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05 - O jogo começa

Ele se inclinou para mais perto, seus olhos prendendo os meus como se quisesse garantir que eu entendesse cada palavra. "Nada neste lugar é o que parece, senhorita. Nem eu. Nem você."

Eu estava começando a perceber que trabalhar para Dimitri James seria muito mais do que um emprego. E, por mais que o medo começasse a se infiltrar, havia algo em mim que não conseguia recuar. Aquele mistério, aquela tensão, tudo parecia me puxar cada vez mais fundo.

Sem saber, eu já estava presa. E ele sabia disso.

Dimitri manteve os olhos fixos em mim por mais alguns segundos, e o silêncio que se seguiu foi tão carregado que quase parecia palpável. Havia algo em sua expressão que me desarmava, como se ele estivesse observando não apenas o que eu fazia, mas quem eu era. Quando ele finalmente se afastou, voltando para a estante de livros, senti como se pudesse respirar novamente.

"Por que você aceitou este trabalho?" ele perguntou de repente, sem olhar para mim. Suas palavras ecoaram pela biblioteca, quebrando o silêncio de forma quase cruel.

"Eu..." comecei, mas percebi que a resposta que eu tinha ensaiado — a verdade sobre salvar a floricultura de minha tia — parecia simplista demais naquele momento. "Eu precisava de uma oportunidade," respondi finalmente, tentando manter o tom firme.

Dimitri se virou, seus olhos sombrios brilhando sob a luz da lareira. "Precisar de algo é uma coisa. Querer é outra. Você quer estar aqui?"

A pergunta me pegou desprevenida, e hesitei antes de responder. "Quero," menti, porque sabia que admitir minhas dúvidas apenas o faria me julgar mais.

Ele inclinou a cabeça, como se tentasse decidir se acreditava em mim. "Cuidado com o que deseja," disse ele finalmente, voltando sua atenção para os livros.

Eu me senti pequena sob aquele olhar e sob o peso de suas palavras. Ele tinha um jeito de transformar frases simples em enigmas carregados de significado. Mas o que me incomodava mais era a sensação de que ele sabia mais sobre mim do que eu estava disposta a revelar.

"Você sempre fala em enigmas?" perguntei, tentando aliviar a tensão. Não era uma pergunta séria; era quase uma provocação. Mas Dimitri parou de mexer nos livros e se virou lentamente, como se eu tivesse dito algo inesperado.

"Enigmas," ele repetiu, e um sorriso quase imperceptível surgiu em seus lábios. "Talvez. Mas só para quem não está disposto a entender."

Seus olhos encontraram os meus, e dessa vez o contato visual foi longo demais. Eu senti como se estivesse presa sob aquele olhar, como se ele pudesse ver algo dentro de mim que nem eu mesma conseguia identificar. Meu coração começou a bater mais rápido, e, sem querer, desviei o olhar, fixando-o no fogo da lareira.

"Você não é o que parece," ele disse, sua voz baixa, quase como se estivesse falando consigo mesmo.

Eu olhei para ele novamente, confusa. "O que quer dizer com isso?"

Dimitri não respondeu de imediato. Em vez disso, ele deu alguns passos em minha direção, até que estivesse tão perto que eu podia sentir o calor de sua presença. Meu corpo ficou tenso, mas eu não consegui me afastar.

"Há algo em você," ele disse finalmente, sua voz quase um sussurro. "Algo que eu ainda não consigo definir. Mas vou descobrir."

Suas palavras fizeram um arrepio percorrer minha espinha. Ele estava perto demais, sua presença invadindo cada espaço ao meu redor, mas, estranhamente, eu não sentia apenas medo. Havia outra coisa ali, algo que eu não queria admitir para mim mesma. Meu coração acelerado não era apenas por causa do nervosismo. Havia uma parte de mim — uma parte pequena, mas inegável — que se sentia atraída por ele.

"Eu não sou um mistério," respondi, tentando soar confiante, mas minha voz saiu mais fraca do que eu esperava.

"Todos somos," ele rebateu, com um pequeno sorriso enigmático. E, antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ele deu um passo para trás, rompendo a tensão entre nós. "É melhor você descansar. Amanhã será um dia longo."

Ele se afastou, deixando-me sozinha na biblioteca. Fiquei ali por alguns minutos, tentando acalmar meu coração e processar o que havia acontecido. Dimitri James era um homem impossível de entender, e, no entanto, eu me sentia puxada para ele, como se algo além de mim mesma estivesse no controle.

Quando finalmente voltei ao meu quarto, não consegui dormir. A cada vez que fechava os olhos, sua imagem surgia em minha mente: seus olhos intensos, sua voz autoritária, mas com um tom quase sedutor. Eu sabia que deveria manter distância, tanto emocional quanto física. Mas algo me dizia que seria impossível.

