A fila se estendia pela calçada, e eu me aproximei hesitante, tentando acalmar meu coração acelerado. Meu nome agora era Maria Laura Santos, um nome tão comum quanto possível, exatamente o que eu precisava. Respirei fundo e me aproximei de uma moça que parecia bem à vontade, apesar do calor e da longa espera.
— Com licença, esta é a fila para as candidatas à vaga de babá? — perguntei. Ela se virou lentamente para mim, olhando-me de cima a baixo com uma expressão de desprezo. Seu nariz se contorceu ligeiramente, como se eu fosse uma visão desagradável. — Não se usa mais o termo 'babá', querida — respondeu ela, com um tom ácido. — Hoje em dia, chamamos de 'governanta infantil'. Senti meu rosto esquentar de vergonha. — Desculpe, é jeito de falar — respondi, tentando manter a compostura. Ela arqueou uma sobrancelha perfeita, evidentemente retocada, e sorriu de um jeito que não alcançava os olhos. — Percebe-se que você não tem classe — disse ela, fria. — Não vai passar nem da primeira etapa. Diferente de mim, que já cuidei dos filhos da família Mendes de Sá, uma família de alta linhagem e com título de nobreza. Segurei a vontade de responder algo à altura. Inspirei fundo e escolhi o silêncio. Não valia a pena começar uma discussão antes mesmo da entrevista. Caminhei até o fim da fila e me posicionei, mantendo uma distância segura daquela mulher venenosa. O sol estava alto, e a espera parecia interminável. Olhei para o portão da mansão imponente à nossa frente, tentando imaginar como seria passar por ele, ser escolhida, começar uma nova vida. O tempo parecia se arrastar até que, finalmente, um homem alto e musculoso, que parecia ter saído diretamente de um filme do FBI, começou a recolher os currículos. Quando ele pegou o meu, senti um frio na espinha. Seu olhar era penetrante, e por um momento, pensei que ele poderia ver através das falsificações. Mas ele apenas pegou o papel, examinou brevemente e seguiu para o próximo da fila. Suspirei aliviada, mas sabia que aquilo era apenas o começo. Um tempo depois, os nomes começaram a ser chamados. Meu coração batia tão forte que mal conseguia ouvir. Quando finalmente ouvi "Maria Laura Santos", mal pude acreditar. Meu nome estava no meio dos aprovados. A euforia foi imediatamente seguida pelo medo. Será que conseguiria manter a farsa? Olhei para a mulher que estava à minha frente na fila, a mesma que havia me tratado com desprezo. Seu rosto estava contorcido de raiva, e ela praticamente espumava. — Isso é uma palhaçada! — exclamou ela. — Eu fui babá dos Mendes de Sá! Isso é inaceitável! Ela deu meia-volta e saiu, pisando duro, visivelmente revoltada. Assistir sua saída dramática deu-me uma pequena sensação de satisfação, mas sabia que não podia me deixar levar por isso. Tinha uma missão a cumprir, e precisava manter o foco. Apesar de apreensiva, sentia uma pequena chama de esperança crescer dentro de mim. Ser aprovada na primeira etapa já era uma vitória, e eu precisava me agarrar a isso. Olhei para a mansão mais uma vez, imaginando como seria trabalhar ali, cuidar das crianças, começar de novo. Quando chamaram o grupo de selecionados para entrar, senti uma onda de ansiedade. Segui os outros pelo portão, tentando não demonstrar o nervosismo. O interior da mansão era ainda mais impressionante do que eu imaginava, com corredores amplos e decoração luxuosa. Fomos conduzidos a uma sala onde a próxima fase das entrevistas aconteceria. Fomos recebidos por uma senhora de meia-idade, com um semblante severo mas justo, que se apresentou como a governanta-chefe, Dona Helena. — Parabéns por terem chegado até aqui — começou ela, olhando para cada um de nós. — Esta é apenas a primeira etapa. A