O palco, que antes significava o lugar em que eu realizava meus sonhos, agora vem se transformando em um espaço sombrio e opressor. O som de murmúrios e suspiros abafados se mistura com os passos apressados dos terroristas.
Kai me colocou em seu casaco na floresta e me trouxe de volta para dentro. Ele deu desculpas para a nossa demora. Os outros me olharam estranho, mas não ousaram questionar Kai.
Ele me colocou de volta no meu lugar, encostada na pilastra. Alguns minutos depois, trouxeram uma Noemie muito machucada e a jogaram junto dos outros. Eu não ousei olhar muito tempo em sua direção, não querendo imaginar o quanto a machucaram e muito menor deixar a culpa me corroer.
Voltaram a negociar normalmente com o governo através de celulares descartáveis depois que perceberam que não há ninguém de grande valor entre nós. O que é um verdadeiro alívio para mim.
A atmosfera permanece densa enquanto o relógio avança, levando-nos para o coração da madrugada. Eu estou aqui, amarrada novamente no pilar, vestindo o casaco quente de Kai como um mantra de que estou sob sua proteção. Ele vem se mantendo em silêncio a maior parte do tempo, seus olhos constantemente se voltando para mim com uma mistura de indiferença e algo mais que eu não consigo definir.
Talvez esteja verificando que eu esteja bem?
Não sei, não entendo Kai. Ele é como um enigma, difícil demais de resolver. Sem dicas, sem ajuda, sem conselho. Um enigma no modo mais difícil.
Percebi alguns olhares de Noemie na minha direção. Algumas outras meninas também pareciam irritadas comigo, claramente me culpando pelo o que aconteceu, mas amedrontadas demais para falar como Noémie falou.
Encolho-me, mais uma vez, sem saber o que fazer. O medo se espalha em meu peito como uma onda fria, e a sensação de estar completamente vulnerável me engole.
Os terroristas, no entanto, começam a relaxar um pouco. Alguns deles trazem garrafas de água para os reféns, tentando suavizar a tensão de alguma maneira. Um silêncio pesado cai sobre o palco, interrompido apenas pelos sussurros baixíssimos de algumas pessoas que tentam se aconchegar e dormir. Mas eu não consigo. Eu sei que a qualquer momento, a situação pode se agravar ainda mais. O medo me impede de descansar, de tentar fechar os olhos e escapar por um segundo da realidade.
É então que Kai aparece novamente. Ele se aproxima de mim sem dizer uma palavra, os passos silenciosos como de um predador que se aproxima de sua presa. Quando ele começa a desamarrar as cordas que me prendem ao pilar, o simples gesto me deixa tensa. Ele não está usando suas luvas e nossas mãos se tocam por alguns momentos. Ele tem tatuagem.
Me pergunto quantas.
O encaro enquanto ele me desamarra. Não sei se posso confiar nele. Kai me olha por um instante, como se tentasse entender o que se passa dentro de mim, e depois, em um movimento quase gentil, segura a minha mão, me erguendo e me guiando para um espaço mais isolado.
— Vamos… — Ele sussurra e minha mente se enche de perguntas que não sei como responder.
Para onde está me levando e para quê? Eu deveria ficar com medo? Deveria lutar?
— Você está muito tensa. Precisa de um pouco fe alívio.
Olho para ele, percebendo que é a primeira vez que está brincando comigo. Kai me dá um aperto suave na mão e me leva até um cantinho escondido, o depósito daqui.
Percebo que ele arrumou minimamente, fazendo uma mesa baixa improvisada e duas almofadas de assento. Eu fico surpresa ao perceber pizzas e salgadinhos sobre a mesa improvisada de madeira. Há também garrafas de refrigerantes.
A visão da comida, depois de tantas horas de incerteza e pavor, é reconfortante, mas também traz um misto de sentimentos.
Eu encaro Kai. Ele inclina a cabeça ligeiramente, apontando para a mesa. Ele quer que eu sente.