Dimitri James era um enigma que eu não sabia se queria ou poderia desvendar. E o pior era que eu já estava começando a querer tentar.

Na manhã seguinte, acordei com um misto de ansiedade e determinação. A tensão que havia se instalado entre mim e Dimitri na noite anterior parecia ter se infiltrado em meus sonhos, deixando-me inquieta. Mas eu sabia que não podia me deixar dominar por aquilo. Eu estava ali por um motivo — mesmo que o motivo começasse a parecer pequeno diante de tudo o que aquela mansão representava.

Depois de me arrumar, desci para o que parecia ser a sala de jantar, onde uma longa mesa estava preparada. Não havia sinal de Dimitri, mas uma empregada apareceu silenciosamente, servindo um café da manhã impecável. O silêncio da casa era tão profundo que o som dos talheres parecia ensurdecedor.

"Ele espera você no jardim depois do café," disse a mulher, antes de sair tão rapidamente quanto havia chegado.

Suspirei. Mais enigmas, mais mistérios. Terminei a refeição rapidamente, tentando me preparar mentalmente para o que viria a seguir.

O jardim da mansão era ainda mais impressionante do que eu esperava. Caminhos de pedra serpenteavam entre flores exóticas, árvores altas e esculturas que pareciam tão antigas quanto o tempo. Dimitri estava lá, de pé ao lado de uma fonte elaborada, observando a água cair com uma intensidade quase meditativa. Quando me aproximei, ele virou a cabeça ligeiramente, indicando que sabia que eu estava ali, mas não se moveu.

"É bonito aqui," eu disse, tentando quebrar o gelo.

"Bonito, mas perigoso," ele respondeu sem rodeios, virando-se para mim. "As coisas mais belas geralmente são."

Havia algo no tom dele que me fez parar. Dimitri parecia carregar um peso invisível, como se aquelas palavras fossem mais do que um simples comentário. Ele deu um passo em minha direção, e a familiar tensão voltou a se instalar entre nós.

"Você dormiu bem?" ele perguntou, sua voz mais baixa, quase suave.

"Sim," menti. A verdade era que eu tinha dormido muito pouco, com sua presença ainda pairando em minha mente.

Ele deu um sorriso de canto, como se soubesse exatamente o que eu estava pensando. "Eu duvido," disse ele, e então deu meia-volta, começando a caminhar pelo jardim. "Venha. Quero lhe mostrar algo."

Segui-o em silêncio, observando a maneira como ele parecia se mover com propósito, como se cada passo fosse calculado. Ele me levou até um canto mais isolado do jardim, onde um banco de pedra estava posicionado sob a sombra de uma árvore imensa. Ele se sentou e gesticulou para que eu fizesse o mesmo.

"Há quanto tempo você está tentando esconder quem realmente é?" Dimitri perguntou de repente, pegando-me completamente desprevenida.

"Eu... não sei do que você está falando," respondi, confusa e um pouco defensiva.

Ele se inclinou para frente, seus olhos encontrando os meus com uma intensidade que me fez estremecer. "Sabe, sim. Você acha que pode se misturar, que pode entrar nesse mundo e ser apenas mais uma. Mas eu vejo além disso. Há algo em você que não pertence a esse lugar, a essa rotina mundana que você finge querer."

"Você não sabe nada sobre mim," murmurei, tentando manter a compostura, mas era difícil com ele tão perto, com aquelas palavras tão certeiras.

"Não sei?" Ele inclinou a cabeça, seu olhar nunca se desviando. "Eu sei que você não é o tipo de pessoa que aceita ordens facilmente, e ainda assim está aqui, tentando provar algo. Mas a quem? A si mesma? A alguém que deixou para trás?"

Eu me levantei, cruzando os braços como uma barreira instintiva. "Você não tem o direito de fazer essas suposições sobre mim."

Dimitri ficou em silêncio por um momento, apenas me observando, antes de se levantar também. Sua proximidade me fez dar um passo para trás, mas ele não parecia interessado em me pressionar. Em vez disso, ele falou com um tom mais calmo, quase suave.

"Eu não quero irritá-la. Mas entenda uma coisa, senhorita: você está neste lugar por uma razão. E seja o que for que está tentando esconder, acabará vindo à tona. Eu só quero que esteja preparada para isso."

Antes que eu pudesse responder, ele se virou e começou a caminhar de volta para a mansão, deixando-me ali, sozinha no jardim. O que ele queria dizer com aquilo? Que segredos ele achava que eu escondia? E, mais importante, por que suas palavras me deixavam tão inquieta, como se ele tivesse enxergado algo dentro de mim que nem eu mesma sabia que existia?

Dimitri James estava claramente jogando um jogo, mas eu ainda não sabia quais eram as regras. O que era claro, no entanto, era que minha relação com ele não seria simples. E, por mais que eu quisesse negar, havia algo nele que me fazia querer jogar.

