**Capítulo 4: A Chegada**
O silêncio da manhã parecia me engolir enquanto eu dirigia até a mansão de Dimitri James. Cada quilômetro que passava me fazia sentir como se estivesse me afastando da realidade. O que eu estava prestes a fazer não era apenas sobre um emprego ou sobre salvar a floricultura de minha tia. Eu estava prestes a entrar em um mundo totalmente diferente, um mundo onde eu não sabia quem seria eu mesma, um mundo onde minhas escolhas, mesmo as mais simples, poderiam me arrastar para algo maior do que eu imaginava. A mansão de Dimitri James surgiu diante de mim de forma imponente, com sua fachada clássica e imensa, como um castelo escondido no meio de uma vasta propriedade. Ao longe, as janelas escuras e os portões fechados transmitiam uma sensação de isolamento, de mistério. O caminho até a entrada parecia longo demais, o terreno bem cuidado dando uma impressão de que, por trás de toda aquela perfeição, algo não estava certo. Eu não conseguia explicar, mas havia algo de sombrio na mansão, como se cada pedra do lugar estivesse carregada de histórias não contadas. Estacionei o carro na entrada da mansão, sentindo meu coração bater mais rápido. Eu não sabia o que esperar, mas algo em mim estava se preparando para o desconhecido. Quando a porta do carro se fechou atrás de mim, o som da chave se encaixando no tronco da maçaneta soou alto demais, ressoando como um sinal. Fui conduzida por uma das empregadas pela vasta casa silenciosa. Os passos ecoavam nos corredores, mas nada parecia ter vida ali. Eu esperava ouvir risos ou vozes de crianças, mas o silêncio dominava o ambiente. A casa, apesar de grande e imponente, tinha algo de vazio, como se sua grandiosidade estivesse encobrindo uma ausência profunda. Uma sensação de desconforto começou a me consumir. Eu estava em uma casa que parecia não querer me receber, onde cada canto parecia esconder algo. Talvez fosse só o medo do desconhecido, mas havia algo de estranho naquele lugar. A empregada não disse uma palavra enquanto me conduzia pelos corredores largos e frios. As paredes eram adornadas com grandes pinturas, representando cenas de paisagens antigas e figuras imponentes, mas nenhuma delas parecia me olhar da maneira que eu esperava. O ar estava denso, pesado, como se as paredes estivessem guardando segredos. Cada quadro parecia estar ali com um propósito maior, como se eles guardassem os vestígios do que aconteceu ali, mas ninguém tivesse coragem de falar. Ela me deixou em um hall vazio, uma sala ampla e imponente, com pisos de mármore escuro e uma escada que subia para um andar superior, envolta em sombras. Não havia sons, nenhum movimento, nada que indicasse que havia vida na casa, além de mim. A empregada foi embora sem dizer mais nada, deixando-me sozinha naquele ambiente que parecia cada vez mais estranho. Eu caminhei lentamente, sentindo o peso do silêncio ao meu redor. As sombras dançavam nas paredes, e o cheiro de madeira envelhecida preenchia o ar. Eu estava desconfortável, mas minha curiosidade me fez continuar a explorar a casa. Meu olhar se fixou em uma pintura grande pendurada à minha frente, uma obra escura, mas fascinante. Era uma paisagem com montanhas sombrias e um céu ameaçador, o tipo de pintura que se fazia sentir mais do que ver. Eu não sabia por quê, mas a pintura me atraía, como se estivesse chamando por mim. Me aproximei dela, e, sem pensar, coloquei a mão na moldura dourada. O toque foi suave, mas algo aconteceu naquele momento. O ar ao meu redor pareceu mudar de repente, e uma sensação estranha, como se uma presença estivesse se aproximando de mim, me envolveu. Eu quase podia sentir a pressão do olhar sobre mim, como se alguém estivesse ali, me observando. E então, uma voz baixa, firme e autoritária, surgiu atrás de mim, fazendo meu corpo se contrair instantaneamente. "Não toque nisso." Eu pulei de susto e me virei rapidamente, minha mão já afastada da moldura, encontrando os olhos de Dimitri James. Ele estava parado a alguns metros de mim, em um canto escuro da sala. Eu não o ouvi chegar, não o