Ergo uma sobrancelha. A bailarina dentro de mim grita, lembrando da dieta rigorosa que sigo, mas o que importa agora? Eu nem sei se vou sobreviver a isso.
Sorrio, mesmo de forma amarga, e pego uma fatia de pizza, sentando-me em uma das almofadas.
— Que se dane a minha dieta de bailarina. — Murmuro para mim mesma, mordendo um pedaço da pizza. — Não podem me culpar por ficar gorda depois de ser mantida como refém, certo?
Kai parece sorrir e se senta a minha frente, observando-me enquanto abre uma pequena garrafa de refrigerante, me entregando logo em seguida.
— Você não vai ficar gorda por causa disso. Relaxe.
Dou de ombros, sem vontade de argumentar.
Há uma tensão no ar, algo que me faz sentir sua presença mais forte do que nunca. Seus olhos não saem dos meus, e por um momento, o medo dá lugar a algo mais… desconfortável. Não sei o que é, mas me sinto vulnerável diante dele de um jeito que nunca imaginei que fosse possível.
— Então, doce bailarina. — A forma como ele suave desliza pelos seus lábios de uma forma quase pertencente, sua voz grave e suave ao mesmo tempo. — Algum namorado?
Eu me vejo surpresa pela pergunta, mastigando e engolindo antes de responder.
— Não. — Respondo rapidamente. — Quer dizer, eu tinha um até algumas semanas atrás. Mas descobri que ele estava me traindo. — Dou de ombros.
Vejo a expressão de Kai se retesar sob a máscara. Eu o observo com mais atenção. Ele solta uma risada baixa, mas não zombadora.
— Que vacilão. — Ele nega com a cabeça. — Me deixa adivinhar, um garoto popular da sua escola?
Franzo o cenho.
— Como você sabe?
— Imagino que esse seja o tipo de garoto que garotas como você namorem.
Eu não gosto de como isso parece.
— E com que tipo de garota, caras como você gostam?
Ele me olha de maneira enigmática. Mas não responde. Eu continuo o sondando, querendo alguma coisa, qualquer coisa, sobre ele.
— Kai é seu nome verdadeiro?
— Você pode me chamar assim, então é meu nome. — Ele responde de forma simples, contornando a minha pergunta.
Eu o encaro por um momento. A sua figura a minha frente deveria ser assustadora, não é? Um homem muito maior do que eu, sentado no chão à minha frente, cheio de músculos e com uma balaclava, com uma arma do tamanho do seu braço apoiada na parede ao seu lado. Eu nem faço ideia de como é o seu rosto.
É uma visão perturbadora…
— Quantos anos você tem?
Ele parece franzir o cenho, e por um instante, parece que a pergunta o pegou de surpresa.
— Sou mais velho que você.
— Isso eu sei. — Tento controlar a minha irritação, mas parece diverti-lo. — Mas… quanto? Você não parece ter trinta anos ou mais.
Seus olhos brilham com um sorriso quase desafiador.
— Você é boa em deduzir, vou deixar para sua imaginação.
Eu não sei se ele está brincando comigo ou se está sendo sério, mas algo em seu tom me deixa com um calafrio na espinha. Ele é enigmático, sempre jogando com o desconhecido, e isso me faz querer saber mais. Ao mesmo tempo, tenho medo do que ele pode me esconder.
— Está com medo que eu o entregue? — A pergunta sai da minha boca antes que eu consiga controlá-la, e imediatamente me arrependo.
Ele arqueia uma sobrancelha, sua expressão mudando ligeiramente, mas não é de raiva. Em vez disso, há um certo brilho de diversão em seus olhos.
— Gosto de me manter no anonimato. — Ele diz com um tom baixo e quase sedutor. — Além do mais… não é mais excitante assim?
Ele se aproxima mais de mim, a distância entre nós diminuindo a cada segundo, seu joelho esbarrando no meu. Antes que eu tenha tempo de reagir, ele coloca a mão em minha cintura, me puxando de forma inesperada. Eu fico paralisada por um instante, sentindo meu coração bater mais rápido. Ele me puxa mais para perto, de forma possessiva, e posso sentir a pressão de seu corpo contra o meu. O calor de sua pele contrasta com a frieza do ambiente ao nosso redor.
