Mellanie estava em frente aos enormes muros da penitenciária Laércio da Costa Pellegrino, mais conhecida como Bangu 1. Segundo as informações repassadas pelo detetive que ela contratou, era ali que o seu pai biológico estava preso há mais de treze anos.
Em uma das viagens aos Beverly Hills, ela encontrou Mark, o primeiro marido de Andréia. O homem não lhe disse muita coisa, apenas informou que a criou até os cinco anos e se afastou ao descobrir que a ex-esposa o traiu. Foi através dele que Mellanie descobriu que Gabriel e Vivian a adotaram após a morte da de Andréia e a prisão de Pietro.
Ainda parada no carro, a garota estava absorta. Mellanie pegou o cigarro e pôs entre os lábios. Após acender com o isqueiro dourado, tragou a fumaça e soprou. Dava t***s leves no volante enquanto as revelações realizadas pelos pais adotivos ainda reverberavam em sua mente. Tinha quinze anos quando retornou ao Brasil e confrontou Gabriel e Viviane para que eles contassem a verdade.
Na ocasião, o casal decidiu conversar com Elizabeth e Mellanie. Sabiamente, Viviane explicou em voz serena que Gabriel não era o pai biológico das duas jovens. Liz compreendeu, mas a notícia não foi tão bem recebida por Mellanie.
— E quanto a minha mãe, o que tem a dizer sobre ela? — Mellanie franziu as sobrancelhas escuras para a Vivian. — Você me adotou por pena depois que minha mãe morreu?
— Diminua o tom da voz! — Gabriel ordenou.
— Vocês nunca me amaram.
— Não diga isso, Gabriel também é o meu pai de coração, — Liz se meteu.
— Cala boca, idiota, — Mellanie retrucou.
— Chega! — O senhor Welsch engrossou a voz. — Vá para o seu quarto.
— Você não manda em mim, — a jovem de cabelos negros levantou o queixo, enfrentando-o, — amanhã, eu voltarei para Beverly Hills.
Um toque no ombro a despertou de seus devaneios, ela apagou o cigarro ao ver o policial desconfiado.
— O que faz aqui?
— Nada! — Mostrou os dentes bem alinhados num sorriso. — Por quê?
— Saia do carro, por favor!
Mellanie prontamente obedeceu, fechou a porta do veículo após sair.
— Vai me revistar? — Mordiscou os lábios pintados de vermelho quando se virou e olhou-o sobre os ombros.
— Documentos, por favor!
Pegando o celular, entrou no aplicativo e mostrou a identidade.
— Não deveria ficar aqui, senhorita — o tom de voz suavizou ao ler o sobrenome Welsch.
— Calma, — ela piscou para o policial, — eu só quero visitar um amigo.
— Não fique muito tempo parada aqui fora, — ele sussurrou o conselho.
Os cílios emplastrados por rímel piscaram algumas vezes, Mellanie tinha uma sedução diabólica capaz de colocar qualquer homem aos seus pés. Acenou para o homem que se afastava e levantou os olhos para os muros que cercavam a penitenciária. Era ali que abrigava integrantes dos segundo e terceiro escalões do crime no estado. De um renomado advogado, Pietro estava preso numa espécie de “castigo”, onde ficam presos que cometeram falta disciplinar grave.
Um dia antes, Mellanie havia avaliado o dossiê relatando os crimes de seu pai biológico, estava preso por roubar Welsch corporation, tentativa de assassinato da ex mulher e de sua filha Elizabeth e por fim, por matar a sua mãe Andréia e Emilly, mãe de Giovanni.
Suas passadas comedidas a levaram para dentro dos enormes muros onde foi conduzida até a sala de visitas. Queria olhar nos olhos daquele homem e saber por tirar a vida de sua mãe.
Apesar de demonstrar segurança, por dentro, o coração estava disparado. Não por estar em sala de penitenciária, mas por receio do tipo de monstro que encontraria. Passou a noite acordada, pensando tudo o que ia dizer, mas as palavras ficaram presas em sua garganta quando viu o homem esmaecido. Pietro não era tão bonito como se viu nas fotos anexadas ao relatório. Estava muito mais magro, com barba por fazer e os cabelos negros estavam ralos.
