No momento em que a porta do elevador abriu, Viviane passou as mãos no vestido azul, inspirou o ar profundamente e soltou. Ela lutava para afastar o medo de sua mente. Os passos cautelosos levaram-na pelos corredores, ela já não mancava como antes. Após um longo tratamento, cirurgias e fisioterapias, Vivian andava com a mesma graciosidade que costumava caminhar pouco antes de levar o tiro que quase ceifou a sua vida.
Em certo momento, ela hesitou.Parou, perguntando a si mesma: “O que eu estou fazendo aqui?” Era tarde demais para retroceder, não poderia mais fugir. Por amor aos seus filhos, aquela mulher faria qualquer coisa para manter o monstro violento longe dos únicos tesouros que ela tinha em sua vida. Os passos hesitantes continuaram no corredor do sétimo andar daquele prédio inóspito, onde o silêncio imperava. Apenas o som do salto de seus elegantes sapatos pretos batia contra o piso vinílico e rompia a quietude do local.Cautelosamente, os olhos claros passearam pelo corredor com paredes revestidas por um papel em arabesco desgastado. Tudo parecia tranquilo, exceto por um pequeno facho de luz vermelha escondido no alto de uma das paredes que passou despercebido de sua vista. Ela segurou firme na alça da maleta que continha um valor exorbitante do resgate. Vivian estava à mercê da própria sorte, não podia contar ao marido o que estava prestes a realizar, já que Pietro exigiu que a ex-mulher levasse a quantia e não contasse ao marido e nem mesmo para a polícia; caso o contrário, começaria a enviar partes de sua filha.Cerrando o punho, ela tocou na porta, o ruído oco das batidas se repetiram por mais três vezes. O destino forçava Viviane a seguir com o plano. Girando os calcanhares para a direita, ergueu os olhos e vislumbrou o número setenta e sete, suspirou profundamente ao reparar na porta do apartamento. Quando viu a maçaneta girar bem devagar, ela sentiu um arrepio atravessando a sua espinha. O ranger da porta se abrindo vagarosamente era um som pavoroso. Viviane estava diante do homem que permeou os seus piores pesadelos desde que recebeu a notícia de que o monstro recebeu a progressão de pena para o regime aberto.— Pi-Pietro, — sua voz saiu tremida.— Olá, docinho! — O ex-marido tocou em seu braço, — Entre!O ruído abafado da porta se fechando atrás de Viviane provocou-lhe um arrepio. — Onde está a minha filha? — perguntou ao ver a sala mal iluminada e vazia.— Acalme-se! — Ele tocou em seu rosto e deslizou pela base do pescoço de Viviane. — Adoraria quebrar esse pescocinho.O estômago embrulhou ao reviver os momentos de tortura nas mãos daquele homem.— Mamãe!— Mellanie, estou aqui, querida! — Viviane ergueu o pescoço na direção de onde o som da voz vinha. — Você trouxe o que te pedi? — Pietro perguntou.Há treze anos, ele havia tirado Liz de seus braços e mais uma vez, ousou raptar a sua outra filha. — Sim! — Viviane apertou forte a alça da maleta e apertou contra o peito, — mas primeiro, solte a minha filha.— Para que a pressa? — Ele deu uma volta em torno da mulher de cabelos dourados, segurou nas mechas e aproximou o nariz para sentir o aroma de baunilha do xampu que Vivian costumava usar. — Você continua gostosa mesmo depois da gravidez de trigêmeos… — passou a língua em torno dos lábios ao parar diante dela. — Pena que é uma frígida! Ao ouvir o choro abafado, ela deu um passo à frente, mas os dedos compridos agarraram com força em seus cabelos, puxando-a de volta— Onde pensa que vai? — Passou o braço por seu pescoço e em seguida, lambeu a sua orelha.— Quero ver a minha filha! — pediu, desesperada.