Sophia Martins Minas Gerais, Agosto de 2020. Desde quando minha mãe resolveu se casar com Carlos, nossa vida aos poucos se transformou em um inferno. Para piorar tudo, estamos na pandemia, e meu padrasto está com raiva desde que precisou ficar em casa. Minha mãe é empregada doméstica e precisou implorar para que algumas casas não a demitissem, sempre dando um jeito de chegar aos locais. Carlos, por outro lado, decidiu passar a encher a cara todos os dias e culpar todos por seus fracassos.— Sophia, vem aqui agora. — Ele gritou e fui ao seu encontro.— Pega esse controle aí pra mim e senta aqui do meu lado.De uns tempos para cá, Carlos começou a olhar para mim de uma maneira que me deixa aflita demais.— Carlos, estou fazendo as atividades do colégio, não posso agora. — Entreguei o controle remoto em suas mãos e me preparei para sair quando ele me puxou de forma abrupta.— Se eu mandei você sentar, você senta. Já esqueceu quem paga as suas coisas? — Ele apertava o meu pulso com forç
São Paulo, 2023Graças aos céus, hoje eu não preciso ir ao clube. Mesmo que eu não precise trabalhar, Mauro me ligou e disse que eu deveria ir para o clube porque ele quer conversar comigo. Liguei para Letícia e, quando contei, ela ficou apreensiva.— Será que ele descobriu sobre seu outro emprego? — Ela perguntou, preocupada.— Tomara que não, porque Mauro é louco.— Quer que eu vá com você?— Melhor não, vai que ele acha estranho se você for. É melhor eu ir sozinha.Fiz os meus trabalhos e, à noite, saí rapidinho para ir ao clube. Quando cheguei, Mauro me mandou sentar e me encarou.— Sabe que se não fosse por mim, você não seria nada, não é? — Ele perguntou, soltando a fumaça do seu cigarro barato em mim.— Sim, eu sei. E agradeço por isso.— Você é minha pupila e eu odiaria ter que te dar uma lição ou te vender para um Julião. — Senti a minha espinha gelar quando ouvi esse nome. Já me encontrei com esse homem uma vez e ele é louco. — Vou te fazer uma pergunta e espero que seja sin
Phillippo Constantinova Depois que a Governanta Infantil me perguntou se eu queria segurar Maria Alice, neguei e saí dali rapidamente. Estava trabalhando em casa, mas ficar naquela casa me traz lembranças de Fabiana e não faz nada bem.Peguei minhas coisas e estava saindo quando Beatriz passou por mim. Ela voltou e me encarou.— Já vai embora, Phillippo? — Ela perguntou, ainda me encarando.— Esqueceu que sou seu pai?— E você esqueceu que sou sua filha. Aliás, somos três. Esqueceu? — Senti a amargura nas suas palavras.Beatriz é uma menina de nove anos e tem mais amargura que um adulto.— Eu preciso trabalhar, filha. — Ela revirou os olhos.— Como sempre. Pode ir, o que eu precisar peço à senhora Helena ou à Maria Laura.Ela não me deixou falar, apenas bateu a porta do seu quarto com força. Tentei ir até o seu quarto, mas chegando até sua porta desisti e fui para meu escritório.Chegando lá, já havia anoitecido. Então, me servi de uma dose de uísque e me virei para a janela, onde ad
Sophia Martins / Maria Laura Santos Depois que deixei as meninas na escola, pedi a Sebastião que me deixasse na pracinha. Levei Maria Alice para dar uma volta e ela estava curiosa, observando tudo. Sebastião então perguntou o que estava acontecendo e eu disse a ele o que ocorreu pela manhã. Ele contou que trabalha para o senhor Constantinova há quatro anos e que ele é completamente diferente do que é hoje.— O senhor Constantinova era um bom pai, um marido carinhoso e amoroso — Sebastião contava com um olhar melancólico. — A morte da senhora Fabiana o destruiu.— Entendo a dor dele, mas as meninas precisam tanto dele. Beatriz está tão amarga e Lara... ela é tão pequena para entender tudo isso. — Suspirei, ajeitando Maria Alice em meus braços. — Ele precisa encontrar uma maneira de voltar a ser o pai que elas lembram.— É difícil perder alguém que se ama tanto, especialmente de maneira tão repentina. Mas você está certa, Maria Laura. Ele precisa encontrar uma maneira de seguir em fre
