Em noites anteriores...
O dono de uma loja de cosméticos situada em um dos maiores shopping centers da cidade passa pelo pesadelo de ter sua jovem filha desaparecida por uma noite e pela alegria de reencontrá-la em um hospital dias depois – apesar de desorientada, exangue e sem qualquer lembrança do que ocorrera entre sair da casa da mãe e ser socorrida pela polícia.
Passado o trauma, ficaram estranhos vestígios no comportamento da filha – predileções infantis, sonhos estranhos e desenhos representando um lugar próximo de onde havia sido resgatada, além da descoberta de que ela era apenas uma de outras tantas vítimas semelhantes em idade, sexo e cor de cabelos – todas características procuradas pelo ainda desconhecido sequestrador de loiras – um criminoso que vinha atacando mulheres aleatórias, unidas por um perfil muito específico.
Conhecedor do mundo sombrio dos sortilégios e maldições, e temendo descobrir algum transtorno supranatural em sua querida, o abastado resolve recorrer a um velho amigo que lhe promete enviar especialistas para verificar se há algo maldito perseguindo ou atormentando a jovem.
Os especialistas – quatro jovens membros da cabala autointitulada Tetraedro – fazem testes e descobrem algo estranho e espiritual na moça, mas não fazem ideia da natureza do problema. Decididos, porém, a encontrar as respostas, partem à noite em direção dos arredores de onde a jovem foi encontrada.
A resposta não poderia ser mais surpreendente: longe de encontrar um maníaco sequestrador, os quatro precisam lidar com uma ameaça muito mais sinistra: uma criança com poderes hipnóticos e sede de sangue. Um vampiro.
Em uma reviravolta dramática Lena lança mão de toda a sua frieza, abate a criatura e convence o grupo a levar seu corpo à Ninlil, uma bruxa muito mais experiente, para que pudesse avaliá-lo e se possível, encontrar um comprador para o corpo.
Ninlil, entretanto, os adverte de que o menino segue vivo, apesar de muito fraco, e contata outra como ele – uma mulher elegante e morta-viva chamada Verônica, que se apresenta como uma solucionadora de problemas. Em um embate acalorado, Lena barganha o corpo semimorto do menino e consegue, em troca, a mentoria de um vampiro quadricentenário chamado Leopoldo de Neuburgo, que deverá ensinar-lhes os segredos do submundo.
Entre outras condições, o vampiro exige que cada um deles pague pelas aulas com um pouco de seu sangue. Um a um ele bebe um pouco de todos, mas quando prova do sangue de Lena, interrompe a refeição e os manda ir alegando estar satisfeito.
E enquanto os jovens deixam o local do encontro, Leopoldo recorda memórias de um passado longínquo, em que sentiu o mesmo sabor inebriante do sangue que acabara de provar em uma ninfa dos bosques na antiga Baviera.
Dedico este livro à Yasmim, minha amada irmã. O escritor que eu sou hoje devo, em grande medida, à leitora que você foi quando eu tinha muito mais sonhos que meios para realizá-los. Cada pedacinho dessa trajetória é seu também.
Ainda sobre sonhos, também o dedico à Priscila, co-editora da Buenovela, que demonstrando enorme interesse, profissionalismo, carinho e paciência, tem intermediado minhas primeiras incursões no mundo dos escritores profissionais.
Por ser uma de muitas praias turísticas do litoral norte, as Emanuelas não seria, exatamente, uma das mais destacadas em um panfleto turístico. Sua curta extensão a colocaria, talvez, em terceiro ou quarto lugar entre as mais conhecidas, independentemente de suas águas ostentarem o mesmo azul penetrante, refletir o mesmo poente dourado e aquecer a pele de turistas europeus endinheirados com a mesma intensidade que suas vizinhas mais famosas. A meia dúzia de barezinhos à beira-mar, sempre ávidos por visitantes, serviam seus coquetéis ao som de música tranquila e petiscos proibitivamente caros ansiosos em indicar a maioria das pousadas próximas como forma de demonstrar boa vontade aos clientes e também estreitar o relacionamento com os donos das hospedarias. A maioria das pousadas.  
