Capítulo 15Acordo com o estômago revirando. Nem tenho tempo de entender o que está acontecendo antes de sair correndo em direção ao banheiro. Minhas pernas estão bambas, e tudo o que eu consigo pensar é em chegar lá antes que seja tarde. Me ajoelho diante do vaso sanitário, segurando a borda fria com uma mão enquanto a outra aperta meu abdômen. O gosto amargo toma minha boca quando o enjoo finalmente se transforma em vômito.Quando termino, fico ali, parada, com a testa encostada no braço. Minha respiração está pesada, e meu coração bate tão rápido que parece querer escapar do meu peito. Meu corpo inteiro está fraco, como se eu tivesse corrido uma maratona.Finalmente, me sento no chão gelado do banheiro e fecho os olhos por um momento, tentando recuperar o fôlego. A memória da noite passada surge na minha mente, como flashes de um sonho distante. Lembro da pizza que dividi com Kai no sofá depois que chegamos e tomamos banho. Também comemos alguns doces, o que provavelmente desenca
Capítulo 16O corredor da delegacia parece mais estreito a cada segundo. O ar está pesado, e as luzes fluorescentes acima de mim piscam como se quisessem contribuir para minha crescente ansiedade. Eu caminho de um lado para o outro, os saltos das minhas botas ecoando no piso frio e me deixando ainda mais ansiosa. Minha mente está um caos, atordoada pelo que está acontecendo com a minha família.— Em dois meses você vai estar longe daqui. — A voz de Kai ressoa como um trovão calmo, e a naturalidade com que ele diz isso me pega desprevenida. Ele está encostado contra a parede, os braços cruzados, a expressão impassível no rosto. Como se tudo isso não fosse nada.Eu paro de andar bruscamente e viro para ele, sentindo o meu corpo inteiro em chamas.— É só isso pra você? — Minha voz treme, tanto de frustração quanto de desgosto. — Meu pai está sendo acusado de crimes horríveis!Kai levanta uma sobrancelha, como se estivesse me desafiando a dizer mais alguma coisa. Sua postura é quase casu
Capítulo 17~1 mês depois~Tudo parece girar em um ciclo interminável, como se minha vida tivesse sido colocada em um carrossel que nunca para. Um mês se passou, mas não há sinais de que algo realmente mudou. Minha mãe e eu seguimos desempenhando o papel de mulheres destruídas pela injustiça e inverdades, aparecendo em conferências e programas de TV, sempre com expressões cuidadosamente ensaiadas de tristeza e esperança.Não que não estejamos realmente tristes com toda essa situação. Mas fazer isso em frente a câmeras é simplesmente uma forçação. O discurso é sempre o mesmo: queremos justiça, acreditamos na inocência do meu pai. O deputado Moreau jamais faria atrocidades como essas.Mas no fundo, eu não tenho certeza. Sempre que visito meu pai atrás das grades, enquanto seu julgamento está a caminho, ele parece o mesmo que me criou. Ainda me chama de “minha princesa”, como fazia quando eu era criança. Falamos sobre coisas aleatórias: o clima, o estado da casa, as notícias nos jornai
Capítulo 1O vento gelado entra por uma fresta na janela e passa pelo meu pescoço, me arrancando um leve arrepio. Tento ignorar, mas é impossível.Estou sozinha na sala de preparação, ajustando a fita da sapatilha com dedos trêmulos, não sei se pela temperatura ou pela ansiedade que me corrói desde que acordei hoje. A fita desliza entre os dedos, e faço o nó com mais força, como se aquele simples ato pudesse me manter ancorada à realidade.Esta noite é o meu sonho se tornando possível. Talvez. Respiro fundo, tentando afastar o peso desse “talvez”. Se eu conseguir impressionar os jurados hoje, pode ser a porta de entrada para academias internacionais, programas de aperfeiçoamento ou até mesmo uma chance de ser convidada para uma companhia profissional. Mais que isso, é minha chance de sair do rótulo de "filha dos políticos" e provar que tenho algo a oferecer por conta própria.Mesmo que todos sempre duvidam grosseiramente disso. O espelho na minha frente devolve meu reflexo, mas não pa
