capítulo 4

CAPÍTULO — DONO DA NOITE

RAVI

O dia tinha sido um inferno.

Reuniões intermináveis, problemas para apagar, falsos aliados tentando sorrir pelas costas.

Quando finalmente terminei, só queria tomar um banho e lembrar quem eu era de verdade.

Em casa, tirei a gravata com um puxão irritado, deixei a camisa cair no chão e entrei debaixo da ducha gelada.

A água escorrendo no corpo era como gasolina em fogo.

Eu precisava extravasar.

Vestido com uma calça preta justa e camisa dobrada até os cotovelos, peguei a chave do carro e saí, deixando para trás o homem que todos conheciam.

Naquela noite, eu seria apenas Ravi — o predador.

**

Cheguei ao Little Club pouco antes da meia-noite.

As luzes externas piscavam em vermelho, como um convite para o pecado.

No estacionamento, encontrei Diogo já me esperando, tenso como sempre quando lidava comigo.

— Senhor Ravi, como o senhor ordenou, só deixamos a Pantera aqui dentro.

Assenti com a cabeça, frio.

— Faça ela subir no palco. Apague todas as luzes.

Assim que ela começar, anuncie quem é o verdadeiro dono desta merda toda.

Depois, desapareça.

Diogo engoliu seco, assentiu e sumiu.

**

Entrei.

O salão estava mergulhado na escuridão.

O cheiro de bebida, cigarro e desejo impregnava o ar.

Sentei na melhor poltrona, à frente do palco, sozinho, com a paciência de quem já tinha vencido antes mesmo do jogo começar.

**

A música começou.

Som grave.

Batida lenta.

E então ela surgiu, como uma miragem.

A Pantera.

Vestida com um top minúsculo e um short colado no corpo, curvas perigosas, pernas que poderiam arruinar qualquer homem.

Ela deslizou pelo palco, cada movimento uma provocação involuntária.

Eu saboreava a cena.

Saboreava o pânico disfarçado nos olhos dela por trás da máscara.

**

Então, Diogo falou no microfone:

— Senhoras e senhores, é uma honra apresentar... o verdadeiro proprietário do Little Club: Ravi Trajano Telles.

As luzes explodiram.

Ela me viu.

E congelou.

O pânico atravessou o corpo dela como uma descarga elétrica.

Subi no palco devagar, como quem saboreia a caça já rendida.

Parei ao lado dela, tão perto que podia sentir a tremedeira sutil no corpo dela.

Inclinei-me até seu ouvido.

— Eu avisei que haveria consequências, Pantera.

Ela não respondeu.

Não conseguia.

**

Minhas palavras ainda ecoavam quando meus parceiros chegaram.

Donatello veio primeiro, discreto, sempre de olho em tudo.

Depois, os outros três: caras acostumados a resolver problemas da maneira mais rápida e suja possível.

Sentei-me de novo, cruzando a perna, dominando a cena.

**

Por alguns segundos, pensei que ela fosse fugir.

Se fosse uma mulher de respeito, teria descido do palco e mandado tudo à merda.

Mas não.

Ela ficou.

E quando a música retomou, ela começou a dançar novamente.

Desta vez, não para se proteger.

Mas como uma cortesã.

Provocante.

Ardente.

**

Donatello se aproximou, rindo baixo:

— Agora eu entendo sua obsessão, Ravi.

Essa mulher é... deslumbrante.

Inclinei a cabeça, o cigarro entre os dedos.

— Vamos ao que interessa. — falei, a voz cortante como navalha.

**

— Difícil, cara. — disse um dos parceiros, os olhos grudados no corpo dela. — Difícil pensar em negócios com essa visão divina na frente.

Olhei para a Pantera.

Ela dançava... mas seus olhos estavam cravados nos meus.

Desafiando.

Implorando.

Uma vadia orgulhosa... que precisava ser quebrada.

**

Fiz um gesto curto.

Ela entendeu.

Veio até nós, hesitante.

Notei como suas mãos tremiam ao se aproximar.

O medo nela era como um perfume.

Inebriante.

**

— Vá pegar bebidas para meus amigos.

Depois pode se retirar. — ordenei, a voz fria como gelo.

Um dos parceiros soltou uma gargalhada debochada.

— Não precisa ir embora, linda.

