Capítulo 3
Victor saiu apressado da sala, com passos firmes que ecoavam pelo piso impecável da mansão. Ao chegar ao escritório da casa, pegou a pasta que estava sobre a mesa e ajustou o paletó antes de sair. Na limusine, deixou a pasta de lado e voltou sua atenção para a paisagem além da janela. O carro atravessava os portões da imponente mansão, e ele se perdeu nos próprios pensamentos enquanto as árvores alinhadas da entrada ficavam para trás. Como de costume, sua mão foi instintivamente ao anel no dedo. Ele girava a joia delicadamente, um gesto quase automático. Aquele anel havia pertencido ao seu pai, um homem que sempre fora seu exemplo e maior inspiração. Foi presenteado a Victor no leito de morte, em um momento que ele jamais esqueceria. Enquanto seus olhos fixavam o horizonte, lembranças do pai surgiam com nitidez. Ele ainda podia ouvir a voz grave e tranquila dizendo: "Use este anel como símbolo da nossa família e de tudo o que construímos juntos. Lembre-se de quem você é, Victor." Essas palavras ecoavam em sua mente sempre que se sentia sobrecarregado. Hoje não era diferente. Ele suspirou profundamente e repousou a mão sobre a perna, deixando o anel quieto por um momento. A limusine acelerava pelas ruas da cidade, mas na mente de Victor, os pensamentos agora desviavam para Isabelle, a nova babá. Ele se pegou lembrando da voz suave dela, que parecia envolvê-lo de um jeito que o desarmava completamente. Era algo inexplicável; toda vez que a escutava, sentia um arrepio percorrer sua espinha, como se ela tivesse o poder de atravessar a fachada controlada que sempre mantinha. Ele balançou a cabeça, tentando afastar a ideia. "É só cansaço", pensou, tentando racionalizar. No entanto, havia algo mais. Algo que ele não sabia definir, mas que o intrigava profundamente. Isabelle não era apenas educada e profissional; havia uma energia nela, uma leveza, algo que não sabia como definir. Enquanto olhava pela janela, Victor se deu conta de que fazia muito tempo desde que alguém o fazia sentir assim. Ele não queria admitir, mas aquela inquietação estava começando a ocupar mais espaço do que deveria em sua mente. Fechou os olhos por um instante e respirou fundo, tentando se concentrar no dia de trabalho que tinha pela frente. "Ela é só uma funcionária. Nada além disso", murmurou para si mesmo, como se dizer isso em voz alta pudesse dissipar os pensamentos que insistiam em voltar. Mas, no fundo, sabia que não era tão simples assim. A limusine parou suavemente em frente ao edifício imponente da Mendonça Corporation. Assim que a porta foi aberta pelo motorista, Victor desceu com passos firmes, ajustando o terno impecável. O calor da manhã era intenso, mas, assim que atravessou as portas de vidro, uma rajada de ar fresco o envolveu, aliviando-o do calor intenso da rua. O ambiente interno era moderno, sofisticado e extremamente organizado. O som de saltos e sapatos ecoava pelo piso de mármore polido, e os funcionários que estavam por perto imediatamente interromperam o que faziam para cumprimentá-lo com respeito. — Bom dia, senhor Mendonça. — Bom dia, senhor. Ele apenas acenava discretamente com a cabeça, mantendo sua expressão impassível. Estava acostumado com os olhares de admiração e, em alguns casos, até de receio. Sua presença sempre impunha respeito, e ele fazia questão de manter essa postura. Ao passar pela recepção, sua assistente, Camila, já estava a postos, acompanhando seu ritmo acelerado enquanto lhe entregava uma pasta. — Aqui estão os relatórios atualizados da fusão com a Atlantic Group. O conselho espera sua aprovação até o fim do dia, senhor. — Alguma alteração