Capítulo 5
O aroma amadeirado do whisky misturava-se ao leve perfume de couro dos móveis enquanto Victor girava o líquido âmbar no copo, seus olhos fixos nas luzes do jardim além da imensa janela de vidro da sala de estar. A mansão, estava silenciosa, enquanto Mercedes e as crianças se preparavam para a noite especial. Ele ergueu o copo aos lábios e tomou um gole, sentindo o calor agradável da bebida descer por sua garganta. O evento de gala era um compromisso necessário, parte do mundo dos negócios e das aparências que ele dominava tão bem, mas naquela noite, sua mente insistia em se ocupar de outra coisa. Isabelle. Como ela se vestiria para a ocasião? Era uma pergunta tola, mas ele se pegou pensando nisso mais do que deveria. Nos últimos dias, percebeu que sua presença o afetava de formas inesperadas. Havia algo nela, talvez inocência ou força, que lhe despertava um interesse que ele não sabia bem como lidar. Lembrou-se da forma como ela sempre o chamava de "senhor", da maneira discreta como abaixava os olhos quando ele a surpreendia olhando para ele. Mas também se lembrou do jeito que ela comandava as crianças com naturalidade e do sorriso sincero que oferecia a elas, tão diferente dos sorrisos artificiais que ele estava acostumado a ver em eventos sociais. Inclinando a cabeça levemente, Victor soltou um suspiro. Por que estava tão curioso? Talvez fosse apenas o fato de que, pela primeira vez, a veria fora do uniforme de babá. Talvez quisesse entender melhor aquela mulher que, de forma sutil, começava a invadir seus pensamentos. O som de passos no andar de cima o trouxe de volta ao presente. Mercedes devia estar quase pronta. Logo sairiam para a festa. Victor terminou o whisky de um único gole e colocou o copo sobre o balcão com um leve tilintar. Com passos firmes, dirigiu-se até a entrada da mansão, parando no topo da escada para esperar Mercedes e as crianças. Não demorou muito para que sua cunhada aparecesse. Assim que a viu, ele franziu levemente a testa. Mercedes estava deslumbrante, como sempre, mas o vestido que escolheu para a noite lhe pareceu... ousado demais. O tecido justo realçava suas curvas, e o decote profundo chamava mais atenção do que ele considerava apropriado para um evento elegante. Victor segurou a língua. Não cabia a ele dizer nada. Mercedes era uma mulher adulta e sabia se vestir. Ela percebeu seu olhar crítico e ergueu uma sobrancelha. — Algum problema, querido cunhado? — perguntou, um sorriso brincando nos lábios. Victor soltou um suspiro discreto. — Apenas me perguntando se você vai conseguir passar a noite sem precisar afastar pretendentes indesejados. Mercedes soltou uma risada divertida. — Ah, Victor, isso faz parte da diversão, não acha? Ele lhe lançou um olhar de advertência, mas não respondeu. No fundo, sabia que Mercedes adorava provocar e testar os limites. Antes que ele pudesse continuar a conversa, o som de passos leves ecoou pelo corredor. Isabelle apareceu. E, naquele instante, Victor esqueceu completamente do vestido de Mercedes. Assim que Isabelle surgiu no corredor, Victor sentiu seu corpo enrijecer por um breve momento. Ele não sabia o que esperava, mas definitivamente não estava preparado para o que viu. A jovem babá, sempre discreta em suas roupas e postura, parecia uma visão completamente diferente agora. O vestido azul-marinho que usava era simples e elegante, mas se moldava perfeitamente ao seu corpo esguio. O tecido fluía conforme ela caminhava, e a fenda sutil revelava apenas o suficiente para deixar um rastro de curiosidade. Seus cabelos estavam soltos, caindo em ondas suaves pelos ombros, e a maquiagem leve apenas realçava sua beleza natural. Victor precisou de um segundo para recompor sua expressão antes que percebessem sua reação. Mercedes, por outro lado, não teve a mesma sutileza. Assobiou