Capítulo 1
O vento gelado entra por uma fresta na janela e passa pelo meu pescoço, me arrancando um leve arrepio. Tento ignorar, mas é impossível.
Estou sozinha na sala de preparação, ajustando a fita da sapatilha com dedos trêmulos, não sei se pela temperatura ou pela ansiedade que me corrói desde que acordei hoje. A fita desliza entre os dedos, e faço o nó com mais força, como se aquele simples ato pudesse me manter ancorada à realidade.
Esta noite é o meu sonho se tornando possível. Talvez. Respiro fundo, tentando afastar o peso desse “talvez”. Se eu conseguir impressionar os jurados hoje, pode ser a porta de entrada para academias internacionais, programas de aperfeiçoamento ou até mesmo uma chance de ser convidada para uma companhia profissional. Mais que isso, é minha chance de sair do rótulo de "filha dos políticos" e provar que tenho algo a oferecer por conta própria.
Mesmo que todos sempre duvidam grosseiramente disso.
O espelho na minha frente devolve meu reflexo, mas não parece exatamente meu. Minha maquiagem está impecável: blush suave nas bochechas, batom cor de rosa claro, delineador que destaca os olhos verdes, deixando-os mais expressivos. O coque está perfeito, sem nenhum fio fora do lugar. O figurino, um tom azul-pálido bordado com cristais, brilha à luz das lâmpadas, transformando-me em algo etéreo. Apesar disso, vejo a menina frágil e nervosa por trás da fachada perfeita.
— Você consegue… — Sussurro para mim mesma, tentando transformar aquelas palavras em uma verdade sólida.
Mas minhas mãos estão trêmulas e meu coração dúvida disso com todas as forças. Me sinto como se tivesse desaprendido a andar assim como acontece quando passo por um beco com garotos da minha idade.
Atrás de mim a porta se abre e o som de risadas enche a sala. Outras bailarinas entram, conversando e trocando olhares rápidos na minha direção. Noemie, a abelha rainha do grupo, acompanhada por Charlotte, Vivienne, Sophie, Lila e outras que não conheço pelo nome, mas as duas últimas que citei são as únicas a serem gentis comigo.
Sei o que estão pensando. Sempre sei. Algumas são amigas, ou pelo menos colegas neutras. Mas há aquelas que fazem questão de me lembrar que, para elas, sou apenas uma impostora.
— Amélie, como você está linda… — Noemie diz, sua voz doce como mel envenenado. — Só não deixe o nervosismo te atrapalhar hoje. Seria uma pena, sabe?
Forço um sorriso, porque qualquer reação seria pior. É como atiçar lenha na fogueira. Seja educada com aqueles que a tratam mal. Aprendi isso com a minha mãe.
— Obrigada… — Murmuro, com a voz controlada.
— Isso mesmo. — Charlotte, a mais crítica dentre as garotas murmura, sua expressão neutra como sempre. — É importante manter a calma. Todas vocês sabem como esses jurados podem ser exigentes.
Elas riem como se tivesse sido dito como uma provocação para mim. Mas finjo não ouvir, e o que ouço, absorvo para me fortalecer. Não tenho energia para responder, e francamente, não quero desviar meu foco.
Meu estômago está tão apertado que mal consigo respirar. Nem parece que me preparei toda a vida para isso.
Antes que a conversa possa continuar, a porta se abre novamente. Julien Armand. Nosso professor de dança, e o homem que dirige todo esse espaço de treino e apresentações. Ele é como o tapete vermelho de todas as dançarinas. Passe por ele e tenha a chance de brilhar.
Sua presença preenche a sala de um jeito que poucos conseguem. Ele não precisa dizer nada para que parem o que estão fazendo.
Ele passa por algumas dançarinas, dando-lhes breve elogios e lhes motivando, até que para na minha frente.
— Amélie. — Ele me chama com um sorriso, e algo dentro de mim relaxa.
Sua voz tem um peso de confiança que eu não sinto há dias. Talvez seja porque seja o único que me conhece desde criança que está aqui para me dar suporte.
