Capítulo 7
Acordo com um choque. Não um susto comum, mas algo brutal e violento. Minhas roupas são agarradas com força, minha gola quase estrangulando meu pescoço enquanto sou erguida sem cerimônia dos assentos.
Um grito escapa da minha garganta quando percebo um dos terroristas me agarrando, seus olhos brilhando com raiva.
— Você devia ter nos contado! — Ele rosna na minha cara, e mesmo que esteja usando a máscara, eu me sinto aterrorizada.
Meus músculos estão completamente tensionados, eu tento me afastar dele, me questionando o que diabos aconteceu enquanto eu dormia.
— Temos que nos livrar dessa puta! — Ele grita para os outros, sua voz carregada de ódio e impaciência.
Ele me segura como se eu fosse um lixo e estivesse prestes a me descartar. Um arrepio percorre a minha espinha, como se cada célula do meu corpo percebesse o perigo iminente.
Um empurrão violento me j**a contra a parede. Minha cabeça b**e no concreto, e a dor lateja instantaneamente, mas meu pânico é maior do que qualquer coisa que meu corpo esteja sentindo. Minha visão oscila enquanto tento desesperadamente me firmar.
— Você não vale o risco que estamos correndo! — Ele continua, gesticulando como um louco, seus passos pesados ecoando no teatro abandonado.
— Espera! — Outra voz interrompe, cortante. — Não podemos simplesmente nos livrar dela. Não ainda.
Meu olhar vacila até o outro homem, mais calmo, mas não menos ameaçador. Ele parece medir o impacto de suas palavras, um calculista em meio ao caos.
— Ela vale dinheiro. Talvez mais do que todas as nossas outras exigências juntas. — Ele cruza os braços, inclinando a cabeça como se estivesse pensando em uma negociação suja.
Eu sinto meu estômago virar. Não sou mais uma pessoa. Sou um preço. Uma moeda de troca.
— Isso não importa se nos pegarem antes! — O primeiro grita de volta, apontando para mim como se eu fosse uma praga. Ele avança novamente, e um grito preso fica entalado na minha garganta.
De repente, um corpo se interpõe entre nós. Kai.
— Encosta nela de novo e eu acabo com você, — Ele diz, a voz baixa e letal, mas firme. É a primeira vez que vejo o terrorista hesitar, seus punhos cerrados enquanto encara Kai.
Meu coração martela, mas agora por outro motivo. Não sei o que me assusta mais: o homem furioso na minha frente ou a sombra protetora que Kai projeta sobre mim.
— Já sabem. — Kai diz, cortando a discussão com algo que soa como um aviso sombrio.
— Como assim, sabem? — O homem calculista pergunta, cruzando os braços.
Kai se vira ligeiramente para ele, mas não o suficiente para que eu perca o escudo que ele oferece.
— O contato foi feito. As autoridades sabem que temos ela. Sabem quem ela é. Eles exigem a filha do deputado Moreau de volta. Estão nos encurralando de todos os lados, o teatro está cercado.
Meu corpo treme ao ouvir isso. As palavras me atingem como uma verdade inevitável, fria e devastadora.
— É agora que a diversão começa? — Noémie diz no seu estado mais deplorável, amarrada no chão com alguns machucados no rosto.
Seu tom goteja veneno, e a maneira como seus olhos me examinam faz minha pele queimar de vergonha e medo.
— A diversão acabou, — Kai rebate, e há um tom de ameaça clara na voz dele. Ele gira levemente o corpo, me envolvendo ainda mais, como se seu único propósito fosse bloquear o mundo de mim.
Noémie sorri, zombeteira, mas parece ficar quieta.
— Eu não vou deixar ninguém machucar você, — Kai diz, e dessa vez, é para mim.
As lágrimas escorrem pelo meu rosto, mas eu assinto, acreditando cegamente naquela promessa. É irracional, mas, naquele momento, é tudo o que tenho.
Enquanto eles discutem ao fundo, Kai se abaixa levemente e sussurra para mim: — Fique perto de mim.
Eu o faço, porque não há mais nenhuma alternativa. Meu mundo, minha liberdade e talvez até minha vida dependem de quem eu menos esperava.
