— Ele não é tão ruim quanto Gabriel e Vivian falam.
— Gabriel e Vivian são nossos pais! — Liz enfatizou.
— Você sabe que eles me adotaram por pena depois que a minha mãe morreu, — fez uma careta e voltou a prestar atenção na rua enquanto conduzia o automóvel.
Liz desistiu de discutir sobre esse assunto, não queria brigar com a irmã que não via há dias. Pretendia aproveitar a carona e a liberdade de poder ir a algum lugar sem a companhia dos guarda-costas.
— Por que foi ver aquele homem?
— Queria saber porque ele matou a minha mãe.
— A mamãe está viva!
— Que merda, Liz! — Deu um soco na buzina para apressar o automóvel na frente. Mellanie tragou o cigarro e expeliu a fumaça antes de dizer: — A minha mãe se chama Andréia e ela está morta.
— Pensei que já tinha resolvido isso na terapia.
— Nenhum terapeuta conseguirá eliminar a dor que eu sinto…
O silêncio imperou entre elas. Apesar de Liz ter feito terapia para se libertar do trauma que vivenciou no shopping treze anos atrás, ainda tinha pesadelos horríveis em que Pietro a soltava e deixava ela cair numa profunda escuridão, gritando pela mãe. Inquieta, Elizabeth abriu a bolsa para pegar o celular. Desbloqueou a tela e começou a vasculhar as redes sociais.
— Põe o cinto! — Mellanie sorriu.
A garota segurou forte no volante antes de pisar no acelerador.
— Para onde vai?
— Vamos pegar um atalho.
— Não, Mellanie! Pare o carro, vou descer.
— Relaxa, maninha.
O coração de Liz disparou, ela teve a sensação que sairia de sua boca.
— Está amarelo, — Elizabeth apontou para o semáforo.
— Aham! — Mellanie jogou o cigarro pela janela e seguiu em frente.
— Que merda! — Exclamou, nervosa. — Quer me matar, porra!
— Não sabia que a princesinha imaculada do papai tinha boca suja, — olhou para a irmã.
— O carro, — Liz berrou quando apontou para Corolla prata à frente, que diminuiu a velocidade.
No mesmo instante, Mellanie desviou do carro, mas seus corpos sacudiram. A testa de Liz se chocou contra o painel do veículo.
— Você está bem?
Sentindo uma dor lancinante, Liz passou a mão no pequeno corte na testa. Mellanie ainda estava com o rosto enfiado airbag.
— Não foi nada demais, — falou com um homem que veio ver como elas estavam.
Ao reconhecer o segurança, Liz apanhou os óculos do chão do carro e segurou a alça da bolsa preta.
— Aonde vai? — Mellanie deu t***s para afastar o airbag.
— Me deixa em paz.
— Por favor, não conte a Vivian que visitei Pietro, — pediu num tom condescendente. — Ele é o único laço de sangue que eu tenho.
Por mais que Elizabeth detestasse a ideia de ver a irmã se aproximando do monstro, ela se limitou a concordar com a cabeça.
Saindo do carro, entrou no Ford preto dos seguranças que seguiam Mellanie. Com a têmpora latejando, ela deitou a cabeça no encosto do banco carona, enquanto um dos guarda-costas se retirava para fazer a segurança de Mellanie.
— Leve-me para o hospital São Miguel.
— Tenho que avisar o senhor Welsch…
— Por favor, não!
— Sinto muito, senhorita.
— Preciso falar com o seu pai, senão, eu vou perder o emprego.
— Droga! — Ela reclamou ao sentir outra pontada na cabeça.
— Vou te levar ao hospital.
…
Ao chegar à emergência, Liz ficou sentada na cadeira. Ao seu lado, o segurança de pele bronzeada preenchia os seus dados na ficha médica.
Lembrando-se dos óculos, ela pegou na bolsa e colocou a armação dourada entre o nariz e a testa.
O sangramento havia parado, mas ainda exibia um pequeno corte em sua pele. Permaneceu sentada por alguns minutos, até que uma figura alta, exibindo a silhueta musculosa no uniforme preto, apareceu no saguão. Abaixando a cabeça, ela tentou se esconder do olhar do médico que vasculhava o ambiente.
— Liz!
Ela levantou o rosto e reparou na mandíbula quadrada e nas sobrancelhas castanhas que emolduravam o olhar petulante. Estava totalmente presa à beleza daquele rosto másculo. Elizabeth suspirou enquanto os seus olhos examinavam o belo rosto do médico. Sentia que precisava gravar aquelas feições antes que se afastasse para atender outro paciente.
— Olá, doutor! — falou, enrubescendo.
Os batimentos estavam mais alterados e a palma de suas mãos suavam. Em certo momento, Liz teve medo que Alex ouvisse suas palpitações.
— O que aconteceu? — Inclinou-se para examinar o corte sob o pequeno caroço que se formou em sua testa.
Elizabeth moveu os lábios rosados, mas não formulou palavras. A sua pele arrepiou com o toque leve em torno do calombo.