— Está pronta para brilhar?
— Estou tentando estar. — Respondo e ele ri baixinho.
— Você está mais que pronta. Só faça o que sempre faz. Confie no seu corpo, no seu talento. Hoje é o seu dia.
As palavras dele são como um bálsamo, dissolvendo parte da tensão nos meus ombros.
— Obrigada… — Agradeço com um leve aceno e um sorriso tímido.
A chamada para as apresentações ecoa pelo corredor. O primeiro nome sendo o de Lila, sendo chamado. Meu coração dispara. É agora.
Na coxia, a visão do teatro lotado é avassaladora. Espio por uma brecha na cortina, os olhos percorrendo a multidão em busca de rostos familiares. Mas meus pais não estão lá. Tento me convencer de que ainda vão chegar, que estão atrasados por algum motivo trivial. Mas o aperto no peito é inevitável. Eles prometeram.
— Amélie… concentre-se… — Murmuro para mim mesma, fazendo um exercício básico para lidar com as batidas aceleradas do meu coração.
Afasto a decepção. Não posso deixar isso me distrair. Se eles não estão aqui é um problema deles, não meu.
É do que tento me convencer enquanto inspiro e expiro.
As apresentações começam. Uma a uma, as bailarinas entram, dançando, saem sob aplausos.
A minha vez chega mais rápido do que estava esperando. Sinto meu coração bater tão forte que parece ecoar em todo o teatro. Mas assim que coloco o pé no palco, algo muda.
A música começa, e o mundo desaparece.
Eu já deveria estar acostumada com o poder quando e a música e a dança sobre meu corpo.
O medo e toda insegurança vai embora. Eu não me importo com os olhares atentos dos jurados, nem com a plateia ansiosa pela minha apresentação. Meu corpo se move, cado passo é um diálogo entre meu corpo e a melodia.
Plié, arabesque, piruetas que me fazem girar como se estivesse flutuando. Sinto o chão sob meus pés, firme e ao mesmo tempo distante, como se eu pertencesse mais ao ar do que à terra. Meu corpo se move com uma fluidez que só encontro quando danço.
Uma paz que só alcanço quando estou no meu próprio mundinho.
E eu me sinto viva… muito mais viva do que nunca, porque dançar faz parte de quem eu sou.
Quando chego ao clímax, salto em um grand jeté, meus braços abertos como asas. O mundo parece parar por um instante. Encerrando em uma penché, meu corpo se inclina em um ângulo quase impossível, meus dedos tocando levemente o chão, enquanto a música termina.
Eu me sinto… leve.
Silêncio.
Por um segundo, penso que o teatro ficou sem palavras. Então, todas as luzes se apagam.
O som de suspiros coletivos enche o ambiente. Meu corpo se enrijece. Primeiro, penso que é uma falha técnica, mas o estrondo que vem em seguida apaga qualquer esperança disso. É como se algo gigantesco tivesse caído ou sido derrubado.
Meu coração dispara novamente, mas dessa vez não por ansiedade, e sim por medo.
Endireito a minha postura e tento ver além da escuridão, mas não é preciso de muito esforço para isso.
Lanternas surgem, varrendo a escuridão. São muitas, e o brilho corta o espaço, revelando homens armados que entram pelas portas principais. Eles gritam, dão ordens que fazem as pessoas gritarem de medo. A plateia entra em um alvoroço ao perceber a situação.
E eu fico congelada, no centro do palco sem luz.
O primeiro tiro silencia todos, exceto os passos dos invasores, que ecoam ameaçadores pelo o teatro enquanto gritam ordens.
— TODO MUNDO PARA BAIXO, PORRA! AJOELHA! — Um deles grita e eu automaticamente vão ao chão do palco.
Eu tento me esconder atrás de uma das pilastras. Meu corpo inteiro treme, mas minha mente trabalha em um turbilhão. A única coisa que consigo pensar nessa situação é que… não posso ser vista. Não posso ser pega.
