Início / Fantasia / O Enigma do Face Oculta / Capítulo 1 - Capítulo 10
Todos os capítulos do O Enigma do Face Oculta: Capítulo 1 - Capítulo 10
78 chapters
1
  Essa casa... está escuro aqui. Não totalmente, claro. Há um pouco de luminosidade vindo da janela com grades. Lua cheia? Algo não me deixa ver com perfeição. Aquela coisa branca no céu por entre as árvores. Sim... lua cheia... lá fora. Frio também. Deve estar bastante frio do outro lado destas paredes, creio. Aqui dentro está um pouco. Devo tatear mais. Achar uma lareira e também tochas. Tochas! Preciso encontrá-las e acendê-las, mas como?   Algo se move por entre as folhagens lá fora. Um vulto que desaparece tão rápido quanto surgiu. Tenho de acender alguma coisa... pre
Ler mais
2
 Levei tempo para acostumar minha visão à claridade e o corpo àquela nova situação, estranha e desagradável. Não só pingos de chuva o atacavam voraz e incessantemente, como também um ardor contínuo provocado por cordas puídas muito bem atadas visando prender-me a um imenso eucalipto. Tremedeiras de frio e desconforto proporcionado por mãos que manipulavam minhas feições sujas, vasculhando cautelosamente os adornos de minha nudez, só serviam para enriquecer aquele ritual de tortura. De fato eu já avistara tais criaturas anteriormente numerosas vezes. Sabia com plena exatidão o que eram, mas se porventura decidisse precisar uma situação onde os possíveis encontros tivessem ocorrido, n&a
Ler mais
3
 Minhas pálpebras molhadas se abriram e pude ver o velho murgon... frente a frente... segurando um candeeiro aceso. Sua outra mão sustentava uma tigela vazia cujo conteúdo de instantes atrás jazia em meu rosto e iniciava lenta caminhada por diferentes direções, dando preferência a pescoço e orelhas. Havia outros murgons com o velho, claro, e todos me observavam no interior daquela caverna úmida iluminada apenas pelo utensílio do sujeito. Eu, recém despertado de um segundo sonho (riacho, homem das lamúrias, etc), também os observava, examinando olhares inquietos e curiosos. A maioria das criaturas ali era jovem, aparentando ter experimentado pouquíssimo contato com gente como eu.Ler mais
4
Virei-me para a parede próxima, onde estava o enorme inseto. A escuridão era total mas por razões desconhecidas, eu era capaz de enxergá-lo. Falei com ele.– O que foi? Já não se contenta com meu sofrimento e ainda zomba de mim? Volte para o buraco de onde saiu!– Está enfraquecendo, homem! Pensa que é o único a sentir as mazelas da fome nesse breu? Todos aqui lutamos dia e noite pela sobrevivência e cedo ou tarde você tombará. Nessa hora poderei vingar todos os meus irmãos que teve a audácia de mastigar sórdida e impiedosamente. Degustarei cada pedaço de sua carne vil, beberei cada gota de seu sangue podre e farei
Ler mais
5
 Bom... sentei-me à luz da lamparina e contemplei o moribundo. Fiz o mesmo com as próprias mãos, já livres, criando sombras na parede com os braços depois – os insetos adoraram. A cicatriz do polegar ainda não tinha desaparecido e meu corpo exibia sinais claros de inanição oriundos da comida precária. Dali a um tempo eu mal conseguiria caminhar.Estava fraco. O feitiço que rompeu minhas amarras foi momentâneo, por isso regressei àquele estado de debilidade aguda anterior. Fiquei me tocando e comecei a fazer o mesmo com o corpo pintado, sentindo cada parte de sua nudez, experimentando diferenças de textura em relação a minha pele. A dele nem pelos tinha, exceto pelas fracas sobrancelhas e pela fina cabeleira branca.
Ler mais
6
 De volta à floresta. Não é real. Nem estou aqui de fato. Nada é real. Mas posso sentir. O vento, o silêncio. Estou aqui sim.Acho. De novo uma trilha. De pedras, douradas.Trilha do ouro... eu sigo... sem saber... sem lembrar... mas sigo.Batuques.A lua ilumina a mata escura e ouço.Ler mais
7
 De fato, meu coração ainda batia dentro daquela cela pútrida infestada de ratos e baratas. As cordas de sempre permaneciam me atando os membros enquanto eu jazia no chão imundo com sangue na boca. Ao levantar os olhos, pude ver o homem que correspondia àquele monge do sonho acabado. Usava um véu sobre o rosto, deixando apenas os olhos de fora, além de capa e capuz negros presos a uma camisa larga de linho. Calça preta (também de linho) e botas marrons completavam suas vestimentas.Atrás dele havia outro. Suas roupas se assemelhavam às do companheiro com uma reles exceção, pois sob o capuz não existia véu, mas uma máscara de madeira em forma de crânio humano. Tal indivíduo, diferentemente da sacerdotisa do sonho, n&
Ler mais
8
 Deixamos a câmara onde o buraco das vozes se situava e partimos para outros compartimentos. A caverna era uma mistura de túneis estreitos, pequenas galerias e passagens que não levavam a lugar algum. Certas vezes a equipe deixava transparecer sinais da mais absoluta falta de orientação e, de repente, alguém indicava um rumo qualquer, sendo seguido pelos outros com determinação canina para acabar voltando à condição inicial instantes depois. Passos tímidos, olhares atentos recheados de preocupação que passeavam por cada canto do espaço permitido pela fraca luz das lamparinas... Numa parte ou outra paravam, descansavam um pouco, examinavam o lugar, voltando a falar das pedras e fazendo estranhas perguntas a Garpot. Pelo que pude entender, ele não pertencia àquela tribo, mas tinha esparsos conheci
Ler mais
9
 Portas...Cercam-me, olham-me, esperam-me.Cinco.Todas enumeradas. Pesadas portas de ferro diferentes das da caverna que deixei anteontem. Não há saída a não ser por uma delas e todas me chamam, principalmente a mais próxima.Promete coisas... revelações... segredos... só precisarei abri-la. As outras apenas sussurram. Devo esperar e refletir. Lembranças me possuem... me levam... de volta à cav
Ler mais
10
 Três sujeitos continuaram a me observar enquanto Garpot se mantinha afastado, de costas para todos, vigiando a fenda através da câmara ligada ao aposento onde nos encontrávamos. Nada indicava que havia prestado atenção alguma aos eventos que sucederam, parecendo totalmente absorto na ocupação. Os outros reagiram com ares de estranheza que lembravam os jovens murgons da floresta, dias antes. Siley, circulando o olhar atônito à procura de respostas que explicassem o comportamento estranho dos companheiros. Dehvorak, surpreso e embaraçado diante da declaração final do rato: o único a demostrar contentamento pelo que ocorreu, admirando a situação como uma obra de arte. Sua obra de arte. Quantas outras existiriam nessa sombria coleção?Ler mais