A tensão na sala diminui um pouco depois da intervenção de Kai. O homem furioso lança um último olhar de ódio para mim antes de se afastar, resmungando algo ininteligível. Ainda assim, o ar continua pesado, como se todos estivessem à beira de um novo colapso.
Eu permaneço imóvel, sentindo minhas pernas bambas e a cabeça latejando da pancada. Kai permanece ao meu lado, mantendo-se como uma barreira entre mim e os outros.
— Isso foi arriscado. — Comenta o homem mais calculista, encarando Kai com um olhar frio. — Espero que saiba o que está fazendo.
— Só cuide da sua parte. — Kai retruca, a voz baixa, mas carregada de autoridade.
O silêncio que se segue é perturbador, quase surreal. O som dos passos ecoam no teatro enquanto os terroristas reorganizam suas posições e murmuram entre si.
Finalmente me permito respirar fundo, tentando acalmar os tremores em meu corpo. Eu sinto a mão de Kai deslizar na minha, seu polegar acariciando a minha palma como um consolo.
Suspiro e encosto minha testa nas suas costas, tentando lidar com as batidas do meu coração.
Essa calma logo é interrompida pelo som repentino de disparos à distância, seguido por gritos.
— Invadiram! — Alguém grita e um barulho ensurdecedor de disparos começa.
Os gritos e o som das balas preenchem o ar quando uma fumaça começa a se espalhar pelo teatro. O gás arde os meus olhos, obrigando-me a cobrir o rosto com as mãos enquanto tusso desesperadamente.
Mas o que está acontecendo?
Eu posso ouvir os passos apressados e o caos se desenrolando ao meu redor, o pânico entre o resto dos reféns misturado com o desespero dos terroristas em manter o controle.
Não consigo ver nada além de sombras e borrões entre a fumaça, mas sinto quando mãos grandes agarram meu braço com força, puxando-me sem cuidado.
— Se mexa! — O tom de Kai é rude, mas seu corpo contra o meu parece mais protetor do que agressivo.
Eu tropeço, quase caindo enquanto ele me puxa para o centro do palco. A fumaça começa a se dissipar quando percebo a cena: alguns dos terroristas estão caídos, baleados, enquanto outros gritam instruções desconexas. O chão manchado de sangue parece vibrar sob meus pés.
Kai está armado, me protegendo com seu corpo, criando uma barreira para mim, onde fico entre ele e o resto dos reféns. Eu o agradeço mentalmente, ignorando a forma como ele pega a sua arma, preparado para matar.
De repente sinto uma mão puxar meu cabelo, forçando a minha cabeça para trás. Um grito involuntário escapa pelos meus lábios quando a dor se espalha por minha nuca.
— Peguei você, vadia! — Noémie está de pé, pressionando uma faca contra a minha garganta.
Eu arregalo os olhos, completamente desacreditada de que seja ela quem esteja fazendo isso.
Kai se vira imediatamente na nossa direção.
— Recue ou ela morre! — Ela berra para Kai, sua voz carregada de ódio.
Ela pressiona a lâmina mais fortemente contra o meu pescoço e eu solto um gemido assombrado. Olho para Kai, meus olhos refletindo o meu pânico nesse momento.
Noémie não faria isso. Ela só pode estar desequilibrada.
— Kai! — Eu exclamo, minha voz embargada pelo terror. — Kai… — Minha voz soa trêmula, meu coração acelerado.
Nunca senti tanto medo antes.
Está literalmente acontecendo o caos ao meu redor. O teatro está sendo encurralado e está tendo um embate entre os terroristas e os policiais que vieram nos salvar, e agora Noémie está tentando me matar.
Eu quero questionar o porquê de ela estar fazendo isso. Eu quero tentar acalma-la, mas tudo o que eu consigo pensar é em como Kai pode ser facilmente atingido. Os policiais não vão ter dó dos terroristas, eu sei disso pois há alguns corpos já no chão. E mesmo que ele esteja me mantendo cativa, eu não…
Não quero que ele morra…
Ele vê o desespero em meus olhos e isso parece ser o gatilho necessário para agir.
Sem pensar muito, ele dá um tiro em Noemie, que grita e me solta em um movimento brusco. Eu solto um gritinho quando o sangue é lançado na minha direção. Tão rápido quanto agiu, Kai me puxa para seu corpo e volta a mirar em Noémie.