São terroristas. Seus uniformes que lembram os de militares revelam isso. Eles estão aqui para algo grande, não é apenas um assalto. Como filha de políticos, sei exatamente o que isso significa. Reféns, barganhas. Eu seria a moeda perfeita…
Eu respiro com dificuldade enquanto tento pensaria em uma solução.
Minha única chance é a saída escondido do escritório de Julien. É o que me dizem os instintos.
Preciso me mover.
Desço do palco, cada passo uma luta contra o terror que ameaça me paralisar. Os sons ao meu redor – gritos, ordens, passos pesados – parecem distantes. Minha única realidade é o caminho que me leva ao escritório.
Não quero pensar no quão cruel esses homens podem ser. Em tudo o que podem fazer comigo ou com as outras garotas. Eles podem me machucar seriamente. Eu preciso conseguir sair e pedir ajuda.
Ajuda a quem? O teatro é rodeado pela floresta, eu teria que correr por alguns minutos até chegar na área habitada.
Eu poderia pegar meu carro, mas a chave está nos meus armários e seria muito arriscado correr até lá.
O que eu faço?
Chego ao escritório de Julien e rapidamente localizo a porta. A maçaneta está fria contra meus dedos suados. Giro-a, tentando ser o mais silenciosa possível, mesmo quando minhas mãos estão trêmulas e minha respiração pesada. Mas antes que eu possa abrir, sinto uma mão puxar meu cabelo com força.
O grito escapa antes que eu consiga segurá-lo. O coque se desfaz, e meus cabelos caem sobre os ombros enquanto lágrimas surgem nos meus olhos enquanto a grande mão segura a minha nuca, fazendo meu couro cabeludo arder.
— Você achou que ia fugir, gatinha? — A voz é grossa, carregada de sarcasmo e crueldade.
Eu choro, o desespero latente em cada nervo sob a minha pele. Me debato nos braços dele, porém o brutamontes me arrasta pelo cabelo, me fazendo tropeçar e cair. Cada puxão é uma onda de dor que me faz cerrar os dentes, mas eu me recuso a ceder.
Isso não pode estar acontecendo… eu estava tão perto…
Ele me leva de volta ao palco, onde os outros reféns já estão reunidos. Estão todos ajoelhados, com as mãos na cabeça. O terror nos olhos deles é um espelho do meu.
O homem me empurra com brutalidade, e caio de joelhos. Minha testa b**e no chão com força, arrancando um gemido de dor.
— Olha só o que eu peguei tentando fugir pelos fundos. — Ele diz rindo, enquanto outros homens armados se aproximam.
Eu prendo a respiração, me apoiando nas minhas mãos doloridas para olhar para eles. Um deles para na minha frente, suas botas pretas e pesadas sendo a primeira coisa que noto.
Um deles para na minha frente. Ele é mais alto, com uma postura que transborda autoridade.
Meus olhos sobem em direção a seu rosto. Ele, assim como todos os outros, usa uma balaclava que revela apenas olhos azuis e gelados. Ele me analisa, e sinto como se estivesse bebendo a minha alma.
— O que fazemos com ela, Kai? — O brutamontes que me trouxe até aqui pergunta ao homem que me analisa.
Kai. Então esse é o nome dele. Ele me olha como se eu fosse uma peça de xadrez, algo a ser calculado e manipulado. Sua expressão não revela nada e é assustador.
— Pode deixar que eu cuido dela. — Ele diz, sua voz baixa, mas carregada de uma promessa que me faz arrepiar da cabeça aos pés.
O medo toma conta de mim, pulsando em cada fibra do meu ser.