O relógio começou a tocar às três da manhã, em meio-tom, exatamente como programado pelo dono cuidadoso. O ruído polifônico tentava, de forma mais ou menos precisa, reproduzir um trecho de samba de Adoniran Barbosa e Elis Regina, só que o fazia de forma apenas remotamente identificável. Mesmo quando o dedo pressionou a tecla digital e desligou a música, o matraquear da televisão impediu o silêncio de se instalar. O jornalista falava algo sobre um acidente de carro causado por uma capivara em Santa Catarina, ou qualquer nulidade do tipo e foi silenciado pelo botão do controle remoto. Pedrosa, como era chamado pelos vizinhos, ou Pedrão, pelo pessoal da delegacia, levantou preguiçosamente do sofá, em absoluto silêncio. A xícara de café frio ainda retinha metade de seu con
– Olhem bem, vocês precisam entender que isso é um trabalho sério. – Dona Esmeraldina dizia, encarando os quatro com severidade. – Eu quase nunca confio de entregar um serviço na mão de outra pessoa, mesmo sendo Daniel. – Nosso trabalho é sério. – Lena respondeu. – Removemos um demônio e neutralizamos um vampiro só no último mês. Não somos amadores. Podemos lidar com alguns fantasmas. A velha puxou fumo do cachimbo e ajeitou melhor o turbante branco no topo da cabeça. Os óculos de fundo de garrafa faziam seus olhos estreitos parecerem enormes e seus pés descalços tinham as solas cinzentas de poeira. 
– Lena, é muito importante. Sei que você não é a pessoa mais rápida para pegar essas coisas, mas quero que se esforce. O Igor, alguma vez, já demonstrou algum comportamento impróprio? Todos olhavam para Lena com apreensão. Daniel tentava suportar a dor de cabeça cavalar enquanto reunia o maior número de respostas possível antes que Igor retornasse com os analgésicos. Depois do choque inicial e de ter conseguido retirar o amuleto, quase o perdendo na areia durante o processo, Igor ajudou todos a irem para o carro. A primeira medida que tomaram foi deixar as Emanuelas o mais rápido possível, indo em direção à praia mais próxima. Lá, encon
Já passava das nove quando os três feiticeiros aprendizes, parados à frente da fachada azul-piscina da Bombordo, acenaram para o táxi em um sinal inconfundível de que deveria partir. A friagem e o tapete espesso de nuvens que cobria a lua anunciavam uma noite chuvosa à beira mar, mas por hora apenas o som da maré enchente preenchia os espaços de escuridão entre a luz fraca dos postes na rua. O quarto componente do grupo, que carregava a bolsa mais pesada, finalmente se juntou aos demais. – Você veio passar um mês? – Nandini perguntou a Laura enquanto ela trazia a bagagem para a calçada. – Metade disso é material de magia. – Ela respondeu. – Você vai me agradecer mais tarde. A mochila era só para
Lena acordou quando a claridade que entrava pela janela se tornou suficientemente forte para atravessar mesmo as cortinas entreabertas. Apesar da boca seca e da bexiga cheia, sua pele ainda formigava de excitação pelo sonho que acabara de ter. Sonhara com o menino. O menino cujo nome não descobrira, porque entregara seu cadáver semimorto a um dos seus iguais. O menino que se alimentara de Laura e de outras mulheres durante uma semana ou duas. O menino que esfaqueara até o desespero e quase à morte. Que sentira se debater entre suas pernas enquanto o coração acelerado bombeava sangue quente para fora do rasgo que lhe abrira na garganta. Mais que isso. Sonhara com o prazer lascivo, se espalhando em ondas desde o baixo ventre até as pontas dos dedos, com que se regozijara ante o sofrimento
Nandini desceu ao porão da adega por falta de opções. Havia dois seguranças a procurando na cozinha, e foi por uma sorte imensa que nenhum dos atarefados funcionários percebeu sua presença. Em um último instante de sensatez percebeu que os amigos não vinham em seu encalço, e que não chegaria à porta dos fundos antes de ser vista e perseguida. Esperaria lá embaixo até ter alguma segurança de que poderia subir – apesar de não ter ideia do que faria em seguida. O porão era só um aposento grande com paredes feitas em tijolo de barro, algumas colunas e uma adega repleta de vinho caro. Além do chão de terra batida, o único detalhe incomum era a parede recém rebocada e os materiais usados para o serviço, além do odor sutil e desagrad&aacu
– Nossas opções são bastante limitadas. – O feiticeiro comentou, sentado junto com Nandini no tapete do saguão. – Na forma em que estou serei de pouca ou nenhuma ajuda. – Você foi uma ajuda do caralho derrubando a adega no porão. – Nandini agradeceu. – Sem você eu não teria saído de lá viva. – O problema é que isso me custou muito da força que eu ainda tenho. – Ele explicou, mostrando a mão que já começava a empalidecer. – Não posso fazer nada daquele tipo novamente. Preciso de um corpo. Preciso daquele seu amigo médium. – O Daniel? – Nandini perguntou. – Ele não incorpora. Fala, escuta e até expulsa.