— Mellanie não é a sua filha… — ele apertou ainda mais, deixando-a sem ar. — Ela foi um erro que cometi quando fodi gostoso com a Andréia. — Pietro comprimiu o olhar ao recordar. — A falecida não era frígida como você! Ela gostava de uma boa tr3pada, pena que ela se deixou levar pela ambição e paixão pelo babaca do seu marido.O coração saltava dentro do peito, Viviane ainda buscava o ar.— Mãe! — A voz surgiu do quarto.— Estou aqui! — disse, lutando para se libertar de Pietro.Desesperada, cravou a ponta da unha no braço do ex.— Papai! — A voz estava mais alta.— Cala a boca, idiota. — Pietro berrou.Por alguma razão, ele a soltou. Viviane tocou no pescoço vermelho e tossiu incontrolavelmente até que o ar entrou em seus pulmões.Dando-lhe as costas, Pietro foi até uma porta com pintura descascada e a abriu. Aproveitando o momento, Viviane meteu a mão no bolso do tailleur preto e tocou no metal com o cano longo. Escondeu o revólver atrás da maleta assim que o homem veio ao seu encontro. O sorriso maquiavélico tornava a expressão ainda mais assustadora.— Quanto eu receberia para não matar a babá do CEO? — Ele estudou o rosto pálido da mulher assustada. — Que tal nos divertirmos um pouco?As passadas largas venceram a distância. Pietro examinou o decote.— Estão maiores, — tocou o pescoço fazendo pressão novamente.— Não toque em mim, — ela deixou a maleta cair.A ponta da mala cheia de dinheiro caiu no pé de Pietro, fazendo-o encolher de dor. Viviane engatilhou e apontou o cano da pistola na direção do homem que saia do chão.— Você nem sabe como usar isso, — ele riu debochadamente.Diante da provocação. Vivian atirou num jarro que se espatifou no chão.— Ainda tem dúvidas?— Vai perder o seu réu primário por uma garota que nem é sua filha? Ela tem o meu gene e é tão ruim e sagaz quanto a Andreia.— Mellanie é minha filha!Mantendo a mira em Pietro, ela andou de costas até o cômodo onde Mellanie estava sentada com as mãos algemadas.— Tire isso das mãos dela, — Viviane se encheu de coragem ao exigir. — Depressa!Sob a ameaça da mulher armada, ele retirou a chave do bolso da calça jeans surrada e abriu as algemas. A jovem de cabelos negros se livrou de seu raptor e correu para o outro lado da sala. Mellanie já tinha dezoito anos e o rosto idêntico ao de Andréia. Apesar de sua rebeldia e todos os problemas no qual a jovem se meteu na adolescência, Viviane a amava do mesmo jeito que amava Liz e os trigêmeos.— Vamos sair daqui! — disse Viviane.— Otário! — A garota de olhos claros vociferou ao passar pelo pai biológico. — Te odeio! — A jovem vociferou. Apressada, Mellanie tropeçou na maleta. Agachou-se para pegá-la e piscou para o homem encostado no batente da porta do quarto enquanto Viviane caminhava de costas, tomando cuidado para que Pietro não a atacasse de surpresa.Ao deixar o local, ambas correram até virar no corredor. Mellanie apertou o botão diversas vezes. A respiração de Vivian estava entrecortada. A sensação de estar sendo observada era inquietante. Finalmente, a porta da caixa de metal se abriu. Ambas caminharam para dentro do elevador em passos firmes.Treze anos haviam se passado desde que Viviane fez aliança com um homem vingativo que acabou se apaixonando por ela, e no fim das contas, revelou que sua filha perdida sempre esteve ao lado dela. Ela deixou de ser a babá do CEO e se tornou esposa do poderoso CEO de redes hoteleiras Gabriel Welch. Viviane Bernardi Welsch tinha quarenta anos, e com o próprio esforço e o apoio do atual marido, ela se tornou dona de uma rede de escolas situadas na Zona Sul do Rio de Janeiro e nos bairros de classe média de São Paulo. Os trigêmeos haviam acabado de completar treze anos de vida. Como uma mãe dedicada, ela conciliava o trabalho com o cuidado dos filhos. Enquanto Michael, Nicholas e Sofia acabavam de chegar a adolescência, Liz e Mellanie alcançaram a idade adulta. Aos 18 anos, Liz já sabia que Gabriel era o seu pai adotivo, mas sempre o viu como o seu único pai, já Mellanie, decidiu voltar para Beverly Hills aos quinze anos para morar com a avó na intenção de saber mais sobre sua falecida mã
