Capítulo 9Mercedes caminhou com elegância até a mesa onde seus filhos estavam sentados, seus olhos suavizando ao vê-los tão animados. Ela se inclinou levemente e acariciou os cabelos de Letícia, que olhou para cima com um sorriso radiante.— Gostaram da dança? — perguntou com doçura.— Isa estava incrível, mamãe! — Letícia exclamou, empolgada.Mercedes sorriu, mas, por dentro, seu pensamento estava longe dali. O champanhe começava a fazer efeito, e a lembrança do que dissera a Victor há pouco a fez sentir um pequeno arrependimento. Havia provocado demais? Talvez tivesse exagerado ao cutucar seu cunhado daquele jeito.Mas, antes que pudesse se perder em suas próprias preocupações, seus olhos captaram um movimento ao longe.Victor caminhava pelo salão com sua expressão fechada, os ombros tensos, mas, de repente, ele parou no meio do caminho.Mercedes seguiu seu olhar e entendeu o motivo.Isabelle se aproximava da mesa com um sorriso no rosto. Mas ela não estava sozinha. Luiz, o assesso
Capítulo 10Às quatro da manhã, Victor desceu as escadas lentamente, o som dos seus passos ecoando na mansão silenciosa. Ele havia acabado de colocar Mercedes em seu quarto, ainda se sentindo incomodado com a cena que ela havia causado mais cedo. Antes disso, havia verificado as crianças, que dormiam profundamente, alheias ao caos da noite. O quarto de Isabelle estava com as luzes apagadas, o que lhe trouxe um estranho alívio.Ele foi até a sala de estar, onde se serviu de um copo de whisky, a única bebida forte que parecia acalmá-lo quase instantaneamente. Após três doses, o calor do álcool correndo por suas veias parecia acalmar a mente inquieta. Ele precisava processar tudo o que acontecera naquela noite, especialmente a tensão com Mercedes."Ela ainda não está pronta para voltar a andar pela alta sociedade depois da morte de Carlos", pensou Victor, com um suspiro. O luto estava mexendo muito com a cabeça dela, e, de alguma forma, o impacto disso estava se refletindo em atitudes im
Capítulo 11Na manhã seguinte, Isabelle vestiu seu uniforme e seguiu direto para o quarto das crianças. Com delicadeza, acordou Letícia e pediu que escovasse os dentes e colocasse o uniforme da escola. Enquanto isso, foi até Henrique, que sempre demorava mais para despertar, ajudando-o a se levantar e se arrumar.Com ambos prontos, ela os guiava até as escadas quando parou de repente, surpresa com a cena à sua frente. Mercedes saía do quarto descalça, ainda vestindo o traje da noite anterior. Seu cabelo estava desalinhado, e a maquiagem borrada denunciava que ela sequer havia dormido direito.— Ah, meu Deus... Esqueci da escola — murmurou, interrompendo-se ao notar os filhos já arrumados e olhando para ela com estranhamento. — Já estão indo?— Já, mamãe — respondeu Letícia, lançando-lhe um olhar curioso.Mercedes respirou fundo, tentando se recompor.— Dêem um beijo na mamãe antes de irem. Até mais, meus tesouros.As crianças se despediram com abraços rápidos. Isabelle também a cumpri
Capítulo 12Minutos depois, o novo assistente bateu levemente na porta antes de entrar com uma prancheta em mãos.— Senhor Mendonça, aqui está sua agenda para hoje — começou ele, lendo os compromissos com precisão.Victor escutava, mas sua mente estava longe. Seus olhos estavam fixos em um ponto qualquer da mesa, e ele tamborilava os dedos sobre o tampo de madeira maciça. Pensava no acidente de sua assistente, em Mercedes e em Isabelle... principalmente nela.— ... e às três da tarde, o senhor tem uma reunião com os investidores asiáticos para revisar os novos contratos — concluiu o assistente.O silêncio que se seguiu fez o jovem levantar o olhar. Victor continuava calado, a expressão distante.— Senhor Mendonça? — chamou o assistente, incerto.Victor não respondeu de imediato, apenas piscou algumas vezes antes de encará-lo.— Quer que volte depois, senhor?Ele respirou fundo e passou a mão pelo queixo antes de balançar a cabeça.— Não. Poderia repetir?O assistente reprimiu um suspi