baixo, encarando Isabelle de cima a baixo com um olhar aprovador. — Nossa, Isabelle! — disse Mercedes, com um sorriso malicioso. — Não sabia que você podia ficar ainda mais bonita. Isabelle corou levemente e abaixou o olhar, claramente desconfortável com o elogio. — Obrigada, senhora — respondeu educadamente. Victor pigarreou e desviou o olhar, mantendo a compostura. — As crianças já estão prontas? — perguntou, mudando de assunto. — Sim, senhor — Isabelle respondeu, se recompondo. — Elas estão no quarto terminando de colocar os sapatos. Vou buscá-las. Ela saiu rapidamente, parecendo aliviada por ter um motivo para escapar da atenção. Mercedes cruzou os braços e lançou um olhar divertido para Victor. — Alguma coisa errada, querido cunhado? Ele a encarou sem expressão. — Nenhuma — disse com firmeza. — Ah, claro... — Mercedes riu baixinho. — Bom, vamos indo. Você pode continuar fingindo que não está afetado depois. Victor ignorou a provocação, ajustando os punhos do paletó. Precisava se manter focado no evento e não em como a voz de Isabelle soava ainda mais suave naquela noite. Victor ofereceu o braço a Mercedes, que o segurou com mais firmeza do que o normal. Ele lançou um olhar discreto para a cunhada, percebendo seu entusiasmo pela noite. Ao chegarem à porta da mansão, um dos seguranças abriu o veículo para Mercedes, que entrou com elegância. Antes que Victor pudesse seguir, ouviu o barulho animado das crianças. — Tio Victor, espera! — gritou Henrique, correndo em direção à limusine. Isabelle saiu logo atrás deles, tentando manter um ar de controle. — Devagar, meninos! — ela alertou, mas já era tarde. As crianças pularam para dentro do carro rindo, claramente animadas. Victor sorriu brevemente diante da cena, mas seu olhar se endureceu ao ver Isabelle saindo da casa. A luz do exterior realçava cada detalhe de sua presença. O vestido azul-marinho ainda parecia mais impressionante sob a iluminação, e seu cabelo solto balançava suavemente com a brisa da noite. Ela segurava um pequeno casaco em uma das mãos, pronta para acompanhá-los. Por um momento, Victor se pegou observando-a com mais atenção do que deveria. Isabelle, percebendo o olhar intenso dele, hesitou por um segundo, mas logo se recompôs e caminhou em direção à limusine. — Está tudo certo, senhor? — perguntou, com o tom respeitoso de sempre. Victor desviou o olhar, abrindo a porta para que ela entrasse. — Sim, vamos logo. Ela assentiu e entrou no carro, sentando-se ao lado das crianças. Victor respirou fundo antes de entrar e tomar seu lugar. Talvez essa noite fosse mais longa do que ele esperava. Assim que o veículo começou a se mover, ele percebeu que sua atenção voltava, involuntariamente, para Isabelle. A maneira como ela mantinha a postura ereta, mesmo relaxada. Como seu perfume era delicado, mas parecia mais marcante dentro do espaço fechado. Como, a cada vez que as crianças falavam com ela, seus olhos ganhavam um brilho diferente. Mercedes, ao seu lado, não perdeu a oportunidade de observá-lo. — Está estranho hoje, Victor — comentou, olhando de soslaio. Ele arqueou a sobrancelha. — Estranho como? — Sei lá... Um pouco distraído. — Apenas pensando no evento — respondeu, objetivo. Mercedes soltou um risinho, mas não insistiu. Do outro lado do carro, Isabelle estava focada nos pequenos, sem perceber o olhar intenso que, vez ou outra, Victor lançava em sua direção. Era só uma babá. Apenas alguém contratado para cuidar das crianças. Então por que, diabos, ele não conseguia tirar os olhos dela?, pensou, Mercedes.Capítulo 6A limusine parou suavemente na entrada do luxuoso salão de eventos. Luzes douradas iluminavam a fachada imponente, e uma fileira de carros de alto padrão chegava a todo instante, trazendo convidados da elite.Victor desceu primeiro, ajeitando o terno com um movimento automático. Como