— Finalmente a donzela resolveu aparecer. Onde estava? — Mauro estava furioso.
— Mauro, ela… — Sophia não precisa de porta-voz, mete o pé Letícia que meu papo é com ela. — Minha amiga ainda tentou ficar ao meu lado, mas a tranquilizei dizendo que estava tudo bem. — Sabe quantas garotas como você aparecem querendo uma oportunidade? — Mauro me perguntou e assenti. — Garotas dispostas a fazer muito mais do que você faz, só pra ter proteção. Eu sabia onde ele queria chegar e respirei fundo, Mauro continuou falando e por fim disse que descontaria 10% do meu pagamento de hoje. — Quem sabe assim, você não dá valor ao que tem Sophia. — Ele sorriu mostrando aqueles dentes de ouro. Tenho um ódio e um nojo tão grande daquele homem, se ele soubesse. “Em breve isso vai acabar.” Meu subconsciente me disse. Após seu sermão ele aceitou minhas desculpas e finalmente fui liberada para ir ao camarim. Ao entrar, encontrei Letícia já se preparando. Ela olhou para mim pelo espelho, com uma expressão de alívio misturado a preocupação. — Conseguiu sair de lá? Ele te fez alguma coisa? — perguntou ela preocupada. — Sim, mas eu não estar disponível na minha folga para ele me custou 10% do meu pagamento de hoje — respondi, começando a tirar minhas roupas e pegar o figurino do show. — Isso é injusto amiga, aquele velho pançudo, não pode fazer isso com a gente. — Infelizmente, enquanto não pagarmos tudo que devemos, ele é o nosso dono. — Minha amiga soltou o ar frustrada. — Vamos nos libertar amiga, nem que pra isso eu tenha que matar aquele filho da puta. — Nem pensa numa coisa dessas, vamos nos arrumar e trabalhar. Enquanto me arrumava, a porta do camarim se abriu com um estrondo. Vanessa entrou, com seu ar habitual de superioridade e desdém. — Olha só quem está aqui, as vadias de porta de puteiro — provocou Vanessa, cruzando os braços e me lançando um olhar desdenhoso. Antes que eu pudesse responder, Letícia se virou rapidamente e meteu a mão na cara dela, com um estalo alto que ecoou pelo camarim. Vanessa, surpresa e furiosa, levou a mão ao rosto e deu um passo para trás. — Você perdeu a noção, sua... — começou Vanessa, mas Letícia a interrompeu. — Cala a boca, Vanessa. Estamos cansadas das suas provocações. Se quiser brigar, brigue com alguém que aguente sua chatice. — disse Letícia, a voz firme e cheia de raiva. Olhei para minha amiga, preocupada. — Letícia, cuidado. Ouvi dizer que Vanessa está ficando com um dos seguranças. Ela pode armar uma arapuca para você. Letícia deu de ombros, sem parecer intimidada. — Que ela se foda. Eu também conheço pessoas e muito mais perigosas que Vanessa. — respondeu ela, com um olhar desafiador. Me perguntei por onde Letícia já andou para ter essa confiança e conhecer pessoas tão perigosas. Sempre soube que ela tinha um passado complicado, mas nunca imaginei a extensão disso. Antes que pudesse pensar mais sobre isso, uma das meninas entrou no camarim. — Sophia, está na hora. — avisou, acenando para mim. Agradeci e terminei de me arrumar rapidamente. Quando ouvi a música do meu número começar a tocar, respirei fundo e me preparei para entrar no palco. Era hora de me transformar em "Viollet" e deixar todos os homens babando e sedentos por mais. Subi ao palco com confiança, os holofotes me cegando por um momento. Quando meus olhos se ajustaram, vi a plateia ansiosa, pronta para o show. Comecei a me mover ao ritmo da música, deixando o som guiar meus movimentos. Minha dança começou lentamente, cada movimento calculado para provocar e seduzir. Meus quadris balançavam de um lado para o outro, minhas mãos correndo pelo meu corpo, explorando cada curva. Os homens pareciam hipnotizadis, os olhos fixos em mim enquanto eu dançava. Com um gesto suave, soltei o primeiro botão da minha blusa, deixando-a deslizar pelo meu ombro. Ouvi o suspiro coletivo da plateia, um som que sempre me dava uma sensação de poder. Continuei a dançar, movendo-me pelo palco com graça e sensualidade, deixando que a blusa caísse no chão. Agora com o bustiê revelado, virei de costas para a plateia, deixando que apreciassem a visão de minhas costas nuas antes de me virar novamente. Desci lentamente até o chão, arqueando meu corpo e movendo-me de forma fluida. Minha saia foi a próxima peça a ser removida. Desabotoei-a com um movimento lento e provocante, deixando-a escorregar por minhas pernas até que estivesse no chão. Agora vestindo apenas lingerie, me movi com mais ousadia, aproximando-me das beiradas do palco para interagir mais de perto com a plateia. Olhei para os homens e mulheres à minha frente, sentindo o poder do meu corpo e a reação que ele provocava. Fiz contato visual com alguns, sorrindo