O relógio começou a tocar às três da manhã, em meio-tom, exatamente como programado pelo dono cuidadoso. O ruído polifônico tentava, de forma mais ou menos precisa, reproduzir um trecho de samba de Adoniran Barbosa e Elis Regina, só que o fazia de forma apenas remotamente identificável. Mesmo quando o dedo pressionou a tecla digital e desligou a música, o matraquear da televisão impediu o silêncio de se instalar. O jornalista falava algo sobre um acidente de carro causado por uma capivara em Santa Catarina, ou qualquer nulidade do tipo e foi silenciado pelo botão do controle remoto. Pedrosa, como era chamado pelos vizinhos, ou Pedrão, pelo pessoal da delegacia, levantou preguiçosamente do sofá, em absoluto silêncio. A xícara de café frio ainda retinha metade de seu con
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