A tensão é palpável. Eu sinto algo em meu corpo que nunca senti antes, e embora minha mente esteja gritando para me afastar, meu corpo não obedece. Tudo ao meu redor se dissolve, e a única coisa que eu posso sentir é a proximidade dele, a maneira como ele me observa, como se estivesse esperando por algo.
— Sabe, você realmente é… interessante. — Ele murmura, sua voz carregada de uma intensidade que me faz tremer. — Mas não posso deixar você fugir assim, não sem antes…
Ele não termina a frase, mas a sugestão paira no ar como uma ameaça e uma promessa ao mesmo tempo.
Eu tento me afastar, mas ele não me solta.
— Kai… — Murmuro, minha voz falhando um pouco. — Isso é… errado.
Você está me mantendo refém! — É o que eu quero dizer. Quão doente eu seria por deixar um terrorista que me mantém como refém fazer qualquer coisa íntima comigo?
Ele sorri, um sorriso suave, mas cheio de algo que eu não consigo identificar. Ele move um pouco a balaclava, revelando seus lábios, e por um momento, tudo o que eu consigo ver são eles.
Seus olhos parecem uma combinação perfeita. Azuis. Profundos. Hipnotizantes.
— Não é errado se você quiser. — Ele responde com uma tranquilidade assustadora. — E você quer, Amélie.
Eu sinto minha respiração falhar, meu coração batendo rápido demais em meu peito.
Isso é… estúpido. Eu não posso querer alguma coisa. Não com ele. Não tão rápido.
Quer dizer, levou duas semanas de flerte para eu beijar o garoto que eu gostava. Mais um mês para deixar ele passar a mão na minha bunda. Três meses para deitarmos na mesma cama enquanto nos beijamos. E nunca fiz nada além disso.
Quanto tempo desde que nos conhecemos? Algumas horas? E as circunstâncias são ridículas!
Eu definitivamente não quero!
Mas por que ele está me olhando como se soubesse exatamente como minha alma funciona?
Ele não diz mais nada. As palavras caem no vazio, e o espaço entre nós se torna insuportável, cheio de uma tensão que me faz questionar tudo o que sei sobre mim mesma. Eu sou uma bailarina. Eu sou forte. Mas neste momento, diante dele, sinto-me pequena e vulnerável, não de uma forma ruim, como uma garota fraca, mas sim… necessitada. Quebrada de uma maneira que eu não consigo explicar.
As palavras que ele diz a seguir são suaves, quase como um suspiro:
— Não vou te machucar. Eu prometo.
— Isso é loucura… — Sussurro, mas não consigo me afastar quando seu rosto se aproxima do meu.
Seus lábios roçam o meu maxilar com uma delicadeza impressionante, mas o suficiente para enviar arrepios por todo o meu corpo. A sensação da sua pele na minha é eletrizante. Eu sinto a aspereza do seu maxilar contra o meu, como além de duro e forte, há também indícios de uma barba raspada.
— Sim, e daí? Você quer ou não, Amélie? Me peça para parar agora se quiser que eu pare.
Ele olha intensamente em meus olhos. Um arrepio percorre a minha espinha, e eu sei o que deveria dizer: Pare, isso é errado. Mas eu gaguejo, as palavras não querendo sair dos meus lábios
como se até mesmo elas me acusassem de ser uma mentirosa.
Ele puxa ainda mais meu quadril, de forma que eu me encontre sentada sobre suas coxas.