Naquela tarde, enquanto organizava os papéis que Dimitri havia deixado para mim no escritório, minha mente vagava de volta à conversa no jardim. Cada palavra dele parecia ecoar, como se tivesse sido planejada para me perseguir. Eu não conseguia entender como alguém que mal me conhecia parecia enxergar através de mim com tanta facilidade. Mais do que isso, eu não sabia por que me importava.

Estava concentrada em minhas tarefas quando uma batida na porta me fez pular. Antes que eu pudesse responder, Dimitri entrou, a presença dele dominando o ambiente como sempre. Ele não pediu licença nem esperou que eu dissesse algo, simplesmente cruzou o cômodo e se sentou na poltrona de couro ao lado da lareira, observando-me com aquela expressão indecifrável.

"Você está se adaptando ao trabalho?" ele perguntou, mas o tom era mais de curiosidade do que de preocupação.

"Estou fazendo o meu melhor," respondi, tentando manter a voz firme.

"Seu melhor." Ele repetiu as palavras como se as estivesse analisando, deixando um silêncio incômodo preencher o espaço entre nós. "E o que isso significa para você? Fazer o seu melhor?"

"Significa cumprir o que me foi pedido," respondi, mas imediatamente percebi que não era uma resposta suficiente para ele. Dimitri não era o tipo de pessoa que aceitava superficialidades.

Ele se inclinou para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos. "Cumprir ordens não é o suficiente para você, e nós dois sabemos disso."

"Por que você insiste em me analisar?" perguntei, exasperada. "Você sempre faz isso com as pessoas que contratou, ou sou uma exceção?"

Dimitri sorriu, mas não de um jeito amigável. Era mais como se eu tivesse acabado de confirmar algo que ele já sabia. "Você é uma exceção, sim," admitiu. "Eu não costumo me interessar tanto pelas pessoas que trabalham para mim. Mas você é... diferente."

A palavra pairou no ar, carregada de significados que ele não explicou. Senti meu coração acelerar, e desviei o olhar, tentando recuperar o controle da situação. "Diferente como?"

"Isso é algo que você terá que descobrir," ele respondeu, se levantando de repente. "O tempo dirá."

Dimitri começou a caminhar em direção à porta, mas parou antes de sair, lançando-me um último olhar. "Ah, e, senhorita... Evite tocar nas coisas que não são suas. Eu detesto repetir avisos."

Com isso, ele saiu, deixando-me sozinha com uma mistura de irritação e algo mais que eu não queria admitir: fascínio.

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Naquela noite, decidi que precisava entender mais sobre Dimitri. Havia algo nele que me atraía, mas também me fazia querer manter distância. Talvez fosse o mistério, a maneira como ele parecia estar sempre no controle, como se tudo ao seu redor fosse parte de um jogo que apenas ele entendia.

Enquanto caminhava pelos corredores da mansão, meus passos ecoando no silêncio, passei por uma porta entreaberta e parei. Lá dentro, uma sala iluminada por velas revelava uma coleção de arte que eu não havia visto antes. Pinturas, esculturas e objetos que pareciam pertencer a outra época. A atmosfera era densa, quase reverente, e eu entrei com cuidado, como se estivesse invadindo um santuário.

No centro da sala, havia uma pintura que imediatamente chamou minha atenção. Era uma mulher de cabelos longos e olhos intensos, e havia algo em sua expressão que me fez prender a respiração. Ela parecia familiar, embora eu tivesse certeza de nunca tê-la visto antes.

"Ela era importante para ele."

A voz de Dimitri me fez girar rapidamente, meu coração disparando. Ele estava parado na entrada da sala, os braços cruzados, observando-me com uma expressão que eu não conseguia decifrar.

"Quem era ela?" perguntei, tentando esconder o nervosismo.

Dimitri caminhou lentamente até a pintura, ficando ao meu lado. Por um momento, ele não respondeu, apenas olhou para a obra com um semblante que parecia carregar anos de memórias.

"Alguém que marcou minha vida de maneiras que você não entenderia," ele disse finalmente, a voz baixa.

Havia dor ali, uma vulnerabilidade que eu nunca tinha visto antes. E, de alguma forma, isso me fez sentir mais próxima dele. "Eu sinto muito," murmurei, sem saber exatamente por quê.

Ele se virou para mim, seus olhos intensos como sempre, mas havia algo mais neles agora. Algo mais humano. "Você não precisa sentir," ele disse, sua voz suave. "Mas cuidado, senhorita. Algumas histórias não devem ser exploradas, a menos que esteja preparada para lidar com as consequências."

Havia um aviso ali, claro como o dia, mas também um convite implícito. Dimitri James era um homem cheio de segredos, e, de alguma forma, ele estava me permitindo entrar em seu mundo. Mas eu não sabia se estava pronta para o que poderia encontrar. O que era claro, porém, era que eu não conseguiria ficar longe.

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