RAVIDepois de meter com uma das dançarinas, joguei um maço de notas amassadas na cama, sem nem olhar pra ela.— Some daqui. — rosnei, acendendo um cigarro enquanto a vadia se vestia às pressas, sem coragem de me encarar.Ela saiu tropeçando nos próprios saltos.Sozinho no apartamento, ainda nu, recostei na poltrona, soltando a fumaça devagar.Mas em vez de relaxar, a lembrança dela voltou com força.A Pantera.Não era o corpo da mulher que tinha acabado de foder que latejava na minha mente.Era ela.A desgraçada da máscara, dos olhos de fogo, que teve a audácia de me rejeitar.Que me deu um tapa na cara como se eu fosse um qualquer.Mordi o filtro do cigarro com raiva. Isso não ia ficar assim.Essa vadia ainda vai rastejar até minha cama. Nem que seja chorando.Acordei no dia seguinte com a cabeça estourando, gosto amargo na boca e um vazio ainda mais irritante dentro do peito.Tomei banho, vesti a primeira roupa que vi e dirigi até a empresa como um demônio de ressaca.Minha secretá
CAPÍTULO: A NOITE QUE NÃO ERA MINHAO dia amanheceu arrastado, e cada parte do meu corpo protestava contra os movimentos forçados da noite anterior.A dança, os saltos, os olhares sujos... tudo pesava como se eu carregasse o mundo nas costas.Estiquei o corpo devagar, sentindo dores que não deveriam existir em alguém da minha idade.Suspirei, olhando para o teto e pensando: "Espero que aquele arrogante não apareça hoje."Hoje era sábado. A boate Little Club nunca fechava, nem em feriado, muito menos em fim de semana.Mas para mim, isso era uma dádiva amarga: mais movimento, mais gorjetas, mais dinheiro para pagar o tratamento da minha mãe.**Depois de uma ducha rápida, arrumei-me com pressa e fui para a cozinha.Minha mãe, Dona Flávia, já estava sentada à mesa, com um sorriso que não disfarçava o cansaço.— Bom dia, meu amor. — ela disse, com a voz suave. — Achei que você fosse dormir até mais tarde hoje.— Hoje eu quero ficar com vocês. — falei, servindo café para nós duas. — E o Jo
CAPÍTULO — DONO DA NOITERAVIO dia tinha sido um inferno.Reuniões intermináveis, problemas para apagar, falsos aliados tentando sorrir pelas costas.Quando finalmente terminei, só queria tomar um banho e lembrar quem eu era de verdade.Em casa, tirei a gravata com um puxão irritado, deixei a camisa cair no chão e entrei debaixo da ducha gelada.A água escorrendo no corpo era como gasolina em fogo.Eu precisava extravasar.Vestido com uma calça preta justa e camisa dobrada até os cotovelos, peguei a chave do carro e saí, deixando para trás o homem que todos conheciam.Naquela noite, eu seria apenas Ravi — o predador.**Cheguei ao Little Club pouco antes da meia-noite.As luzes externas piscavam em vermelho, como um convite para o pecado.No estacionamento, encontrei Diogo já me esperando, tenso como sempre quando lidava comigo.— Senhor Ravi, como o senhor ordenou, só deixamos a Pantera aqui dentro.Assenti com a cabeça, frio.— Faça ela subir no palco. Apague todas as luzes.Assim
JADEO medo era como uma segunda pele.Cada célula do meu corpo gritava para correr, fugir daquele ambiente carregado e perigoso.Mas meus pés permaneceram firmes no palco.Dançar era o que eu sabia fazer.Era o que pagava os remédios da minha mãe.Era o que garantia o futuro do Joaquim.Então eu dancei.Dancei mesmo com o medo cravado nos ossos.Dancei para o homem que agora eu sabia ser o verdadeiro dono da boate... e da minha liberdade.Ravi Trajano Telles.Meus olhos se prendiam nele, e nos homens brutais que o acompanhavam, tentando me lembrar que eu estava apenas cumprindo meu trabalho.Mas os olhares deles...Eram predadores famintos.Quando Ravi me chamou para descer e buscar bebidas para eles, senti o chão fugir dos meus pés.Caminhei até a mesa com as pernas bambas.Um deles riu, descarado:— Quanto você cobra pra passar a noite comigo, princesa?O nojo subiu até a garganta.Engoli em seco, sem responder.Desejei desaparecer.Mas Ravi, com aquela calma cruel, apenas ordenou:
CAPÍTULO — ENTRE O MEDO E A ESPERANÇAJADETomei a decisão naquela mesma noite: não.Não me submeteria ao Ravi.Não aceitaria ser a propriedade particular de um homem arrogante, que achava que dinheiro comprava tudo — até dignidade.Eu não era moeda de troca.Arrastei meu corpo cansado para casa, tentando afastar as imagens dele da minha cabeça: o olhar de posse, o sorriso cruel, a ameaça velada em cada palavra.Mas era difícil.Muito difícil.**Assim que entrei, o silêncio da casa me acolheu.Minha mãe já dormia.Meu irmão também.Tirei a máscara com cuidado, sentindo como se estivesse arrancando também a fachada de força que precisei usar durante toda a noite.Me joguei no sofá.Fiquei ali, olhando para o teto, tentando entender onde minha vida tinha se perdido.Quando foi que meus sonhos viraram sobrevivência?**A porta da escada rangeu.Olhei para o lado e vi Joaquim, com o rosto inchado de sono, caminhando até mim.Sentou-se ao meu lado, esfregando os olhos.— O que está fazend
CAPÍTULO — QUANDO O MUNDO DESABAJADEDeixei o consultório da Dra. Valéria com o coração em pedaços.Meus passos eram lentos, pesados.A rua à minha frente parecia longa demais, como se o caminho de volta para casa fosse outro fardo que eu teria que carregar.Caminhei sem pressa, deixando o vento bater no meu rosto, tentando clarear a cabeça.Como seguir em frente depois daquela notícia?Como carregar a culpa de saber que, enquanto eu dançava para desconhecidos, minha mãe lutava sozinha contra uma doença mortal?**Quando cheguei em casa, encontrei os dois sentados à mesa.Minha mãe sorria ao ver Joaquim devorando o café da manhã.Senti um aperto no peito.Ela ainda tentava manter a fachada de normalidade, mesmo que tudo estivesse desmoronando por dentro.**— Fiquei preocupada, filha. Não te vi no quarto. Onde você foi tão cedo? — perguntou ela, enquanto arrumava a mesa.— Tive que resolver umas pendências. — respondi, tentando soar casual.— Você parece estranha, Jade. Está tudo bem
CAPÍTULO — QUANDO A DOR TEM ROSTOJADEDemitida.A palavra não parava de ecoar na minha cabeça.Cada sílaba parecia um golpe de marreta.**Meu corpo tremia.O chão debaixo dos meus pés parecia prestes a abrir, e eu, sem forças, só conseguia olhar para Diogo como se ele tivesse puxado o gatilho.**Ele me segurou pelos braços quando viu que eu ia cair.— Jade, senta. — murmurou, tentando me arrastar para dentro da boate.Eu não resisti.Não porque queria.Mas porque não tinha energia nem para lutar.**Sentei em uma cadeira qualquer.Uma boneca vazia, quebrada, esquecida.**Minha mão tremia ao puxar a máscara do meu rosto.Ela caiu no chão, insignificante.Assim como eu me sentia.**— Você tá bem? — Diogo perguntou, hesitante.**A risada que saiu da minha boca foi horrível.Um som quebrado, dolorido, que nem parecia humano.**— Bem? — repeti, sarcástica.— Eu fui chutada como lixo!Você realmente acha que alguém fica bem depois de ser tratada como um objeto descartável?**Diogo s
CAPÍTULO — O DONO DA CENARAVIDeixei a boate na noite anterior carregando um misto de irritação e desejo preso na garganta.Fui direto para o meu apartamento.Sem perder tempo, chamei uma das garotas que costumavam me satisfazer.**Enquanto eu a fodia sem misericórdia, minha mente viajava.O rosto que surgia nos meus pensamentos não era dela.Era o da dançarina mascarada.A Pantera.A mulher que ousou me dizer não.**A fúria queimava dentro de mim.Nunca aceitei rejeição.E não seria agora.**Enquanto o corpo suado da garota arqueava sob o meu, tomei uma decisão definitiva:ou ela seria minha, ou seria nada.**Quando terminei, enfiei algumas notas na mão dela e mandei que se vestisse e saísse.A presença dela me enojava.**Fui para o banheiro, tomei uma ducha fria, vesti apenas uma cueca e desabei na cama.O sono me venceu rápido, mas a imagem dela — os olhos por trás da máscara — não me deixaram em paz nem nos sonhos.**[...]Acordei atrasado.Me arrastei da cama, fiz a higien