de forma sedutora enquanto dançava. Minha mão percorreu meu corpo novamente, tocando meu pescoço, descendo pelo meu busto e chegando até a barra da calcinha. Com um último movimento, tirei o bustiê, expondo meus seios para a plateia. As luzes piscavam, intensificando a sensação de espetáculo. Girei no palco, sentindo a excitação crescer no ambiente. Cada passo, cada gesto era uma dança de desejo e poder. Finalmente, deitei no chão, arqueando meu corpo de forma provocante, antes de me levantar lentamente. A música estava chegando ao fim, e eu me aproximei do pole dance no centro do palco. Com um salto ágil, agarrei o pole e comecei a girar, minhas pernas envolvendo o metal frio enquanto eu subia e descia com graça. O show terminou com um giro final, meus cabelos caindo em cascata enquanto descia do pole. A plateia aplaudiu, gritando e assobiando. Sorri, sentindo a satisfação de um trabalho bem feito. Por um breve momento, todos os meus problemas pareciam distantes. Desci do palco, encontrando Letícia me esperando nos bastidores. Ela sorriu para mim, seu olhar cheio de orgulho. — Você arrasou, Soso. — disse ela. — Obrigada. — respondi, ainda tentando recuperar o fôlego. Enquanto caminhávamos juntas de volta ao camarim, não pude deixar de me perguntar o que mais aquela noite ainda reservava. Mas por agora, eu estava contente em ter feito meu trabalho e em ter minha amiga ao meu lado.Quando cheguei no salão, um grupo de caras me chamou e pediu um show particular. Recusei delicadamente, pois precisava voltar rapidamente para a mansão dos Constantinova. Eles insistiram mais uma vez, e novamente recusei, mas assim que Mauro ouviu, ele se intrometeu. — Claro que ela fará um show particular para vocês, só preciso que me paguem antes. — Ele sorriu para os caras. — Mauro, eu... — Conversaremos depois, Violet. — Ele me encarou de uma forma que me fez estremecer. — Está esperando o quê? Vai se trocar. Eu odiava as salas privativas porque, enquanto os homens estão pagando, eles acham que podem nos bulinar, e a regra de Mauro era simples. Se o cara pagou, ele tem direito. Estava me trocando quando minha amiga entrou no camarim. — O que foi? Vai fazer outro número? Você não tinha que ir embora resolver aquele assunto? — Letícia perguntou, e soltei um suspiro de decepção. — Sim, eu tinha que estar lá, mas uns caras me pararam e pediram um show privado. Recusei, mas
Phillippo Constantinova Desde que Fabiana se foi, perdi o interesse pela vida. A rotina que antes fazia sentido, agora é apenas um ciclo monótono de trabalho incessante. Enterrei-me nos processos judiciais, nos papéis e nas audiências, negligenciando completamente minhas filhas. Sei que isso é muito errado da minha parte, mas não consigo esquecer Fabiana. Ela era apaixonada pela vida e não merecia perdê-la de forma tão trágica. Eu a amava mais do que tudo, e a dor de sua ausência me consome diariamente. Cada canto da casa, cada sorriso de nossas filhas, me lembra dela. Beatriz, com seu jeito teimoso e ao mesmo tempo carinhoso, e Lara, sempre tão alegre, são reflexos dela. E a pequena Maria Alice, que não teve tempo de conhecer a mãe... Sinto-me um fracasso como pai. Deveria estar presente para elas, mas não consigo. Enquanto penso, Luciana entra no meu escritório. Ela traz a papelada de um grande caso, o qual estou liderando. Ela é uma mulher eficiente, mas sempre parece ter alg
Sophia Martins / Maria Laura Santos Beatriz estava empolgada com o dia de SPA. Enquanto as levava para a escola, recebi uma mensagem de dona Helena pedindo minha conta para que ela pudesse depositar meu pagamento. Expliquei a ela que precisei encerrar a minha conta, mas que faria outra. — Maria Laura, antes de comprar qualquer produto para pele da senhorita Beatriz, preciso que venha aqui. Tenho algumas condições para você. — disse dona Helena, com sua habitual seriedade. — Tudo bem, senhora Helena. — Assim que desliguei, Beatriz me encarou. — Maria Laura, você já fez SPA com as suas amigas antes? — perguntou ela, curiosa. — Já sim. Pintávamos as unhas umas das outras com o esmalte que a gente pedia para dona Vilma, que era dona do salão. E pegávamos barro, misturávamos com água e passávamos na cara. — respondi, sorrindo com a lembrança. — Credo! Não é isso que vai fazer comigo, né? — Ela perguntou chocada. — Não, relaxa! Vou comprar produtos bons para você, só coisa apr