partir de agora, cada um de vocês passará por entrevistas individuais e atividades práticas. Estamos procurando alguém que não só tenha habilidades, mas também o coração e a disposição para cuidar dessas crianças que passaram por um momento muito difícil. Enquanto ela falava, sentia meu nervosismo aumentar. Sabia que precisava dar o meu melhor, mas também sabia que não podia deixar meu passado interferir. Quando meu nome foi chamado, levantei-me com um nó no estômago e segui Dona Helena até uma sala menor, onde a entrevista aconteceria. Ela sentou-se atrás de uma mesa grande e me indicou uma cadeira em frente. — Então, Maria Laura, conte-me sobre sua experiência com crianças. Respirei fundo, lembrando do treinamento intensivo que Letícia e João me deram. — Bem, eu trabalhei como professora assistente em uma creche por dois anos e meio. Lá, eu cuidava de crianças de várias idades, ajudava com atividades educativas e mantinha a ordem durante o dia. Dona Helena me observou atentamente, fazendo anotações enquanto eu falava. — E por que decidiu se candidatar a esta vaga? Olhei nos olhos dela, tentando parecer confiante. — Porque eu amo crianças e acredito que posso fazer a diferença na vida delas. E também porque estou buscando uma nova oportunidade para crescer e aprender. Ela assentiu, ainda com uma expressão indecifrável. — Muito bem. Vamos agora para a parte prática. Ela me levou até um quarto decorado como um quarto infantil, com brinquedos espalhados e uma cama pequena. — Esta é uma simulação. Quero que organize o quarto e depois me mostre como lidaria com uma criança que está tendo um ataque de birra. Assenti, tentando esconder o nervosismo. Comecei a arrumar os brinquedos, colocando-os em suas devidas caixas e arrumando a cama. Quando terminei, me virei para ela. — Muito bem — disse ela, agora com um olhar mais brando. — Agora, imagine que uma criança está fazendo birra porque não quer dormir. O que você faria? Pensei por um momento e então respondi. — Primeiro, eu tentaria entender por que a criança está chateada. Às vezes, elas só querem atenção ou estão com medo de algo. Eu conversaria com ela calmamente, tentando acalmá-la e mostrando que estou ali para ajudá-la. Talvez contar uma história ou cantar uma canção para distraí-la e fazê-la se sentir segura. Dona Helena sorriu levemente, o que me deu um pouco de esperança. — Bom trabalho, Maria Laura. Você pode voltar para a sala de espera. Os resultados finais serão anunciados em breve. Voltei para a sala, sentindo um misto de alívio e ansiedade. A espera foi agonizante, mas finalmente, Dona Helena voltou com uma lista na mão. — Gostaria de parabenizar os seguintes candidatos — começou ela, e enquanto lia os nomes, meu coração batia forte. Quando finalmente ouvi "Maria Laura Santos", mal pude conter minha alegria. — Não se sintam vitoriosas, vocês estão em um grupo de dez, mas apenas uma ficará com a vaga, o dia hoje foi exaustivo, então, vão para suas casas e se preparem para o dia de amanhã. — Dona Helena nos dispensou e eu fui para o ponto de ônibus muito animada, estava louca para chegar ao clube e contar as novidades para minha amiga.Quando cheguei na casa de Letícia, mal podia conter a empolgação. Estava morando com ela provisoriamente, e queria contar as boas notícias. Abri a porta e entrei apressada. — Letícia! — chamei, mas a resposta foi o silêncio. Senti um frio na espinha. Corri pela pequena sala, em direção ao quarto dela, e a encontrei caída no chão. Meu coração disparou. Sabia o que aquilo significava: drogas. Respirei fundo e, com dificuldade a levantei do chão, a arrastando até o banheiro. Abri o chuveiro e deixei a água gelada cair sobre ela. — Está gelada! — Letícia reclamou, despertando do seu estado entorpecido. — O que você está fazendo da vida, Letícia? — Olhei para ela, cheia de raiva e preocupação. Ela levantou os olhos pesados para mim, ainda grogue. — Vida? Que vida? Não sei o que é isso há um bom tempo — respondeu com um tom amargo. Ajudei Letícia a se manter em pé, respirei fundo antes de falar. Era triste demais ver minha amiga nessa situação, Letícia chegou ao clube bem ant
