No dia seguinte, comprei algumas roupas mais "adequadas" e fiz uma mala. Letícia estava sentada na sala quando me viu saindo.
— Boa sorte, Sophia. — Minha amiga me abraçou forte. — Obrigada, Lety. — respondi. — E lembre-se de se cuidar e maneirar nas drogas, ok? — Vou tentar, mas não vou prometer. — Só tente, por favor. — pedi, abraçando-a novamente. — Vou dar o meu melhor lá. — Amiga, vá tranquila e deixe seu celular ligado, pois qualquer B.O aqui ou na boate te aviso. Quando cheguei à mansão, Dona Helena olhou minha mala com aprovação e me conduziu ao meu quarto. Depois de me instalar, ela me entregou uma agenda virtual e um celular somente para o trabalho. — Esse celular deve ficar ligado 24 horas. — disse ela. — O senhor Constantinova viaja muito e, às vezes, liga para saber como estão as filhas. — Ele só pergunta pelas filhas às vezes? — perguntei, tentando esconder a curiosidade. — O que importa para nós é fazer o trabalho bem feito e não saber se é certo ou errado. — respondeu Dona Helena, firme, mas parecendo grosseira. Pensei em como Dona Helena era ríspida, mas decidi não prolongar a conversa. Depois da minha conversa com Dona Helena, fui até o quarto de Beatriz. Quando me viu, ela rapidamente escondeu um caderno. — O que era aquilo? — perguntei, curiosa. — Não é da sua conta. — respondeu Beatriz, friamente. Respirei fundo para manter a calma e continuei. — Preciso dar uma olhada nos seus cadernos para ver como estão os seus estudos. — digo tentando manter a autoridade. Beatriz me encarou como se eu fosse louca e pegou seu caderno digital. — Cadê o caderno de papel? — perguntei curiosa. — Você é burra ou o quê? — a menina perguntou em tom desdenhoso. Engoli em seco, decidida a não perder a paciência. Sabia que precisaria de muita paciência e habilidade para lidar com Beatriz e ganhar sua confiança. — Foi apenas uma pergunta. — A menina olhou para mim e deu de ombros. Não sabia como usar aquele treco, então peguei meu celular e pesquisei. Após aprender a utilizar, verifiquei as matérias. "Mas que porra é essa?" perguntei para mim mesma. Cadê as atividades simples com as quais estava acostumada? Pesquisei o nome de seu colégio e vi que ele é um colégio de ponta, só filhos de ricos e famosos estudam naquele lugar, e agora? Na minha ficha dizia que eu tinha capacidades educacionais elevadas, sendo que na prática não sei se merda nenhuma. "Respira, Sophia, você se pôs nessa situação e pode dar conta." Depois de revisar o caderno digital de Beatriz e de me surpreender com o nível avançado das suas matérias, saí do quarto dela com uma sensação de apreensão. Eu precisava me adaptar rapidamente se quisesse manter esse emprego. No entanto, tinha que manter a calma e a confiança. Fui para o quarto de Lara, a menina de cinco anos, e fiquei ainda mais impressionada ao ver sua carga horária. Francês, Japonês, Italiano e Inglês. Era difícil imaginar uma criança tão pequena tendo que lidar com tantas línguas e atividades. Lara estava brincando com blocos de construção quando entrei. Ela me olhou com curiosidade, mas sorriu quando a cumprimentei. — Oi, Lara! — tentei soar mais amigável possível. — O que você está construindo aí? — Um castelo. — respondeu ela, com uma doçura que contrastava com a hostilidade de sua irmã mais velha. — Que lindo! — exclamei, genuinamente impressionada. — Você gostaria de me mostrar seus desenhos depois? Ela assentiu, os olhos brilhando de entusiasmo. Pelo menos com Lara, parecia que eu teria menos problemas. Após passar um tempo com Lara, ouvi o chorinho de Maria Alice e quando cheguei ao seu quarto a pequena estava chorosa e constatei que o caso dela