Capítulo 3

**Capítulo 4: A Chegada**

O silêncio da manhã parecia me engolir enquanto eu dirigia até a mansão de Dimitri James. Cada quilômetro que passava me fazia sentir como se estivesse me afastando da realidade. O que eu estava prestes a fazer não era apenas sobre um emprego ou sobre salvar a floricultura de minha tia. Eu estava prestes a entrar em um mundo totalmente diferente, um mundo onde eu não sabia quem seria eu mesma, um mundo onde minhas escolhas, mesmo as mais simples, poderiam me arrastar para algo maior do que eu imaginava.

A mansão de Dimitri James surgiu diante de mim de forma imponente, com sua fachada clássica e imensa, como um castelo escondido no meio de uma vasta propriedade. Ao longe, as janelas escuras e os portões fechados transmitiam uma sensação de isolamento, de mistério. O caminho até a entrada parecia longo demais, o terreno bem cuidado dando uma impressão de que, por trás de toda aquela perfeição, algo não estava certo. Eu não conseguia explicar, mas havia algo de sombrio na mansão, como se cada pedra do lugar estivesse carregada de histórias não contadas.

Estacionei o carro na entrada da mansão, sentindo meu coração bater mais rápido. Eu não sabia o que esperar, mas algo em mim estava se preparando para o desconhecido. Quando a porta do carro se fechou atrás de mim, o som da chave se encaixando no tronco da maçaneta soou alto demais, ressoando como um sinal.

Fui conduzida por uma das empregadas pela vasta casa silenciosa. Os passos ecoavam nos corredores, mas nada parecia ter vida ali. Eu esperava ouvir risos ou vozes de crianças, mas o silêncio dominava o ambiente. A casa, apesar de grande e imponente, tinha algo de vazio, como se sua grandiosidade estivesse encobrindo uma ausência profunda. Uma sensação de desconforto começou a me consumir. Eu estava em uma casa que parecia não querer me receber, onde cada canto parecia esconder algo. Talvez fosse só o medo do desconhecido, mas havia algo de estranho naquele lugar.

A empregada não disse uma palavra enquanto me conduzia pelos corredores largos e frios. As paredes eram adornadas com grandes pinturas, representando cenas de paisagens antigas e figuras imponentes, mas nenhuma delas parecia me olhar da maneira que eu esperava. O ar estava denso, pesado, como se as paredes estivessem guardando segredos. Cada quadro parecia estar ali com um propósito maior, como se eles guardassem os vestígios do que aconteceu ali, mas ninguém tivesse coragem de falar.

Ela me deixou em um hall vazio, uma sala ampla e imponente, com pisos de mármore escuro e uma escada que subia para um andar superior, envolta em sombras. Não havia sons, nenhum movimento, nada que indicasse que havia vida na casa, além de mim. A empregada foi embora sem dizer mais nada, deixando-me sozinha naquele ambiente que parecia cada vez mais estranho.

Eu caminhei lentamente, sentindo o peso do silêncio ao meu redor. As sombras dançavam nas paredes, e o cheiro de madeira envelhecida preenchia o ar. Eu estava desconfortável, mas minha curiosidade me fez continuar a explorar a casa. Meu olhar se fixou em uma pintura grande pendurada à minha frente, uma obra escura, mas fascinante. Era uma paisagem com montanhas sombrias e um céu ameaçador, o tipo de pintura que se fazia sentir mais do que ver. Eu não sabia por quê, mas a pintura me atraía, como se estivesse chamando por mim.

Me aproximei dela, e, sem pensar, coloquei a mão na moldura dourada. O toque foi suave, mas algo aconteceu naquele momento. O ar ao meu redor pareceu mudar de repente, e uma sensação estranha, como se uma presença estivesse se aproximando de mim, me envolveu. Eu quase podia sentir a pressão do olhar sobre mim, como se alguém estivesse ali, me observando.

E então, uma voz baixa, firme e autoritária, surgiu atrás de mim, fazendo meu corpo se contrair instantaneamente.

"Não toque nisso."

Eu pulei de susto e me virei rapidamente, minha mão já afastada da moldura, encontrando os olhos de Dimitri James. Ele estava parado a alguns metros de mim, em um canto escuro da sala. Eu não o ouvi chegar, não o percebi até aquele momento, mas sua presença, de algum modo, parecia ter invadido o espaço sem que eu tivesse notado. Ele estava lá, como se tivesse surgido do próprio ar, como uma sombra que tomava forma. O brilho de sua presença fazia o ambiente parecer ainda mais denso, mais carregado.