Ela está no chão, os olhos arregalados de dor enquanto pressiona a palma da mão contra o ombro.
— O próximo tiro vai ser na cabeça se você tentar machucar ela novamente. — Ele diz e segura a minha mão.
Sou puxada para fora do palco, longe dos tiros, de volta ao corredor onde alguns dos terroristas estão escondidos. Eu consigo ouvir vocês no auto falante, os policiais estão mandando os reféns ficarem tranquilos, que seremos todos resgatados. Mas então uma vez conhecida surge e meu corpo congela no meio do caminho.
— Filha! Filha, eu estou indo resgatar você! Nos dê um sinal de que você está bem, qualquer coisa! — Meu pai grita no alto-falante e Kai se vira para me encarar.
Um dos terroristas por perto puxa um rádio do bolso.
— Vamos machucar a sua filha se você não mandar esses merdas recuarem agora, Moreau! Mande seus ratos de merda recuarem ou vou enfiar o cano da minha arma na guela da sua filha! — Ele grita raivoso no telefone, mas não se aproxima quando Kai me envolve em seus braços.
Um arrepio percorre o meu corpo com a crueldade das suas palavras, mas Kai me embala.
— Shh… eles não vão te machucar…
Meu corpo não consegue se acostumar a essa ideia, mas me permito ficar quieta.
— Me deixe falar com ela! Me deixe ouvir a voz dela e eu prometo que vamos recuar! — Meu pai responde, dessa vez pelo rádio de um dos terroristas.
Ele sorri, olhando na minha direção.
— Deixa o papai dela ouvir a voz da princesinha dele, Kai. — O homem j**a o rádio na nossa direção e Kai o pega no ar com uma facilidade impactante.
— Diz para o seu pai recuar. — Ele diz para mim, colocando o rádio muito perto do meu rosto.
Olho em seus olhos. Ele assente, me incentivando a fazer isso e com as mãos trêmulas, eu seguro o rádio, apertando o botão.
— Pai… — Sussurro e ouço o chiado que se segue.
— Filha… — O alívio escorre por sua voz. — Minha filha? Você está bem?
Lágrimas surgem em meus olhos. Mesmo que só tenha passado algumas horas, sinto como se o mundo estivesse sobre os meus ombros.
Completamente sobrecarregada.
— Pai, eu estou bem… mas você precisa recuar. Caso contrário eles vão revidar, pai. Por favor, recue.
O silêncio me contempla por alguns segundos, mas então o chiado anuncia a sua resposta:
— Eu vou te tirar daí, eu prometo. Você vai sair segura, filha.
Eu não consigo conter as lágrimas e é quando Kai toma o rádio das minhas mãos.
— Você tem cinco minutos para fazer eles recuarem. Recuem agora! — Ele rosna irritado e então j**a o rádio de volta para seu colega.
Meus ombros tremem à medida que o som de balas se dispersam. O caos dá uma pausa. Os policiais recuam, imagino que com relutância, enquanto os terroristas retomam o controle. E enquanto tudo isso acontece, Kai permanece esfregando minhas costas, como se soubesse que posso desabafar a qualquer instante.
Eu nem quero imaginar como está o cenário no palco. A quantidade de corpos quando ainda havia fumaça já era assustadora, agora que a fumaça se dissipou…
Meu coração dói com o pensamento.
Eu ouço a respiração pesada de Kai e ergo uma sobrancelha, curiosa. Quando me viro em sua direção, noto seus olhos franzidos em algo que parece dor.
Mas… por que?
Dou uma boa olhada nele, minhas mãos em sua cintura. Só vou entender o motivo da sua expressão quando tiro a minha mão do seu corpo. O sangue cobre a minha pele pálida e arregalo os olhos. A mancha vermelha em sua roupa me assusta, pois não é apenas uma sujeira comum, não, ele está sangrando.
Kai está machucado!
— Meu Deus… — Minhas mãos tremem enquanto tento analisar a sua ferida. — Como isso… aconteceu?
Ele segura as minhas mãos, impedindo-as de tentarem tocar nele.
