Na manhã seguinte, acordei cedo, ainda cansada, mas determinada. Era o dia da etapa final da seleção para a vaga de governanta infantil. Vesti minha melhor roupa, tentando parecer o mais profissional possível. Antes de sair, fui até o quarto de Letícia.
— Estou indo para a entrevista final — disse, tentando soar confiante. Ela abriu os olhos lentamente, assentindo. — Boa sorte, Sofia. Eu acredito em você. Aquelas palavras me deram um pouco de força. Saí do apartamento e fui em direção à mansão, sentindo o nervosismo aumentar a cada passo. Quando cheguei, as outras candidatas já estavam lá, todas parecendo incrivelmente confiantes e bem preparadas. Respirei fundo e entrei, lembrando a mim mesma que tinha que dar o meu melhor. Dona Helena nos recebeu novamente, explicando que a última etapa seria uma série de atividades práticas. Ela nos dividiu em grupos e começou a distribuir as tarefas. — Hoje, vocês terão que mostrar habilidades em várias áreas — começou Dona Helena, com seu tom severo. — Cada uma de vocês será avaliada em como lida com situações cotidianas que podem ocorrer enquanto cuida das crianças. A primeira tarefa foi preparar uma refeição saudável e atrativa para as crianças. Fomos levadas à cozinha, e tentei me concentrar, lembrando das receitas simples e nutritivas que aprendi no YouTube. Cortei frutas, preparei sanduíches coloridos e organizei tudo de uma maneira que parecia divertida. Quando terminei, olhei para o prato com um pouco de orgulho, esperando que Dona Helena aprovasse. A próxima atividade foi organizar o quarto das meninas. Tivemos que arrumar as camas, colocar os brinquedos em seus lugares e garantir que o ambiente ficasse acolhedor e seguro. Trabalhei rápido, mas com cuidado, tentando criar um espaço que as meninas pudessem amar, assim como fazia na minha casa. Enquanto isso, percebia Dona Helena nos observando de perto, anotando cada detalhe. A última tarefa prática foi a mais desafiadora: lidar com uma situação de emergência. Cada uma de nós recebeu um cenário simulado, e tínhamos que demonstrar como reagiríamos. Meu cenário envolvia uma das crianças se machucando durante uma brincadeira. Mantive a calma, cuidei do "ferimento" e consolei a criança imaginária, garantindo que tudo ficaria bem. Depois de todas as atividades, Dona Helena nos reuniu na sala de estar. Éramos apenas três candidatas agora. O suspense estava no ar, e meu coração batia acelerado. A última tarefa foi interagir com as meninas sob o olhar atento de Dona Helena. Beatriz e Lara, as meninas do senhor Constantinova, entraram na sala tímidas. Me sentei no chão com elas, pegando alguns brinquedos e começando uma brincadeira, fiz exatamente o que fazia quando precisava tomar conta dos filhos da minha vizinha, dois pestinhas que eu gostava muito. Laura começou a falar sobre a escola, enquanto Sofia se aproximava lentamente. Usei meu tempo para ouvi-las, respondendo com interesse e carinho. Dona Helena observava de longe, sua expressão séria. Sabia que ela estava avaliando cada movimento meu, cada palavra dita. Quando a interação terminou, fomos chamadas de volta ao hall de entrada. Dona Helena fez um suspense, olhando para cada uma de nós. — Todas vocês fizeram um bom trabalho, mas apenas uma será escolhida. — Ela fez uma pausa que pareceu durar uma eternidade. — Maria Laura Santos, você é a nova governanta infantil da família Constantinova. Mal podia acreditar. Tinha conseguido. Sorri, agradecendo enquanto as outras candidatas se despediam, algumas com expressões desapontadas, outras olhavam para mim com raiva. Saí da mansão com o coração leve, a euforia me dominando. Quando cheguei em casa, encontrei Letícia no sofá, mais animada do que nos últimos dias. — Letícia, eu consegui! — exclamei, mal conseguindo conter a felicidade. Ela sorriu, um sorriso verdadeiro que iluminou seu rosto. — Eu sabia que você conseguiria! — disse ela, me puxando para um abraço. — Vamos comemorar! Letícia pegou o telefone e ligou para João, pedindo que trouxesse pizza e vinho. Quando João chegou, o abracei forte. — O plano deu certo, João! — exclamei, enquanto ele colocava as pizzas na nossa mesa improvisada. Ele sorriu, satisfeito. — Sabíamos que você conseguiria, Maria Laura, ele brincou com o nome que foi inventado ppr nós. Letícia me olhou seriamente. — Agora você precisa tomar cuidado, Sofia. Lembre-se sempre que seu nome como babá é Maria Laura Santos. Não pode haver deslizes. As Assenti, entendendo a gravidade da situação, até porque eu posso ser presa por falsidade ideológica. — Prometo que irei ficar atenta, até porque é meu toba que está na reta. João, que sempre foi o mais