percebi até aquele momento, mas sua presença, de algum modo, parecia ter invadido o espaço sem que eu tivesse notado. Ele estava lá, como se tivesse surgido do próprio ar, como uma sombra que tomava forma. O brilho de sua presença fazia o ambiente parecer ainda mais denso, mais carregado. Ele era mais alto do que eu imaginava, com os cabelos escuros e bem cortados, a expressão rígida, quase impassível. Seus olhos, no entanto, eram intensos e penetrantes. Mesmo na escuridão, seus olhos pareciam brilhar com uma energia própria, algo difícil de descrever. A maneira como ele me olhava, com uma intensidade que beirava a hostilidade, fez um arrepio percorrer minha espinha. Mas, por algum motivo, havia algo mais ali, algo que eu não sabia como explicar. Como se houvesse uma atração, algo que eu não conseguia controlar ou compreender. Eu me sentia pequena diante dele, mas não era apenas pelo seu porte físico. Era algo em sua aura, em como ele dominava o espaço ao seu redor. Ele parecia estar no controle de tudo, como se fosse o próprio dono daquela casa e de tudo o que havia dentro dela, incluindo eu. Eu recuei instintivamente, meus olhos ainda fixos nele. Sua voz, ao falar, soou baixa, quase como um comando. "Eu não gosto que toquem nas minhas coisas." Eu não soube o que responder de imediato, sentindo meu coração acelerar. Era como se ele tivesse invadido meu espaço, mas não de uma maneira qualquer. Havia algo quase hipnótico em sua presença. Algo que me desarmava sem que eu percebesse. Por um instante, fiquei sem palavras, sem saber como reagir. Eu vi seus olhos se estreitarem levemente, e foi então que percebi que ele estava me avaliando. Não como uma empregada, não como uma simples pessoa, mas como alguém que estava sendo analisado de forma profunda, como se ele estivesse tentando entender quem eu realmente era. E naquele momento, senti uma ponta de vulnerabilidade. O tipo de vulnerabilidade que eu nunca imaginaria sentir diante de um homem como ele. Ele deu um passo em minha direção, e a distância entre nós parecia desaparecer. Meu coração disparou ainda mais rápido, mas não consegui me afastar. Algo me mantinha ali, paralisada, sem saber o que fazer. Ele estendeu a mão em minha direção, e, antes que eu pudesse reagir, agarrou meu pulso com firmeza, puxando minha mão da pintura. "Não se aproxime de novo", ele disse com uma voz fria e direta, mas havia algo nela que me fez estremecer. Algo que eu não podia identificar. Eu tentei puxar minha mão de volta, mas ele não soltava. Sua força era inusitada, e sua mão, embora quente, parecia ter uma tensão que me fazia sentir como se estivesse sendo controlada por ele. Eu o olhei nos olhos, tentando entender o que estava acontecendo, mas ele não parecia se importar com isso. Apenas continuou a me encarar com uma expressão de impaciência. Finalmente, ele soltou meu pulso, e eu recuei, tentando recompor a calma. Eu sabia que aquilo não era só sobre a pintura. Ele me havia testado de alguma forma, desafiado a entrar em seu espaço, e eu tinha falhado. Ele se aproximou um pouco mais, e dessa vez eu não recuei. Ele estava tão perto que eu podia sentir sua presença invadindo meu espaço de uma maneira que me desconcertava. "Você está aqui para o trabalho, não para se perder em detalhes", ele disse, quase como se fosse um aviso, mas suas palavras estavam carregadas de algo mais. Algo que eu não sabia como nomear. "Agora, venha. Vou te mostrar o que você tem a fazer." Eu não sabia se deveria me sentir intimidada, fascinada ou confusa. O que era claro era que, de alguma forma, minha presença ali já estava sendo marcada por ele de uma maneira que eu não conseguia entender. A forma como ele me tratava, como se eu fosse uma peça em seu jogo, mas ao mesmo tempo, como se houvesse algo entre nós que eu não podia ignorar. Mas, naquele momento, eu sabia que era tarde demais para voltar atrás. Eu havia sido envolvida nesse mundo de mistério e poder de uma maneira que não sabia como lidar, mas que, no fundo, não conseguia resistir. Dimitri James havia aparecido como uma