Com as mãos algemadas, seguiu até a mesa que o guarda indicou. Caminhando com dificuldade, Pietro se dirigiu a ela. Mellanie reparou que ele mancava assim como Viviane fazia quando ela era criança.
— Quem é você? — Avaliou bem o rosto da Bela jovem e então, sorriu. — Você se parece muito com a…
— Andréia! — Mellanie completou antes que Pietro terminasse a frase. — Isso mesmo, eu sou filha da mulher que você matou.
— Quem te disse isso? — A pergunta se esvaiu num murmúrio. — Eles armaram para mim.
Fitando as mãos pousadas sobre a mesa, engoliu algumas vezes para diminuir o desconforto em sua garganta.
— A Vivian seduziu o senhor Welsch, por culpa dela, estou aqui.
— Você roubou a empresa do meu pai.
— Ele não é o seu pai, — exibiu um sorriso amarelo.
— Eu sei! — Mellanie levantou o rosto. — Você é o meu pai!
Em certo momento, lágrimas fluíram do canto dos olhos de Pietro.
— Minha filha, faz tanto tempo que não recebo visitas. A sua irmã nunca veio me visitar.
— Você tentou matar ela. A Liz tem medo de você.
— Estava nervoso, — levou a mão ao rosto para secar as lágrimas. — Fiquei encurralado e acabei fazendo besteira.
Olhando em volta, Pietro suspirou ao ver outros colegas de celas com suas respectivas famílias. Centenas de perguntas martelavam a mente da jovem, uma miríade de sentimentos a confundiam. Aquele homem esfarrapado não era capaz de matar uma mosca, mas ainda assim, ela indagou:
— Por que matou a minha mãe?
— Não, Andreia se jogou. Eu tentei ajudá-la, mas ela estava apaixonada por Gabriel. Ela surtou depois que soube que a Viviane estava grávida do senhor Welsch.
Jogando os cabelos para trás, Mellanie se mexeu na cadeira, pensativa.
— E quanto a mãe do Giovanni?
— Não sei quem é esse.
— O filho da Emilly.
— Ah, sim! — Balançou a cabeça ao recordar, — Você é bastante esperta e sabe que o senhor Welsch se recusava a aceitar a paternidade desse rapaz. Pelo que soube, a Emilly era uma ex-namorada que estava exigindo a pensão do filho.
— Você acha que o Gabriel tem algo a ver com a morte dela?
Inclinando-se para frente, Mellanie parecia mais interessada no assunto.
— Tenho certeza! — Pietro mentiu descaradamente. — O senhor Welsch armou tudo só para ficar com a Viviane.
Com o sangue fervendo, a jovem ficou em pé, queria correr para a casa e confrontar os pais adotivos, mas antes que saísse, Pietro falou:
— Não faça nada! Vamos pensar num jeito de mostrar a verdade. Posso te ajudar a se vingar de Viviane e de Gabriel, mas preciso que ouça o meu plano e coloque tudo em prática.
Mellanie quase sempre agia por impulso, mas naquele dia, decidiu se sentar para ouvir o seu pai biológico. Sempre sairá perdendo nas brigas e discussões com Viviane e Gabriel. Ambos sempre se uniam contra ela, mas durante a conversa Pietro mencionou que seria mais fácil destruí-los se conseguisse separá-los.