era fralda suja. Aproveitei para lhe dar banho e, após estar trocada e de banho tomado, a levei para dar um passeio no jardim da casa. Enquanto ninava a menininha, Sebastião se aproximou de mim. — Olá! — Ele me cumprimentou e respondi. — Essa é a primeira vez que vejo a pequena sair. — As outras bab... governantas infantis não saíam com ela? — Perguntei curiosa. — Assim como o pai, as outras sempre negligenciavam a menina. — Coitada! Tão pequena e desprezada. Sei bem como é quando a pessoa que deveria nos proteger nos deixa à própria sorte. — Minha mente divagou. — Maria Laura! — Voltei à realidade. — Desculpe. — Mudei de assunto e, um tempo depois, Maria Alice começou a cochilar e entramos. Mais tarde, fui chamada por Dona Helena para discutir a rotina das meninas e minhas responsabilidades. Ela parecia satisfeita com a forma como eu estava me ajustando. — Você está se saindo bem até agora, Maria Laura. — disse ela. — Mas lembre-se, o senhor Constantinova é muito exigente. Ele espera que suas filhas tenham a melhor educação e cuidados possíveis. Quando finalmente tive um momento para mim mesma, sentei no meu quarto e respirei fundo. Eu sabia que teria que estudar muito para acompanhar as meninas e me adaptar à vida na mansão. Estava quase fechando meus olhos quando Letícia me ligou. — Amiga, deu merda! Danila passou mal e Mauro mandou eu achar você. Quando contei que você estava ocupada, Mauro disse que te dava meia hora para chegar aqui ou sua dívida subiria 30%. Puta merda! O que eu ia fazer agora? Como eu iria sair daquela casa sem ser vista? Cogitei pular a janela, mas quando vi a altura percebi que não daria certo. — Vai enrolando ele, amiga, por favor. — Vou ver o que faço, mas não prometo nada. Agradeci a ela e desliguei. Fiquei uns dez minutos parada pensando no que iria fazer até que uma ideia inusitada me veio à mente e torci para dar certo. Com o coração acelerado, corri até o escritório de Dona Helena. — Dona Helena, preciso de um favor urgente! — disse, tentando soar o mais sincera possível. — O que foi agora, Maria Laura? — perguntou ela, visivelmente irritada. — Recebi uma mensagem do hospital. Minha mãe teve um acidente grave e está em estado crítico. Preciso ir vê-la imediatamente. — Menti, tentando parecer desesperada. Ela me olhou por um momento, avaliando a veracidade da minha história. — Muito bem, Maria Laura. Vá, mas lembre-se de que tem responsabilidades aqui. Resolva isso rapidamente e volte o quanto antes. — disse ela, finalmente cedendo. — Obrigada, Dona Helena. Eu prometo que voltarei o mais rápido possível. — agradeci, aliviada. Saí da mansão apressadamente e peguei um Uber moto. Durante o trajeto, meu coração ainda batia acelerado, mas me senti aliviada por ter conseguido sair sem levantar muitas suspeitas. Chegando ao clube, vi Letícia me esperando na entrada. Ela parecia tensa, mas aliviada ao me ver. — Que bom que você veio. Mauro está furioso. — disse ela, puxando-me para dentro. — Vamos resolver isso. — respondi, determinada.— Finalmente a donzela resolveu aparecer. Onde estava? — Mauro estava furioso. — Mauro, ela… — Sophia não precisa de porta-voz, mete o pé Letícia que meu papo é com ela. — Minha amiga ainda tentou ficar ao meu lado, mas a tranquilizei dizendo que estava tudo bem. — Sabe quantas garotas como você aparecem querendo uma oportunidade? — Mauro me perguntou e assenti. — Garotas dispostas a fazer muito mais do que você faz, só pra ter proteção. Eu sabia onde ele queria chegar e respirei fundo, Mauro continuou falando e por fim disse que descontaria 10% do meu pagamento de hoje. — Quem sabe assim, você não dá valor ao que tem Sophia. — Ele sorriu mostrando aqueles dentes de ouro. Tenho um ódio e um nojo tão grande daquele homem, se ele soubesse. “Em breve isso vai acabar.” Meu subconsciente me disse. Após seu sermão ele aceitou minhas desculpas e finalmente fui liberada para ir ao camarim. Ao entrar, encontrei Letícia já se preparando. Ela olhou para mim pelo espelho, com
