Capítulo 6 - Suspiros no Banho

Capítulo 6

O corpo de Kai é quente enquanto me carrega até o banheiro. 

Eu não tenho forças para andar sozinha. E eu sou uma dançarina… não consigo deixar de pensar no quão ferrada eu estou. 

Ele me deixa dentro de uma das pequenas cabines do chuveiro, fechando a porta para me dar privacidade. 

Em poucos segundos a água quente escorre pelo meu corpo, lavando as marcas do que acabara de acontecer. Observo, em silêncio, os vestígios do seu toque e de tudo o que havíamos feito desaparecer na água, seu esperma misturado com o meu próprio sangue. 

A dor ainda está presente, mas a sensação de estranheza domina minha mente. 

Não sou mais virgem. E apesar de nunca ter me apegado demais a esse termo, eu me sinto nua agora que ele foi tirado de mim. Por mais que eu queira me afastar de tudo isso, algo dentro de mim está confuso, atraído. Eu sei o que aconteceu, mas não sei o que eu realmente sinto sobre isso. 

Lá fora, Kai está se limpando. Eu posso ouvir seus movimentos, sua respiração, enquanto ele tenta se recompor, como eu. Ele sabe que eu precisava de um momento. E eu… eu estou tentando lidar com o turbilhão de sentimentos que não consigo controlar. 

Estou arrependida? Não sei. Eu profundamente não sei como me sinto, mas são muitos sentimentos brigando entre si. 

De repente, a luz do banheiro se apaga. Tudo ao meu redor fica escuro e meus músculos retesam, quase sem conseguir respirar. Ouço passos, e de alguma forma, sei que é ele. Ele entra na cabine, nu, e a escuridão parece nos esconder. 

A balaclava, que ele costuma usar, está ausente, mas não há necessidade dela. Sabemos que, na escuridão, nossos rostos são invisíveis um para o outro. Algo que não podemos ter em plena luz do dia. É como se as sombras ao nosso redor nos conectassem de uma maneira muito íntima, muito real. 

Um arrepio percorre o meu corpo quando minha ficha cai. 

Ele está sem a balaclava. 

A possibilidade de ver o seu rosto está tão perto, e ao mesmo tempo tão distante. 

— Você está bem? — Sua voz é suave, mas existe uma dureza implícita nela. 

Ele sabe que eu não estou bem, mas ainda assim, ele precisou perguntar. É quase um teste, uma confirmação. Eu quero responder, expôr todos os meus pensamentos e sentimentos, mas eu estou sentindo tudo e nada ao mesmo tempo e as palavras ficam presas na minha garganta. 

Ele se aproxima, e, sem hesitar, me encosta suavemente contra a parede fria. Sinto meu coração acelerar e uma tímida sensação de nervosismo toma conta de mim. 

Posso sentir o calor do seu corpo, a intensidade da sua presença. Meus batimentos aceleram e algo em mim treme, mas eu não me afasto. Por um segundo, me sinto completamente vulnerável, mas ao mesmo tempo, algo em mim não quer resistir. 

Eu quero que ele faça exatamente o que está prestes a fazer. 

Como eu posso querer isso? Como posso querer estar tão intimamente perto dele depois de tudo? 

Seus dedos deslizam suavemente pela minha clavícula. O primeiro toque dos seus lábios é no meu pescoço, no mesmo lugar sensível que ele alugou como seu desde que me tocou. 

— Vou fazer você se sentir bem… vou fazer você sentir tanto prazer que a culpa será apenas um pontinho sem cor dentro da sua cabecinha… — É o que ele sussurra antes de me beijar. 

Seus lábios encontram os meus em um beijo carregado de desejo. Um beijo que não pedi, mas que de alguma forma, aceitei. A contradição dentro de mim é esmagadora. E eu me sinto perdida. 

Eu quero que ele me faça esquecer a culpa. 

Ele não é gentil, nem suave. Há uma necessidade em seu beijo, algo primitivo e urgente. O calor do seu corpo quente contra o meu faz a minha cabeça girar. 

Cada beijo parece consumir mais de mim… 

— Eu quero você de novo… — Ele sussurra contra a minha boca, a voz carregada de desejo. 

Eu sinto o peso de suas palavras, e sem poder evitar, gemo em resposta. Eu não queria aquilo, ou talvez quisesse mais do que jamais imaginei. 