Capítulo 2As luzes retornam abruptamente, ofuscando meus olhos ainda marejados. Antes mesmo que eu possa reagir, sinto dedos firmes ao redor do meu braço. O homem que ouvi ser chamado de Kai está me puxando, com um controle que faz meu coração bater ainda mais rápido. Ele não diz nada enquanto me arrasta até o palco, onde vejo o restante dos reféns já reunidos, todos amarrados. O ar está carregado de pânico, gritos abafados e soluços.Ele me faz sentar ao lado de uma pilastra. Sua mão aperta meu ombro para me manter imóvel enquanto ele pega cordas e amarra meus pulsos e tornozelos. O tecido áspero arranha minha pele, mas não ouso reclamar. Estou tremendo, tentando conter o que parece ser o início de uma crise de pânico.Quando Kai termina, ele permanece ajoelhado na minha frente. Seus olhos percorrem meu rosto e, por um momento, penso ver algo mais ali – talvez curiosidade, talvez dúvida. Ele inclina a cabeça levemente, e então sua mão se move para o colar que pende no meu pescoço.O
O ar ao meu redor parece sufocante, como se cada respiração que eu tentasse tomar fosse interrompida pelo medo, que nesse momento parece estar materializada como uma pedra no meu peito. Kai me guia pelo corredor estreito, suas mãos firmes segurando meu braço, mas não apertado. Há algo estranhamente reconfortante em seu toque, e eu não sei dizer o porquê. Ele está calado, o que pode deixar tudo ainda mais perturbador, no ponto de vista de uma vítima. Talvez ele só esteja pensando em coisas triviais, Amélie…Tento me acalmar, evitando lembrar da forma brusca em que ela arrancou o colar do meu pescoço. Quando chegamos ao banheiro, ele abre a porta com cuidado, mas não me solta imediatamente, olhando dentro do cômodo com um olhar aguçado. Então seu olhar parece pesar sobre mim quando me solta, avaliando cada movimento meu, como se pudesse prever o que eu faria. — Entre. — Ele diz, sua voz baixa, quase um sussurro. Eu entra, porém meus pés criam raízes no chão quando percebo a situaçã
O palco, que antes significava o lugar em que eu realizava meus sonhos, agora vem se transformando em um espaço sombrio e opressor. O som de murmúrios e suspiros abafados se mistura com os passos apressados dos terroristas. Kai me colocou em seu casaco na floresta e me trouxe de volta para dentro. Ele deu desculpas para a nossa demora. Os outros me olharam estranho, mas não ousaram questionar Kai.Ele me colocou de volta no meu lugar, encostada na pilastra. Alguns minutos depois, trouxeram uma Noemie muito machucada e a jogaram junto dos outros. Eu não ousei olhar muito tempo em sua direção, não querendo imaginar o quanto a machucaram e muito menor deixar a culpa me corroer. Voltaram a negociar normalmente com o governo através de celulares descartáveis depois que perceberam que não há ninguém de grande valor entre nós. O que é um verdadeiro alívio para mim. A atmosfera permanece densa enquanto o relógio avança, levando-nos para o coração da madrugada. Eu estou aqui, amarrada novame
Capítulo 5Ele beija o meu pescoço. E eu arfo. — Você… — Minha voz soa um sussurro perdido no momento, enquanto as sensações estranhas tomam conta do meu corpo.Sensações que eu não deveria sentir. Pelo menos não por um criminoso. — O que tem eu?Eu suspiro, lutando com as borboletas idiotas que se agitam no meu estômago.— Você cheira a dias chuvosos… — É tudo o que eu consigo dizer quando a minha mente se fragmenta.A parte sensata está escondida, apenas observando de longe, mas há uma fita em seus lábios que a impedem de gritar para que eu ouça. Ela sempre esteve dominando e agora sente o quão ruim é ser dominada pela outra parte da minha consciência. Ele sorri contra a minha pele. Sinto sua mão deslizar pelas minhas costas, me pressionando ainda mais fortemente contra seu corpo duro e quente.Nunca senti um homem tão forte pressionado contra mim. É como se seus músculos fossem de pedras.Isso me diz mais sobre ele do que ele gostaria que eu soubesse. A tensão entre nós cresce