significativa? — ele perguntou sem diminuir o passo, folheando rapidamente as primeiras páginas. — Nada que fuja do esperado. Mas há uma cláusula que o setor jurídico sugeriu revisar antes da assinatura final. Victor assentiu, já prevendo mais uma reunião desgastante. Chegando ao elevador privativo, ele entrou sem hesitar, e Camila o seguiu, continuando o resumo das pendências do dia. — Ah, e tem também o evento de gala no sábado. Confirmo sua presença? Ele exalou discretamente, sem demonstrar irritação. Não era fã dessas ocasiões, mas sabia que sua posição exigia aparências. — Sim, confirme. O elevador chegou ao último andar, e Victor saiu diretamente para seu escritório, um ambiente espaçoso, com uma vista panorâmica da cidade. Caminhou até a mesa, largou a pasta e, por instinto, girou o anel em seu dedo. Por mais que estivesse ali para trabalhar, sua mente insistia em vagar por um detalhe inesperado: Isabelle. O que aquela mulher tinha que o fazia perder o foco de maneira tão irritante? Ele não sabia, mas uma coisa era certa, isso o incomodava mais do que deveria. Victor estava prestes a abrir a pasta que Camila havia acabado de lhe entregar quando seu celular vibrou na mesa. Ele pegou o aparelho e viu o nome de Felipe piscando na tela. Suspirou ligeiramente antes de atender, ajustando o tom de voz para algo casual. — Felipe, bom dia. — Bom dia, Victor. Liguei para saber como estão as coisas. Deu tudo certo para contratar Isabelle? Victor se recostou na cadeira, girando o anel no dedo enquanto respondia: — Sim, ela começou hoje. Parece ser competente e boa com as crianças. Felipe riu do outro lado da linha. — Parece? Você é sempre tão cauteloso. Dê uma chance, cara. Isabelle é uma ótima pessoa. Victor arqueou uma sobrancelha, embora Felipe não pudesse vê-lo. — Não é questão de cautela, Felipe. É o mínimo que espero de qualquer profissional que contrato. — Claro, claro — Felipe provocou. — Mas, honestamente, ela é mais do que apenas competente. Isabelle é esforçada, responsável e muito dedicada. Você vai ver. Victor apertou os lábios, pensando por um momento. Algo sobre Isabelle realmente o intrigava, mas ele não iria admitir isso para Felipe. — Espero que esteja certo. Não tenho tempo para problemas. — Relaxa, meu amigo. Confie em mim, ela vai ser um alívio, não um problema. Victor soltou um leve "hum" em resposta, sinalizando que a conversa estava encerrando. — De qualquer forma, obrigado pela indicação. Tenho coisas para resolver aqui. — Tudo bem, só não vá pegar muito no pé dela. Isabelle é um diamante bruto — disse Felipe, com um tom quase de brincadeira. — Até mais, Felipe. — Até mais, Victor. Ao desligar, Victor ficou por um momento olhando para o celular. As palavras de Felipe ecoavam em sua mente: "Um diamante bruto." Ele balançou a cabeça levemente e voltou sua atenção para a pasta na mesa. Preciso parar de pensar nisso, pensou, mas, de alguma forma, a lembrança do sorriso de Isabelle insistia em invadir seus pensamentos.Capítulo 4No final do dia, Victor voltou para a mansão e se juntou à cunhada e aos sobrinhos para o jantar. A conversa fluía de maneira leve, e Mercedes contou animada que havia passado a tarde cuidando dos cabelos e das unhas no salão.— Resolvi seguir seu conselho, Victor. Fui ao salão e finalmente tirei um tempo para mim.Ele assentiu, tomando um gole de vinho. Sinceramente, não tinha reparado na mudança, mas ficou satisfeito ao ver que ela parecia mais disposta.— Fico feliz por isso. É importante que você se cuide.Mercedes sorriu, e a conversa logo foi desviada para as crianças, que falavam sobre o dia com Isabelle. Pelo visto, ela já havia conquistado a confiança deles.Após o jantar, Victor chamou o mordomo até o escritório. Sentado atrás da imponente mesa de madeira escura, ele tirou o anel do dedo por um momento, girando-o entre os dedos, um hábito que costumava surgir sempre que estava imerso em pensamentos.— Ela se recolheu? — perguntou, referindo-se a Isabelle.— Não, s