Suas mãos grandes e fortes deslizam até a minha bunda, apertando a minha carne como se pudesse reivindicar para si mesmo. E então me pega no colo com facilidade, e sem me dar tempo para pensar, me pressiona contra a parede. 

A sensação dos nossos corpos tão próximos, seu membro duro pressionando contra a minha barriga, a dureza dos seus músculos e a quentura da sua pele é avassaladora. Ao invés de o empurrar, eu me agarro a ele. 

A água continua escorrendo por nossos corpos quando ele me ajusta, seu membro deslizando lentamente para dentro de mim. Gememos em uníssono, seus lábios tomando meus gemidos como se fosse possessivo até mesmo com a minha voz. 

Quando ele começa a se mover dentro de mim, cada estocada envia choque de prazer correndo por minhas veias. Me agarro a ele, meus dedos cravando em suas costas enquanto me perco na sensação. 

A água quente cai em cascata sobre nossos corpos entrelaçados. 

Contradizendo toda a lógica, me sinto viva, imprudente e completamente consumida pelo momento. A culpa ainda permanece nas bordas da minha mente, mas empalidece em comparação ao desejo avassalador que toma conta de mim. 

As mãos de Kai percorrem meu corpo com uma fome insaciável, mapeando cada curva e plano de carne com golpes possessivos. Ele reinvidica a minha boca de novo e de novo, engolindo meus gemidos e suspiros como se os marcasse como seus. 

Envolvo minhas pernas mais firmemente ao redor dele, puxando-o mais para dentro enquanto encontro cada um dos seus golpes poderosos. 

Meus gemidos ficam mais altos, mais lascivos, enquanto Kai me penetra com uma urgência crescente. 

Conforme suas estocadas se intensificam, meus sentidos ficam sobrecarregados. Consigo sentir cada crista e veia do seu pênis acariciando minhas paredes internas, cada movimento enviando ondas de choque através de meu núcleo. É torturante na mesma intensidade que prazeroso. 

Eu poderia desmaiar agora mesmo. 

E acordaria feliz. 

Minhas unhas cravam mais fundo em suas costas, deixando marcas vermelhas que serviriam de prova do nosso encontro depravado por um bom tempo. 

De alguma forma isso me tranquiliza. Saber que vou lhe deixar alguma marca, que no final, ele ainda vai se lembrar de mim. 

 — Estou tão perto… — Kai resmunga e sussurra em meu ouvido entre beijos. — Vou te encher de novo…

Eu mal tenho tempo de processar suas palavras antes de sentir seu membro pulsar dentro de mim, sinalizando seu clímax iminente. 

Ele toca meu clitóris, esfregando de forma deliciosa e me levando mais perto da borda. Um gemido manhoso rasga a minha garganta e eu sinto meu corpo amolecer. 

E eu gozo.

Ao mesmo tempo que Kai. Nós nos pressionamos um contra o outro quando o clímax nos atinge. Seus jatos quentes me enchem ainda mais e meu corpo se rende, ficando mole em seus braços. Espasmos percorrem meu corpo. 

E é tão bom…

Ele me faz sentir numa intensidade que nunca pensei que poderia suportar. 

~;~

Quando tudo acaba, e o único som presente é o da nossa respiração, percebo que estou mais uma vez em suas mãos, fisicamente marcada, mas também confusa. Kai está sem a balaclava agora, e o impulso de tocá-lo simplesmente toma conta de mim. 

Queria tanto vê-lo agora… 

Minhas mãos tocam o seu rosto, primeiramente seguindo a linha da mandíbula. Contorno o seu nariz, a forma como suas bochechas são pronunciadas, suas sobrancelhas retas e seus cílios longos. Eu toco o seu cabelo curto e macio e ele fica em silêncio enquanto algo em mim se rompe, algo que eu não sei lidar. 

E eu quero tocar mais. Toco seu pescoço, o quão grande são seus ombros. Eu toco a relevo da sua garganta, o seu pomo de adão. Me inclino e o beijo bem ali, ouvindo seu suspiro de apreciação. 

E eu imagino como é o seu rosto. 

Ele suspira e sinto seus lábios na minha têmpora, demorando mais do que o comum ali. Quando ele me coloca no chão sinto-me vazia. 

