Capitulo Três

Na manhã seguinte, acordei cedo, ainda cansada, mas determinada. Era o dia da etapa final da seleção para a vaga de governanta infantil. Vesti minha melhor roupa, tentando parecer o mais profissional possível. Antes de sair, fui até o quarto de Letícia.

— Estou indo para a entrevista final — disse, tentando soar confiante.

Ela abriu os olhos lentamente, assentindo.

— Boa sorte, Sofia. Eu acredito em você.

Aquelas palavras me deram um pouco de força. Saí do apartamento e fui em direção à mansão, sentindo o nervosismo aumentar a cada passo. Quando cheguei, as outras candidatas já estavam lá, todas parecendo incrivelmente confiantes e bem preparadas. Respirei fundo e entrei, lembrando a mim mesma que tinha que dar o meu melhor.

Dona Helena nos recebeu novamente, explicando que a última etapa seria uma série de atividades práticas. Ela nos dividiu em grupos e começou a distribuir as tarefas.

— Hoje, vocês terão que mostrar habilidades em várias áreas — começou Dona Helena, com seu tom severo. — Cada uma de vocês será avaliada em como lida com situações cotidianas que podem ocorrer enquanto cuida das crianças.

A primeira tarefa foi preparar uma refeição saudável e atrativa para as crianças. Fomos levadas à cozinha, e tentei me concentrar, lembrando das receitas simples e nutritivas que aprendi no YouTube. Cortei frutas, preparei sanduíches coloridos e organizei tudo de uma maneira que parecia divertida. Quando terminei, olhei para o prato com um pouco de orgulho, esperando que Dona Helena aprovasse.

A próxima atividade foi organizar o quarto das meninas. Tivemos que arrumar as camas, colocar os brinquedos em seus lugares e garantir que o ambiente ficasse acolhedor e seguro. Trabalhei rápido, mas com cuidado, tentando criar um espaço que as meninas pudessem amar, assim como fazia na minha casa. Enquanto isso, percebia Dona Helena nos observando de perto, anotando cada detalhe.

A última tarefa prática foi a mais desafiadora: lidar com uma situação de emergência. Cada uma de nós recebeu um cenário simulado, e tínhamos que demonstrar como reagiríamos. Meu cenário envolvia uma das crianças se machucando durante uma brincadeira. Mantive a calma, cuidei do "ferimento" e consolei a criança imaginária, garantindo que tudo ficaria bem.

Depois de todas as atividades, Dona Helena nos reuniu na sala de estar. Éramos apenas três candidatas agora. O suspense estava no ar, e meu coração batia acelerado. A última tarefa foi interagir com as meninas sob o olhar atento de Dona Helena.

Beatriz e Lara, as meninas do senhor Constantinova, entraram na sala tímidas. Me sentei no chão com elas, pegando alguns brinquedos e começando uma brincadeira, fiz exatamente o que fazia quando precisava tomar conta dos filhos da minha vizinha, dois pestinhas que eu gostava muito. Laura começou a falar sobre a escola, enquanto Sofia se aproximava lentamente. Usei meu tempo para ouvi-las, respondendo com interesse e carinho.

Dona Helena observava de longe, sua expressão séria. Sabia que ela estava avaliando cada movimento meu, cada palavra dita. Quando a interação terminou, fomos chamadas de volta ao hall de entrada. Dona Helena fez um suspense, olhando para cada uma de nós.

— Todas vocês fizeram um bom trabalho, mas apenas uma será escolhida. — Ela fez uma pausa que pareceu durar uma eternidade. — Maria Laura Santos, você é a nova governanta infantil da família Constantinova.

Mal podia acreditar. Tinha conseguido. Sorri, agradecendo enquanto as outras candidatas se despediam, algumas com expressões desapontadas, outras olhavam para mim com raiva. Saí da mansão com o coração leve, a euforia me dominando.

Quando cheguei em casa, encontrei Letícia no sofá, mais animada do que nos últimos dias.

— Letícia, eu consegui! — exclamei, mal conseguindo conter a felicidade.

Ela sorriu, um sorriso verdadeiro que iluminou seu rosto.

— Eu sabia que você conseguiria! — disse ela, me puxando para um abraço. — Vamos comemorar!

Letícia pegou o telefone e ligou para João, pedindo que trouxesse pizza e vinho. Quando João chegou, o abracei forte.

— O plano deu certo, João! — exclamei, enquanto ele colocava as pizzas na nossa mesa improvisada.

Ele sorriu, satisfeito.

— Sabíamos que você conseguiria, Maria Laura, ele brincou com o nome que foi inventado ppr nós.

Letícia me olhou seriamente.

— Agora você precisa tomar cuidado, Sofia. Lembre-se sempre que seu nome como babá é Maria Laura Santos. Não pode haver deslizes. As

Assenti, entendendo a gravidade da situação, até porque eu posso ser presa por falsidade ideológica.

— Prometo que irei ficar atenta, até porque é meu toba que está na reta.

João, que sempre foi o mais cauteloso, olhou para mim.

— E no clube de stripper, você é Viollet Rose. Nunca pode misturar as duas pessoas e o mais importante é não deixar que Mauro descubra sobre o seu novo emprego.

— Se ele descobrir é capaz dele inventar juros e tomar todo o seu dinheiro.

Olhei para ambos, sabendo o peso que pairava sobre os meus ombros. Entre a minha nova identidade de babá, Maria Laura, e a identidade como stripper, Viollet Rose, há Sofia Martins. É quem eu verdadeiramente sou. Uma menina com a vida conturbada, mas que está lutando para encontrar seu espaço no mundo.

A noite foi de comemoração. Rimos, brindamos e por algumas horas, esquecemos dos problemas. Ao final da noite João se foi e quando estávamos apenas minha amiga e eu olhei para ela.

— O que foi? — Ela perguntou enquanto pegava um cigarro.

— Letícia, porque você não volta com João? — Minha amiga soltou a fumaça e me encarou.

— Soph, quando João e eu nos conhecemos, eu era uma menina completamente diferente do que sou hoje, não usava drogas, sabe, era uma menina que apesar dos pais merdas que tinha achava que seria feliz. Na verdade João não sabe a metade do que passei, preferi poupá-lo de toda merda.

— Entendo, Letícia. Às vezes só queremos fugir, e deixar o passado para trás.

Ambas assentimos e ficamos olhando para o nada, cada uma com suas próprias dores e seus próprios demônios para enfrentar.

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