Na manhã seguinte, acordei cedo, ainda cansada, mas determinada. Era o dia da etapa final da seleção para a vaga de governanta infantil. Vesti minha melhor roupa, tentando parecer o mais profissional possível. Antes de sair, fui até o quarto de Letícia. — Estou indo para a entrevista final — disse, tentando soar confiante. Ela abriu os olhos lentamente, assentindo. — Boa sorte, Sofia. Eu acredito em você. Aquelas palavras me deram um pouco de força. Saí do apartamento e fui em direção à mansão, sentindo o nervosismo aumentar a cada passo. Quando cheguei, as outras candidatas já estavam lá, todas parecendo incrivelmente confiantes e bem preparadas. Respirei fundo e entrei, lembrando a mim mesma que tinha que dar o meu melhor. Dona Helena nos recebeu novamente, explicando que a última etapa seria uma série de atividades práticas. Ela nos dividiu em grupos e começou a distribuir as tarefas. — Hoje, vocês terão que mostrar habilidades em várias áreas — começou Dona Helena, com
Dias depois, vesti meu uniforme recém-adquirido e me preparei para meu primeiro dia de trabalho na mansão Constantinova. Estava nervosa, mas sabia que precisava manter a calma e focar em ser a melhor governanta infantil que poderia ser. Sai de casa depois de me despedir de Letícia, que me desejou boa sorte. Quando cheguei à mansão, fui recebida por Dona Helena na entrada. Seu olhar severo me avaliava da cabeça aos pés, mas notei uma leve inclinação de aprovação. — Bom dia, Maria Laura. — disse ela, com um leve aceno. — Vou lhe mostrar a casa e explicar como tudo funciona aqui. Assenti, seguindo-a pelos corredores amplos e luxuosos da mansão. Cada passo era um lembrete de que eu estava longe da minha realidade anterior. — Aqui na mansão, temos uma rotina bem estruturada — começou Dona Helena. — As meninas, Beatriz e Lara, têm horários fixos para todas as atividades, desde as refeições até as brincadeiras e os estudos. É essencial que você siga esses horários rigorosamente. Ela
No dia seguinte, comprei algumas roupas mais "adequadas" e fiz uma mala. Letícia estava sentada na sala quando me viu saindo. — Boa sorte, Sophia. — Minha amiga me abraçou forte. — Obrigada, Lety. — respondi. — E lembre-se de se cuidar e maneirar nas drogas, ok? — Vou tentar, mas não vou prometer. — Só tente, por favor. — pedi, abraçando-a novamente. — Vou dar o meu melhor lá. — Amiga, vá tranquila e deixe seu celular ligado, pois qualquer B.O aqui ou na boate te aviso. Quando cheguei à mansão, Dona Helena olhou minha mala com aprovação e me conduziu ao meu quarto. Depois de me instalar, ela me entregou uma agenda virtual e um celular somente para o trabalho. — Esse celular deve ficar ligado 24 horas. — disse ela. — O senhor Constantinova viaja muito e, às vezes, liga para saber como estão as filhas. — Ele só pergunta pelas filhas às vezes? — perguntei, tentando esconder a curiosidade. — O que importa para nós é fazer o trabalho bem feito e não saber se é certo ou err