Após chegar ao jardim, entrei na casa sem ser vista e, assim que cheguei ao meu quarto, tomei um susto ao ver alguém deitado em minha cama. Quase gritei e fiz diversas orações, pois tenho pavor de fantasmas, mas quando me aproximei, vi que era apenas Lara deitada e respirei aliviada. Ela parecia tão pequena e vulnerável, abraçando o travesseiro como se fosse um escudo contra os medos noturnos. — Oi, princesa, o que está fazendo aqui? — perguntei gentilmente, sentando ao lado dela. — Estava com medo do monstro embaixo da cama. — Ela estava com a voz chorosa, os olhos grandes e assustados me encarando. — Onde você estava? — Estava no jardim. Vamos voltar para o seu quarto? — A menininha agarrou o meu braço firmemente. — Não, lá tem monstro. Ele quer me pegar. — Olhei para ela e sorri para acalmá-la. Quem me dera se os monstros da minha vida fossem apenas debaixo da minha cama. Insisti um pouco mais, mas como ela não quis ir para o seu quarto, não me importei e a deixei dormi
— Ah, Sebastião, estava... — comecei, hesitando um pouco para dar a impressão de que estava tentando lembrar de algo trivial. — Fui visitar uma amiga que mora um pouco longe. A conversa se estendeu mais do que eu esperava. — sorri, tentando parecer descontraída. — Perdi a noção do tempo, você sabe como é quando a gente encontra uma velha amiga, né? Sebastião me olhou por um momento, parecendo ponderar minha resposta. Finalmente, ele deu de ombros. — Entendo. Só fiquei preocupado, sabe? Esse horário não é seguro para uma moça estar na rua sozinha. E se a dona Helena te pega na rua naquele horário, você está lascada. — Agradeço a preocupação, Sebastião. Prometo que vou tomar mais cuidado da próxima vez. — falei, aliviada por ele ter aceitado a minha explicação. O resto do dia correu normalmente. Após deixarmos Maria Alice em casa, o tempo passou rapidamente enquanto eu cuidava das tarefas diárias e organizava as coisas para o retorno das meninas da escola. Quando chegou a hora de
Peguei o telefone e disquei o número de Letícia. Após alguns toques, ela atendeu com seu tom animado. — Oi, Sophia! — Letícia exclamou. — Como você está? — Oi, Letícia. — respondi, sentindo um sorriso surgir em meu rosto. — Estou bem, dentro do possível. E você? — Ah, você sabe como é. Sempre correndo de um lado para o outro. Mas estou bem. — ela respondeu com uma risada. — E como estão as coisas aí? Ah! E antes que pergunte estou maneirando nas drogas. — Ficaria feliz se dissesse que tinha parado. — Fique feliz mulher, eu dei uma maneirada já é um avanço. — Ela riu, mas não a acompanhei. — Não quero que aconteça com você igual a Tamires ano passado. — Tami, era uma das dançarinas assim como eu, mas infelizmente ela faleceu de overdose. — Ok, mamãe! — Imagino ela revirando os olhos. Suspirei, me sentindo cansada desse assunto. — Tem sido complicado, Letícia. Beatriz é uma menina difícil de lidar. Hoje tivemos mais um daqueles dias em que ela me testa o tempo todo. Letí
No dia seguinte, a rotina seguiu seu curso. Quando a noite finalmente chegou, meu estômago se apertou, precisava me arrumar para não me atrasar. Enquanto me arrumava lembranças de como fui parar naquele inferno club me veio a mente. *Flashback on* Havia acabado de chegar a São Paulo e não tinha muito dinheiro, pois o que tinha foi o que havia juntado com bicos que fazia em Minas. Parei em uma barraquinha que vendia coxinha e comprei duas, comigo elas e continuei andando, merda! O que uma pessoa como eu pode fazer para não morrer de fome? Não fazia a menor ideia. Se minha mãe tivesse escolhido a mim ao invés daquele marido desgraçado dela, eu não estaria nesta situação.Uma semana havia se passado e eu estava jogada na rua, fedida e morrendo de medo de ser estuprada. Um dia, parei em frente a um clube e decidi entrar para pedir se poderia tomar banho. Então um homem de meia idade se aproximou de mim com um sorriso que parecia amigável. — Olá, minha querida, pode tomar banho, sim
Depois que finalizei e as luzes se apagaram, saí do palco às pressas. Letícia, quando me viu correr, não perguntou o que estava acontecendo, mas eu estava respirando com dificuldade e disse a ela que precisava de um ar.— Vamos, amiga, meu número só vai começar daqui a meia hora.Quando chegamos do lado de fora, ela me puxou para o lado e olhou para mim.— Agora me conta, o que houve? — Minha amiga olhava para mim preocupada.— Lety, o motorista das meninas está aqui e ele me viu tirar a roupa no palco, amiga. E agora o que eu faço?Minha amiga olhou para mim com olhos arregalados.— Onde ele está, amiga? Vamos atrás dele e tentar explicar, pois ele não pode te caguetar.Minha amiga e eu entramos e ficamos procurando por Sebastião, até que o encontramos no bar, perdido em pensamentos.Nos aproximamos dele e, quando ele me viu, não esboçou expressão.— Sebastião, né? Precisamos conversar com você.— Maria Laura, o que faz aqui? Você é babá de três crianças durante o dia e, à noite, as