No dia seguinte assim que me levantei fui para o quarto de Beatriz e a menina estava passando mal, então avisei a dona Helena e ela me disse que ela não iria precisar ir para o ballet, tenho certeza que ela estava fingindo, mas não iria dizer nada. Voltei para o seu quarto e ela estava deitada olhando para o teto. Então sentei em sua cama e conversei com ela enquanto apertava a sua barriga e ela não reclamou. — Você não estava com dor? — Perguntei a ela que ficou sem graça. — Eu sei que está mentindo. — Então por que não me delata para dona Helena. — Por que não sou uma X-9. E outra eu sei que você não gosta das aulas de ballet, então por que faz? — Eu nunca gostei de ballet, mas minha mãe era apaixonada por isso e então ela me matriculou e depois que ela morreu eu pedi o meu pai para me tirar da aula, porém ele disse que o desejo de minha mãe era que eu fosse bailarina, então cá estou. — Ela falava com frustração. Sei muito bem o que é fazer algo para agradar alguém e particula
Luciana TorresSabe o que é amar uma pessoa a vida inteira e essa pessoa nunca perceber? Pois bem, é o que acontece comigo. Phillippo nunca percebeu que nutro sentimentos por ele. Pensei que seria mais fácil engatar um relacionamento já que todos da nossa família são amigos e parceiros de negócios, porém me enganei. Decidi até mesmo contrariar meu pai e fazer a mesma faculdade que ele para podermos ficar ainda mais juntos, só que todos os meus esforços foram em vão.Ele conheceu a songa-monga da Fabiana quando ainda estávamos no ensino médio e se encantou com aquele jeitinho meigo dela. Devo admitir que eu odiava aquele jeito dela, sempre boazinha, sempre carinhosa. Aff!Armei diversos planos para eles se separarem, mas nada deu certo e os dois acabaram se casando. Quando ela morreu no parto da última filha deles, confesso que fiquei feliz por saber que eu teria uma chance. Só que agora Phillippo está diferente, ele não é mais o homem que eu conheci. Sempre está de cara fechada, focad
Sophia Martins/ Maria Laura SantosDona Helena estava o cão, chata pra cacete. Ela gritava ordens para todos e, se ela não fosse uma senhora de meia-idade, diria que estava de TPM.— Maria Laura, se mexa! As crianças não irão se cuidar sozinhas! — Sorri para ela.— Vim apenas buscar a mamadeira da Alice. A senhora quer um chazinho de camomila?Ela me encarou por algum tempo e depois soltou um longo suspiro.— Aceito!Fui para a cozinha e pedi a dona Martina para preparar um chá para dona Helena.— Ela está louca como o diabo — concordei com dona Martina, que riu.Assim que o chá ficou pronto, levei para dona Helena e fui para o quarto de Alice. Dei a mamadeira e sorri quando a pus no berço.— Acho que está na hora de começar a te dar papinhas — sorri para ela, que fazia barulhinhos engraçados. — Mas semana que vem vamos à pediatra e ela vai dizer o que você pode comer ou não, coisinha fofa.De onde venho, as mães dão comida cedo para os filhos, mas com pessoas ricas tudo tem que ser q
Phillippo Constantinova Hoje era aniversário de nove meses de Maria Alice e resolvi levar as meninas para um passeio em família.— Pai, você chamou a Maria Laura? — Beatriz perguntou e neguei. — Chama ela, pai.— Não, eu disse que passaríamos um dia apenas nós três.— E por que não podemos virar quatro? Vai, pai, por favor, chama a Maria Laura, ela é muito legal e sempre protege a gente.Beatriz insistiu tanto que decidi ir até o quarto dela e convidá-la. Bati na porta duas vezes e não obtive resposta, então girei a maçaneta e entrei.Assim que entrei, a porta do banheiro se abriu e ela apareceu sem nenhuma roupa. Virei no mesmo instante em que ela soltou um grito.— Senhor Constantinova, precisa de algo? — Ela disse depois de correr para o banheiro. — Não fale nada, espere um minuto.Depois de um tempo, ela retornou já vestida, e me desculpei por entrar.— Não precisa se desculpar, a casa é sua, senhor.— Mesmo assim, não deveria ter entrado em seu quarto. Estou aqui para te convida