Capítulo 5O aroma amadeirado do whisky misturava-se ao leve perfume de couro dos móveis enquanto Victor girava o líquido âmbar no copo, seus olhos fixos nas luzes do jardim além da imensa janela de vidro da sala de estar. A mansão, estava silenciosa, enquanto Mercedes e as crianças se preparavam para a noite especial.Ele ergueu o copo aos lábios e tomou um gole, sentindo o calor agradável da bebida descer por sua garganta. O evento de gala era um compromisso necessário, parte do mundo dos negócios e das aparências que ele dominava tão bem, mas naquela noite, sua mente insistia em se ocupar de outra coisa.Isabelle.Como ela se vestiria para a ocasião?Era uma pergunta tola, mas ele se pegou pensando nisso mais do que deveria. Nos últimos dias, percebeu que sua presença o afetava de formas inesperadas. Havia algo nela, talvez inocência ou força, que lhe despertava um interesse que ele não sabia bem como lidar.Lembrou-se da forma como ela sempre o chamava de "senhor", da maneira disc
Capítulo 6A limusine parou suavemente na entrada do luxuoso salão de eventos. Luzes douradas iluminavam a fachada imponente, e uma fileira de carros de alto padrão chegava a todo instante, trazendo convidados da elite.Victor desceu primeiro, ajeitando o terno com um movimento automático. Como esperado, os olhares se voltaram para ele assim que pisou no tapete vermelho. Com sua postura impecável e a presença imponente, ele sempre atraía atenção.Virou-se para ajudar Mercedes a descer, oferecendo-lhe o braço. Ela sorriu e aceitou de bom grado, deslizando sua mão pelo antebraço dele. Seu vestido sofisticado e ousado fez algumas cabeças se virarem.Logo atrás, Isabelle desceu do carro segurando as pequenas mãos de Henrique e Letícia. A movimentação do evento a deixou um pouco hesitante, mas manteve a postura firme.E então, como Victor já esperava, os olhares se voltaram para ela.O vestido azul-marinho que usava, simples, mas elegante, realçava sua figura de um jeito que ele não havia
Capítulo 7Helena sorriu ao perceber que Victor estava se deixando levar pela conversa. Era como se ela tivesse vencido uma pequena batalha, mas estava satisfeita demais para notar a frieza em sua postura.- Eu sabia que você iria se animar, até mais tarde, querido - disse ela com um tom de voz doce, cheia de confiança.Enquanto isso, Mercedes observava de longe a interação entre Victor e Helena. Seus olhos se estreitaram quando viu o sorriso de Helena, como se estivesse observando uma cena desconfortável. Isso a incomodava. Ela não queria ver aquela mulher perto dele.Mercedes, com sua habilidade de saber quando a situação precisava ser mais "explorada", começou a caminhar na direção de Helena. Ao se aproximar, ela sorriu de forma cordial, mas com um toque de curiosidade que indicava que ela queria saber mais.- Helena... - começou Mercedes, com sua voz suave e um sorriso afável. - Que bom ver você aqui.Helena se virou, surpresa, mas logo a recepção amigável de Mercedes a fez relaxa