— Nada demais. Só levei um tiro no momento em que aquela fumaça começou a se espalhar. Na hora em que eles dispararam. — Diz como se não fosse nada demais, me dispensando ao soltar as minhas mãos e começar a andar pelo corredor, em direção ao palco para se juntar aos outros.
— O que? Não, Kai! — Seguro a barra da sua camiseta.
Ele suspira, irritado.
— Eu estou bem, Amélie! Eu já aguentei coisa pior do que isso.
O sondo, ainda bastante preocupada, mesmo que ele diga coisas assim.
— Me deixe cuidar disso… — Digo baixinho, meus olhos encontrando os seus em um pedido silencioso.
Algo em sua expressão parece suavizar e ele suspira, ainda não muito convencido. Quando ele assente, eu me sinto aliviada e seguro a sua mão, o guiando até o banheiro.
É um pouco estranho ser a pessoa que cuida dele agora, depois de constantemente ter sido o contrário. Eu o coloco em um banco e me sento na sua frente.
No banheiro não tem exatamente equipamentos médicos, mas o suficiente para uma bailarina tratar um machucado que pode ocorrer com frequência. Com a maleta de primeiros socorros e um pano úmido, eu ergo a sua camiseta.
A visão é de perder o fôlego. Kai é muito bonito. Disso eu nunca tive dúvida, mesmo sem ver seu rosto. É como se tudo nele exale esse ar de homem imponente e bonito. Mas ver assim… eu não estava esperando.
Seu abdômen definido me cumprimenta. Sua pele é levemente bronzeada, um contraste gritante com a palidez da minha.
Meus dedos tocam suavemente sua pele antes que eu perceba o que estou fazendo, me parando no mesmo instante.
Quando olho para Kai, ele está claramente sorrindo, me observando em silêncio.
— Você tem uma forma diferente de cuidar dos seus pacientes, bailarina.
Sorrio. Olho para seu machucado e um arrepio percorre a minha espinha.
— Eu nunca cuidei de uma pessoa que levou um tiro. — Admito, envergonhada demais para olhar em seus olhos.
Eu sinto os olhos de Kai em mim, calmos e sereno como a maioria das vezes.
— A bala atravessou. Apenas limpe e estanque o sangue. Só tenho que garantir que não vai infeccionar.
Assinto apressadamente, seguindo seus passos. Kai não reclama nem esboça alguma reação além de um franzir de cenho. É como se ele já estivesse acostumado a isso. E pensar nisso me deixa mais assustada.
Eu estou finalizando seu curativo, falando as bandagens sobre a sua cintura, garantindo que seu sangue não vai ultrapassar ficar vazando.
— Isso não precisa continuar. — Sussurro, interrompendo o silêncio. Não olho em seus olhos. — Se fizer um acordo com o meu pai, ele irá ceder. Ele vai dar o dinheiro, fazer o que vocês quiserem, até mesmo garantir que consigam sair daqui sem problemas. Por favor… me deixe ir.
Eu peço isso em um apelo. Não apenas por mim, mas também por ele. Eu sei até onde isso vai continuar. Eles não vão desistir até conseguir o dinheiro e os policiais não irão parar até nos resgatar.
Kai não me responde. Seu silêncio é mais ensurdecedor do que qualquer palavra.
— Eu não quero que você se machuque. — Murmuro, quase inaudível.
Mal acredito que estou dizendo isso para ele, para alguém que faz parte de toda essa situação, e definitivamente não como uma vítima.
Finalmente, levanto meus olhos para ele. Seu olhar é intenso, quase gentil, enquanto afasta uma mecha de cabelo do meu rosto.
— Eu ainda vou te ver dançando de novo, bailarina. — É tudo o que ele diz e eu não consigo entender.
Antes que eu possa questionar, um dos outros terroristas entra abruptamente no banheiro.
— Temos um plano. — Um sorriso cruel se forma em seus lábios. — E vai funcionar.
Eu sinto um calafrio percorrer a minha espinha. Há algo em s
eu tom que me enche de pavor. Seus olhos se voltam para Kai, esperando. Kai não demonstra muito, exceto uma hesitação antes de estender a mão na minha direção.
— Vamos. — Sua voz soa firme demais.
Como se quisesse avisar: esteja preparada.