Capítulo 5Ele beija o meu pescoço. E eu arfo. — Você… — Minha voz soa um sussurro perdido no momento, enquanto as sensações estranhas tomam conta do meu corpo.Sensações que eu não deveria sentir. Pelo menos não por um criminoso. — O que tem eu?Eu suspiro, lutando com as borboletas idiotas que se agitam no meu estômago.— Você cheira a dias chuvosos… — É tudo o que eu consigo dizer quando a minha mente se fragmenta.A parte sensata está escondida, apenas observando de longe, mas há uma fita em seus lábios que a impedem de gritar para que eu ouça. Ela sempre esteve dominando e agora sente o quão ruim é ser dominada pela outra parte da minha consciência. Ele sorri contra a minha pele. Sinto sua mão deslizar pelas minhas costas, me pressionando ainda mais fortemente contra seu corpo duro e quente.Nunca senti um homem tão forte pressionado contra mim. É como se seus músculos fossem de pedras.Isso me diz mais sobre ele do que ele gostaria que eu soubesse. A tensão entre nós cresce
Capítulo 6O corpo de Kai é quente enquanto me carrega até o banheiro. Eu não tenho forças para andar sozinha. E eu sou uma dançarina… não consigo deixar de pensar no quão ferrada eu estou. Ele me deixa dentro de uma das pequenas cabines do chuveiro, fechando a porta para me dar privacidade. Em poucos segundos a água quente escorre pelo meu corpo, lavando as marcas do que acabara de acontecer. Observo, em silêncio, os vestígios do seu toque e de tudo o que havíamos feito desaparecer na água, seu esperma misturado com o meu próprio sangue. A dor ainda está presente, mas a sensação de estranheza domina minha mente. Não sou mais virgem. E apesar de nunca ter me apegado demais a esse termo, eu me sinto nua agora que ele foi tirado de mim. Por mais que eu queira me afastar de tudo isso, algo dentro de mim está confuso, atraído. Eu sei o que aconteceu, mas não sei o que eu realmente sinto sobre isso. Lá fora, Kai está se limpando. Eu posso ouvir seus movimentos, sua respiração, enquan
Capítulo 7Acordo com um choque. Não um susto comum, mas algo brutal e violento. Minhas roupas são agarradas com força, minha gola quase estrangulando meu pescoço enquanto sou erguida sem cerimônia dos assentos.Um grito escapa da minha garganta quando percebo um dos terroristas me agarrando, seus olhos brilhando com raiva.— Você devia ter nos contado! — Ele rosna na minha cara, e mesmo que esteja usando a máscara, eu me sinto aterrorizada.Meus músculos estão completamente tensionados, eu tento me afastar dele, me questionando o que diabos aconteceu enquanto eu dormia.— Temos que nos livrar dessa puta! — Ele grita para os outros, sua voz carregada de ódio e impaciência.Ele me segura como se eu fosse um lixo e estivesse prestes a me descartar. Um arrepio percorre a minha espinha, como se cada célula do meu corpo percebesse o perigo iminente.Um empurrão violento me joga contra a parede. Minha cabeça bate no concreto, e a dor lateja instantaneamente, mas meu pânico é maior do que qu
Capítulo 8 A palma da minha mão está úmida quando Kai a segura. Ele me guia de volta ao centro do teatro, onde o restante dos terroristas e reféns aguardam.A tensão é quase palpável. Os reféns estão amontoados, alguns em lágrimas, outros encarando o vazio com olhos mortos. Um calafrio percorre a minha espinha. Sou como eles, e ao mesmo tempo não sou.Será que eles notam a minha relação com Kai? Será que me culpam por não estar amarrada como eles, sofrendo lentamente como eles? Eles não são apenas outros reféns como eu para mim. Meu professor de balé está entre eles. Minhas colegas de dança. Jurados que eu estudei a vida inteira para lhes causar uma boa impressão. É muito triste como agora todos foram rebaixados ao mesmo título. Reféns. Porque mesmo que eu seja isso também, é notável a mão de Kai na minha, a forma como seu corpo se coloca na frente do meu de forma protetora. Os outros terroristas nos encaram, seus olhos passando de nossas mãos unidas até nossos rostos. — Estamos