esperado, os olhares se voltaram para ele assim que pisou no tapete vermelho. Com sua postura impecável e a presença imponente, ele sempre atraía atenção.Virou-se para ajudar Mercedes a descer, oferecendo-lhe o braço. Ela sorriu e aceitou de bom grado, deslizando sua mão pelo antebraço dele. Seu vestido sofisticado e ousado fez algumas cabeças se virarem.Logo atrás, Isabelle desceu do carro segurando as pequenas mãos de Henrique e Letícia. A movimentação do evento a deixou um pouco hesitante, mas manteve a postura firme.E então, como Victor já esperava, os olhares se voltaram para ela.O vestido azul-marinho que usava, simples, mas elegante, realçava sua figura de um jeito que ele não havia
Capítulo 7Helena sorriu ao perceber que Victor estava se deixando levar pela conversa. Era como se ela tivesse vencido uma pequena batalha, mas estava satisfeita demais para notar a frieza em sua postura.- Eu sabia que você iria se animar, até mais tarde, querido - disse ela com um tom de voz doce, cheia de confiança.Enquanto isso, Mercedes observava de longe a interação entre Victor e Helena. Seus olhos se estreitaram quando viu o sorriso de Helena, como se estivesse observando uma cena desconfortável. Isso a incomodava. Ela não queria ver aquela mulher perto dele.Mercedes, com sua habilidade de saber quando a situação precisava ser mais "explorada", começou a caminhar na direção de Helena. Ao se aproximar, ela sorriu de forma cordial, mas com um toque de curiosidade que indicava que ela queria saber mais.- Helena... - começou Mercedes, com sua voz suave e um sorriso afável. - Que bom ver você aqui.Helena se virou, surpresa, mas logo a recepção amigável de Mercedes a fez relaxa
Capítulo 8Victor segurou os braços de Helena e a afastou com firmeza, o rosto contraído em uma expressão de impaciência. Seu humor, que já não estava dos melhores, azedou de vez.— Helena, chega.Ela piscou, surpresa com a frieza dele.— Mas, querido… Hoje é nossa noite, faz tanto tempo — insistiu, tentando tocá-lo novamente, mas ele se afastou.Ele suspirou, passando uma mão pelo rosto, tentando conter a irritação.— Helena, é melhor você esquecer isso. Faz muito tempo que estamos sem contato, você saiu do país…— E agora voltei! Achei que podíamos retomar de onde paramos — disse, cruzando os braços, claramente ofendida.Victor soltou uma risada curta, sem humor.— Retomar? Helena, eu nunca te prometi nada. Sempre deixamos claro que era algo casual.Ela estreitou os olhos, o tom de voz ganhando um leve toque de indignação.— Não acredito que está me dispensando assim.Ele enfiou as mãos nos bolsos do paletó, encarando-a com seriedade.— Eu não estou te dispensando, Helena. Estou ape
Capítulo 9Mercedes caminhou com elegância até a mesa onde seus filhos estavam sentados, seus olhos suavizando ao vê-los tão animados. Ela se inclinou levemente e acariciou os cabelos de Letícia, que olhou para cima com um sorriso radiante.— Gostaram da dança? — perguntou com doçura.— Isa estava incrível, mamãe! — Letícia exclamou, empolgada.Mercedes sorriu, mas, por dentro, seu pensamento estava longe dali. O champanhe começava a fazer efeito, e a lembrança do que dissera a Victor há pouco a fez sentir um pequeno arrependimento. Havia provocado demais? Talvez tivesse exagerado ao cutucar seu cunhado daquele jeito.Mas, antes que pudesse se perder em suas próprias preocupações, seus olhos captaram um movimento ao longe.Victor caminhava pelo salão com sua expressão fechada, os ombros tensos, mas, de repente, ele parou no meio do caminho.Mercedes seguiu seu olhar e entendeu o motivo.Isabelle se aproximava da mesa com um sorriso no rosto. Mas ela não estava sozinha. Luiz, o assesso
