Capítulo 4
No final do dia, Victor voltou para a mansão e se juntou à cunhada e aos sobrinhos para o jantar. A conversa fluía de maneira leve, e Mercedes contou animada que havia passado a tarde cuidando dos cabelos e das unhas no salão. — Resolvi seguir seu conselho, Victor. Fui ao salão e finalmente tirei um tempo para mim. Ele assentiu, tomando um gole de vinho. Sinceramente, não tinha reparado na mudança, mas ficou satisfeito ao ver que ela parecia mais disposta. — Fico feliz por isso. É importante que você se cuide. Mercedes sorriu, e a conversa logo foi desviada para as crianças, que falavam sobre o dia com Isabelle. Pelo visto, ela já havia conquistado a confiança deles. Após o jantar, Victor chamou o mordomo até o escritório. Sentado atrás da imponente mesa de madeira escura, ele tirou o anel do dedo por um momento, girando-o entre os dedos, um hábito que costumava surgir sempre que estava imerso em pensamentos. — Ela se recolheu? — perguntou, referindo-se a Isabelle. — Não, senhor — respondeu o mordomo com a postura impecável de sempre. — A senhorita Isabelle foi embora. Disse que precisava resolver algumas pendências antes de se mudar definitivamente. Também mencionou que devolveria o carro alugado. Victor franziu o cenho, levemente incomodado. — Hum... certo. Onde será o quarto dela? — No térreo, junto com os outros funcionários, senhor. Houve um breve silêncio. Victor girou o anel mais uma vez antes de levantar o olhar decidido. — Não. O mordomo piscou, surpreso. — Senhor? — Quero que preparem um dos quartos da ala leste. Algo confortável. Ela ficará ali. — Mas, senhor... — Ela não é apenas uma funcionária qualquer — Victor o interrompeu, firme. — Cuidará das crianças, estará envolvida diretamente com a rotina da família. Não vejo motivo para que fique nas acomodações dos demais empregados. O mordomo hesitou por um instante, mas logo assentiu. — Como desejar, senhor. Providenciarei tudo. Victor recostou-se na cadeira, satisfeito com sua decisão. Não sabia explicar exatamente por que isso lhe parecia tão importante, mas sabia que queria Isabelle mais próxima. Mercedes estava sentada no sofá da sala de estar, observando os filhos brincarem animadamente no tapete. O riso das crianças enchia o ambiente de uma leveza que há tempos ela não sentia. Por mais que amasse seus pequenos, a rotina de mãe solo a deixava exausta, e aqueles momentos de tranquilidade eram raros. Victor entrou na sala com passos firmes, ajeitando os punhos da camisa. Assim que avistou Mercedes, fez uma breve pausa antes de falar: — No sábado, haverá um evento de gala, e eu gostaria que você fosse. Mercedes ergueu os olhos para o cunhado, surpresa. — Sério? — perguntou, enquanto um brilho de entusiasmo surgia em seu olhar. Victor assentiu. — Sim. Acho que será uma boa oportunidade para você sair um pouco e se distrair. Ela sorriu, animada. — Obrigada, Victor. Eu realmente estou precisando disso. Victor esboçou um pequeno sorriso, satisfeito por vê-la mais disposta. — Ótimo. Providenciarei um vestido para você. — Eu posso escolher um, caso você não saiba — ela retrucou com um olhar divertido. Ele riu baixo. — Como quiser. Mas garanta que seja algo à altura do evento. Mercedes balançou a cabeça, ainda sorrindo. — Pode deixar. Enquanto Mercedes voltava sua atenção para as crianças, Victor pegou o celular e enviou uma mensagem para sua secretária, solicitando que organizasse os convites e todos os detalhes do evento. Agora, precisava conversar com Isabelle sobre a noite do evento, já que ela ficaria responsável por cuidar das crianças. Sabia que isso poderia ser cansativo para ela, então considerou dar-lhe um dia extra de folga ou compensá-la financeiramente. A decisão ficaria por sua conta. Victor subiu as escadas em passos firmes, sentindo o peso do dia nos ombros. Ao chegar ao seu quarto, fechou a porta atrás de si e soltou um longo suspiro. A mansão estava silenciosa agora, apenas o som distante do vento batendo contra as janelas. Com gestos automáticos, afrouxou a gravata e começou a desabotoar a camisa, sentindo o alívio