cauteloso, olhou para mim. — E no clube de stripper, você é Viollet Rose. Nunca pode misturar as duas pessoas e o mais importante é não deixar que Mauro descubra sobre o seu novo emprego. — Se ele descobrir é capaz dele inventar juros e tomar todo o seu dinheiro. Olhei para ambos, sabendo o peso que pairava sobre os meus ombros. Entre a minha nova identidade de babá, Maria Laura, e a identidade como stripper, Viollet Rose, há Sofia Martins. É quem eu verdadeiramente sou. Uma menina com a vida conturbada, mas que está lutando para encontrar seu espaço no mundo. A noite foi de comemoração. Rimos, brindamos e por algumas horas, esquecemos dos problemas. Ao final da noite João se foi e quando estávamos apenas minha amiga e eu olhei para ela. — O que foi? — Ela perguntou enquanto pegava um cigarro. — Letícia, porque você não volta com João? — Minha amiga soltou a fumaça e me encarou. — Soph, quando João e eu nos conhecemos, eu era uma menina completamente diferente do que sou hoje, não usava drogas, sabe, era uma menina que apesar dos pais merdas que tinha achava que seria feliz. Na verdade João não sabe a metade do que passei, preferi poupá-lo de toda merda. — Entendo, Letícia. Às vezes só queremos fugir, e deixar o passado para trás. Ambas assentimos e ficamos olhando para o nada, cada uma com suas próprias dores e seus próprios demônios para enfrentar.Dias depois, vesti meu uniforme recém-adquirido e me preparei para meu primeiro dia de trabalho na mansão Constantinova. Estava nervosa, mas sabia que precisava manter a calma e focar em ser a melhor governanta infantil que poderia ser. Sai de casa depois de me despedir de Letícia, que me desejou boa sorte. Quando cheguei à mansão, fui recebida por Dona Helena na entrada. Seu olhar severo me avaliava da cabeça aos pés, mas notei uma leve inclinação de aprovação. — Bom dia, Maria Laura. — disse ela, com um leve aceno. — Vou lhe mostrar a casa e explicar como tudo funciona aqui. Assenti, seguindo-a pelos corredores amplos e luxuosos da mansão. Cada passo era um lembrete de que eu estava longe da minha realidade anterior. — Aqui na mansão, temos uma rotina bem estruturada — começou Dona Helena. — As meninas, Beatriz e Lara, têm horários fixos para todas as atividades, desde as refeições até as brincadeiras e os estudos. É essencial que você siga esses horários rigorosamente. Ela
No dia seguinte, comprei algumas roupas mais "adequadas" e fiz uma mala. Letícia estava sentada na sala quando me viu saindo. — Boa sorte, Sophia. — Minha amiga me abraçou forte. — Obrigada, Lety. — respondi. — E lembre-se de se cuidar e maneirar nas drogas, ok? — Vou tentar, mas não vou prometer. — Só tente, por favor. — pedi, abraçando-a novamente. — Vou dar o meu melhor lá. — Amiga, vá tranquila e deixe seu celular ligado, pois qualquer B.O aqui ou na boate te aviso. Quando cheguei à mansão, Dona Helena olhou minha mala com aprovação e me conduziu ao meu quarto. Depois de me instalar, ela me entregou uma agenda virtual e um celular somente para o trabalho. — Esse celular deve ficar ligado 24 horas. — disse ela. — O senhor Constantinova viaja muito e, às vezes, liga para saber como estão as filhas. — Ele só pergunta pelas filhas às vezes? — perguntei, tentando esconder a curiosidade. — O que importa para nós é fazer o trabalho bem feito e não saber se é certo ou err
— Finalmente a donzela resolveu aparecer. Onde estava? — Mauro estava furioso. — Mauro, ela… — Sophia não precisa de porta-voz, mete o pé Letícia que meu papo é com ela. — Minha amiga ainda tentou ficar ao meu lado, mas a tranquilizei dizendo que estava tudo bem. — Sabe quantas garotas como você aparecem querendo uma oportunidade? — Mauro me perguntou e assenti. — Garotas dispostas a fazer muito mais do que você faz, só pra ter proteção. Eu sabia onde ele queria chegar e respirei fundo, Mauro continuou falando e por fim disse que descontaria 10% do meu pagamento de hoje. — Quem sabe assim, você não dá valor ao que tem Sophia. — Ele sorriu mostrando aqueles dentes de ouro. Tenho um ódio e um nojo tão grande daquele homem, se ele soubesse. “Em breve isso vai acabar.” Meu subconsciente me disse. Após seu sermão ele aceitou minhas desculpas e finalmente fui liberada para ir ao camarim. Ao entrar, encontrei Letícia já se preparando. Ela olhou para mim pelo espelho, com
