– Nossas opções são bastante limitadas. – O feiticeiro comentou, sentado junto com Nandini no tapete do saguão. – Na forma em que estou serei de pouca ou nenhuma ajuda.
– Você foi uma ajuda do caralho derrubando a adega no porão. – Nandini agradeceu. – Sem você eu não teria saído de lá viva.
– O problema é que isso me custou muito da força que eu ainda tenho. – Ele explicou, mostrando a mão que já começava a empalidecer. – Não posso fazer nada daquele tipo novamente. Preciso de um corpo. Preciso daquele seu amigo médium.
– O Daniel? – Nandini perguntou. – Ele não incorpora. Fala, escuta e até expulsa.
– Eu não esperava encontrá-los aqui. – Mercedes dizia, com o cano da arma apontado para o peito de Daniel. – Não importa, a essa altura. Está tudo quase pronto. Entrem, os três. Não tentem nenhuma bobagem, ou eu juro por Deus que os mato. Mercedes parecia ter passado por maus bocados. Estava descabelada e suja. Seus olhos, encovados, pareciam à beira da insanidade. Enquanto os três se espremiam no canto oposto do chalé, ela abria o pingente da correntinha de Laura com uma das mãos, mas não desviava a atenção deles. – O que está acontecendo aqui, Mercedes? – Daniel perguntou. – Você não precisa nos ameaçar, nós viemos ajudar. – Sei que um d
Já fazia algum tempo que o sol despontara no horizonte. Os raios majestosos banhavam a praia das Emanuelas e faziam o mar longínquo cintilar como o brilho de milhares de cristais sobre a sua superfície. Do terraço da Bombordo, pousada notavelmente assombrada e fechada havia meses, era possível sentir a brisa marítima, salgada e oleosa de maresia. Daniel observava a área dos chalés sentado na beirada do parapeito raso. Lá embaixo conseguia distinguir Laura, que cambaleava aos prantos, e Lena, que tropegava exausta, ajudadas por Igor, em direção ao chalé vinte e oito. Ao seu lado, também sentada na mureta, uma menininha bonita de longos cabelos escuros que bailavam ao sa
Já passava das quatro da tarde quando Daniel tornou a abrir os olhos, sentindo a mudança sutil de temperatura no quarto. Sentou-se, desorientado, acordado de um sonho sensacional. Nele, revelava a Nandini seus sentimentos e os dois selavam a união com o amasso mais quente de que ele se lembrava na vida. Olhou ao redor, confuso. Lena, ainda em sua camisola de duas peças, teclava penosamente em um laptop apoiado no colo. Os dedos enfaixados tornavam a tarefa difícil, além de lenta. – Você deve estar faminto. – Ela comentou, sem tirar os olhos da tela. – Sei porque também estava quando acordei. – Pensa r&aa
Em noites anteriores... O dono de uma loja de cosméticos situada em um dos maiores shopping centers da cidade passa pelo pesadelo de ter sua jovem filha desaparecida por uma noite e pela alegria de reencontrá-la em um hospital dias depois – apesar de desorientada, exangue e sem qualquer lembrança do que ocorrera entre sair da casa da mãe e ser socorrida pela polícia. Passado o trauma, ficaram estranhos vestígios no comportamento da filha – predileções infantis, sonhos estranhos e desenhos representando um lugar próximo de onde havia sido resgatada, além da descoberta de que ela era apenas uma de outras tantas vítimas semelhantes em idade, sexo e cor de cabelos – todas características procuradas pelo ainda desconhecido sequestrador de loiras &nda
Por ser uma de muitas praias turísticas do litoral norte, as Emanuelas não seria, exatamente, uma das mais destacadas em um panfleto turístico. Sua curta extensão a colocaria, talvez, em terceiro ou quarto lugar entre as mais conhecidas, independentemente de suas águas ostentarem o mesmo azul penetrante, refletir o mesmo poente dourado e aquecer a pele de turistas europeus endinheirados com a mesma intensidade que suas vizinhas mais famosas. A meia dúzia de barezinhos à beira-mar, sempre ávidos por visitantes, serviam seus coquetéis ao som de música tranquila e petiscos proibitivamente caros ansiosos em indicar a maioria das pousadas próximas como forma de demonstrar boa vontade aos clientes e também estreitar o relacionamento com os donos das hospedarias. A maioria das pousadas.  
O relógio começou a tocar às três da manhã, em meio-tom, exatamente como programado pelo dono cuidadoso. O ruído polifônico tentava, de forma mais ou menos precisa, reproduzir um trecho de samba de Adoniran Barbosa e Elis Regina, só que o fazia de forma apenas remotamente identificável. Mesmo quando o dedo pressionou a tecla digital e desligou a música, o matraquear da televisão impediu o silêncio de se instalar. O jornalista falava algo sobre um acidente de carro causado por uma capivara em Santa Catarina, ou qualquer nulidade do tipo e foi silenciado pelo botão do controle remoto. Pedrosa, como era chamado pelos vizinhos, ou Pedrão, pelo pessoal da delegacia, levantou preguiçosamente do sofá, em absoluto silêncio. A xícara de café frio ainda retinha metade de seu con
– Olhem bem, vocês precisam entender que isso é um trabalho sério. – Dona Esmeraldina dizia, encarando os quatro com severidade. – Eu quase nunca confio de entregar um serviço na mão de outra pessoa, mesmo sendo Daniel. – Nosso trabalho é sério. – Lena respondeu. – Removemos um demônio e neutralizamos um vampiro só no último mês. Não somos amadores. Podemos lidar com alguns fantasmas. A velha puxou fumo do cachimbo e ajeitou melhor o turbante branco no topo da cabeça. Os óculos de fundo de garrafa faziam seus olhos estreitos parecerem enormes e seus pés descalços tinham as solas cinzentas de poeira. 
– Lena, é muito importante. Sei que você não é a pessoa mais rápida para pegar essas coisas, mas quero que se esforce. O Igor, alguma vez, já demonstrou algum comportamento impróprio? Todos olhavam para Lena com apreensão. Daniel tentava suportar a dor de cabeça cavalar enquanto reunia o maior número de respostas possível antes que Igor retornasse com os analgésicos. Depois do choque inicial e de ter conseguido retirar o amuleto, quase o perdendo na areia durante o processo, Igor ajudou todos a irem para o carro. A primeira medida que tomaram foi deixar as Emanuelas o mais rápido possível, indo em direção à praia mais próxima. Lá, encon