Capítulo 13Victor saiu mais cedo da empresa, com a mente tomada por pensamentos pesados. Sentado no banco do carro, seus olhos estavam marejados, enquanto três buquês de rosas brancas estavam ao seu lado. Ele ainda não conseguia aceitar a morte do irmão, um vazio que parecia impossível de preencher.Lembrou de quando era apenas um pré-adolescente, e seu irmão havia nascido. Naquele momento, ele jamais imaginou que seria capaz de sentir tanto amor por alguém, especialmente por um irmão. Era um tipo de ligação que ele nunca soubera explicar, mas que sempre fora inegável. A lembrança das brincadeiras, das conversas e das risadas compartilhadas juntos agora parecia distante, um eco do que um dia fora sua vida.Enquanto o carro seguia seu trajeto, Victor se perdeu em seus pensamentos, até que finalmente entrou no cemitério. Parou diante de um local tranquilo, onde estavam sepultados membros da família Mendonça, muitos dos quais ele nunca conhecera, incluindo os avós que faleceram antes me
Capítulo 14Victor atendeu a ligação com um suspiro pesado.— Alô.— E aí, cara. Você sumiu hoje. Saiu da empresa mais cedo, aconteceu alguma coisa? — a voz do amigo soava preocupada.Victor se recostou na poltrona do escritório, passando a mão pelo rosto antes de responder.— Só precisava resolver umas coisas.— Sei... — Felipe fez uma pausa, mas não pressionou. — Olha, vou ser direto. Aquele contrato com a Pacific Global precisa da sua aprovação até amanhã de manhã. Eu sei que sua cabeça está cheia, mas você não quer que essa negociação vá para o ralo.Victor fechou os olhos por um instante. O mundo dos negócios não parava, independentemente de seus sentimentos.— Manda os documentos pro meu e-mail. Vou revisar ainda hoje.— Certo. Mas, Victor... — Felipe hesitou antes de continuar. — Se precisar conversar, sabe que tô aqui, né?Victor abriu um meio sorriso. Felipe era um dos poucos amigos que realmente se importavam, mas ele não estava pronto para falar sobre seus sentimentos agora
Capítulo 15Victor se sentiu um idiota por ter interferido na conversa entre Isabelle e o cozinheiro. O que diabos estava acontecendo com ele? Desde quando se importava com flertes inocentes dentro da própria casa?Ele passou a mão pelo rosto, irritado consigo mesmo. A verdade era que não conseguia ignorar o efeito que Isabelle tinha sobre ele. Tentava se convencer de que era apenas uma atração passageira, um desejo absurdo e inconveniente que logo passaria. Afinal, ela tinha idade para ser sua filha.Podia listar inúmeras razões para se afastar dela. A diferença de idade. O fato de que ela trabalhava para sua família. A maneira como sua presença o deixava inquieto, quebrando sua concentração no trabalho e até em momentos de descanso.E ainda assim, ali estava ele, remoendo o incômodo de vê-la sorrindo para outro homem.Bufou, irritado consigo mesmo, e decidiu que precisava se controlar. Não deixaria uma mulher-por mais linda e intrigante que fosse-abalá-lo dessa maneira.Assim que te
Capítulo 16Isabelle andou o mais rápido que pôde, querendo colocar o máximo de distância entre ela e Victor. Seu coração ainda martelava no peito, suas pernas estavam trêmulas, e ela sequer sabia explicar o porquê.Assim que encontrou um canto mais afastado, encostou-se na parede, respirando com dificuldade. Passou as mãos pelo rosto, tentando se recompor, mas o calor em suas bochechas continuava ali, queimando de um jeito diferente, novo… perigoso.— O que foi isso? — murmurou para si mesma, fechando os olhos por um instante.Mas em vez de acalmá-la, o gesto apenas trouxe de volta a lembrança do que acabara de acontecer.Ela sentiu de novo o choque do corpo dele contra o seu, a forma como os braços grandes e fortes a seguraram antes de girá-la no ar, como se fosse leve como uma pena. O toque quente de suas mãos, firmes e protetoras. O olhar intenso que trocaram antes de se darem conta da posição em que estavam.E, por fim, aquele sorriso.Aquele sorriso rouco e irresistível que fez