Ela já tinha sentido aquele frio na barriga nas vezes em que esteve perto dele, mas aquele calor desconhecido subindo por entre as pernas era algo novo e intenso.
— Me solta! — Alguém gritou ao entrar no saguão.
Da sala de espera dava para ver a jovem de cabelos negros que lutava contra o segurança que a puxava.
— A senhorita torceu o tornozelo, — disse o brutamontes de terno preto. — Precisa de um médico.
— Não quero, — a garota continuou discutindo com o segurança.
Cerrando os olhos com o desgosto, Liz sentia vergonha pelo alvoroço que irmã causava no hospital.
— Mellanie!
Ao erguer o rosto, ela vislumbrou as pupilas de um azul tão intenso como o do céu. Mellanie se despojou de toda a agressividade ao ver o doutor Alex em pé ao lado de sua irmã.
— Ai, doutor! — A voz suavizou de repente. — Preciso da sua ajuda.
— A senhorita nem queria ajuda… — O segurança arqueou uma sobrancelha, estranhando o drama da jovem.
— Cala a boca, idiota! Prefiro ser cuidada pelo doutor bonitão, — cochichou e sorriu para Alex que vinha socorrê-la.
Com os ombros encolhidos, Elizabeth ficou assistindo à cena que a irmã fazia para chamar a atenção do herdeiro da família Bittencourt. No fundo, ela sempre achou que a irmã era mais experiente e seduzia os homens com mais facilidade.
Em sua elegante sala, Gabriel pegou o copo e tomou um gole do uísque. A bebida com aroma marcante desceu aquecendo a sua garganta. O sabor intenso não era nada comparado a manhã exaustiva da reunião com o conselho. Além das preocupações com alguns investimentos sem retorno, ele ainda tinha que lidar com os problemas da família. O ringtone da mensagem chamou a atenção do CEO para a tela brilhante do iPhone. — O que foi? — Atendeu bruscamente. — Como isso aconteceu? — Largou o copo na mesa. Fechou a pasta com alguns documentos que acabara de assinar e começou a andar de um lado ao outro, com intuito de aliviar a tensão crescente. Exasperado, ele consultou o relógio no pulso direito, faltavam cinco minutos para encontrar a esposa num restaurante. Pela primeira vez em uma década, a paz e a harmonia de sua família estava ameaçada. — Ele não pode sair da cadeia! — rebateu, andando de um lado para o outro da elegante sala com móveis clássicos de pés curvos. Gabriel sabia que esse dia
Os lábios carnudos ainda estavam sobre os seus, invadindo a sua boca com uma voracidade esplendorosa enquanto as mãos compridas tentavam arrancar a roupa íntima. Viviane estava enlouquecida, encharcada pelo desejo inebriante de senti-lo se movendo dentro de seu corpo. Ela se abriu ainda mais, estava pronta para recebê-lo quando o som da campainha a despertou. De repente, as enormes portas se abriram. — Oh, meu Deus! — A secretária estava boquiaberta com a cena exibida diante de seus olhos. — Porra! — Gabriel vociferou. Pegando o blazer preto, ele jogou sobre os ombros da esposa e se escondeu atrás de Vivian. Imediatamente, ele fechou o zíper da calça. — O que veio fazer aqui? — Gabriel esbravejou grosseiramente. — Saia daqui! — Perdoe, senhor Welsch! — A secretária já estava de costas para o casal. — É urgente! O rosto de Viviane queimou diante do constrangimento. Escondida atrás do homem comprido, ela encolheu os ombros. — Já mandei sair da minha sala. — É sobre as suas filha
Sentada em outra sala bem arejada, Liz aguardava o médico que iria atendê-la, pois o doutor Alex havia acompanhado Mellanie até a sala de fisioterapia. O celular tremeu várias vezes dentro da bolsa, mas ela não quis saber. Naquela altura, o pai super protetor já devia estar sabendo. Em seus pensamentos, já se preparava para ouvir um longo sermão de Gabriel. Apertando a alça da bolsa, olhou para o lado oposto, esperando que a moça com traços orientais não a visse ali. A Doutora Jenny era gerente administrativa do hospital com quem conversou durante o processo seletivo para o estágio. — Elizabeth! O esforço foi em vão, Jenny tinha olhos de lince, podia enxergar uma pessoa ou um objeto mesmo que estivesse no fim do amplo corredor. — Por que não está trabalhando? — A doutora Kim chegou mais perto da garota cabisbaixa que cobria a testa com a mão direita. — Devia encontrar o médico responsável por sua equipe há uma hora. — A Liz sofreu um acidente e está esperando para realizar a tomog