imediato da peça se soltando de seu corpo. Caminhou até o closet, onde pendurou a roupa cuidadosamente, tirando os sapatos em seguida. Seu corpo estava tenso, e ele sabia que precisava relaxar antes de tentar dormir. Decidido, foi até o banheiro privativo. O espaço era amplo, sofisticado, com mármore negro e iluminação suave. Abriu a torneira da banheira e deixou a água quente correr, adicionando um pouco de sais de banho. Enquanto esperava a banheira encher, apoiou as mãos na pia e se encarou no espelho. Seu olhar estava cansado, mas a mente, inquieta. Mesmo após um longo dia de trabalho, pensamentos sobre Isabelle ainda pairavam em sua cabeça. A jovem babá, tinha algo nela que o intrigava, talvez fosse a voz, ou a forma como parecia se conectar naturalmente com as crianças. Fechou os olhos e afastou essas reflexões. Aquilo não fazia sentido. Assim que a banheira ficou cheia, Victor entrou na água quente, sentindo o calor aliviar a tensão de seus músculos. Deixou a cabeça recostar na borda, soltando um suspiro. O banho de imersão era um dos poucos luxos que realmente apreciava. Ficou ali por alguns minutos, aproveitando o silêncio e o conforto da água. Mas, mesmo tentando relaxar, sua mente insistia em voltar para Isabelle. "Isso vai ser um problema", pensou, antes de fechar os olhos e tentar se desligar de tudo, pelo menos por aquela noite. Após o banho, Victor pegou uma toalha macia, secou-se lentamente e caminhou pelo quarto, sentindo o calor ainda em sua pele. Trancou a porta, um hábito antigo, e deixou a toalha cair antes de se deitar. O contato direto do corpo com os lençóis frios fez um arrepio percorrer sua espinha, mas logo ele relaxou. Dormir assim sempre o ajudava a descansar melhor. Na manhã seguinte... Isabelle chegou cedo, como no dia anterior. Assim que entrou pela porta principal, foi recebida pelo mordomo, que a cumprimentou educadamente. — Bom dia, senhorita Isabelle. Como foi sua noite? — Bom dia, senhor James. Foi ótima, obrigada. E a sua? — perguntou com um sorriso educado. Victor, que estava no topo da escada ajustando o relógio no pulso como de costume, parou ao ouvir a conversa. Seus olhos se fixaram nos dois e, por alguma razão, sentiu uma irritação leve ao notar a atenção que Isabelle dava ao mordomo. Ele sabia que James era um profissional impecável, mas não gostou da familiaridade no tom dela. Sem pensar muito, começou a descer as escadas. — Isabelle — chamou, sua voz firme e direta. Ela se virou imediatamente. — Sim, senhor Mendonça? — Me acompanhe até o escritório. Isabelle franziu a testa levemente, tentando entender o motivo do chamado repentino. — Aconteceu algo, senhor? — perguntou, mantendo um tom respeitoso. Victor se recostou na mesa, cruzando os braços. — No sábado, haverá um evento de gala. Quero que vá comigo para cuidar das crianças. Ela piscou algumas vezes, surpresa. — Claro, senhor. Se precisar que eu fique com elas, estarei à disposição. Ele assentiu. — Ótimo. Como será uma noite longa, quero compensá-la por isso. Pode escolher entre um dia de folga extra na semana ou um valor adicional pelo serviço. — Um dia de folga está ótimo, senhor. Obrigada. — Isabelle respondeu sem hesitar, demonstrando gratidão pela consideração. Victor a observou por um instante antes de mudar de assunto. — E suas coisas? Onde estão? Você já deveria ter se mudado para cá. — Vou buscá-las depois do expediente, senhor. Não se preocupe. Ele estreitou os olhos. — Não precisa fazer isso sozinha. Posso mandar um motorista. — Não é muita coisa, consigo trazer sozinha — respondeu rapidamente, mas sua voz soou hesitante. Victor percebeu a forma como ela evitou seu olhar e cruzou os braços diante do leve constrangimento dela. Em silêncio, pegou o telefone e discou para o motorista. — Carlos, quero que acompanhe a senhorita Isabelle para buscar seus pertences. Disponibilize um dos carros da casa. Ela arregalou os olhos, surpresa com a atitude dele. — Senhor, eu realmente não precisava… Victor cortou qualquer possibilidade de discussão com um olhar firme. — Está resolvido. Quando terminar