Capítulo 2
O relógio no pulso de Isabelle marcava 8h quando ela chegou ao portão da mansão Mendonça. O carro alugado para se locomover pela cidade parecia pequeno diante da imponência da propriedade. A entrada era ampla, cercada por altos muros cobertos de hera, com um portão automático que dava acesso a uma alameda ladeada por árvores perfeitamente alinhadas. — Uau... Nunca vi uma casa tão linda — murmurou para si mesma, admirando o cenário. Respirando fundo, ela tocou o interfone. — Bom dia. Aqui é Isabelle. Estou aqui para começar o trabalho como babá. A voz de um funcionário respondeu prontamente: — Ah, sim, o senhor Mendonça nos avisou. Um momento, por favor. O portão se abriu lentamente, revelando o interior luxuoso da propriedade. Isabelle dirigiu com cuidado até a entrada principal, onde um mordomo a aguardava. — Bem-vinda, senhorita Isabelle. Por aqui, por favor. Enquanto era conduzida para dentro da casa, Isabelle não conseguia disfarçar a admiração. Tudo era impecável: o chão de mármore reluzia sob a luz natural que entrava pelas janelas enormes, e os móveis elegantes compunham uma decoração sofisticada, mas nada exagerada. "Uau de novo", pensou, enquanto seus olhos percorriam os detalhes ao redor. Victor apareceu no topo da escada, ajustando o relógio no pulso. Impecavelmente vestido, como sempre, ele usava um terno escuro que realçava sua postura firme e confiante. "Oh, my God!", pensou Isabelle, admirando a figura do homem no topo da escada. Conseguiu fechar a boca antes que ele percebesse seu encantamento. Victor desceu os degraus com passos decididos. — Isabelle? — cumprimentou-a com um aceno discreto. — Seja bem-vinda. Ela levantou os olhos e sorriu, tentando soar profissional. — Obrigada, senhor Mendonça — respondeu, piscando um pouco mais do que gostaria. Victor percebeu o nervosismo, mas não comentou. Mesmo sem querer, Isabelle sentiu-se intimidada pela presença dele. Victor era o tipo de homem que exalava autoridade e controle, o que a deixava desconfortável, mas também despertava sua curiosidade. — Vou te apresentar à minha cunhada e às crianças. Elas estão na sala de estar. — Ele indicou o caminho com um gesto e começou a andar, enquanto Isabelle o seguia. No trajeto, Victor lançou um olhar discreto para ela. A jovem era simples, mas sua postura transmitia uma autoconfiança que ele não esperava encontrar, especialmente em um ambiente tão imponente. Na sala de estar, duas crianças se levantaram imediatamente, curiosas com a nova presença. A menina mais velha, de cabelos castanhos e olhos brilhantes, correu para Isabelle. — Você é a babá? — perguntou, animada. — Sou, sim. E você deve ser... Letícia? — Isabelle disse, lembrando-se dos detalhes que Victor mencionara ao telefone. A menina sorriu, surpresa. — Ela sabe meu nome! Victor observava a interação com atenção. Mesmo o pequeno Henrique, geralmente tímido com estranhos, se aproximou, segurando o brinquedo preferido e analisando Isabelle com curiosidade. A cunhada, Mercedes, apareceu na sala com um sorriso, mas ao ver a jovem mulher interagindo tão naturalmente com seus filhos, analisou-a de cima a baixo. Seus olhos se demoraram nos detalhes: o cabelo preso num coque, a postura confiante e o jeito acolhedor com as crianças. Victor, que havia notado sua entrada, observou a expressão de Mercedes, que parecia estar avaliando Isabelle com cuidado. Por um instante, parecia que ela buscava algum sinal de ameaça ou algo que pudesse lhe desagradar. No entanto, ao ver o pequeno Henrique sorrindo e mostrando seu brinquedo para a nova babá, o olhar de Mercedes suavizou, e ela se aproximou. — Você é a Isabelle? — perguntou Mercedes, estendendo a mão em um gesto educado, mas cauteloso. — Sim, sou eu, senhora Mendonça. É um prazer conhecê-la. — Isabelle respondeu com um sorriso simpático, apertando a mão de Mercedes. — Por favor, pode me chamar apenas de Mercedes, Isabelle. "Senhora" me faz parecer mais velha do que sou — ela disse, tentando aliviar a tensão. — Com todo respeito, senhora, prefiro manter a