Mellanie estava em frente aos enormes muros da penitenciária Laércio da Costa Pellegrino, mais conhecida como Bangu 1. Segundo as informações repassadas pelo detetive que ela contratou, era ali que o seu pai biológico estava preso há mais de treze anos. Em uma das viagens aos Beverly Hills, ela encontrou Mark, o primeiro marido de Andréia. O homem não lhe disse muita coisa, apenas informou que a criou até os cinco anos e se afastou ao descobrir que a ex-esposa o traiu. Foi através dele que Mellanie descobriu que Gabriel e Vivian a adotaram após a morte da de Andréia e a prisão de Pietro. Ainda parada no carro, a garota estava absorta. Mellanie pegou o cigarro e pôs entre os lábios. Após acender com o isqueiro dourado, tragou a fumaça e soprou. Dava t***s leves no volante enquanto as revelações realizadas pelos pais adotivos ainda reverberavam em sua mente. Tinha quinze anos quando retornou ao Brasil e confrontou Gabriel e Viviane para que eles contassem a verdade. Na ocasião, o cas
Após se certificar que os trigêmeos haviam feito os deveres de casa, Vivian ordenou que descansasse já que eles acordariam às cinco da manhã, pois no outro dia teriam aula. Ao contrário dos irmãos, Sofia adormeceu enrolada em seu cobertor. Em outro quarto, Liz também dormia placidamente. Seu coração estava feliz por ver Elizabeth chegar à idade adulta, mas ainda estava preocupada. A garota estava apaixonada e sonhando com um homem doze anos mais velho do que ela. Não quis nem pensar em como Gabriel surtaria ao descobrir que Liz estava caindo de amores pelo filho mais velho do Doutor Bittencourt. Em passos cautelosos, Viviane entrou no quarto para não despertar o homem abraçado ao travesseiro. Deu uma olhada nas costas amplas e nos músculos rijos do corpo de seu marido. Apesar dos cabelos que assumiam um tom cinza grisalho, Gabriel exibia uma excelente constituição física aos quarenta e quatro anos e ainda era um amante vigoroso. Se não fosse pelos anticoncepcionais que tomou após o
Elizabeth não sabia o que vestir naquela manhã, mas não importava. Assim que chegasse ao hospital, teria de tirar o lindo vestido. Ela suspirou vagando os olhos sobre os vestidos da Gucci jogados sobre a cama e passou a mão no tecido azul-celeste que marcava a cintura esguia. O vestido evasê sem decote tinha um cinto da mesma cor que acentuou a forma de triângulo invertido de seu corpo. Ao descer para o café da manhã, beijou o rosto da mãe e passou direto pelo pai. Ainda estava aborrecida com Gabriel. — Onde está a sua educação? — A voz firme e profunda replicou. — Bom dia, pai! — Cumprimentou num murmúrio. Gabriel não sabia que o tempo passaria tão rápido. A filha tinha crescido e se parecia cada dia mais com a mãe. A única diferença era que Liz ainda tinha o gênio do pai biológico. — Quer uma carona? — Ele perguntou. — Não! — Liz respondeu com veemência. — Eu preferia ir no meu próprio carro, mas não tenho. Emitindo o rosnado, Gabriel trincou a mandíbula, mas se controlou pa