— Finalmente a donzela resolveu aparecer. Onde estava? — Mauro estava furioso. — Mauro, ela… — Sophia não precisa de porta-voz, mete o pé Letícia que meu papo é com ela. — Minha amiga ainda tentou ficar ao meu lado, mas a tranquilizei dizendo que estava tudo bem. — Sabe quantas garotas como você aparecem querendo uma oportunidade? — Mauro me perguntou e assenti. — Garotas dispostas a fazer muito mais do que você faz, só pra ter proteção. Eu sabia onde ele queria chegar e respirei fundo, Mauro continuou falando e por fim disse que descontaria 10% do meu pagamento de hoje. — Quem sabe assim, você não dá valor ao que tem Sophia. — Ele sorriu mostrando aqueles dentes de ouro. Tenho um ódio e um nojo tão grande daquele homem, se ele soubesse. “Em breve isso vai acabar.” Meu subconsciente me disse. Após seu sermão ele aceitou minhas desculpas e finalmente fui liberada para ir ao camarim. Ao entrar, encontrei Letícia já se preparando. Ela olhou para mim pelo espelho, com
Quando cheguei no salão, um grupo de caras me chamou e pediu um show particular. Recusei delicadamente, pois precisava voltar rapidamente para a mansão dos Constantinova. Eles insistiram mais uma vez, e novamente recusei, mas assim que Mauro ouviu, ele se intrometeu. — Claro que ela fará um show particular para vocês, só preciso que me paguem antes. — Ele sorriu para os caras. — Mauro, eu... — Conversaremos depois, Violet. — Ele me encarou de uma forma que me fez estremecer. — Está esperando o quê? Vai se trocar. Eu odiava as salas privativas porque, enquanto os homens estão pagando, eles acham que podem nos bulinar, e a regra de Mauro era simples. Se o cara pagou, ele tem direito. Estava me trocando quando minha amiga entrou no camarim. — O que foi? Vai fazer outro número? Você não tinha que ir embora resolver aquele assunto? — Letícia perguntou, e soltei um suspiro de decepção. — Sim, eu tinha que estar lá, mas uns caras me pararam e pediram um show privado. Recusei, mas
Phillippo Constantinova Desde que Fabiana se foi, perdi o interesse pela vida. A rotina que antes fazia sentido, agora é apenas um ciclo monótono de trabalho incessante. Enterrei-me nos processos judiciais, nos papéis e nas audiências, negligenciando completamente minhas filhas. Sei que isso é muito errado da minha parte, mas não consigo esquecer Fabiana. Ela era apaixonada pela vida e não merecia perdê-la de forma tão trágica. Eu a amava mais do que tudo, e a dor de sua ausência me consome diariamente. Cada canto da casa, cada sorriso de nossas filhas, me lembra dela. Beatriz, com seu jeito teimoso e ao mesmo tempo carinhoso, e Lara, sempre tão alegre, são reflexos dela. E a pequena Maria Alice, que não teve tempo de conhecer a mãe... Sinto-me um fracasso como pai. Deveria estar presente para elas, mas não consigo. Enquanto penso, Luciana entra no meu escritório. Ela traz a papelada de um grande caso, o qual estou liderando. Ela é uma mulher eficiente, mas sempre parece ter alg
Sophia Martins / Maria Laura Santos Beatriz estava empolgada com o dia de SPA. Enquanto as levava para a escola, recebi uma mensagem de dona Helena pedindo minha conta para que ela pudesse depositar meu pagamento. Expliquei a ela que precisei encerrar a minha conta, mas que faria outra. — Maria Laura, antes de comprar qualquer produto para pele da senhorita Beatriz, preciso que venha aqui. Tenho algumas condições para você. — disse dona Helena, com sua habitual seriedade. — Tudo bem, senhora Helena. — Assim que desliguei, Beatriz me encarou. — Maria Laura, você já fez SPA com as suas amigas antes? — perguntou ela, curiosa. — Já sim. Pintávamos as unhas umas das outras com o esmalte que a gente pedia para dona Vilma, que era dona do salão. E pegávamos barro, misturávamos com água e passávamos na cara. — respondi, sorrindo com a lembrança. — Credo! Não é isso que vai fazer comigo, né? — Ela perguntou chocada. — Não, relaxa! Vou comprar produtos bons para você, só coisa apr