formalidade. É o mais adequado, já que sou funcionária — Isabelle explicou, educadamente. Mercedes arqueou as sobrancelhas, surpresa, mas acabou sorrindo com aprovação. — Está bem, como preferir, Isabelle. Letícia, sempre curiosa, puxou a mão da babá. — Você sabe fazer trança? — Sei, sim, Letícia. Quer que eu faça uma agora? — Isabelle perguntou, animada. — Sim! — Letícia disse, correndo para pegar uma escova e alguns elásticos coloridos. Victor, que havia permanecido em silêncio até então, cruzou os braços e sorriu de lado, intrigado com a facilidade com que Isabelle havia conquistado a confiança das crianças. Mesmo Henrique, normalmente reservado, parecia mais à vontade do que nunca. Mercedes notou o sorriso do cunhado e comentou em voz baixa para ele: — Parece que você acertou, Victor. Ela tem jeito com eles. Victor inclinou a cabeça em concordância, mas não respondeu. Ainda havia algo em Isabelle que o intrigava. Enquanto isso, Letícia voltou com a escova e os elásticos, e Isabelle começou a trançar o cabelo da menina, enquanto Henrique mostrava seus carrinhos, claramente esperando sua vez de receber atenção. — Já posso ver que as crianças vão te adorar, Isabelle — disse Mercedes, finalmente relaxada. — Espero, senhora. Quero que se sintam seguros e felizes comigo — respondeu Isabelle com gentileza. Victor ouviu aquelas palavras e, por um momento, sentiu um peso sair de seus ombros. Talvez, apenas talvez, Isabelle fosse exatamente o que a casa precisava para recuperar um pouco de alegria. — Muito bem — ele disse, interrompendo os pensamentos. — Isabelle, vou pedir para que o mordomo te mostre seu quarto e te apresente à rotina da casa. Qualquer dúvida, por favor, me procure diretamente. — Sim, senhor Mendonça. Obrigada pela confiança — ela respondeu, mantendo o tom respeitoso. Victor assentiu e, antes de sair da sala, lançou mais um olhar para a interação de Isabelle com as crianças. “Ela parece ser boa demais para ser verdade”, pensou, mas logo afastou a ideia, dizendo a si mesmo que estava apenas cansado de tantos problemas. Isabelle observou, o patrão sair da sala, e mais uma vez ficou boquiaberta. Ele era impecável em cada detalhe, de sua postura altiva ao terno perfeitamente ajustado. Um homem que parecia ter saído de uma capa de revista, mas que carregava no olhar autoridade e cansaço. “Ele é lindo de todos os ângulos...”, pensou, quase hipnotizada, enquanto seus olhos acompanhavam os passos firmes de Victor até desaparecer pela porta. Mercedes, que ainda estava na sala, não perdeu o momento. Ao notar o olhar distraído de Isabelle, ergueu uma sobrancelha, intrigada. — Isabelle? A voz de Mercedes trouxe Isabelle de volta à realidade. Ela piscou algumas vezes, percebendo que havia sido pega em flagrante. Sentiu o rosto corar, mas tentou disfarçar, olhando para Letícia e fingindo estar completamente focada no que fazia. — Sim, senhora Mendonça? — respondeu, mantendo o tom educado. Mercedes estreitou os olhos levemente, mas não disse nada. Ela sabia reconhecer aquele tipo de olhar, mas decidiu não comentar. Pelo menos, não por enquanto. — Apenas queria dizer que, se precisar de algo, pode me procurar. Quero que se sinta à vontade aqui — Mercedes disse, com um sorriso leve, mas seus olhos ainda analisavam a jovem com cuidado. — Muito obrigada, senhora. Vou me esforçar para que tudo corra bem com as crianças — respondeu Isabelle, tentando soar o mais profissional possível. Letícia, alheia ao breve momento de tensão entre as duas, puxou a babá pelo braço. — Agora faz uma trança com essas flores de mentira! Vai ficar lindo! Isabelle sorriu, aliviada pela interrupção. — Claro, Letícia, vai ficar maravilhoso! Mercedes observou enquanto Isabelle mergulhava de volta no mundo das crianças, mostrando habilidade e paciência ao lidar com elas. Apesar de suas suspeitas iniciais, não pôde negar que havia algo de especial na jovem. Contudo, em sua mente, uma semente de dúvida havia sido plantada. Enquanto isso, Isabelle tentava ignorar o calor que ainda sentia nas bochechas e se concentrava