Quando cheguei no salão, um grupo de caras me chamou e pediu um show particular. Recusei delicadamente, pois precisava voltar rapidamente para a mansão dos Constantinova. Eles insistiram mais uma vez, e novamente recusei, mas assim que Mauro ouviu, ele se intrometeu. — Claro que ela fará um show particular para vocês, só preciso que me paguem antes. — Ele sorriu para os caras. — Mauro, eu... — Conversaremos depois, Violet. — Ele me encarou de uma forma que me fez estremecer. — Está esperando o quê? Vai se trocar. Eu odiava as salas privativas porque, enquanto os homens estão pagando, eles acham que podem nos bulinar, e a regra de Mauro era simples. Se o cara pagou, ele tem direito. Estava me trocando quando minha amiga entrou no camarim. — O que foi? Vai fazer outro número? Você não tinha que ir embora resolver aquele assunto? — Letícia perguntou, e soltei um suspiro de decepção. — Sim, eu tinha que estar lá, mas uns caras me pararam e pediram um show privado. Recusei, mas
Phillippo Constantinova Desde que Fabiana se foi, perdi o interesse pela vida. A rotina que antes fazia sentido, agora é apenas um ciclo monótono de trabalho incessante. Enterrei-me nos processos judiciais, nos papéis e nas audiências, negligenciando completamente minhas filhas. Sei que isso é muito errado da minha parte, mas não consigo esquecer Fabiana. Ela era apaixonada pela vida e não merecia perdê-la de forma tão trágica. Eu a amava mais do que tudo, e a dor de sua ausência me consome diariamente. Cada canto da casa, cada sorriso de nossas filhas, me lembra dela. Beatriz, com seu jeito teimoso e ao mesmo tempo carinhoso, e Lara, sempre tão alegre, são reflexos dela. E a pequena Maria Alice, que não teve tempo de conhecer a mãe... Sinto-me um fracasso como pai. Deveria estar presente para elas, mas não consigo. Enquanto penso, Luciana entra no meu escritório. Ela traz a papelada de um grande caso, o qual estou liderando. Ela é uma mulher eficiente, mas sempre parece ter alg
Sophia Martins / Maria Laura Santos Beatriz estava empolgada com o dia de SPA. Enquanto as levava para a escola, recebi uma mensagem de dona Helena pedindo minha conta para que ela pudesse depositar meu pagamento. Expliquei a ela que precisei encerrar a minha conta, mas que faria outra. — Maria Laura, antes de comprar qualquer produto para pele da senhorita Beatriz, preciso que venha aqui. Tenho algumas condições para você. — disse dona Helena, com sua habitual seriedade. — Tudo bem, senhora Helena. — Assim que desliguei, Beatriz me encarou. — Maria Laura, você já fez SPA com as suas amigas antes? — perguntou ela, curiosa. — Já sim. Pintávamos as unhas umas das outras com o esmalte que a gente pedia para dona Vilma, que era dona do salão. E pegávamos barro, misturávamos com água e passávamos na cara. — respondi, sorrindo com a lembrança. — Credo! Não é isso que vai fazer comigo, né? — Ela perguntou chocada. — Não, relaxa! Vou comprar produtos bons para você, só coisa apr
Após chegar ao jardim, entrei na casa sem ser vista e, assim que cheguei ao meu quarto, tomei um susto ao ver alguém deitado em minha cama. Quase gritei e fiz diversas orações, pois tenho pavor de fantasmas, mas quando me aproximei, vi que era apenas Lara deitada e respirei aliviada. Ela parecia tão pequena e vulnerável, abraçando o travesseiro como se fosse um escudo contra os medos noturnos. — Oi, princesa, o que está fazendo aqui? — perguntei gentilmente, sentando ao lado dela. — Estava com medo do monstro embaixo da cama. — Ela estava com a voz chorosa, os olhos grandes e assustados me encarando. — Onde você estava? — Estava no jardim. Vamos voltar para o seu quarto? — A menininha agarrou o meu braço firmemente. — Não, lá tem monstro. Ele quer me pegar. — Olhei para ela e sorri para acalmá-la. Quem me dera se os monstros da minha vida fossem apenas debaixo da minha cama. Insisti um pouco mais, mas como ela não quis ir para o seu quarto, não me importei e a deixei dormi
— Ah, Sebastião, estava... — comecei, hesitando um pouco para dar a impressão de que estava tentando lembrar de algo trivial. — Fui visitar uma amiga que mora um pouco longe. A conversa se estendeu mais do que eu esperava. — sorri, tentando parecer descontraída. — Perdi a noção do tempo, você sabe como é quando a gente encontra uma velha amiga, né? Sebastião me olhou por um momento, parecendo ponderar minha resposta. Finalmente, ele deu de ombros. — Entendo. Só fiquei preocupado, sabe? Esse horário não é seguro para uma moça estar na rua sozinha. E se a dona Helena te pega na rua naquele horário, você está lascada. — Agradeço a preocupação, Sebastião. Prometo que vou tomar mais cuidado da próxima vez. — falei, aliviada por ele ter aceitado a minha explicação. O resto do dia correu normalmente. Após deixarmos Maria Alice em casa, o tempo passou rapidamente enquanto eu cuidava das tarefas diárias e organizava as coisas para o retorno das meninas da escola. Quando chegou a hora de