Quando cheguei no salão, um grupo de caras me chamou e pediu um show particular. Recusei delicadamente, pois precisava voltar rapidamente para a mansão dos Constantinova. Eles insistiram mais uma vez, e novamente recusei, mas assim que Mauro ouviu, ele se intrometeu. — Claro que ela fará um show particular para vocês, só preciso que me paguem antes. — Ele sorriu para os caras. — Mauro, eu... — Conversaremos depois, Violet. — Ele me encarou de uma forma que me fez estremecer. — Está esperando o quê? Vai se trocar. Eu odiava as salas privativas porque, enquanto os homens estão pagando, eles acham que podem nos bulinar, e a regra de Mauro era simples. Se o cara pagou, ele tem direito. Estava me trocando quando minha amiga entrou no camarim. — O que foi? Vai fazer outro número? Você não tinha que ir embora resolver aquele assunto? — Letícia perguntou, e soltei um suspiro de decepção. — Sim, eu tinha que estar lá, mas uns caras me pararam e pediram um show privado. Recusei, mas
Phillippo Constantinova Desde que Fabiana se foi, perdi o interesse pela vida. A rotina que antes fazia sentido, agora é apenas um ciclo monótono de trabalho incessante. Enterrei-me nos processos judiciais, nos papéis e nas audiências, negligenciando completamente minhas filhas. Sei que isso é muito errado da minha parte, mas não consigo esquecer Fabiana. Ela era apaixonada pela vida e não merecia perdê-la de forma tão trágica. Eu a amava mais do que tudo, e a dor de sua ausência me consome diariamente. Cada canto da casa, cada sorriso de nossas filhas, me lembra dela. Beatriz, com seu jeito teimoso e ao mesmo tempo carinhoso, e Lara, sempre tão alegre, são reflexos dela. E a pequena Maria Alice, que não teve tempo de conhecer a mãe... Sinto-me um fracasso como pai. Deveria estar presente para elas, mas não consigo. Enquanto penso, Luciana entra no meu escritório. Ela traz a papelada de um grande caso, o qual estou liderando. Ela é uma mulher eficiente, mas sempre parece ter alg
Sophia Martins / Maria Laura Santos Beatriz estava empolgada com o dia de SPA. Enquanto as levava para a escola, recebi uma mensagem de dona Helena pedindo minha conta para que ela pudesse depositar meu pagamento. Expliquei a ela que precisei encerrar a minha conta, mas que faria outra. — Maria Laura, antes de comprar qualquer produto para pele da senhorita Beatriz, preciso que venha aqui. Tenho algumas condições para você. — disse dona Helena, com sua habitual seriedade. — Tudo bem, senhora Helena. — Assim que desliguei, Beatriz me encarou. — Maria Laura, você já fez SPA com as suas amigas antes? — perguntou ela, curiosa. — Já sim. Pintávamos as unhas umas das outras com o esmalte que a gente pedia para dona Vilma, que era dona do salão. E pegávamos barro, misturávamos com água e passávamos na cara. — respondi, sorrindo com a lembrança. — Credo! Não é isso que vai fazer comigo, né? — Ela perguntou chocada. — Não, relaxa! Vou comprar produtos bons para você, só coisa apr