Após se certificar que os trigêmeos haviam feito os deveres de casa, Vivian ordenou que descansasse já que eles acordariam às cinco da manhã, pois no outro dia teriam aula. Ao contrário dos irmãos, Sofia adormeceu enrolada em seu cobertor. Em outro quarto, Liz também dormia placidamente. Seu coração estava feliz por ver Elizabeth chegar à idade adulta, mas ainda estava preocupada. A garota estava apaixonada e sonhando com um homem doze anos mais velho do que ela. Não quis nem pensar em como Gabriel surtaria ao descobrir que Liz estava caindo de amores pelo filho mais velho do Doutor Bittencourt. Em passos cautelosos, Viviane entrou no quarto para não despertar o homem abraçado ao travesseiro. Deu uma olhada nas costas amplas e nos músculos rijos do corpo de seu marido. Apesar dos cabelos que assumiam um tom cinza grisalho, Gabriel exibia uma excelente constituição física aos quarenta e quatro anos e ainda era um amante vigoroso. Se não fosse pelos anticoncepcionais que tomou após o
Elizabeth não sabia o que vestir naquela manhã, mas não importava. Assim que chegasse ao hospital, teria de tirar o lindo vestido. Ela suspirou vagando os olhos sobre os vestidos da Gucci jogados sobre a cama e passou a mão no tecido azul-celeste que marcava a cintura esguia. O vestido evasê sem decote tinha um cinto da mesma cor que acentuou a forma de triângulo invertido de seu corpo. Ao descer para o café da manhã, beijou o rosto da mãe e passou direto pelo pai. Ainda estava aborrecida com Gabriel. — Onde está a sua educação? — A voz firme e profunda replicou. — Bom dia, pai! — Cumprimentou num murmúrio. Gabriel não sabia que o tempo passaria tão rápido. A filha tinha crescido e se parecia cada dia mais com a mãe. A única diferença era que Liz ainda tinha o gênio do pai biológico. — Quer uma carona? — Ele perguntou. — Não! — Liz respondeu com veemência. — Eu preferia ir no meu próprio carro, mas não tenho. Emitindo o rosnado, Gabriel trincou a mandíbula, mas se controlou pa
— Ele não é tão ruim quanto Gabriel e Vivian falam. — Gabriel e Vivian são nossos pais! — Liz enfatizou. — Você sabe que eles me adotaram por pena depois que a minha mãe morreu, — fez uma careta e voltou a prestar atenção na rua enquanto conduzia o automóvel. Liz desistiu de discutir sobre esse assunto, não queria brigar com a irmã que não via há dias. Pretendia aproveitar a carona e a liberdade de poder ir a algum lugar sem a companhia dos guarda-costas. — Por que foi ver aquele homem? — Queria saber porque ele matou a minha mãe. — A mamãe está viva! — Que merda, Liz! — Deu um soco na buzina para apressar o automóvel na frente. Mellanie tragou o cigarro e expeliu a fumaça antes de dizer: — A minha mãe se chama Andréia e ela está morta. — Pensei que já tinha resolvido isso na terapia. — Nenhum terapeuta conseguirá eliminar a dor que eu sinto… O silêncio imperou entre elas. Apesar de Liz ter feito terapia para se libertar do trauma que vivenciou no shopping treze anos atrás, a
Em sua elegante sala, Gabriel pegou o copo e tomou um gole do uísque. A bebida com aroma marcante desceu aquecendo a sua garganta. O sabor intenso não era nada comparado a manhã exaustiva da reunião com o conselho. Além das preocupações com alguns investimentos sem retorno, ele ainda tinha que lidar com os problemas da família. O ringtone da mensagem chamou a atenção do CEO para a tela brilhante do iPhone. — O que foi? — Atendeu bruscamente. — Como isso aconteceu? — Largou o copo na mesa. Fechou a pasta com alguns documentos que acabara de assinar e começou a andar de um lado ao outro, com intuito de aliviar a tensão crescente. Exasperado, ele consultou o relógio no pulso direito, faltavam cinco minutos para encontrar a esposa num restaurante. Pela primeira vez em uma década, a paz e a harmonia de sua família estava ameaçada. — Ele não pode sair da cadeia! — rebateu, andando de um lado para o outro da elegante sala com móveis clássicos de pés curvos. Gabriel sabia que esse dia