Ele era mais alto do que eu imaginava, com os cabelos escuros e bem cortados, a expressão rígida, quase impassível. Seus olhos, no entanto, eram intensos e penetrantes. Mesmo na escuridão, seus olhos pareciam brilhar com uma energia própria, algo difícil de descrever. A maneira como ele me olhava, com uma intensidade que beirava a hostilidade, fez um arrepio percorrer minha espinha. Mas, por algum motivo, havia algo mais ali, algo que eu não sabia como explicar. Como se houvesse uma atração, algo que eu não conseguia controlar ou compreender.

Eu me sentia pequena diante dele, mas não era apenas pelo seu porte físico. Era algo em sua aura, em como ele dominava o espaço ao seu redor. Ele parecia estar no controle de tudo, como se fosse o próprio dono daquela casa e de tudo o que havia dentro dela, incluindo eu.

Eu recuei instintivamente, meus olhos ainda fixos nele. Sua voz, ao falar, soou baixa, quase como um comando. "Eu não gosto que toquem nas minhas coisas."

Eu não soube o que responder de imediato, sentindo meu coração acelerar. Era como se ele tivesse invadido meu espaço, mas não de uma maneira qualquer. Havia algo quase hipnótico em sua presença. Algo que me desarmava sem que eu percebesse. Por um instante, fiquei sem palavras, sem saber como reagir.

Eu vi seus olhos se estreitarem levemente, e foi então que percebi que ele estava me avaliando. Não como uma empregada, não como uma simples pessoa, mas como alguém que estava sendo analisado de forma profunda, como se ele estivesse tentando entender quem eu realmente era. E naquele momento, senti uma ponta de vulnerabilidade. O tipo de vulnerabilidade que eu nunca imaginaria sentir diante de um homem como ele.

Ele deu um passo em minha direção, e a distância entre nós parecia desaparecer. Meu coração disparou ainda mais rápido, mas não consegui me afastar. Algo me mantinha ali, paralisada, sem saber o que fazer. Ele estendeu a mão em minha direção, e, antes que eu pudesse reagir, agarrou meu pulso com firmeza, puxando minha mão da pintura.

"Não se aproxime de novo", ele disse com uma voz fria e direta, mas havia algo nela que me fez estremecer. Algo que eu não podia identificar.

Eu tentei puxar minha mão de volta, mas ele não soltava. Sua força era inusitada, e sua mão, embora quente, parecia ter uma tensão que me fazia sentir como se estivesse sendo controlada por ele. Eu o olhei nos olhos, tentando entender o que estava acontecendo, mas ele não parecia se importar com isso. Apenas continuou a me encarar com uma expressão de impaciência.

Finalmente, ele soltou meu pulso, e eu recuei, tentando recompor a calma. Eu sabia que aquilo não era só sobre a pintura. Ele me havia testado de alguma forma, desafiado a entrar em seu espaço, e eu tinha falhado. Ele se aproximou um pouco mais, e dessa vez eu não recuei. Ele estava tão perto que eu podia sentir sua presença invadindo meu espaço de uma maneira que me desconcertava.

"Você está aqui para o trabalho, não para se perder em detalhes", ele disse, quase como se fosse um aviso, mas suas palavras estavam carregadas de algo mais. Algo que eu não sabia como nomear. "Agora, venha. Vou te mostrar o que você tem a fazer."

Eu não sabia se deveria me sentir intimidada, fascinada ou confusa. O que era claro era que, de alguma forma, minha presença ali já estava sendo marcada por ele de uma maneira que eu não conseguia entender. A forma como ele me tratava, como se eu fosse uma peça em seu jogo, mas ao mesmo tempo, como se houvesse algo entre nós que eu não podia ignorar.

Mas, naquele momento, eu sabia que era tarde demais para voltar atrás. Eu havia sido envolvida nesse mundo de mistério e poder de uma maneira que não sabia como lidar, mas que, no fundo, não conseguia resistir.

Dimitri James havia aparecido como uma sombra, mas agora, sua presença era tudo o que eu podia perceber. E eu estava prestes a ser levada ainda mais fundo nesse jogo, sem saber onde ele me levaria.

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