Sem falar nada, Kai sai da cabine e volta com uma toalha. Segura a minha mão e me puxa em sua direção, envolvendo o tecido macio ao redor do meu corpo. O silêncio é estranho, mas não desconfortável. Nenhum de nós dois parece quebrar o silêncio. 

Sinto-o se afastar. Eu sinto a sua presença perto, mas não o vejo. Após alguns minutos, as luzes do banheiro se acendem novamente e é quando eu o vejo, já vestido com sua roupa usual e sua balaclava. 

Meu coração erra uma batida ao perceber o quão perto eu estava de ver seu rosto. 

Ele se aproxima de mim com uma mochila e tira de lá duas peças de roupa, uma calça enorme e uma camisa moletom que cabem três de mim. Ele me estende as roupas e eu o encaro. 

— Vista. É mais confortável para dormir, e suas lindas roupas de bailarina meio que se encontram rasgadas. — Ele diz com seu tom de voz profundo e eu coro. 

Eu poderia dizer que tenho peças de roupa reservas em meu armário. Mas não digo. Eu pego suas roupas quentinhas e cheirosas como dias chuvosos e as abraço contra meu corpo. 

Visto-as e ocasionalmente Kai me ajuda. A calça fica extremamente larga, mas ele enrola a cintura na minha barriga, enquanto a camisa fica como um vestido. É tão quente quanto ele, e a sensação de estar dentro dessas roupas me faz sentir ainda menor do que já sou. 

— Você fica bonita assim…

Sinto meu rosto corar. Eu nunca sei o que esperar de um homem como ele. Às vezes gentil, às vezes rude. Sempre me pega de surpresa. 

Ele ajeita a própria roupa e eu o encaro com atenção, sem saber o que fazer com as palavras que estão engasgadas na minha garganta. 

O que foi tudo isso? — Eu gostaria de externalizar a pergunta, saber se foi apenas sexo ou se ele se sentiu como me senti. Mas tive medo da resposta, pois sendo positiva ou negativa, ainda seria ruim. Ele está me mantendo cativa, caramba! É um terrorista, um criminoso que vai embora quando conseguir o dinheiro que precisa. 

E eu, bem… vou seguir a minha vida como uma bailarina. 

Então tudo o que eu digo, com a voz quase inaudível é: 

— Eu nunca fui tão irresponsável quanto agora…

E ele me olha. Seu sorriso sob a balaclava é perceptível. Mas não é zombeteiro, e sim carregado de algo mais. 

— Imagino que também nunca esteve tão viva…

E ele está certo. 

Dançar sempre foi a coisa que me fazia sentir viva, mas comparado a isso… parece tão bobo. 

Me pergunto se me sentirei assim mais alguma vez… 

Kai se aproxima de mim e deposita um beijo suave em meus lábios, seu gesto gentil ainda me surpreendendo mesmo depois de tudo. 

— Vamos… eu tenho que te levar de volta antes que alguém perceba que estamos sumidos há tempo demais.

Sua mão desliza na minha e eu me deixo ser guiada de volta, encarando nossas mãos juntas. Ele está sem a luva e meu polegar desliza por sua tatuagem, notando o pequeno relevo do que parece uma cicatriz. Eu o encaro. Ele não parece se importar com isso enquanto me leva de volta para o palco de apresentações. 

Eu estranho quando nós passamos pelos outros reféns adormecidos. Ele me guia em direção aos assentos da plateia, escolhendo um lugar não muito distante do palco, mas algumas três fileiras nos separando. 

Alguns assentos mais acima eu noto um dos homens armados vigiando. Ele não parece se importar em eu estar aparecendo com Kai. 

— Aqui. — Da sua mochila, ele tira um cobertor e o ajeita nos assentos, fazendo uma cama improvisada. 

Ele me coloca deitada e se agacha ao meu lado, seus olhos azuis profundos fixos nos meus. 

— Não vou te amarrar, mas não tente fugir quando achar que ninguém está olhando, esses caras são loucos. — Ele sussurra e eu assinto. 

Kai me olha por vários segundos antes de suspirar, se inclinando para beijar a minha testa. 

— Durma. Vou te vigiar. — Ele se afasta em direção ao seu colega, se sentando ao seu lado.

Eles trocam algumas palavras breves antes do silêncio

reinar. 

Eu me sinto tão exausta, física e emocionalmente, que não demora muito para eu adormecer, esperando que ao acordar, as consequências do que fiz não me atormente.

Erro meu. 

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