Os lábios carnudos ainda estavam sobre os seus, invadindo a sua boca com uma voracidade esplendorosa enquanto as mãos compridas tentavam arrancar a roupa íntima. Viviane estava enlouquecida, encharcada pelo desejo inebriante de senti-lo se movendo dentro de seu corpo. Ela se abriu ainda mais, estava pronta para recebê-lo quando o som da campainha a despertou. De repente, as enormes portas se abriram. — Oh, meu Deus! — A secretária estava boquiaberta com a cena exibida diante de seus olhos. — Porra! — Gabriel vociferou. Pegando o blazer preto, ele jogou sobre os ombros da esposa e se escondeu atrás de Vivian. Imediatamente, ele fechou o zíper da calça. — O que veio fazer aqui? — Gabriel esbravejou grosseiramente. — Saia daqui! — Perdoe, senhor Welsch! — A secretária já estava de costas para o casal. — É urgente! O rosto de Viviane queimou diante do constrangimento. Escondida atrás do homem comprido, ela encolheu os ombros. — Já mandei sair da minha sala. — É sobre as suas filha
Sentada em outra sala bem arejada, Liz aguardava o médico que iria atendê-la, pois o doutor Alex havia acompanhado Mellanie até a sala de fisioterapia. O celular tremeu várias vezes dentro da bolsa, mas ela não quis saber. Naquela altura, o pai super protetor já devia estar sabendo. Em seus pensamentos, já se preparava para ouvir um longo sermão de Gabriel. Apertando a alça da bolsa, olhou para o lado oposto, esperando que a moça com traços orientais não a visse ali. A Doutora Jenny era gerente administrativa do hospital com quem conversou durante o processo seletivo para o estágio. — Elizabeth! O esforço foi em vão, Jenny tinha olhos de lince, podia enxergar uma pessoa ou um objeto mesmo que estivesse no fim do amplo corredor. — Por que não está trabalhando? — A doutora Kim chegou mais perto da garota cabisbaixa que cobria a testa com a mão direita. — Devia encontrar o médico responsável por sua equipe há uma hora. — A Liz sofreu um acidente e está esperando para realizar a tomog
Uma das enfermeiras solicitou que dois homens de trajes negros entrassem depois de Viviane. Eles seguraram o homem que invadiu a sala de tomografia sem autorização. No momento em que viu um dos seguranças pegando a esposa pelo braço, o senhor Welsch cerrou o punho e desferiu um golpe no rosto do segurança. O outro homem de pele bronzeada partiu para cima e dominou o grandalhão com uma chave de braço. — Solte ele! — O médico ordenou — O senhor Welsch é o pai da minha paciente. Logo que o soltaram, Gabriel empurrou o homem para longe. Pondo a mão no antebraço do marido, Vivian tentou tranquilizá-lo. — Pare com isso, pai ! — Reclamou. Ela abaixou a cabeça e colocou o óculos para esconder o rosto tão vermelho quanto um tomate. Se fosse possível, Liz cavaria o chão e enfiaria a cabeça no buraco igual a um avestruz. — Onde está o seu pai? — Gabriel se agigantou diante do Dr. Alex. — O meu pai está em uma reunião do conselho. — Ele deveria observar os tipos de funcionários que o depar
Elizabeth já tinha saído da sala antes que os pais voltassem. Ainda estava com muita vergonha pela cena que Gabriel realizou na sala de exames. Mesmo que sua testa ainda estivesse latejando, a jovem decidiu trabalhar. Colocando os óculos, ajeitou os cabelos no rabo de cavalo enquanto estava no banheiro. Tentou soltar alguns fios para ocultar o calombo em sua testa, mas foi em vão. Ainda no vestiário, ela trocou a roupa, enquanto calçava o sapato, uma mulher de meia-idade com traços hispânicos adentrou. Liz deu um sorriso contido e em seguida, levantou-se do banco.— Conheço você! — A mulher falou de repente.— Sim, — Elizabeth concordou com a cabeça.Não dava para esquecer de Lana, já que ela era esposa da doutora Jenny Kim e ambas sempre estavam nas festas da família Bittencourt.— Você é a filha da Vivian, — sorriu. — Soube que ia começar o estágio hoje. Por falar nisso, — verificou a hora no relógio de prata no pulso esquerdo, — você está atrasada.— Me desculpe! — A voz consternad