em sua nova rotina. Mas, no fundo, sabia que o impacto de seu primeiro encontro com Victor Mendonça era algo que ficaria marcado em sua memória.Capítulo 3 Victor saiu apressado da sala, com passos firmes que ecoavam pelo piso impecável da mansão. Ao chegar ao escritório da casa, pegou a pasta que estava sobre a mesa e ajustou o paletó antes de sair. Na limusine, deixou a pasta de lado e voltou sua atenção para a paisagem além da janela. O carro atravessava os portões da imponente mansão, e ele se perdeu nos próprios pensamentos enquanto as árvores alinhadas da entrada ficavam para trás. Como de costume, sua mão foi instintivamente ao anel no dedo. Ele girava a joia delicadamente, um gesto quase automático. Aquele anel havia pertencido ao seu pai, um homem que sempre fora seu exemplo e maior inspiração. Foi presenteado a Victor no leito de morte, em um momento que ele jamais esqueceria. Enquanto seus olhos fixavam o horizonte, lembranças do pai surgiam com nitidez. Ele ainda podia ouvir a voz grave e tranquila dizendo: "Use este anel como símbolo da nossa família e de tudo o que construímos juntos. Lembre-se de quem você é,
Capítulo 4No final do dia, Victor voltou para a mansão e se juntou à cunhada e aos sobrinhos para o jantar. A conversa fluía de maneira leve, e Mercedes contou animada que havia passado a tarde cuidando dos cabelos e das unhas no salão.— Resolvi seguir seu conselho, Victor. Fui ao salão e finalmente tirei um tempo para mim.Ele assentiu, tomando um gole de vinho. Sinceramente, não tinha reparado na mudança, mas ficou satisfeito ao ver que ela parecia mais disposta.— Fico feliz por isso. É importante que você se cuide.Mercedes sorriu, e a conversa logo foi desviada para as crianças, que falavam sobre o dia com Isabelle. Pelo visto, ela já havia conquistado a confiança deles.Após o jantar, Victor chamou o mordomo até o escritório. Sentado atrás da imponente mesa de madeira escura, ele tirou o anel do dedo por um momento, girando-o entre os dedos, um hábito que costumava surgir sempre que estava imerso em pensamentos.— Ela se recolheu? — perguntou, referindo-se a Isabelle.— Não, s
Capítulo 5O aroma amadeirado do whisky misturava-se ao leve perfume de couro dos móveis enquanto Victor girava o líquido âmbar no copo, seus olhos fixos nas luzes do jardim além da imensa janela de vidro da sala de estar. A mansão, estava silenciosa, enquanto Mercedes e as crianças se preparavam para a noite especial.Ele ergueu o copo aos lábios e tomou um gole, sentindo o calor agradável da bebida descer por sua garganta. O evento de gala era um compromisso necessário, parte do mundo dos negócios e das aparências que ele dominava tão bem, mas naquela noite, sua mente insistia em se ocupar de outra coisa.Isabelle.Como ela se vestiria para a ocasião?Era uma pergunta tola, mas ele se pegou pensando nisso mais do que deveria. Nos últimos dias, percebeu que sua presença o afetava de formas inesperadas. Havia algo nela, talvez inocência ou força, que lhe despertava um interesse que ele não sabia bem como lidar.Lembrou-se da forma como ela sempre o chamava de "senhor", da maneira disc
Capítulo 6A limusine parou suavemente na entrada do luxuoso salão de eventos. Luzes douradas iluminavam a fachada imponente, e uma fileira de carros de alto padrão chegava a todo instante, trazendo convidados da elite.Victor desceu primeiro, ajeitando o terno com um movimento automático. Como esperado, os olhares se voltaram para ele assim que pisou no tapete vermelho. Com sua postura impecável e a presença imponente, ele sempre atraía atenção.Virou-se para ajudar Mercedes a descer, oferecendo-lhe o braço. Ela sorriu e aceitou de bom grado, deslizando sua mão pelo antebraço dele. Seu vestido sofisticado e ousado fez algumas cabeças se virarem.Logo atrás, Isabelle desceu do carro segurando as pequenas mãos de Henrique e Letícia. A movimentação do evento a deixou um pouco hesitante, mas manteve a postura firme.E então, como Victor já esperava, os olhares se voltaram para ela.O vestido azul-marinho que usava, simples, mas elegante, realçava sua figura de um jeito que ele não havia