sombra, mas agora, sua presença era tudo o que eu podia perceber. E eu estava prestes a ser levada ainda mais fundo nesse jogo, sem saber onde ele me levaria.Ele se virou, caminhando à frente sem me dar tempo para recuperar o fôlego ou processar o que havia acabado de acontecer. Suas costas largas e postura ereta me lembravam a de um general em comando, alguém que sabia exatamente o que fazer, mesmo em meio ao caos. Dimitri James parecia ser o tipo de homem que não fazia concessões. Seus passos ecoavam no chão de mármore enquanto ele me guiava por corredores ainda mais imponentes. Eu o segui, hesitante. Parte de mim queria fugir daquele lugar, daquela intensidade quase sufocante. A outra parte, entretanto, estava curiosa, intrigada pelo mistério que parecia cercá-lo. Era como se cada detalhe, desde as sombras que se alongavam nas paredes até o silêncio absoluto da casa, estivesse carregado de significado, como peças de um quebra-cabeça que eu não sabia se queria ou poderia montar. “Espero que saiba no que está se metendo,” ele disse abruptamente, sem olhar para trás. Sua voz era tão fria quanto antes, mas havia algo de quase sarcástico
Ele se inclinou para mais perto, seus olhos prendendo os meus como se quisesse garantir que eu entendesse cada palavra. "Nada neste lugar é o que parece, senhorita. Nem eu. Nem você." Eu estava começando a perceber que trabalhar para Dimitri James seria muito mais do que um emprego. E, por mais que o medo começasse a se infiltrar, havia algo em mim que não conseguia recuar. Aquele mistério, aquela tensão, tudo parecia me puxar cada vez mais fundo. Sem saber, eu já estava presa. E ele sabia disso. Dimitri manteve os olhos fixos em mim por mais alguns segundos, e o silêncio que se seguiu foi tão carregado que quase parecia palpável. Havia algo em sua expressão que me desarmava, como se ele estivesse observando não apenas o que eu fazia, mas quem eu era. Quando ele finalmente se afastou, voltando para a estante de livros, senti como se pudesse respirar novamente. "Por que você aceitou este trabalho?" ele perguntou de repente, sem olhar para mim. Suas palavras ecoaram pela biblioteca
A mansão de Dimitri James não era apenas grande; ela era imponente. Era o tipo de lugar que fazia você se sentir pequeno, não pela sua grandiosidade, mas pela sua frieza. Cada corredor, cada sala, tinha um propósito, mas não era acolhedor. Ao contrário, parecia uma prisão de luxo, onde a rigidez da estrutura refletia a personalidade do homem que a possuía. E, no meio disso tudo, estava eu — uma estranha, uma figura fora de lugar, sem saber se estava prestes a ser engolida pela própria situação ou se conseguiria se firmar ali. Eu já sabia o que ele esperava de mim. Ou melhor, sabia o que ele achava que esperava de mim. Dimitri James não fazia perguntas sem respostas, não se deixava enganar por ninguém e, ao que parecia, via o mundo apenas de uma perspectiva: a sua. Ele era o tipo de homem que acreditava que o controle sobre tudo ao seu redor não era apenas um privilégio, mas uma necessidade. Quando me contrataram, disseram-me que ele era um homem difícil, um verdadeiro mestre na arte
Ele estava tão perto agora que eu podia ver cada detalhe de seu rosto, a maneira como os músculos de sua mandíbula se contraíam levemente quando ele falava, a intensidade com que seus olhos fixavam os meus. Eu não sabia como reagir. Não sabia se devia resistir ou ceder. Ele me analisava de uma maneira tão profunda que eu comecei a sentir como se estivesse exposta, nua, apesar das minhas roupas. Algo dentro de mim tremia, não de medo, mas de algo mais visceral. Algo que eu não queria admitir, mas que se intensificava a cada segundo em que ele estava perto. “Você não está no controle de nada, senhorita,” ele disse, e suas palavras pareciam mais uma sentença do que uma observação. Havia uma firmeza na voz dele que me desarmava. “Eu te coloquei aqui, eu posso te tirar de qualquer momento. Não se esqueça disso.” Eu queria retrucar, queria lançar algo de volta, mas o que ele disse não era um simples aviso. Ele estava me desafiando, testando os limites da minha resistência. Minha respiraçã