Após chegar ao jardim, entrei na casa sem ser vista e, assim que cheguei ao meu quarto, tomei um susto ao ver alguém deitado em minha cama. Quase gritei e fiz diversas orações, pois tenho pavor de fantasmas, mas quando me aproximei, vi que era apenas Lara deitada e respirei aliviada. Ela parecia tão pequena e vulnerável, abraçando o travesseiro como se fosse um escudo contra os medos noturnos. — Oi, princesa, o que está fazendo aqui? — perguntei gentilmente, sentando ao lado dela. — Estava com medo do monstro embaixo da cama. — Ela estava com a voz chorosa, os olhos grandes e assustados me encarando. — Onde você estava? — Estava no jardim. Vamos voltar para o seu quarto? — A menininha agarrou o meu braço firmemente. — Não, lá tem monstro. Ele quer me pegar. — Olhei para ela e sorri para acalmá-la. Quem me dera se os monstros da minha vida fossem apenas debaixo da minha cama. Insisti um pouco mais, mas como ela não quis ir para o seu quarto, não me importei e a deixei dormi
— Ah, Sebastião, estava... — comecei, hesitando um pouco para dar a impressão de que estava tentando lembrar de algo trivial. — Fui visitar uma amiga que mora um pouco longe. A conversa se estendeu mais do que eu esperava. — sorri, tentando parecer descontraída. — Perdi a noção do tempo, você sabe como é quando a gente encontra uma velha amiga, né? Sebastião me olhou por um momento, parecendo ponderar minha resposta. Finalmente, ele deu de ombros. — Entendo. Só fiquei preocupado, sabe? Esse horário não é seguro para uma moça estar na rua sozinha. E se a dona Helena te pega na rua naquele horário, você está lascada. — Agradeço a preocupação, Sebastião. Prometo que vou tomar mais cuidado da próxima vez. — falei, aliviada por ele ter aceitado a minha explicação. O resto do dia correu normalmente. Após deixarmos Maria Alice em casa, o tempo passou rapidamente enquanto eu cuidava das tarefas diárias e organizava as coisas para o retorno das meninas da escola. Quando chegou a hora de
Peguei o telefone e disquei o número de Letícia. Após alguns toques, ela atendeu com seu tom animado. — Oi, Sophia! — Letícia exclamou. — Como você está? — Oi, Letícia. — respondi, sentindo um sorriso surgir em meu rosto. — Estou bem, dentro do possível. E você? — Ah, você sabe como é. Sempre correndo de um lado para o outro. Mas estou bem. — ela respondeu com uma risada. — E como estão as coisas aí? Ah! E antes que pergunte estou maneirando nas drogas. — Ficaria feliz se dissesse que tinha parado. — Fique feliz mulher, eu dei uma maneirada já é um avanço. — Ela riu, mas não a acompanhei. — Não quero que aconteça com você igual a Tamires ano passado. — Tami, era uma das dançarinas assim como eu, mas infelizmente ela faleceu de overdose. — Ok, mamãe! — Imagino ela revirando os olhos. Suspirei, me sentindo cansada desse assunto. — Tem sido complicado, Letícia. Beatriz é uma menina difícil de lidar. Hoje tivemos mais um daqueles dias em que ela me testa o tempo todo. Letí
No dia seguinte, a rotina seguiu seu curso. Quando a noite finalmente chegou, meu estômago se apertou, precisava me arrumar para não me atrasar. Enquanto me arrumava lembranças de como fui parar naquele inferno club me veio a mente. *Flashback on* Havia acabado de chegar a São Paulo e não tinha muito dinheiro, pois o que tinha foi o que havia juntado com bicos que fazia em Minas. Parei em uma barraquinha que vendia coxinha e comprei duas, comigo elas e continuei andando, merda! O que uma pessoa como eu pode fazer para não morrer de fome? Não fazia a menor ideia. Se minha mãe tivesse escolhido a mim ao invés daquele marido desgraçado dela, eu não estaria nesta situação.Uma semana havia se passado e eu estava jogada na rua, fedida e morrendo de medo de ser estuprada. Um dia, parei em frente a um clube e decidi entrar para pedir se poderia tomar banho. Então um homem de meia idade se aproximou de mim com um sorriso que parecia amigável. — Olá, minha querida, pode tomar banho, sim