Capítulo 7Helena sorriu ao perceber que Victor estava se deixando levar pela conversa. Era como se ela tivesse vencido uma pequena batalha, mas estava satisfeita demais para notar a frieza em sua postura.- Eu sabia que você iria se animar, até mais tarde, querido - disse ela com um tom de voz doce, cheia de confiança.Enquanto isso, Mercedes observava de longe a interação entre Victor e Helena. Seus olhos se estreitaram quando viu o sorriso de Helena, como se estivesse observando uma cena desconfortável. Isso a incomodava. Ela não queria ver aquela mulher perto dele.Mercedes, com sua habilidade de saber quando a situação precisava ser mais "explorada", começou a caminhar na direção de Helena. Ao se aproximar, ela sorriu de forma cordial, mas com um toque de curiosidade que indicava que ela queria saber mais.- Helena... - começou Mercedes, com sua voz suave e um sorriso afável. - Que bom ver você aqui.Helena se virou, surpresa, mas logo a recepção amigável de Mercedes a fez relaxa
Capítulo 8Victor segurou os braços de Helena e a afastou com firmeza, o rosto contraído em uma expressão de impaciência. Seu humor, que já não estava dos melhores, azedou de vez.— Helena, chega.Ela piscou, surpresa com a frieza dele.— Mas, querido… Hoje é nossa noite, faz tanto tempo — insistiu, tentando tocá-lo novamente, mas ele se afastou.Ele suspirou, passando uma mão pelo rosto, tentando conter a irritação.— Helena, é melhor você esquecer isso. Faz muito tempo que estamos sem contato, você saiu do país…— E agora voltei! Achei que podíamos retomar de onde paramos — disse, cruzando os braços, claramente ofendida.Victor soltou uma risada curta, sem humor.— Retomar? Helena, eu nunca te prometi nada. Sempre deixamos claro que era algo casual.Ela estreitou os olhos, o tom de voz ganhando um leve toque de indignação.— Não acredito que está me dispensando assim.Ele enfiou as mãos nos bolsos do paletó, encarando-a com seriedade.— Eu não estou te dispensando, Helena. Estou ape
Capítulo 9Mercedes caminhou com elegância até a mesa onde seus filhos estavam sentados, seus olhos suavizando ao vê-los tão animados. Ela se inclinou levemente e acariciou os cabelos de Letícia, que olhou para cima com um sorriso radiante.— Gostaram da dança? — perguntou com doçura.— Isa estava incrível, mamãe! — Letícia exclamou, empolgada.Mercedes sorriu, mas, por dentro, seu pensamento estava longe dali. O champanhe começava a fazer efeito, e a lembrança do que dissera a Victor há pouco a fez sentir um pequeno arrependimento. Havia provocado demais? Talvez tivesse exagerado ao cutucar seu cunhado daquele jeito.Mas, antes que pudesse se perder em suas próprias preocupações, seus olhos captaram um movimento ao longe.Victor caminhava pelo salão com sua expressão fechada, os ombros tensos, mas, de repente, ele parou no meio do caminho.Mercedes seguiu seu olhar e entendeu o motivo.Isabelle se aproximava da mesa com um sorriso no rosto. Mas ela não estava sozinha. Luiz, o assesso
Capítulo 10Às quatro da manhã, Victor desceu as escadas lentamente, o som dos seus passos ecoando na mansão silenciosa. Ele havia acabado de colocar Mercedes em seu quarto, ainda se sentindo incomodado com a cena que ela havia causado mais cedo. Antes disso, havia verificado as crianças, que dormiam profundamente, alheias ao caos da noite. O quarto de Isabelle estava com as luzes apagadas, o que lhe trouxe um estranho alívio.Ele foi até a sala de estar, onde se serviu de um copo de whisky, a única bebida forte que parecia acalmá-lo quase instantaneamente. Após três doses, o calor do álcool correndo por suas veias parecia acalmar a mente inquieta. Ele precisava processar tudo o que acontecera naquela noite, especialmente a tensão com Mercedes."Ela ainda não está pronta para voltar a andar pela alta sociedade depois da morte de Carlos", pensou Victor, com um suspiro. O luto estava mexendo muito com a cabeça dela, e, de alguma forma, o impacto disso estava se refletindo em atitudes im