“Você quer saber o que eu quero, senhorita?” Dimitri virou-se de repente, e sua expressão mudou. Não havia mais o mesmo desafio, havia algo mais profundo em seu olhar. “Eu não sou um homem que se entrega facilmente. E você, claramente, não está aqui para ser conquistada. Mas a questão é: você realmente entende o que está acontecendo entre nós?” Essas palavras me atingiram com mais força do que eu esperava. Eu podia sentir o peso delas, como se cada uma carregasse um significado maior, algo além do que eu estava disposta a aceitar. Mas, no fundo, eu sabia o que ele estava dizendo. Ele estava me desafiando de uma maneira que eu não sabia como lidar, mas ao mesmo tempo, havia algo em suas palavras que me atraía. Como se ele me estivesse pedindo para me arriscar, para ir além do que eu estava acostumada. Mas eu não sabia se estava pronta para isso. Eu respirei fundo, tentando manter minha postura, mas algo dentro de mim já estava cedendo. “Eu não sei o que você quer de mim, Dimitri,” e
A mansão parecia mais viva durante o dia, mas, à noite, havia algo quase espectral na forma como as sombras se estendiam pelos corredores longos e frios. As crianças já haviam ido dormir, e eu me encontrava sozinha na sala de estar. O crepitar do fogo na lareira era o único som que preenchia o ambiente, mas isso não tornava o lugar menos intimidante. Era como se as paredes da mansão sussurrassem segredos que eu nunca entenderia completamente.Minha mente estava ocupada com as palavras de Dimitri. “Você realmente entende o que está acontecendo entre nós?” Não, eu não entendia. Mas uma parte de mim queria desesperadamente descobrir. Algo em Dimitri era como um imã – perigoso, mas irresistível. Sua presença era sufocante, mas, ao mesmo tempo, parecia trazer à tona uma versão de mim que eu ainda não conhecia. Era perturbador.Enquanto olhava para as chamas dançantes, ouvi passos ecoando pelo corredor. Meu corpo ficou tenso, o som era firme, decidido. Eu sabia quem era antes mesmo de ele a
Ao atravessar o corredor escuro, percebi que meus pensamentos estavam presos em um redemoinho que girava em torno de Dimitri. Suas palavras ecoavam como um mantra impossível de ignorar. “Você entende o que está acontecendo entre nós?” Eu não entendia. Talvez nunca entendesse. Mas algo em mim se recusava a aceitar isso. Era como se, por trás de seus olhares enigmáticos e de suas frases ambíguas, houvesse uma verdade esperando para ser descoberta. Quando cheguei ao meu quarto, fechei a porta suavemente e me encostei nela, exalando um suspiro pesado. Meu coração ainda estava acelerado, e minha mente continuava inquieta. Tentei me concentrar em outras coisas – nas crianças, na rotina do dia seguinte, até mesmo na decoração opulenta da mansão – mas nada parecia capaz de afastar a presença esmagadora de Dimitri. Ele não estava mais ali, mas de algum modo continuava comigo, preenchendo cada canto do meu pensamento.Fui até a janela e puxei as cortinas, revelando a noite escura lá fora. A v
Naquela noite, eu não consegui dormir. Dimitri era como uma sombra que pairava sobre tudo. Suas palavras, seus gestos, até mesmo seu silêncio tinham o poder de me prender em um lugar onde as respostas nunca vinham. Eu sentia que estava me aproximando de algo, mas não sabia se queria realmente entender o que era. A madrugada avançava e, finalmente, decidi sair do quarto. A mansão, envolta na escuridão, parecia ainda mais imponente. Eu não tinha um destino específico, apenas a necessidade de me mover, de afastar a sensação sufocante que me consumia. Passei pelo longo corredor, desci as escadas e fui em direção ao salão principal. As luzes estavam apagadas, mas a lua, entrando pelas enormes janelas, iluminava o ambiente com um brilho pálido. Tudo parecia mais quieto, mais intenso. Quando cheguei perto da lareira apagada, percebi que não estava sozinha. Dimitri estava lá, sentado em uma poltrona, com um copo de uísque na mão. Ele não parecia surpreso com minha presença, mas também n