Capítulo 8Victor segurou os braços de Helena e a afastou com firmeza, o rosto contraído em uma expressão de impaciência. Seu humor, que já não estava dos melhores, azedou de vez.— Helena, chega.Ela piscou, surpresa com a frieza dele.— Mas, querido… Hoje é nossa noite, faz tanto tempo — insistiu, tentando tocá-lo novamente, mas ele se afastou.Ele suspirou, passando uma mão pelo rosto, tentando conter a irritação.— Helena, é melhor você esquecer isso. Faz muito tempo que estamos sem contato, você saiu do país…— E agora voltei! Achei que podíamos retomar de onde paramos — disse, cruzando os braços, claramente ofendida.Victor soltou uma risada curta, sem humor.— Retomar? Helena, eu nunca te prometi nada. Sempre deixamos claro que era algo casual.Ela estreitou os olhos, o tom de voz ganhando um leve toque de indignação.— Não acredito que está me dispensando assim.Ele enfiou as mãos nos bolsos do paletó, encarando-a com seriedade.— Eu não estou te dispensando, Helena. Estou ape
Capítulo 9Mercedes caminhou com elegância até a mesa onde seus filhos estavam sentados, seus olhos suavizando ao vê-los tão animados. Ela se inclinou levemente e acariciou os cabelos de Letícia, que olhou para cima com um sorriso radiante.— Gostaram da dança? — perguntou com doçura.— Isa estava incrível, mamãe! — Letícia exclamou, empolgada.Mercedes sorriu, mas, por dentro, seu pensamento estava longe dali. O champanhe começava a fazer efeito, e a lembrança do que dissera a Victor há pouco a fez sentir um pequeno arrependimento. Havia provocado demais? Talvez tivesse exagerado ao cutucar seu cunhado daquele jeito.Mas, antes que pudesse se perder em suas próprias preocupações, seus olhos captaram um movimento ao longe.Victor caminhava pelo salão com sua expressão fechada, os ombros tensos, mas, de repente, ele parou no meio do caminho.Mercedes seguiu seu olhar e entendeu o motivo.Isabelle se aproximava da mesa com um sorriso no rosto. Mas ela não estava sozinha. Luiz, o assesso
Capítulo 10Às quatro da manhã, Victor desceu as escadas lentamente, o som dos seus passos ecoando na mansão silenciosa. Ele havia acabado de colocar Mercedes em seu quarto, ainda se sentindo incomodado com a cena que ela havia causado mais cedo. Antes disso, havia verificado as crianças, que dormiam profundamente, alheias ao caos da noite. O quarto de Isabelle estava com as luzes apagadas, o que lhe trouxe um estranho alívio.Ele foi até a sala de estar, onde se serviu de um copo de whisky, a única bebida forte que parecia acalmá-lo quase instantaneamente. Após três doses, o calor do álcool correndo por suas veias parecia acalmar a mente inquieta. Ele precisava processar tudo o que acontecera naquela noite, especialmente a tensão com Mercedes."Ela ainda não está pronta para voltar a andar pela alta sociedade depois da morte de Carlos", pensou Victor, com um suspiro. O luto estava mexendo muito com a cabeça dela, e, de alguma forma, o impacto disso estava se refletindo em atitudes im
Capítulo 11Na manhã seguinte, Isabelle vestiu seu uniforme e seguiu direto para o quarto das crianças. Com delicadeza, acordou Letícia e pediu que escovasse os dentes e colocasse o uniforme da escola. Enquanto isso, foi até Henrique, que sempre demorava mais para despertar, ajudando-o a se levantar e se arrumar.Com ambos prontos, ela os guiava até as escadas quando parou de repente, surpresa com a cena à sua frente. Mercedes saía do quarto descalça, ainda vestindo o traje da noite anterior. Seu cabelo estava desalinhado, e a maquiagem borrada denunciava que ela sequer havia dormido direito.— Ah, meu Deus... Esqueci da escola — murmurou, interrompendo-se ao notar os filhos já arrumados e olhando para ela com estranhamento. — Já estão indo?— Já, mamãe — respondeu Letícia, lançando-lhe um olhar curioso.Mercedes respirou fundo, tentando se recompor.— Dêem um beijo na mamãe antes de irem. Até mais, meus tesouros.As crianças se despediram com abraços rápidos. Isabelle também a cumpri