seu expediente, Carlos estará à sua disposição. Isabelle soltou um suspiro resignado e assentiu. — Sim, senhor. Obrigada. Victor apenas inclinou levemente a cabeça, satisfeito por ter encerrado o assunto.Capítulo 5O aroma amadeirado do whisky misturava-se ao leve perfume de couro dos móveis enquanto Victor girava o líquido âmbar no copo, seus olhos fixos nas luzes do jardim além da imensa janela de vidro da sala de estar. A mansão, estava silenciosa, enquanto Mercedes e as crianças se preparavam para a noite especial.Ele ergueu o copo aos lábios e tomou um gole, sentindo o calor agradável da bebida descer por sua garganta. O evento de gala era um compromisso necessário, parte do mundo dos negócios e das aparências que ele dominava tão bem, mas naquela noite, sua mente insistia em se ocupar de outra coisa.Isabelle.Como ela se vestiria para a ocasião?Era uma pergunta tola, mas ele se pegou pensando nisso mais do que deveria. Nos últimos dias, percebeu que sua presença o afetava de formas inesperadas. Havia algo nela, talvez inocência ou força, que lhe despertava um interesse que ele não sabia bem como lidar.Lembrou-se da forma como ela sempre o chamava de "senhor", da maneira disc
Capítulo 6A limusine parou suavemente na entrada do luxuoso salão de eventos. Luzes douradas iluminavam a fachada imponente, e uma fileira de carros de alto padrão chegava a todo instante, trazendo convidados da elite.Victor desceu primeiro, ajeitando o terno com um movimento automático. Como esperado, os olhares se voltaram para ele assim que pisou no tapete vermelho. Com sua postura impecável e a presença imponente, ele sempre atraía atenção.Virou-se para ajudar Mercedes a descer, oferecendo-lhe o braço. Ela sorriu e aceitou de bom grado, deslizando sua mão pelo antebraço dele. Seu vestido sofisticado e ousado fez algumas cabeças se virarem.Logo atrás, Isabelle desceu do carro segurando as pequenas mãos de Henrique e Letícia. A movimentação do evento a deixou um pouco hesitante, mas manteve a postura firme.E então, como Victor já esperava, os olhares se voltaram para ela.O vestido azul-marinho que usava, simples, mas elegante, realçava sua figura de um jeito que ele não havia
Capítulo 7Helena sorriu ao perceber que Victor estava se deixando levar pela conversa. Era como se ela tivesse vencido uma pequena batalha, mas estava satisfeita demais para notar a frieza em sua postura.- Eu sabia que você iria se animar, até mais tarde, querido - disse ela com um tom de voz doce, cheia de confiança.Enquanto isso, Mercedes observava de longe a interação entre Victor e Helena. Seus olhos se estreitaram quando viu o sorriso de Helena, como se estivesse observando uma cena desconfortável. Isso a incomodava. Ela não queria ver aquela mulher perto dele.Mercedes, com sua habilidade de saber quando a situação precisava ser mais "explorada", começou a caminhar na direção de Helena. Ao se aproximar, ela sorriu de forma cordial, mas com um toque de curiosidade que indicava que ela queria saber mais.- Helena... - começou Mercedes, com sua voz suave e um sorriso afável. - Que bom ver você aqui.Helena se virou, surpresa, mas logo a recepção amigável de Mercedes a fez relaxa
Capítulo 8Victor segurou os braços de Helena e a afastou com firmeza, o rosto contraído em uma expressão de impaciência. Seu humor, que já não estava dos melhores, azedou de vez.— Helena, chega.Ela piscou, surpresa com a frieza dele.— Mas, querido… Hoje é nossa noite, faz tanto tempo — insistiu, tentando tocá-lo novamente, mas ele se afastou.Ele suspirou, passando uma mão pelo rosto, tentando conter a irritação.— Helena, é melhor você esquecer isso. Faz muito tempo que estamos sem contato, você saiu do país…— E agora voltei! Achei que podíamos retomar de onde paramos — disse, cruzando os braços, claramente ofendida.Victor soltou uma risada curta, sem humor.— Retomar? Helena, eu nunca te prometi nada. Sempre deixamos claro que era algo casual.Ela estreitou os olhos, o tom de voz ganhando um leve toque de indignação.— Não acredito que está me dispensando assim.Ele enfiou as mãos nos bolsos do paletó, encarando-a com seriedade.— Eu não estou te dispensando, Helena. Estou ape