Quanto você cobra pra passar a noite comigo?

Bati a mão forte na mesa.

O som ecoou pelo salão.

Ela congelou.

Eu encarei.

— Você não ouviu, Pantera?

Vai pegar nossos drinks.

— Sim, senhor. — respondeu ela, quase num sussurro.

**

Ela sumiu, e os caras riam, bêbados de poder.

**

Minutos depois, ela voltou, trazendo uma bandeja com nossos copos.

Tremendo tanto que quase derrubou tudo.

Quando se aproximou para servir, levantei-me devagar, segurei seu pulso no ar.

Ela se assustou.

Puxei-a de lado, longe dos olhares deles.

**

— Por que está tremendo agora? — murmurei, encostando minha boca quase em sua orelha. — Há pouco, você dançava se oferecendo como uma vadia.

Ela estremeceu.

— Eu... Eu estava só cumprindo meu trabalho, senhor.

Sou paga para dançar.

— Onde está a selvagem de ontem?

A que me desafiou?

Seus olhos se encheram de lágrimas.

Ela baixou a cabeça, humilhada.

**

— Posso ir embora, por favor...? — implorou, a voz embargada.

Soltei uma risada baixa.

— Eu disse que podia.

Mas mudei de ideia.

Toquei seu queixo, forçando-a a me olhar.

— Você só vai embora quando eu permitir.

Voltei para minha poltrona e me sentei, apontando para o palco.

— Dance. De novo.

**

Ela hesitou.

O peito arfando.

Mas subiu no palco.

**

A música recomeçou.

E ela dançou.

Dessa vez, com a alma quebrada.

Mas com o corpo ainda desafiando.

**

Enquanto ela se exibia, os negócios prosseguiam.

**

— Sobre o pagamento. — comecei, olhando nos olhos do devedor. — Exijo o que é meu.

Não transporto mais nada até que cada centavo seja pago.

— Isso é uma ameaça?

— Não.

É uma promessa.

**

O clima esquentou rápido.

Um dos caras se levantou, puxando uma arma.

Não me movi.

Só peguei meu cigarro, acendi, e expirei a fumaça no rosto dele.

**

Um dos meus seguranças surgiu das sombras, arma em punho.

**

— Abaixa essa merda. — grunhi, sem medo.

Do outro lado, Donatello se posicionava, sempre pronto.

A tensão podia ser cortada com faca.

**

No palco, a Pantera parou de dançar, apavorada.

Fiz um gesto quase imperceptível para Donatello.

Ele entendeu.

Saiu rapidamente, levando ela para o camarim.

**

A negociação virou ameaça aberta.

Mas, no fim, o medo venceu.

Eles baixaram as armas.

**

— Meu chefe mandou um presente. — disse um dos homens, jogando uma pistola pra mim.

Peguei a arma, pesada na mão.

Acertei o coração do traidor com um único tiro.

O som ecoou no salão vazio.

**

— Agora, levem o lixo com vocês.

E nunca mais falem meu nome.

**

Em silêncio, eles recolheram o cadáver e desapareceram.

**

Donatello voltou, me olhando com aquele misto de respeito e medo.

— Tiro limpo, Ravi.

Assenti.

**

Fui até o camarim.

Quando entrei, encontrei a Pantera encolhida num canto, os olhos arregalados de terror.

Fechei a porta atrás de mim.

**

Ela tentou recuar, mas não tinha mais pra onde ir.

**

— Quem... quem é você...? — ela sussurrou, a voz embargada.

Me aproximei, encurralando-a.

Segurei seu queixo entre os dedos.

Firme.

Implacável.

— Não importa quem eu sou.

Só importa que... — aproximei meu rosto do dela, sentindo seu medo pulsar — ...se você abrir essa boquinha linda sobre qualquer coisa que viu aqui hoje... eu faço uma visita à sua casa.

Um sorriso cruel curvou meus lábios.

— E garanto que você vai assistir, bem de pertinho, o que acontece com quem me desafia.

**

Soltei seu rosto com um empurrão leve.

Ela desabou sentada na cadeira, ofegante, destruída.

**

Saí do camarim como quem fecha a porta de uma jaula.

Hoje, a Pantera aprendeu a primeira lição:

Nunca morda o dono da coleira.

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