Capítulo 10Às quatro da manhã, Victor desceu as escadas lentamente, o som dos seus passos ecoando na mansão silenciosa. Ele havia acabado de colocar Mercedes em seu quarto, ainda se sentindo incomodado com a cena que ela havia causado mais cedo. Antes disso, havia verificado as crianças, que dormiam profundamente, alheias ao caos da noite. O quarto de Isabelle estava com as luzes apagadas, o que lhe trouxe um estranho alívio.Ele foi até a sala de estar, onde se serviu de um copo de whisky, a única bebida forte que parecia acalmá-lo quase instantaneamente. Após três doses, o calor do álcool correndo por suas veias parecia acalmar a mente inquieta. Ele precisava processar tudo o que acontecera naquela noite, especialmente a tensão com Mercedes."Ela ainda não está pronta para voltar a andar pela alta sociedade depois da morte de Carlos", pensou Victor, com um suspiro. O luto estava mexendo muito com a cabeça dela, e, de alguma forma, o impacto disso estava se refletindo em atitudes im
Capítulo 11Na manhã seguinte, Isabelle vestiu seu uniforme e seguiu direto para o quarto das crianças. Com delicadeza, acordou Letícia e pediu que escovasse os dentes e colocasse o uniforme da escola. Enquanto isso, foi até Henrique, que sempre demorava mais para despertar, ajudando-o a se levantar e se arrumar.Com ambos prontos, ela os guiava até as escadas quando parou de repente, surpresa com a cena à sua frente. Mercedes saía do quarto descalça, ainda vestindo o traje da noite anterior. Seu cabelo estava desalinhado, e a maquiagem borrada denunciava que ela sequer havia dormido direito.— Ah, meu Deus... Esqueci da escola — murmurou, interrompendo-se ao notar os filhos já arrumados e olhando para ela com estranhamento. — Já estão indo?— Já, mamãe — respondeu Letícia, lançando-lhe um olhar curioso.Mercedes respirou fundo, tentando se recompor.— Dêem um beijo na mamãe antes de irem. Até mais, meus tesouros.As crianças se despediram com abraços rápidos. Isabelle também a cumpri
Capítulo 12Minutos depois, o novo assistente bateu levemente na porta antes de entrar com uma prancheta em mãos.— Senhor Mendonça, aqui está sua agenda para hoje — começou ele, lendo os compromissos com precisão.Victor escutava, mas sua mente estava longe. Seus olhos estavam fixos em um ponto qualquer da mesa, e ele tamborilava os dedos sobre o tampo de madeira maciça. Pensava no acidente de sua assistente, em Mercedes e em Isabelle... principalmente nela.— ... e às três da tarde, o senhor tem uma reunião com os investidores asiáticos para revisar os novos contratos — concluiu o assistente.O silêncio que se seguiu fez o jovem levantar o olhar. Victor continuava calado, a expressão distante.— Senhor Mendonça? — chamou o assistente, incerto.Victor não respondeu de imediato, apenas piscou algumas vezes antes de encará-lo.— Quer que volte depois, senhor?Ele respirou fundo e passou a mão pelo queixo antes de balançar a cabeça.— Não. Poderia repetir?O assistente reprimiu um suspi
Capítulo 13Victor saiu mais cedo da empresa, com a mente tomada por pensamentos pesados. Sentado no banco do carro, seus olhos estavam marejados, enquanto três buquês de rosas brancas estavam ao seu lado. Ele ainda não conseguia aceitar a morte do irmão, um vazio que parecia impossível de preencher.Lembrou de quando era apenas um pré-adolescente, e seu irmão havia nascido. Naquele momento, ele jamais imaginou que seria capaz de sentir tanto amor por alguém, especialmente por um irmão. Era um tipo de ligação que ele nunca soubera explicar, mas que sempre fora inegável. A lembrança das brincadeiras, das conversas e das risadas compartilhadas juntos agora parecia distante, um eco do que um dia fora sua vida.Enquanto o carro seguia seu trajeto, Victor se perdeu em seus pensamentos, até que finalmente entrou no cemitério. Parou diante de um local tranquilo, onde estavam sepultados membros da família Mendonça, muitos dos quais ele nunca conhecera, incluindo os avós que faleceram antes me