Phillippo Constantinova Me sentei na beira da cama, observando Sophia dormir tranquilamente. Sua respiração era suave e regular, um som que sempre me acalmou. Ela estava tão bonita, tão em paz. Meu coração estava cheio de amor e, ao mesmo tempo, um medo profundo me invadia.Me levantei devagar, tentando não fazer barulho para não acordá-la, e fui para a varanda. O ar fresco da noite me envolveu, e me sentei em uma das cadeiras, olhando para o céu estrelado. A felicidade que senti ao descobrir que seríamos pais novamente foi rapidamente sobreposta por uma onda de preocupação.Meu olhar se perdeu nas estrelas, e comecei a refletir sobre tudo o que tínhamos passado. Sophia havia sido minha rocha, meu porto seguro. Ela trouxe luz para minha vida de uma forma que nunca imaginei ser possível. Mas a ideia de ter outro filho também trouxe à tona um medo que eu nunca admitiria em voz alta: a possibilidade de perdê-la.Não conseguia evitar lembrar dos relatos sobre complicações na gravidez e d
Sophia Constantinova Os meses se passaram na velocidade da luz, e minha gestação já estava bem avançada. Na verdade, a qualquer momento poderia dar à luz. Phillippo estava louco, não me deixando fazer nada além de cuidar das nossas pequenas. Às vezes, sua preocupação excessiva me estressava e isso me irritava profundamente. Meus hormônios estavam uma loucura, mas, para sua defesa, ele estava sendo muito paciente.Hoje demorou até conseguir uma boa posição para dormir, comecei a sentir uma leve dor na parte inferior das costas. Tentei ignorar, achando que era apenas mais um desconforto normal da gravidez. Mas à medida que os minutos passavam, a dor começou a se intensificar e a se espalhar para a barriga. Olhei para Phillippo, que já estava dormindo e decidi que não podia mais ignorar.— Phillippo... — Chamei, tentando manter a calma. — Acho que está na hora.Ele abriu os olhos imediatamente, seu semblante passando de sonolento a alerta em questão de segundos.— O quê? Agora? — Ele pe
A sala de parto estava iluminada, cada detalhe nítido demais para os meus olhos nervosos. O som dos monitores e a respiração rápida de Sophia preenchiam o ambiente. Eu estava ao seu lado, segurando sua mão com força, sentindo o suor frio escorrer pelas minhas costas. Tentei manter minha voz calma e encorajadora, mas meu coração estava disparado.— Você está indo muito bem, amor. — Murmurei, tentando sorrir.Ela me olhou com uma mistura de dor e determinação, apertando minha mão com mais força enquanto uma nova contração a atingia. O médico e as enfermeiras estavam concentrados em seu trabalho, dando instruções a Sophia.— Continue, Sophia, você está indo muito bem. — Disse o médico, sua voz calma, mas firme.Então, de repente, a expressão do médico mudou. Ele franziu a testa, olhando atentamente para o monitor e depois para Sophia. O ambiente, que já estava tenso, ficou ainda mais carregado.— Pare de fazer força, Sophia. — Disse o médico, sua voz agora mais urgente. — O cordão umbili
Phillippo ConstantinovaAssim que o médico saiu da sala de parto, senti meu coração disparar. Levantei-me de imediato, indo em sua direção, ainda com o pavor estampado no rosto. Ele parecia calmo, mas eu precisava de respostas. O que aconteceu lá dentro? Como estavam Sophia e o bebê? A angústia me consumia, e tudo o que eu conseguia pensar era em como minha vida poderia mudar completamente dependendo das palavras que ele diria a seguir.— Doutor, o que aconteceu? — Perguntei, tentando manter a calma, mas com a voz trêmula. — Como estão Sophia e o bebê?O médico olhou para mim com um sorriso sereno e reconfortante. — Ambas estão muito bem, senhor Constantinova. — Disse ele, com um tom tranquilizador. — O cordão umbilical estava enrolado no pescoço do bebê, mas conseguimos resolver a situação sem complicações. Sua esposa foi incrível, e sua filha está saudável.As palavras dele foram como uma onda de alívio que me inundou. Senti meu corpo relaxar, a tensão que se acumulava nos meus omb