— Ele não é tão ruim quanto Gabriel e Vivian falam. — Gabriel e Vivian são nossos pais! — Liz enfatizou. — Você sabe que eles me adotaram por pena depois que a minha mãe morreu, — fez uma careta e voltou a prestar atenção na rua enquanto conduzia o automóvel. Liz desistiu de discutir sobre esse assunto, não queria brigar com a irmã que não via há dias. Pretendia aproveitar a carona e a liberdade de poder ir a algum lugar sem a companhia dos guarda-costas. — Por que foi ver aquele homem? — Queria saber porque ele matou a minha mãe. — A mamãe está viva! — Que merda, Liz! — Deu um soco na buzina para apressar o automóvel na frente. Mellanie tragou o cigarro e expeliu a fumaça antes de dizer: — A minha mãe se chama Andréia e ela está morta. — Pensei que já tinha resolvido isso na terapia. — Nenhum terapeuta conseguirá eliminar a dor que eu sinto… O silêncio imperou entre elas. Apesar de Liz ter feito terapia para se libertar do trauma que vivenciou no shopping treze anos atrás, a
Em sua elegante sala, Gabriel pegou o copo e tomou um gole do uísque. A bebida com aroma marcante desceu aquecendo a sua garganta. O sabor intenso não era nada comparado a manhã exaustiva da reunião com o conselho. Além das preocupações com alguns investimentos sem retorno, ele ainda tinha que lidar com os problemas da família. O ringtone da mensagem chamou a atenção do CEO para a tela brilhante do iPhone. — O que foi? — Atendeu bruscamente. — Como isso aconteceu? — Largou o copo na mesa. Fechou a pasta com alguns documentos que acabara de assinar e começou a andar de um lado ao outro, com intuito de aliviar a tensão crescente. Exasperado, ele consultou o relógio no pulso direito, faltavam cinco minutos para encontrar a esposa num restaurante. Pela primeira vez em uma década, a paz e a harmonia de sua família estava ameaçada. — Ele não pode sair da cadeia! — rebateu, andando de um lado para o outro da elegante sala com móveis clássicos de pés curvos. Gabriel sabia que esse dia
Os lábios carnudos ainda estavam sobre os seus, invadindo a sua boca com uma voracidade esplendorosa enquanto as mãos compridas tentavam arrancar a roupa íntima. Viviane estava enlouquecida, encharcada pelo desejo inebriante de senti-lo se movendo dentro de seu corpo. Ela se abriu ainda mais, estava pronta para recebê-lo quando o som da campainha a despertou. De repente, as enormes portas se abriram. — Oh, meu Deus! — A secretária estava boquiaberta com a cena exibida diante de seus olhos. — Porra! — Gabriel vociferou. Pegando o blazer preto, ele jogou sobre os ombros da esposa e se escondeu atrás de Vivian. Imediatamente, ele fechou o zíper da calça. — O que veio fazer aqui? — Gabriel esbravejou grosseiramente. — Saia daqui! — Perdoe, senhor Welsch! — A secretária já estava de costas para o casal. — É urgente! O rosto de Viviane queimou diante do constrangimento. Escondida atrás do homem comprido, ela encolheu os ombros. — Já mandei sair da minha sala. — É sobre as suas filha
Sentada em outra sala bem arejada, Liz aguardava o médico que iria atendê-la, pois o doutor Alex havia acompanhado Mellanie até a sala de fisioterapia. O celular tremeu várias vezes dentro da bolsa, mas ela não quis saber. Naquela altura, o pai super protetor já devia estar sabendo. Em seus pensamentos, já se preparava para ouvir um longo sermão de Gabriel. Apertando a alça da bolsa, olhou para o lado oposto, esperando que a moça com traços orientais não a visse ali. A Doutora Jenny era gerente administrativa do hospital com quem conversou durante o processo seletivo para o estágio. — Elizabeth! O esforço foi em vão, Jenny tinha olhos de lince, podia enxergar uma pessoa ou um objeto mesmo que estivesse no fim do amplo corredor. — Por que não está trabalhando? — A doutora Kim chegou mais perto da garota cabisbaixa que cobria a testa com a mão direita. — Devia encontrar o médico responsável por sua equipe há uma hora. — A Liz sofreu um acidente e está esperando para realizar a tomog