Capítulo 2As luzes retornam abruptamente, ofuscando meus olhos ainda marejados. Antes mesmo que eu possa reagir, sinto dedos firmes ao redor do meu braço. O homem que ouvi ser chamado de Kai está me puxando, com um controle que faz meu coração bater ainda mais rápido. Ele não diz nada enquanto me arrasta até o palco, onde vejo o restante dos reféns já reunidos, todos amarrados. O ar está carregado de pânico, gritos abafados e soluços.Ele me faz sentar ao lado de uma pilastra. Sua mão aperta meu ombro para me manter imóvel enquanto ele pega cordas e amarra meus pulsos e tornozelos. O tecido áspero arranha minha pele, mas não ouso reclamar. Estou tremendo, tentando conter o que parece ser o início de uma crise de pânico.Quando Kai termina, ele permanece ajoelhado na minha frente. Seus olhos percorrem meu rosto e, por um momento, penso ver algo mais ali – talvez curiosidade, talvez dúvida. Ele inclina a cabeça levemente, e então sua mão se move para o colar que pende no meu pescoço.O
O ar ao meu redor parece sufocante, como se cada respiração que eu tentasse tomar fosse interrompida pelo medo, que nesse momento parece estar materializada como uma pedra no meu peito. Kai me guia pelo corredor estreito, suas mãos firmes segurando meu braço, mas não apertado. Há algo estranhamente reconfortante em seu toque, e eu não sei dizer o porquê. Ele está calado, o que pode deixar tudo ainda mais perturbador, no ponto de vista de uma vítima. Talvez ele só esteja pensando em coisas triviais, Amélie…Tento me acalmar, evitando lembrar da forma brusca em que ela arrancou o colar do meu pescoço. Quando chegamos ao banheiro, ele abre a porta com cuidado, mas não me solta imediatamente, olhando dentro do cômodo com um olhar aguçado. Então seu olhar parece pesar sobre mim quando me solta, avaliando cada movimento meu, como se pudesse prever o que eu faria. — Entre. — Ele diz, sua voz baixa, quase um sussurro. Eu entra, porém meus pés criam raízes no chão quando percebo a situaçã
O palco, que antes significava o lugar em que eu realizava meus sonhos, agora vem se transformando em um espaço sombrio e opressor. O som de murmúrios e suspiros abafados se mistura com os passos apressados dos terroristas. Kai me colocou em seu casaco na floresta e me trouxe de volta para dentro. Ele deu desculpas para a nossa demora. Os outros me olharam estranho, mas não ousaram questionar Kai.Ele me colocou de volta no meu lugar, encostada na pilastra. Alguns minutos depois, trouxeram uma Noemie muito machucada e a jogaram junto dos outros. Eu não ousei olhar muito tempo em sua direção, não querendo imaginar o quanto a machucaram e muito menor deixar a culpa me corroer. Voltaram a negociar normalmente com o governo através de celulares descartáveis depois que perceberam que não há ninguém de grande valor entre nós. O que é um verdadeiro alívio para mim. A atmosfera permanece densa enquanto o relógio avança, levando-nos para o coração da madrugada. Eu estou aqui, amarrada novame
Capítulo 5Ele beija o meu pescoço. E eu arfo. — Você… — Minha voz soa um sussurro perdido no momento, enquanto as sensações estranhas tomam conta do meu corpo.Sensações que eu não deveria sentir. Pelo menos não por um criminoso. — O que tem eu?Eu suspiro, lutando com as borboletas idiotas que se agitam no meu estômago.— Você cheira a dias chuvosos… — É tudo o que eu consigo dizer quando a minha mente se fragmenta.A parte sensata está escondida, apenas observando de longe, mas há uma fita em seus lábios que a impedem de gritar para que eu ouça. Ela sempre esteve dominando e agora sente o quão ruim é ser dominada pela outra parte da minha consciência. Ele sorri contra a minha pele. Sinto sua mão deslizar pelas minhas costas, me pressionando ainda mais fortemente contra seu corpo duro e quente.Nunca senti um homem tão forte pressionado contra mim. É como se seus músculos fossem de pedras.Isso me diz mais sobre ele do que ele gostaria que eu soubesse. A tensão entre nós cresce