Sophia Martins ConstantinovaDez anos se passaram desde aquele dia inesquecível no hospital, e nossa vida tomou rumos que eu mal podia imaginar. Me formei em medicina e, com muito esforço e dedicação, consegui abrir minha própria clínica pediátrica. Sempre quis trabalhar com crianças, e ajudar os pequenos a se manterem saudáveis e felizes era uma das minhas maiores realizações. Estava no meu escritório, finalizando alguns relatórios, quando ouvi o som familiar de risadas e passos apressados vindo do corredor.Olhei para a porta e vi Phillippo entrando com as meninas. Era sempre uma alegria vê-los, e não importava quantos anos passassem, meu coração sempre se enchia de amor ao vê-los juntos. Maria Alice e Rosamaria, como de costume, estavam discutindo sobre alguma coisa trivial, provavelmente algo que fizeram na escola ou espaço no sofá, enquanto Beatriz estava animada, falando sem parar sobre sua viagem pela Europa com o namorado, o que não estava deixando Phillippo nada feliz. Lara,
Sophia Martins / Maria Laura Santos Sempre soube que o inferno existia. Desde criança, sentia sua presença. A cada passo que meu padrasto dava pela casa, cada vez que ele elevava a voz, sabia que estava lá, à espreita, pronto para me engolir. Era como se o ar ficasse mais denso, mais difícil de respirar. Não havia fuga, não havia como escapar. O inferno estava em cada cômodo, em cada sombra, no olhar ameaçador dele. Tinha doze anos quando minha mãe se casou com ele. No início, ele parecia ser um homem bom, trabalhador e amoroso. Mas logo, a máscara caiu. O álcool começou a fluir em nossa casa como água, e com ele, a violência. Era sempre a mesma coisa: ele chegava em casa tarde, bêbado, procurando uma desculpa para descontar sua frustração. Minha mãe se tornava seu saco de pancadas, e eu, impotente, assistia tudo escondida atrás da porta do meu quarto. Certa noite, as coisas pioraram. Estava na sala, fazendo minha lição de casa, quando ouvi os gritos. Minha mãe implorava para q
A fila se estendia pela calçada, e eu me aproximei hesitante, tentando acalmar meu coração acelerado. Meu nome agora era Maria Laura Santos, um nome tão comum quanto possível, exatamente o que eu precisava. Respirei fundo e me aproximei de uma moça que parecia bem à vontade, apesar do calor e da longa espera. — Com licença, esta é a fila para as candidatas à vaga de babá? — perguntei. Ela se virou lentamente para mim, olhando-me de cima a baixo com uma expressão de desprezo. Seu nariz se contorceu ligeiramente, como se eu fosse uma visão desagradável. — Não se usa mais o termo 'babá', querida — respondeu ela, com um tom ácido. — Hoje em dia, chamamos de 'governanta infantil'. Senti meu rosto esquentar de vergonha. — Desculpe, é jeito de falar — respondi, tentando manter a compostura. Ela arqueou uma sobrancelha perfeita, evidentemente retocada, e sorriu de um jeito que não alcançava os olhos. — Percebe-se que você não tem classe — disse ela, fria. — Não vai passar nem da primei
Quando cheguei na casa de Letícia, mal podia conter a empolgação. Estava morando com ela provisoriamente, e queria contar as boas notícias. Abri a porta e entrei apressada. — Letícia! — chamei, mas a resposta foi o silêncio. Senti um frio na espinha. Corri pela pequena sala, em direção ao quarto dela, e a encontrei caída no chão. Meu coração disparou. Sabia o que aquilo significava: drogas. Respirei fundo e, com dificuldade a levantei do chão, a arrastando até o banheiro. Abri o chuveiro e deixei a água gelada cair sobre ela. — Está gelada! — Letícia reclamou, despertando do seu estado entorpecido. — O que você está fazendo da vida, Letícia? — Olhei para ela, cheia de raiva e preocupação. Ela levantou os olhos pesados para mim, ainda grogue. — Vida? Que vida? Não sei o que é isso há um bom tempo — respondeu com um tom amargo. Ajudei Letícia a se manter em pé, respirei fundo antes de falar. Era triste demais ver minha amiga nessa situação, Letícia chegou ao clube bem ant