Capítulo 8 A palma da minha mão está úmida quando Kai a segura. Ele me guia de volta ao centro do teatro, onde o restante dos terroristas e reféns aguardam.A tensão é quase palpável. Os reféns estão amontoados, alguns em lágrimas, outros encarando o vazio com olhos mortos. Um calafrio percorre a minha espinha. Sou como eles, e ao mesmo tempo não sou.Será que eles notam a minha relação com Kai? Será que me culpam por não estar amarrada como eles, sofrendo lentamente como eles? Eles não são apenas outros reféns como eu para mim. Meu professor de balé está entre eles. Minhas colegas de dança. Jurados que eu estudei a vida inteira para lhes causar uma boa impressão. É muito triste como agora todos foram rebaixados ao mesmo título. Reféns. Porque mesmo que eu seja isso também, é notável a mão de Kai na minha, a forma como seu corpo se coloca na frente do meu de forma protetora. Os outros terroristas nos encaram, seus olhos passando de nossas mãos unidas até nossos rostos. — Estamos
Capítulo 9 O cheiro de pólvora e suor misturam-se ao ar pesado, carregado pela tensão crescente. O colete falso aperta em meu peito, repleto de dispositivos que devem parecer com bombas, quase como se fosse real. E a arma pressionada contra a minha têmpora parece mais fria a cada segundo.Não importa se é apenas a mão de Kai a pressionando contra mim, nem que ele esteja fazendo movimentos circulares nas minhas costas para me manter calma. Ainda é aterrorizador.Cada passo para fora do teatro é um ato de resistência contra o pânico que ameaça me dominar.— Continue andando, Amélie. — Kai sussurra atrás de mim, sua voz baixa e firme. Estranhamente reconfortante. — Lembre-se, eles precisam pensar que você está correndo perigo, que está com medo de mim. Que eu posso te machucar e isso a aterroriza, está bem?Meu corpo inteiro treme. Estou com medo. Mas não dele. Oh, céus. Não de Kai, mesmo sabendo o quão cruel ele pode ser com suas outras vítimas. Saber que é ele quem está aqui comigo é
Capítulo 10Alguns dias depois— Na noite de 17 de Novembro um grupo de terroristas invadiu o Teatro Coliseum e fez cerca de 22 pessoas de reféns, dentre elas as bailarinas que se apresentavam, o diretor de dança Julien Armand, a filha do deputado Moreau e cinco jurados que avaliavam o desempenho das jovens naquele momento. Durante a madrugada eles tentaram acordos com a polícia para trocar os reféns por dinheiro. No dia seguinte conseguiram um acordo com o deputado Moreau para que conseguissem fugir em troca da filha do deputado. — O homem começa a apresentar a reportagem.É a mulher sentada ao seu lado quem continua:— Eles entraram em um acordo e colocaram coletes bombas em todos os reféns, inclusive na bailarina Amélie Moreau. O problema ocorreu quando ao fazer a troca e enquanto os terroristas fugiam, uma equipe de desarmamento de bombas constatou que o colete em Amélie era falso. Logo, todos presumiram que as bombas em coletes eram apenas um blefe dos criminosos.— Conseguiram de
Capítulo 11Meu coração quase para quando o vejo, sentado no banco do motorista ao meu lado, como uma sombra sólida em meio ao caos que é a minha mente. Por um instante, acho que estou sonhando, que minha saudade e desespero estão criando essa visão.— Kai… — O nome dele escapa dos meus lábios em um sussurro trêmulo, carregado de choque e incredulidade. Ele está vivo. Ele está mesmo aqui.— Bailarina… — A voz dele soa rouca, mas há algo nela que faz meu peito apertar ainda mais.Eu sinto a força que sempre o definiu, mas agora há uma suavidade que eu não esperava. Eu não consigo me mexer. Estou paralisada, presa entre a realidade e os fantasmas dos últimos dias. Minhas mãos começam a tremer quando tento formar palavras, mas minha garganta trava.— Eu pensei… pensei que você podia ter… — Minha voz falha junto com uma batida do meu coração. Eu não consigo dizer. Não consigo pronunciar as palavras, como se ao fazer isso eu pudesse atraí-las de volta para a realidade. Ele se vira comp
