma máscara para proteger o que resta da minha identidade, da minha dignidade. Com 1,60m de altura, 29 anos, pele morena e olhar determinado, prefiro o anonimato a ser reduzida a mais um pedaço de carne exposto. Estou solteira — e sinceramente? Sem o menor interesse em me envolver com qualquer um. Ainda mais com os tipos que frequentam esse lugar.Minha concentração é quebrada pela voz familiar que ecoa da entrada.DIOGO:— Pantera... Sonhando acordada de novo?Apenas confirmo com um aceno breve.DIOGO:— Vamos lá. Você é a próxima no palco.Diogo, o dono da boate, sempre foi mais do que um chefe. Ele foi um amigo quando eu não ti