Capítulo 9 O cheiro de pólvora e suor misturam-se ao ar pesado, carregado pela tensão crescente. O colete falso aperta em meu peito, repleto de dispositivos que devem parecer com bombas, quase como se fosse real. E a arma pressionada contra a minha têmpora parece mais fria a cada segundo.Não importa se é apenas a mão de Kai a pressionando contra mim, nem que ele esteja fazendo movimentos circulares nas minhas costas para me manter calma. Ainda é aterrorizador.Cada passo para fora do teatro é um ato de resistência contra o pânico que ameaça me dominar.— Continue andando, Amélie. — Kai sussurra atrás de mim, sua voz baixa e firme. Estranhamente reconfortante. — Lembre-se, eles precisam pensar que você está correndo perigo, que está com medo de mim. Que eu posso te machucar e isso a aterroriza, está bem?Meu corpo inteiro treme. Estou com medo. Mas não dele. Oh, céus. Não de Kai, mesmo sabendo o quão cruel ele pode ser com suas outras vítimas. Saber que é ele quem está aqui comigo é
Capítulo 10Alguns dias depois— Na noite de 17 de Novembro um grupo de terroristas invadiu o Teatro Coliseum e fez cerca de 22 pessoas de reféns, dentre elas as bailarinas que se apresentavam, o diretor de dança Julien Armand, a filha do deputado Moreau e cinco jurados que avaliavam o desempenho das jovens naquele momento. Durante a madrugada eles tentaram acordos com a polícia para trocar os reféns por dinheiro. No dia seguinte conseguiram um acordo com o deputado Moreau para que conseguissem fugir em troca da filha do deputado. — O homem começa a apresentar a reportagem.É a mulher sentada ao seu lado quem continua:— Eles entraram em um acordo e colocaram coletes bombas em todos os reféns, inclusive na bailarina Amélie Moreau. O problema ocorreu quando ao fazer a troca e enquanto os terroristas fugiam, uma equipe de desarmamento de bombas constatou que o colete em Amélie era falso. Logo, todos presumiram que as bombas em coletes eram apenas um blefe dos criminosos.— Conseguiram de
Capítulo 11Meu coração quase para quando o vejo, sentado no banco do motorista ao meu lado, como uma sombra sólida em meio ao caos que é a minha mente. Por um instante, acho que estou sonhando, que minha saudade e desespero estão criando essa visão.— Kai… — O nome dele escapa dos meus lábios em um sussurro trêmulo, carregado de choque e incredulidade. Ele está vivo. Ele está mesmo aqui.— Bailarina… — A voz dele soa rouca, mas há algo nela que faz meu peito apertar ainda mais.Eu sinto a força que sempre o definiu, mas agora há uma suavidade que eu não esperava. Eu não consigo me mexer. Estou paralisada, presa entre a realidade e os fantasmas dos últimos dias. Minhas mãos começam a tremer quando tento formar palavras, mas minha garganta trava.— Eu pensei… pensei que você podia ter… — Minha voz falha junto com uma batida do meu coração. Eu não consigo dizer. Não consigo pronunciar as palavras, como se ao fazer isso eu pudesse atraí-las de volta para a realidade. Ele se vira comp
Capítulo 12O domingo está ensolarado, mas meu humor se encontra em uma mistura de ansiedade e distração. Sentada à mesa de jantar com meus pais, eu me esforço para parecer normal, mas minha mente está longe dali. Meus pensamentos giram em torno de Kai — ou, mais precisamente, de como ele dominou minha mente desde a noite passada. Eu sei que não deveria pensar nele desse jeito, mas parece inevitável. E de certa forma, isso faz com que eu me sinta suja. Como uma pessoa que sabe que está fazendo algo terrivelmente errado e não consegue parar. Qualquer pessoa normal teria o denunciado assim que ele apareceu novamente. Não é certo proteger um criminoso. E menos ainda se masturbar até gozar e dormir pensando nele. — Você parece diferente… algo aconteceu? — Minha mãe, sempre observadora, inclina a cabeça levemente, analisando-me. A pergunta me pega desprevenida. Engasgo com a água que acabei de beber, tossindo enquanto tento recuperar a compostura. As imagens de como me toquei ontem a n