Capítulo 12O domingo está ensolarado, mas meu humor se encontra em uma mistura de ansiedade e distração. Sentada à mesa de jantar com meus pais, eu me esforço para parecer normal, mas minha mente está longe dali. Meus pensamentos giram em torno de Kai — ou, mais precisamente, de como ele dominou minha mente desde a noite passada. Eu sei que não deveria pensar nele desse jeito, mas parece inevitável. E de certa forma, isso faz com que eu me sinta suja. Como uma pessoa que sabe que está fazendo algo terrivelmente errado e não consegue parar. Qualquer pessoa normal teria o denunciado assim que ele apareceu novamente. Não é certo proteger um criminoso. E menos ainda se masturbar até gozar e dormir pensando nele. — Você parece diferente… algo aconteceu? — Minha mãe, sempre observadora, inclina a cabeça levemente, analisando-me. A pergunta me pega desprevenida. Engasgo com a água que acabei de beber, tossindo enquanto tento recuperar a compostura. As imagens de como me toquei ontem a n
Capítulo 13Estou congelada, meu cérebro tentando assimilar o que está acontecendo. Ele não podia ser… não aqui, não desse jeito…Mas a minha mente ignora quaisquer protestos que a minha racionalidade grita ao perceber que ele está sem a balaclava, se mostrando para mim agora.Malakai…Ele continua me encarando, sua mão estendida na minha direção com o olhar astuto. Lentamente, e bem lentamente, coloco a minha mão sobre a sua, sem nunca desviar meu olhar do seu.— Amélie… Amélie Moreau… — Limpo a garganta e eu nem sei porque estou me apresentando.Seus olhos sorriem e sua palma aperta a minha como se quisesse me firmar na realidade. — O que… você está fazendo aqui? — Consigo dizer, mas minha voz sai mais alto do que eu esperava, traindo minha confusão. Vejo o momento em que ele lambe os lábios, erguendo uma sobrancelha como se a resposta fosse óbvia, ao mesmo em que me desafia a dizer o contrário.— Seu pai me contratou. Ele acha que você precisa de proteção, e eu tenho certeza de q
Capítulo 14Deitada de bruços em minha cama, sinto o peso do mundo em meus ombros enquanto o cursor pisca incessantemente na tela do notebook, como se zombasse da minha indecisão. Meus dedos passam pelos fios soltos do cobertor, tentando encontrar algum tipo de conforto ou resposta neste gesto.O email está aberto, lido e relido incontáveis vezes. Uma aprovação que parecia um sonho distante antes… e que agora me aterroriza. A faculdade de dança mais prestigiada do país. Uma oportunidade que eu sempre quis. Então por que parece tão difícil digitar uma resposta? “Eu agradeço pela oportunidade, vou dar o meu melhor.”Só preciso responder isso, mas assim que escrevo, apago rapidamente.Suspiro, enterrando o rosto no travesseiro. Minhas mãos tremem, como se meu corpo estivesse dividido entre a excitação e o medo. Tudo mudou tão drasticamente no último mês que essa nova chance agora me parece… deslocada, fora de lugar. Como se não fosse mais para mim. E talvez não seja. Uma presença famil
Capítulo 15Acordo com o estômago revirando. Nem tenho tempo de entender o que está acontecendo antes de sair correndo em direção ao banheiro. Minhas pernas estão bambas, e tudo o que eu consigo pensar é em chegar lá antes que seja tarde. Me ajoelho diante do vaso sanitário, segurando a borda fria com uma mão enquanto a outra aperta meu abdômen. O gosto amargo toma minha boca quando o enjoo finalmente se transforma em vômito.Quando termino, fico ali, parada, com a testa encostada no braço. Minha respiração está pesada, e meu coração bate tão rápido que parece querer escapar do meu peito. Meu corpo inteiro está fraco, como se eu tivesse corrido uma maratona.Finalmente, me sento no chão gelado do banheiro e fecho os olhos por um momento, tentando recuperar o fôlego. A memória da noite passada surge na minha mente, como flashes de um sonho distante. Lembro da pizza que dividi com Kai no sofá depois que chegamos e tomamos banho. Também comemos alguns doces, o que provavelmente desenca