Uma das enfermeiras solicitou que dois homens de trajes negros entrassem depois de Viviane. Eles seguraram o homem que invadiu a sala de tomografia sem autorização. No momento em que viu um dos seguranças pegando a esposa pelo braço, o senhor Welsch cerrou o punho e desferiu um golpe no rosto do segurança. O outro homem de pele bronzeada partiu para cima e dominou o grandalhão com uma chave de braço. — Solte ele! — O médico ordenou — O senhor Welsch é o pai da minha paciente. Logo que o soltaram, Gabriel empurrou o homem para longe. Pondo a mão no antebraço do marido, Vivian tentou tranquilizá-lo. — Pare com isso, pai ! — Reclamou. Ela abaixou a cabeça e colocou o óculos para esconder o rosto tão vermelho quanto um tomate. Se fosse possível, Liz cavaria o chão e enfiaria a cabeça no buraco igual a um avestruz. — Onde está o seu pai? — Gabriel se agigantou diante do Dr. Alex. — O meu pai está em uma reunião do conselho. — Ele deveria observar os tipos de funcionários que o depar
Elizabeth já tinha saído da sala antes que os pais voltassem. Ainda estava com muita vergonha pela cena que Gabriel realizou na sala de exames. Mesmo que sua testa ainda estivesse latejando, a jovem decidiu trabalhar. Colocando os óculos, ajeitou os cabelos no rabo de cavalo enquanto estava no banheiro. Tentou soltar alguns fios para ocultar o calombo em sua testa, mas foi em vão. Ainda no vestiário, ela trocou a roupa, enquanto calçava o sapato, uma mulher de meia-idade com traços hispânicos adentrou. Liz deu um sorriso contido e em seguida, levantou-se do banco.— Conheço você! — A mulher falou de repente.— Sim, — Elizabeth concordou com a cabeça.Não dava para esquecer de Lana, já que ela era esposa da doutora Jenny Kim e ambas sempre estavam nas festas da família Bittencourt.— Você é a filha da Vivian, — sorriu. — Soube que ia começar o estágio hoje. Por falar nisso, — verificou a hora no relógio de prata no pulso esquerdo, — você está atrasada.— Me desculpe! — A voz consternad
O quarto abafado estava cheirando a couro envelhecido e a madeira polida. Cada móvel daquele quarto não era feios, mas gritava rústico. Naquele pequeno aposento, tudo era estranhamente opressivo, já que Mellanie estava habituada a decorações suntuosas. Esticada sobre a cama, ela olhava para o teto enquanto o corpo do jovem suado esfregava contra a sua pele e o quadril se chocava contra a sua pelve. Estava ansiando para que Giovanni terminasse de uma vez. Ela vislumbrou as janelas altas, parecia estarem fechadas. Um urro dava fim a agonia do homem que enrijeceu o pescoço e o corpo. Finalmente, ele acabou. Nesse instante, ela moveu os olhos para o rosto com traços bem marcados e eram amenizados com um corte de cabelo que valorizava as dimensões da região entre a boca e a sobrancelha negras.Aquele homem seria um importante aliado em seu plano de vingança contra a babá e o CEO. Astuta, ela sabia que Giovanni a compreenderia melhor quando estivesse totalmente relaxado. Eles mal haviam tid
Viviane saiu do táxi e parou para admirar o lindo cenário após fechar a porta do veículo. Uma paleta de cores começava a surgir no céu. Tons suaves de rosa e laranja, que se misturavam delicadamente com o azul-claro do céu, refletiam nas cores no espelho d'água da lagoa. O silêncio era quebrado pelo som suave dos pássaros voando sobre as águas e das pedaladas das bicicletas na ciclovia ao redor.Ela suspirou calmamente e então, decidiu atravessar a rua. Acenou para o porteiro do prédio que a atendeu e seguiu direto para o apartamento onde sua mãe morava desde que saiu da prisão. Após ficar encarcerada por alguns anos, Otávia cumpria o restante de sua sentença em prisão domiciliar.Vivian era a única que a visitava e na maioria das vezes, trazia os remédios receitados pelo médico de sua mãe. — Mamãe, cheguei — a voz serena avisou.— Estou aqui, — Otávia respondeu.A senhora de cabelos brancos estava de costas. Otávia estava na varanda, regando as plantas.— Trouxe os seus remédios.Viv
O jantar na mansão da família Bittencourt estava permeado por risadas, conversas animadas e sabores exóticos. Elizabeth, uma jovem inteligente e encantadora, sentia-se um tanto introvertida naquele ambiente luxuoso, mas não podia deixar de aproveitar a ocasião para socializar com os amigos de seus pais. Enquanto circulava pela sala, Elizabeth avistou uma figura familiar atravessando o salão. Seus olhos se encontraram com os do homem com o porte físico bem cuidado. Alex estava ainda mais bonito naquela camisa social branca e sua calça preta. Ele avistou a garota que havia mudado bastante desde a última vez que a viu no hospital. Apesar do belo vestido preto que realça o seu corpo esguio, ele apreciou o sorriso tímido que ela lhe deu. O coração de Liz deu um pequeno salto. À medida que a noite avançava, Elizabeth percebeu que Alex continuava a observá-la furtivamente. Seu olhar carinhoso parecia lhe revelar um interesse genuíno. Doutor Alex sempre foi um rapaz adorável e inteligente,