Capítulo 6O corpo de Kai é quente enquanto me carrega até o banheiro. Eu não tenho forças para andar sozinha. E eu sou uma dançarina… não consigo deixar de pensar no quão ferrada eu estou. Ele me deixa dentro de uma das pequenas cabines do chuveiro, fechando a porta para me dar privacidade. Em poucos segundos a água quente escorre pelo meu corpo, lavando as marcas do que acabara de acontecer. Observo, em silêncio, os vestígios do seu toque e de tudo o que havíamos feito desaparecer na água, seu esperma misturado com o meu próprio sangue. A dor ainda está presente, mas a sensação de estranheza domina minha mente. Não sou mais virgem. E apesar de nunca ter me apegado demais a esse termo, eu me sinto nua agora que ele foi tirado de mim. Por mais que eu queira me afastar de tudo isso, algo dentro de mim está confuso, atraído. Eu sei o que aconteceu, mas não sei o que eu realmente sinto sobre isso. Lá fora, Kai está se limpando. Eu posso ouvir seus movimentos, sua respiração, enquan
Capítulo 7Acordo com um choque. Não um susto comum, mas algo brutal e violento. Minhas roupas são agarradas com força, minha gola quase estrangulando meu pescoço enquanto sou erguida sem cerimônia dos assentos.Um grito escapa da minha garganta quando percebo um dos terroristas me agarrando, seus olhos brilhando com raiva.— Você devia ter nos contado! — Ele rosna na minha cara, e mesmo que esteja usando a máscara, eu me sinto aterrorizada.Meus músculos estão completamente tensionados, eu tento me afastar dele, me questionando o que diabos aconteceu enquanto eu dormia.— Temos que nos livrar dessa puta! — Ele grita para os outros, sua voz carregada de ódio e impaciência.Ele me segura como se eu fosse um lixo e estivesse prestes a me descartar. Um arrepio percorre a minha espinha, como se cada célula do meu corpo percebesse o perigo iminente.Um empurrão violento me joga contra a parede. Minha cabeça bate no concreto, e a dor lateja instantaneamente, mas meu pânico é maior do que qu
Capítulo 8 A palma da minha mão está úmida quando Kai a segura. Ele me guia de volta ao centro do teatro, onde o restante dos terroristas e reféns aguardam.A tensão é quase palpável. Os reféns estão amontoados, alguns em lágrimas, outros encarando o vazio com olhos mortos. Um calafrio percorre a minha espinha. Sou como eles, e ao mesmo tempo não sou.Será que eles notam a minha relação com Kai? Será que me culpam por não estar amarrada como eles, sofrendo lentamente como eles? Eles não são apenas outros reféns como eu para mim. Meu professor de balé está entre eles. Minhas colegas de dança. Jurados que eu estudei a vida inteira para lhes causar uma boa impressão. É muito triste como agora todos foram rebaixados ao mesmo título. Reféns. Porque mesmo que eu seja isso também, é notável a mão de Kai na minha, a forma como seu corpo se coloca na frente do meu de forma protetora. Os outros terroristas nos encaram, seus olhos passando de nossas mãos unidas até nossos rostos. — Estamos
Capítulo 9 O cheiro de pólvora e suor misturam-se ao ar pesado, carregado pela tensão crescente. O colete falso aperta em meu peito, repleto de dispositivos que devem parecer com bombas, quase como se fosse real. E a arma pressionada contra a minha têmpora parece mais fria a cada segundo.Não importa se é apenas a mão de Kai a pressionando contra mim, nem que ele esteja fazendo movimentos circulares nas minhas costas para me manter calma. Ainda é aterrorizador.Cada passo para fora do teatro é um ato de resistência contra o pânico que ameaça me dominar.— Continue andando, Amélie. — Kai sussurra atrás de mim, sua voz baixa e firme. Estranhamente reconfortante. — Lembre-se, eles precisam pensar que você está correndo perigo, que está com medo de mim. Que eu posso te machucar e isso a aterroriza, está bem?Meu corpo inteiro treme. Estou com medo. Mas não dele. Oh, céus. Não de Kai, mesmo sabendo o quão cruel ele pode ser com suas outras vítimas. Saber que é ele quem está aqui comigo é