Capítulo 9Mercedes caminhou com elegância até a mesa onde seus filhos estavam sentados, seus olhos suavizando ao vê-los tão animados. Ela se inclinou levemente e acariciou os cabelos de Letícia, que olhou para cima com um sorriso radiante.— Gostaram da dança? — perguntou com doçura.— Isa estava incrível, mamãe! — Letícia exclamou, empolgada.Mercedes sorriu, mas, por dentro, seu pensamento estava longe dali. O champanhe começava a fazer efeito, e a lembrança do que dissera a Victor há pouco a fez sentir um pequeno arrependimento. Havia provocado demais? Talvez tivesse exagerado ao cutucar seu cunhado daquele jeito.Mas, antes que pudesse se perder em suas próprias preocupações, seus olhos captaram um movimento ao longe.Victor caminhava pelo salão com sua expressão fechada, os ombros tensos, mas, de repente, ele parou no meio do caminho.Mercedes seguiu seu olhar e entendeu o motivo.Isabelle se aproximava da mesa com um sorriso no rosto. Mas ela não estava sozinha. Luiz, o assesso
Capítulo 10Às quatro da manhã, Victor desceu as escadas lentamente, o som dos seus passos ecoando na mansão silenciosa. Ele havia acabado de colocar Mercedes em seu quarto, ainda se sentindo incomodado com a cena que ela havia causado mais cedo. Antes disso, havia verificado as crianças, que dormiam profundamente, alheias ao caos da noite. O quarto de Isabelle estava com as luzes apagadas, o que lhe trouxe um estranho alívio.Ele foi até a sala de estar, onde se serviu de um copo de whisky, a única bebida forte que parecia acalmá-lo quase instantaneamente. Após três doses, o calor do álcool correndo por suas veias parecia acalmar a mente inquieta. Ele precisava processar tudo o que acontecera naquela noite, especialmente a tensão com Mercedes."Ela ainda não está pronta para voltar a andar pela alta sociedade depois da morte de Carlos", pensou Victor, com um suspiro. O luto estava mexendo muito com a cabeça dela, e, de alguma forma, o impacto disso estava se refletindo em atitudes im
Capítulo 11Na manhã seguinte, Isabelle vestiu seu uniforme e seguiu direto para o quarto das crianças. Com delicadeza, acordou Letícia e pediu que escovasse os dentes e colocasse o uniforme da escola. Enquanto isso, foi até Henrique, que sempre demorava mais para despertar, ajudando-o a se levantar e se arrumar.Com ambos prontos, ela os guiava até as escadas quando parou de repente, surpresa com a cena à sua frente. Mercedes saía do quarto descalça, ainda vestindo o traje da noite anterior. Seu cabelo estava desalinhado, e a maquiagem borrada denunciava que ela sequer havia dormido direito.— Ah, meu Deus... Esqueci da escola — murmurou, interrompendo-se ao notar os filhos já arrumados e olhando para ela com estranhamento. — Já estão indo?— Já, mamãe — respondeu Letícia, lançando-lhe um olhar curioso.Mercedes respirou fundo, tentando se recompor.— Dêem um beijo na mamãe antes de irem. Até mais, meus tesouros.As crianças se despediram com abraços rápidos. Isabelle também a cumpri
Capítulo 12Minutos depois, o novo assistente bateu levemente na porta antes de entrar com uma prancheta em mãos.— Senhor Mendonça, aqui está sua agenda para hoje — começou ele, lendo os compromissos com precisão.Victor escutava, mas sua mente estava longe. Seus olhos estavam fixos em um ponto qualquer da mesa, e ele tamborilava os dedos sobre o tampo de madeira maciça. Pensava no acidente de sua assistente, em Mercedes e em Isabelle... principalmente nela.— ... e às três da tarde, o senhor tem uma reunião com os investidores asiáticos para revisar os novos contratos — concluiu o assistente.O silêncio que se seguiu fez o jovem levantar o olhar. Victor continuava calado, a expressão distante.— Senhor Mendonça? — chamou o assistente, incerto.Victor não respondeu de imediato, apenas piscou algumas vezes antes de encará-lo.— Quer que volte depois, senhor?Ele respirou fundo e passou a mão pelo queixo antes de balançar a cabeça.— Não. Poderia repetir?O assistente reprimiu um suspi